O INÍCIO DA NOSSA CIDADE
Nesta volta ao passado, relembremos como Santos nasceu, colocando em destaque as construções que marcaram a época da
colonização, bem como outras mais recentes e que fazem parte desse conjunto. Muitas delas já foram destruídas, levando consigo muito de nossa história. Em razão disso, aplaudimos o projeto de revitalização do centro histórico de Santos, vez que
zelar pelo patrimônio e tradição de um povo é dever de cidadania.
A colonização de nossa cidade teve início no local que ficou chamado de Centro. Nesse ponto se concentraram os habitantes da primitiva povoação. Pouco a pouco,
com o crescimento da população, as casas foram se espalhando, multiplicando, inicialmente em direção ao Valongo, onde se construiu o santuário de Santo Antonio do Valongo, em estilo barroco.
Inaugurado em medos do século XVII, abriga hoje valiosas obras de arte.
À sua frente foi construído um enorme casarão pelo comendador Joaquim Manoel Ferreira Neto e seu sócio Luiz Guimarães. Lamentavelmente, esse prédio encontra-se
quase que totalmente destruído, em razão de dois incêndios, ocorridos em 1985 e 1992.
Ainda é referência nesse local a antiga estação da São Paulo Railway, que fazia a linha de trens entre Santos e Jundiaí e que
constituiu um precioso meio de acesso ao planalto. Desativada há muitos anos, a estação foi recentemente reformada pela Prefeitura e hoje é sede da Secretaria de Turismo do município.
O Centro, propriamente dito, possui construções de grande valor histórico!
A Casa de Frontaria Azulejada, na Rua do Comércio, com fachada célebre pelo seu revestimento de ladrilhos portugueses, foi também
construída pelo comendador Joaquim Manoel Ferreira Neto. Parcialmente destruída em seu interior, teve obras importantes de restauração, abrigando valioso arquivo de documentos que fazem parte de nossa história.
Na Praça dos Andradas, o antigo prédio da Cadeia Velha de Santos, hoje Oficina Cultural Pagu. Além de presídio,
o local abrigou a Casa da Câmara, o Fórum, a Intendência e delegacias de polícia. Foi usada para prender os que cometiam crimes ou delitos e ainda hoje podemos conhecer as celas com suas grades de ferro. Foi desativado após a construção do
Palácio da Polícia, na Avenida São Francisco, para onde os presos foram transferidos. Hoje é tal o número de infratores que, mesmo construindo várias casas de detenção, elas ficam superlotadas, o
que nos entristece, por ser um testado da decadência moral do ser humano.
A poucos passos da antiga cadeia, foi construído o primeiro teatro, o Guarani, apto a promover grandes apresentações. A partir de sua inauguração, em 1882,
passaram por ele artistas de renome internacional. Sofrendo um incêndio em 1981, ficou apenas com as paredes externas. Assim se perderam as pinturas ali feitas por Benedito Calixto.
Prosseguindo nossa caminhada, chegamos à Praça Rui Barbosa (antigo Largo do Rosário), onde se encontra a
Igreja de Nossa Senhora do Rosário, também construída no período colonial.
Na Praça Barão do Rio Branco, destacando o espírito religioso do povo, encontram-se duas igrejas, sendo mais antiga a da
Ordem Terceira do Carmo, inaugurada em 1599. Ao lado, o Panteão dos Andradas, "santuário cívico da pátria".
O Outeiro de Santa Catarina é o marco inicial de nossa cidade. No século XV foi construída ao seu lado a Capela de Santa Catarina,
primeiro templo religioso de Santos.
A capela foi saqueada por aventureiros em 1591, sendo a imagem da santa lançada ao mar. Ela foi reconstruída, mas posta abaixo entre os séculos XVIII e XIX.
Em 1738 foi inaugurada a Casa do Trem Bélico. Ali eram guardadas as armas e munições, para a defesa contra ataques ou saques.
A Praça da República, onde se construiu o majestoso prédio da Alfândega, chamava-se Largo da Matriz, porque
ali fora construída a primeira Catedral. E na praça onde está a Igreja do Carmo, era o Largo Ladislau.
