Cemitérios Santistas
Historiadora Eulâmpia Requejo Rocha
Portal de entrada do Cemitério do Paquetá
Foto publicada com o artigo
CEMITÉRIO DO PAQUETÁ
O antigo nome do Cemitério do Paquetá era Cemitério Municipal da Cidade
de Santos, conforme indicação no Livro de Enterramentos nº 6, do período de 1892 a 1896.
Costumava-se enterrar os mortos nas igrejas, pois ainda não havia um cemitério público em
Santos. Mas, com o passar dos anos, os enterros - que na época eram feitos na Igreja do Valongo - já estavam saturados e
precisavam urgente que se construísse um cemitério público na cidade. (N.E.: informa o Almanaque de Santos 1971,
de Olao Rodrigues, que "antes de 1853 os enterramentos eram feitos no chamado quintal de Santo Antônio, atrás do antigo Convento (ala
destruída para construção da Estrada de Santos a Jundiaí); antes de 1850 as pessoas classificadas eram enterradas nas
igrejas e nos adros e pátios das igrejas: Carmo, Santo Antônio, Matriz N. S. das Graças, Rosário, São Francisco, São Bento").
Em 1851, os vereadores da Câmara Municipal adquiriram um terreno perto do Rio
dos Soldados, onde perto já se encontrava o antigo Cemitério dos Estrangeiros ou Cemitério dos Protestantes, e deu-se início à transação
comercial do terreno.
Em 1853, construiu-se o muro, colocou-se a grade e o portão de ferro, e somente uma parte foi
aterrada, dando-se, no dia 18 de outubro deste mesmo ano, a benção solene e os primeiros enterramentos.
Em 1854, a Câmara conseguiu verba para a construção da Capela de Santo Cristo. O regulamento de
funcionamento do cemitério foi publicado pela Câmara na sessão de 1º de dezembro de 1854 e o regulamento definitivo foi aprovado, pela Assembléia
Provincial, na sessão de 16 de fevereiro de 1855. O primeiro inspetor do Cemitério do Paquetá foi José Justiniano Bittencourt.
Em 1855, devido à epidemia da cólera, foi aterrada e preparada às pressas mais uma quadra do
Cemitério.
Em 1858, foram trasladados os ossos dos mortos sepultados no antigo Cemitério de Santo Antonio do
Valongo, em solenidade no dia de Finados.
A área total do Cemitério do Paquetá tem 25.000 m² e cerca de 10.400 m² são ocupados por
irmandades religiosas, que pagam à Prefeitura uma taxa de ocupação.
As dez irmandades que ocupam o solo do Paquetá são: Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, Nossa
Senhora do Terço, Veneranda Ordem Terceira do Carmo, Nossa Senhora do Rosário, São Benedito, Nossa Senhora do Amparo, Nossa Senhora do Rosário
Aparecida, Venerável Ordem Terceira de São Francisco da Penitência, Confraria de Nossa Senhora da Boa Morte e a do Santíssimo Sacramento da Catedral
de Santos. São ao todo 13 jazigos das Irmandades, pois três delas possuem dois jazigos. O restante, são jazigos municipais.
A Capela de Santo Cristo, localizada quase no centro do cemitério, foi inaugurada em 1855, sendo
que os dois corpos laterais que se referem à sacristia e à morada dos guardas, hoje usados para o escritório da administração, foram construídos em
1880.
Na época dos primeiros sepultamentos, construíam-se os túmulos com mármore branco, depois
substituído pelo granito preto, descaracterizando o cemitério.
O caixão era carregado do carro até a Capela, depositado na eça e aberto para verificação pela
administração do cemitério. Hoje é utilizada uma carreta que leva o corpo até o local do sepultamento. O carro fúnebre perdeu toda a imponência,
pois era preto ou branco, puxado por cavalos emplumados e ajaezados, e hoje é um simples furgão comum.
Já naquela época havia diferença nos enterros de pobres e ricos. Enquanto os ricos eram levados em
carros emplumados, os pobres iam num bonde, cuja linha era específica para enterros, o bonde 9, da Companhia City, que
era alugado para levar pessoas pobres, onde o caixão ia sobre o encosto dos bancos e, nos outros, iam familiares e amigos. A evolução acabou com o
respeito aos mortos, pois o traje era formal e não se atravessava um cortejo fúnebre, como acontece hoje.
Quem deu a bênção na inauguração da Capela foi o Cônego José Norberto de
Oliveira, com todas as formalidades, além da primeira missa.
Cemitério fica no bairro do Paquetá
Foto: Prefeitura Municipal de Santos/InvestSantos
No
dia 9 de dezembro do ano de 1854, o presidente da Câmara apresentou o livro destinado ao registro dos sepultamentos pelo secretário da Câmara e
foram contratados dois escravos como coveiros.
Sua abertura: "Livro 1
- Serviço de Assentamentos de Óbitos do Cemitério do Paquetá - 1854/1864 - Registro de Óbitos. Este livro por mim numerado e rubricado com o meu
apelido Martins. Servirá para nele serem lançados os assentos das pessoas que no cemitério público se enterrarem. Santos, 30 de novembro de 1854 -
assinatura de Francisco Martins dos Santos - presidente Interino da Câmara Municipal".
Os assentamentos nesse livro se iniciaram no dia 8 de dezembro de 1854 e terminaram a 7 de janeiro
de 1864.
No portal do cemitério está colocada a inscrição: "In Pace Idpsum Dormian Et Requiescam" -
"Descansem em paz os que dormem eternamente".
Em 1902, a Intendência Municipal mandou demolir a Capela de Jesus, Maria e
José, por estar bastante arruinada, e daí foram trasladados para o Paquetá vinte e quatro ossadas que foram sepultadas na quadra da Irmandade de
Nossa Senhora do Terço. Dentre essas ossadas, foram encontrados objetos curiosos: uma fita de ouro, com as pontas dobradas, trazendo o lema
"Independência ou Morte" e uma borla pertencente a uma banda ou faixa da Ordem Militar. Sabendo-se que tais objetos só podem ter pertencido a um
capitão de milícia ou capitão-mor, conclui-se que poderiam ter sido do capitão Manuel José Vieira de Carvalho, que foi sepultado nessa capela em 4
de janeiro de 1820, e do capitão-de-milícia José Antonio Vieira de Moraes, que foi sepultado em 19 de dezembro de 1823.
O Cemitério do Paquetá é considerado patrimônio histórico, arquitetônico e cultural de Santos, por
sua antiguidade; pelos homens ilustres que aí estão sepultados, tanto a nível municipal quanto nacional; pela beleza arquitetônica que não se usa
mais. Aí estão sepultados o dr. Martins Fontes, o historiador e pintor Benedito Calixto,
Joaquim Xavier da Silveira, o poeta Vicente de Carvalho,
Quintino de Lacerda, Paulo Gonçalves, Cleóbulo Amazonas Duarte,
Fábio Montenegro, Renata Agondi, Francisco Martins dos Santos, João Gommensoro Wandenkolk (o mais procurado no
dia de Finados, por dizerem ser santo); e outras dezenas, sejam antigos, como mais recentes.
No dia 10 de novembro de 1993 houve um incêndio criminoso, que queimou alguns livros de registros,
atingiu a Capela e o escritório da administração. A imagem de Nosso Senhor Jesus Cristo despencou do altar.
Esta capela foi restaurada na administração do atual
(N.E.: obra publicada em 1996) prefeito, Dr. David Capistrano Filho e reinaugurada no final de
1994.
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