Ao lado da Alfândega foi construído o prédio da Recebedoria de Rendas, hoje Delegacia Regional Tributária, do governo do Estado de São Paulo. O prédio
primitivo foi demolido, dando lugar a um edifício maior, de acordo com o crescimento de suas atividades.
Ainda no Centro, na Praça Mauá, está o Palácio José Bonifácio, inaugurado em 1939, onde estão instaladas a
Prefeitura Municipal e a Câmara de Vereadores. É uma construção imponente, cujo projeto foi do arquiteto Plínio Botelho do Amaral. O seu acabamento foi feito com materiais especiais e o seus lustres de cristal da Bohêmia são famosos. Ao seu lado
está o prédio dos Correios, inaugurado em 1924, também com especial acabamento.
Não muito distante, na confluência das ruas XV de Novembro e Frei Gaspar, ergue-se a majestosa Bolsa Oficial do Café, construída e
inaugurada em 1922, onde ficou registrada a fase áurea do comércio cafeeiro. De mais notável ela possui três painéis de Benedito Calixto e o mobiliário da sala de pregões, artisticamente entalhado, obra de Nicácio
Costillas e Filho, verdadeiros artistas no trabalho de marcenaria.
No final do século XIX, mais precisamente em 1900, foi construído na Rua Amador Bueno o Centro Português, uma verdadeira obra de arte. Retrata uma época em que
os detalhes valorizavam a construção. Na verdade, esse prédio é o único no gênero e felizmente tem sido conservado para encanto nosso e de quantos visitam a nossa cidade.
Quando o centro da cidade teve seus espaços ocupados, a população migrou para outros locais. Havia um caminho aberto que ia desde o Largo da Matriz até o local que era conhecido como
Quadra Mauá. Esse caminho era chamado de Rua da Alfândega, que é hoje a Rua Senador Feijó.
Em 1887 essa quadra passou a ser a Praça José Bonifácio, que se tornou um jardim cercado por uma grade de ferro. Era um lugar aprazível, onde as famílias
gostavam de se encontrar para conversar, acomodando-se em bancos colocados entre os canteiros onde vicejavam lindas flores. A iluminação era feita pelos lampiões de gás. Bem no centro havia um coreto, onde se realizavam as retretas. Vários
conjuntos musicais ali compareciam, trazendo alegria e entusiasmo ao ambiente.
Essa praça passou a ter muita importância na expansão da cidade e famílias ilustres ali ergueram suas residências. Com o passar dos anos, houve necessidade de retirar o gradil para
melhor aparência da praça, que já começava a tornar-se famosa. Em 1909 era inaugurado o Teatro Coliseu que, alguns anos depois, passou por grande reforma para maior comodidade do público que ali
comparecia. Isso por volta do ano de 1924.
Em 1908 foi lançada a pedra fundamental da nova Catedral, que levou muitos anos para ser construída. Mesmo sem estar terminada, ela foi inaugurada em 1924. A
antiga Catedral já não comportava o grande número de fiéis que ali compareciam para assistir às missas.
Logo a praça estava cercada de moradias, entre elas a casa onde nasceu o imortal médico e poeta Martins Fontes. E a cidade continuava crescendo. Já estava sendo habitada a
Vila Nova, nas proximidades do Paquetá, e palacetes ali foram construídos, fazendo com que esse bairro fosse considerado como área nobre.
OS BAIRROS
Devido à expansão da cidade, novos bairros se formaram. Logo depois da Vila Nova, surgiu a
Vila Mathias, rapidamente ocupada por muitas construções. Às vezes eu me pergunto: se havia tantos terrenos, por que construíam casas geminadas, em sua maioria? Muitas casas surgiram no sopé do Monte Serrat e logo se
estenderam em todas as direções, formando um bairro muito populoso.
A Vila Belmiro foi iniciada em 1910. Recebeu esse nome em homenagem ao ex-prefeito de Santos, Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva,
que, durante sua gestão, fez os melhoramentos necessários que ensejaram a formação do novo bairro. Ele foi um cidadão muito atuante e projetou-se especialmente por ser o fundador da Companhia Central de Armazéns Gerais.
Esse bairro conquistou uma grande notoriedade por abrigar o Estádio Urbano Caldeira, do Santos Futebol Clube, que abriga o Memorial das
Conquistas, hoje uma atração turística. Parte da imprensa esportiva refere-se à Vila Belmiro como a "vila mais famosa do mundo".
O Campo Grande, surgido no final do século XIX, formou-se numa grande área de terrenos e progrediu muito rapidamente. De início, as casas eram feitas de
madeira, os chamados chalés. Aos poucos eles foram dando lugar a casas de alvenaria e prédios de apartamentos. Alguns chalés ainda preservam características originais, o que é admirável, pois representam uma época de
grande valor histórico.
A Ponta da Praia iniciou-se no ponto mais primitivo da praia de Santos. Foi escolhida para a instalação de vários clubes esportivos, que contam com a
proximidade do mar para desenvolvimento da natação e do remo. Ali está a Ponte dos Práticos, construída para ancoradouro das lanchas que levam os práticos até a entrada da barra, para monitorar os navios. Tanto na entrada
quanto na saída dos navios de nosso porto, os práticos orientam sobre a melhor maneira de percorrer o caminho, prevenindo acidentes.
Na Ponta da Praia foi construído o Entreposto de Pesca. Também nesse local está o "ferry-boat" onde atracam as balsas que fazem a
travessia de carros para a cidade do Guarujá. Temos como referências da Ponta da Praia o Aquário Municipal, o Museu de Pesca e a Escola
Profissional do Senai, além dos clubes de regatas, Vasco, Saldanha, Santista e Internacional. Foi talvez o bairro que custou mais a se
desenvolver, mostrando muitos terrenos ociosos, hoje raros, mas, com rapidez incrível, tornou-se um grande bairro residencial, com raros terrenos remanescentes.
Mais recentemente, entre os canais 5 e 6, foi desmembrado o bairro da Aparecida, cuja principal referência é a Escola Técnica
Educacional Dona Escolástica Rosa, mantida pelo Centro Paula Souza.
O Boqueirão teve seu nome originado pela criação do primeiro caminho em direção às praias, assim conservado por muito tempo, até a abertura da Avenida
Ana Costa. Foi um bairro que cresceu vertiginosamente na medida em que as chácaras ali existentes foram loteadas para construção de residências. Hoje, a referência principal desse bairro é a Pinacoteca Benedito Calixto e, brevemente, o complexo de
serviços Clube XV.
O José Menino teve seu nome originado de um motivo singular. Era proprietário de muitos terrenos nesse local José Honório Bueno,
que por ser de pouca estatura e corpo franzino, era chamado de José Menino. Os anos passaram, esse bairro tornou-se um dos mais populosos, mas o nome de José Menino permaneceu como homenagem muito justa a quem deu o primeiro passo para seu
progresso.
O Gonzaga, tido como o bairro mais nobre da cidade, já completou 115 anos. É o que tem passado por maiores transformações. Seu nome vem de
Antonio Luiz Gonzaga, que morava numa chácara pertencente a George Holden, isso por volta de 1890. Essa propriedade ficava na esquina da atual Rua Marcílio Dias, onde hoje se encontra, tombado pelo Condepasa, o imponente
prédio que, no passado, foi sede do extinto Jockey Club de Santos e do Clube XV, depois residência da família Paiva, abrigando hoje uma agência da Caixa Econômica Federal.
Quando se abriu o acesso a esse lugar, em razão da vinda dos bondes puxados por burros, Gonzaga construiu um botequim para servir às pessoas que vinham conhecer a praia e tomar banho de
mar. Também organizou um serviço de cabines para banho. Elas diziam: "Vamos ao Gonzaga". Assim nasceu o mais famoso bairro de Santos, o que se deve a Mathias Costa e Antonio Luiz Gonzaga, seus grandes precursores.
Sendo o Gonzaga da maior importância para a cidade, torna-se imperioso que se faça uma referência à sua principal via. A princípio ela recebeu o nome de Avenida das Palmeiras. Só em 1887
a Câmara Municipal determinou a mudança do nome, passando a chamar-se Avenida Dona Ana Costa. Ela continua sendo a mais importante rua da nossa cidade, tendo extensão de 2.915 metros. Ela tem um charme muito especial e
gradativamente atraiu o alto comércio que ali se instalou, com firmas que operam com muito sucesso.
Aos poucos, as residências antigas foram desaparecendo do Gonzaga, para dar lugar a prédios residenciais, hospitais, clubes, restaurantes, cinemas, conjuntos comerciais e bancos. Seu
ponto alto, sem dúvida, é a Praça da Independência, onde, em 1922, foi inaugurado o monumento que homenageia os Irmãos Andrada. Essa praça tem sido palco de
manifestações festivas e muitas vezes de protestos ou reivindicações de classes, e será sempre o coração da avenida das palmeiras, pelas árvores que a caracterizam e adornam.
A Pompéia, território desmembrado do José Menino, entre os canais 1 e 2, é um bairro relativamente novo. O nome do bairro deriva da
capela de Nossa Senhora da Pompéia, nele localizada, lembrando a primeira igreja construída na cidade italiana de Pompéia. Quem construiu a de Santos foi o empresário Francisco Loureiro, em 1927, o mesmo cidadão que iniciou a urbanização do
Morro de Santa Terezinha. Entre os anos de 1930 e 1940, essa capela passou por demorada reforma. Loureiro a vendeu para a Diocese de Santos, mas impôs uma condição, a manutenção do nome da santa, de quem ele era grande devoto. Hoje o bairro da
Pompéia vem desenvolvendo um grande comércio e a construção de muitos prédios residenciais.
O Marapé recebeu esse nome por ser o caminho usado para chegar ao mar, evidentemente a pé. Sua referência principal é o cemitério vertical que ali foi
construído, recebendo o nome de Memorial. Uma obra extraordinária citada no famoso Guiness Book, como o mais alto cemitério vertical do mundo.
O Embaré, entre os canais 4 e 5, recebeu esse nome em razão de ali existir uma grande chácara pertencente ao visconde do Embaré. Ele ergueu ali uma capelinha,
a que deu o nome de Capela de Santo Antônio, inaugurada no dia 19 de outubro de 1875. No início do século XX essa capela foi aumentada, uma vez que essa chácara e muitas outras se transformaram em residências. Hoje, no
local onde existiram as duas capelas, está a grande Basílica de Santo Antônio do Embaré.
O Macuco, hoje um dos bairros mais populosos, surgiu em 1870. Esse nome originou-se da família Macuco, dona de grande área nesse local. A chácara onde residiam
era muito ampla, abrangendo terrenos onde viriam a ser abertas muitas ruas. Vinha desde a atual Rua Dona Luiza Macuco até a Avenida Conselheiro Rodrigues Alves. Por ocasião da morte dessa senhora, seus herdeiros cederam áreas necessárias à abertura
de diversas ruas. Com isso, pessoas adquiriram terrenos e neles construíram suas moradias.
Nessa época surgiu um conflito entre os moradores do novo bairro e a Câmara Municipal. Até então havia somente o Cemitério do Paquetá, inaugurado em 1853 e já
quase totalmente ocupado pelas Irmandades. Com as inúmeras mortes causadas pela epidemia de febre amarela ocorrida em 1889, o poder político viu-se à frente de um grande problema, a necessidade de construir um novo
cemitério. Pensaram em fazê-lo no Macuco, mas encontraram forte rejeição por parte de seus moradores. Feito um abaixo-assinado, contou com adesão de 164 munícipes.
Decidiu então a Câmara que o cemitério fosse construído no Saboó. Assim surgiu o Cemitério da Filosofia, que hoje se encontra também superlotado. Em época menos
distante, criou-se o Cemitério da Areia Branca. Até a perpetuação de campas foi suspensa, em razão da falta de local para enterros. Sem dúvida alguma, esse é um problema preocupante. Felizmente, a cultura de nosso povo
evolui e muitas pessoas optam, em vida, pela cremação.
Muito alongaria esta exposição, discorrer sobre os bairros nascidos em razão do crescimento da população, hoje avaliada em mais de 400.000 pessoas. Os principais são:
Saboó, Alemoa, Chico de Paula, Santa Maria, Rádio Clube, Caneleira,
Bom Retiro, São Jorge, Areia Branca.
Também os morros passaram a abrigar muitas moradias, principalmente de pessoas mais humildes. Mas, com o tempo, também migraram para os morros pessoas de maior poder econômico, surgindo
construções que deram novo visual a esses locais, valendo citar os morros do Pacheco, Penha, Monte Serrat (antigo São Jerônimo), São Bento e
Nova Cintra, este o mais procurado, aprazível e famoso, por abrigar uma bela lagoa. Lá existem construções de alto nível, citando-se, como referências, a Escola Americana e a
Casa do Sol, antigo Asilo dos Inválidos.
O Morro de Santa Terezinha, com acesso pelo José Menino, é um bairro mais aristocrático, antes conhecido por Suíça Santista e Morro do Loureiro. Sua
urbanização foi iniciada por Francisco Loureiro, que o dividiu em lotes e abriu a primeira estrada. Também construiu a Capela de Santa Terezinha. Quando ele faleceu, quem assumiu a direção desse local foi o seu genro,
José Ferreira da Silva, que recomprou os lotes vendidos, fez o calçamento das estradas já abertas e construiu um grande edifício onde se congregavam restaurante, bar, salão de danças e mirantes. Sua idéia era criar ali
um centro de turismo que viesse a atrair muitos visitantes.
Posteriormente o Morro de Santa Terezinha foi adquirido pelo empresário Cláudio Pires Castanho Doneux, que voltou à idéia antiga, vendendo lotes onde se edificaram suntuosas mansões, às
quais se tem acesso por um portal com guarda permanente, só permitida a entrada a moradores ou pessoas por eles autorizadas.
MONTE SERRAT
Este morro é de grande importância e merece um capítulo à parte, por ser um importante marco histórico
de Santos. Em seu topo está a igreja que abriga a padroeira da cidade. Seu primeiro nome foi Morro de São Jerônimo, já que, em sua encosta, fora construído um oratório onde colocaram a imagem desse santo.
Nossa padroeira é originária de Barcelona, na Espanha. Em seus arredores
erguia-se uma montanha a que deram o nome de Monte Serrat, para onde fora levada uma imagem de Nossa Senhora, para ser venerada pelo seu povo. Quando os mouros invadiram a Espanha, os devotos de Nossa Senhora, com receio de que a destruíssem,
esconderam-na numa caverna existente naquela montanha. Ali ficou por dois séculos, até ser encontrada por pastores. Reacendeu-se a devoção àquela que ficara tanto tempo em local ignorado e fora finalmente encontrada. A notícia do acontecido
espalhou-se por toda a Europa em vista da ocorrência de milagres, ocorridos e logo atribuídos a Nossa Senhora do Monte Serrat, como passou a ser chamada, desde que encontrada nesse local.
Em 1598, o governador geral do Brasil, d. Francisco de Souza, trouxe para Santos uma imagem da Santíssima Virgem, de quem era devoto, para entregá-la aos monges beneditinos que viriam
aqui se instalar e, há algum tempo, já propagavam a devoção a Nossa Senhora do Monte Serrat.
A construção do Santuário de Nossa Senhora do Monte Serrat teve início nesse mesmo ano, no morro que ainda mantinha o antigo nome, também por iniciativa de dom Francisco de Souza, seu
grande devoto.
Durante a invasão holandesa ocorrida em 1614, na Capitania de São Vicente, um grande milagre veio aumentar ainda mais a devoção àquela
que já era considerada como padroeira de Santos. Quando soldados, saqueadores e incendiários invadiram a vila, muitos habitantes subiram o morro, à procura de abrigo. Os soldados se dirigiram ao morro, com intenção de chegar ao topo, alcançando a
capela e os moradores, mas um desmoronamento soterrou muitos invasores, fazendo com que os restantes, assustados, abandonassem a vila. O desastre que salvou os habitantes da sanha dos soldados foi considerado como um milagre de Nossa Senhora que,
em razão disso, passou a ser venerada com maior devoção.
No ano de 1954, por decisão da Câmara Municipal, ela foi declarada oficialmente "Padroeira da Cidade" e coroada em 8 de setembro de 1955. Essa data passou a
figurar no calendário da cidade, como feriado municipal. As comemorações que ocorrem todos os anos são comoventes, pois revelam a grande fé dos santistas em sua protetora. Sua imagem, alguns dias antes, é trazida para a Igreja Catedral, onde
permanece exposta à visitação pública. Recebe inúmeras manifestações de fé e no seu dia retorna à capela do Monte Serrat, através de uma procissão que sobe os 415 degraus da escadaria construída pela Prefeitura, onde
encontramos as estações da Via Sacra.
Ao lado da igreja, há uma sala de agradecimentos por graças alcançadas. Em exposição, retratos, muletas, aparelhos ortopédicos, mãos, pés e cabeças de cera, até vestidos de noiva,
simbolizando a fé em sua proteção. Muitas velas são acesas. É a gratidão à nossa padroeira.
Para ir à sua igreja, não contamos apenas com a escadaria, mas também com os bondes funiculares, cujo aparecimento se relata agora. Wallace Cóchrane Simonsen,
conhecido empresário, idealizou a instalação de um bondinho que transportasse pessoas e encomendas ao alto do morro. Entrou em contato com engenheiros alemães que apresentaram um projeto interessante e viável. Imediatamente, ele obteve da
Prefeitura a concessão para a montagem dos sonhados bondinhos. Pela lei 392 de 26 de maio de 1910, era atendido o seu pedido, bem como estipulado o prazo de 50 anos para sua exploração. Esbarrou logo com algumas dificuldades. O material necessário
viria da Alemanha e com a 1ª Guerra Mundial, entre 1914 e 1918, constatando que a demora para entregar o material seria grande, o que o decepcionou e fez desistir da idéia.
Passado algum tempo, Vicente Abraão e Adelino Raposo tentaram a construção do sistema, mas também não foram até o final. Passaram a concessão para a S/A
Elevadores Monte Serrat, uma empresa criada por Antonio Alonso, Ciríaco Gonzalez, Cândido e Manoel Vallejo, e os irmãos Fortes. Iniciados aos 19 de julho de 1923, os serviços duraram quatro anos. E desde então os bondinhos funcionam
regularmente. Eles correm sobre dois trilhos, com um desvio no centro do percurso. São puxados por cabos de aço também importados, substituídos, para total garantia, a cada quatro anos.
Em janeiro de 1946, a empresa Cassino Elevadores Monte Serrat S/A, de Manoel Vallejo, passou a administrar esse serviço. Com sua morte, seus filhos passaram a dirigir a empresa, dando
continuidade ao serviço de transportar os moradores do morro e os que desejam visitar a padroeira de Santos.
Quando construíram ao lado da igreja o grande edifício onde funcionou o cassino de jogos, muitos foram contrários a essa obra, pois achavam que esse local devia ser usado apenas para
cerimônias religiosas, quermesses, romarias e outras manifestações de fé. Mas a opinião da maioria não foi considerada e em 1927 era inaugurado esse empreendimento. Seu acabamento foi feito com materiais importados. A decoração feita com tecidos
franceses. Os tapetes também vieram da França. Até as toalhas de mesa e pratarias vieram da Bélgica.
Quando ocorreu um lamentável desmoronamento de parte do Monte Serrat, em 1928, deixando um grande número de mortos e desabrigados, muitos atribuíram essa
tragédia à instalação do cassino ao lado da igreja.
Até 1946 o cassino funcionou normalmente, sendo então desativado pela proibição do jogo no Brasil, por decisão do então presidente,
Eurico Gaspar Dutra. Hoje, o prédio do antigo cassino é alugado para a realização de eventos sociais e abriga uma casa de lanches e um comércio de lembranças típicas, incluindo fotos e prendas religiosas, além
de uma pitoresca sala de espelhos, onde as pessoas se vêem descaracterizadas, provocando muito riso. |