Página 1 da publicação especial de O Estado de São
Paulo, de outubro de 1939
[Esquerda] As portas de entrada do Paço
Municipal são verdadeiras obras primas de ferro batido, saídas das oficinas de C. Giardina, à Alameda Barão do Rio Branco, 16 e 18 - S. Paulo
[Direita]
Todas as impermeabilizações do subsolo, da fachada e dos terraços do Paço Municipal foram feitas com Imprex e Rebocol pela Empresa Concessionária de
Produtos Ltda.
Página 2 da publicação especial de O Estado de São
Paulo, de outubro de 1939
Na fotografia ao alto observam-se a grandeza e a suntuosidade do grande hall do palácio da
Prefeitura de Santos. O serviço de decorações foi executado pela Sociedade Technica e Commercial Anhanguéra Ltda. A escadaria, o piso e os lambris
são todos de mármore fornecido pela firma Hugo Porta. O tapete único que cobre o piso é de borracha; a larga e espessa passadeira que sobre ele
corre é igualmente de borracha, tudo isso fornecido pela Manufactura de Artigos de Borracha e Edonite Ltda. "Pagé".
Página 3 da publicação especial de O Estado de São
Paulo, de outubro de 1939
Paço Municipal de Santos
SANTOS, porto de São Paulo, será, num
futuro próximo, porto de uma vasta região do nosso Continente. Assim, de etapa em etapa, esse núcleo turbilhonante de vida foi a porta por onde
entrou a civilização desta zona do planalto, germinando até alargar-se no bandeirismo que alcançou terras andinas; foi por essa porta atlântica que
entrou a máquina, seguindo sobre carros de bois para o interior, numa espécie de semeadura de energia, que brotou, desenvolveu-se e floriu num
empório industrial cujos produtos encontram ainda em Santos seu melhor caminho; foi por ela, a nossa porta sobre o mar, que recebemos os trilhos e
as locomotivas que se estenderam por aí afora e, dentro de pouco, irão abrir as represas de ouro das regiões do Pacífico.
Poucos conseguiram prever, nas névoas do passado, o que Santos veio a ser no último século
(N.E.: século XIX); ninguém poderá calcular,
igualmente, fixando a linha do horizonte, o que Santos virá a ser em dias do porvir. Ao pensar no futuro de Santos, a gente sente-se levada ao
passado, ao seu mais remoto passado. Alvorece para o Brasil. A expedição de Martim Afonso de Souza aporta a um vago
São Vicente e vai distribuindo terras aos homens que trazia, de acordo com os seus merecimentos e pergaminhos. Surge logo
depois, num vislumbre de povoamento, a terra de Engaguassu, fronteira ao Valongo. Aí se
estabelecem, com roças, Paschoal Fernandes, Domingos Pires, Braz Cubas, Luiz de Góes, José e Francisco
Adorno, estes últimos nascidos em Gênova.
O engenho de São João, dos Adornos, foi um núcleo de vida.
Ao longo dos anos que se seguiram, aqueles morros virgens e férteis, alguns dos quais de pitoresco
recorte, riscaram-se de caminhos, mancharam-se de claro com canaviais, povoaram-se de tetos e iniciaram um ritmo que havia de empolgar a borda da
água, depois o planalto, um ritmo que era apenas isto - o trabalho.
Os anos foram passando à desfilada. E o trabalho, que era rudimentar, primitivo, monocórdico como
a música do tempo, foi descendo dos morros, foi se insinuando, foi contaminando os homens e transformando a paisagem. Entre os morros e o estuário
começaram a alargar-se os caminhos que se iam bordando de casas, de hortas, de oficinas e de estabelecimentos comerciais.
Um dia, esses caminhos se transformaram em ruas. Sobre o tijuco estenderam-se os
trapiches e foram esperar os barcos que procediam do Norte e do Sul. Pela estrada de São Paulo
chegavam as tropas, os cargueiros, com a mercadoria equilibrada no lombo, em duas bruacas de couro. Por outro lado, a mercadoria trazida nos porões
de lugras e escunas era remetida para a capital da Província, repartindo-se por todo o interior. Chegavam e partiam os banguês.
De quando em quando, num diz-que-diz-que de novidade, entravam pela cidade cadeirinhas
verde-claro, com cortinas cor-de-rosa. Os homens paravam na rua para vê-las passar; as cortinas se arrepanhavam, e rostos delicados espiavam
timidamente para aquele cenário negrusco de trabalho brutal, onde a peste ficava de tocaia nas esquinas e, freqüentemente,
apunhalava os homens pelas costas. Ignorava-se o medo à morte. Ficava-se familiar da aventura. Perdia-se a riqueza ou a vida de um momento para
outro, como se perde uma boa carta num jogo de bisca. A serenidade perante a vida deveria permanecer para sempre na alma do santista, como uma marca
daqueles dias. O primeiro trem de ferro partiu de Santos para São Paulo.
Um dia a cidade cantou nas ruas a glória da Abolição; outro dia, Santos
vibrou até o mais profundo de seu ser com as esperanças da República. Um novo surto empolgou a cidade. Vieram os
transportes coletivos, os cais do porto, as obras de saneamento
e de conforto, as mil expressões de progresso que, pouco a pouco, foram transformando a cidade e a vida de seu povo.
Ao lado de tudo isso, o estudioso da história de Santos observa a ação sempre enérgica de seu
povo, tanto no trabalho como na política. Poucas populações do Brasil se interessarão tanto pelas coisas públicas como a população de Santos. Ao
longo de sua existência como coletividade, Santos contou administradores de envergadura que, muitas vezes, foram chamados para os mais elevados
cargos da administração pública. Seria ocioso recordar aqui os varões ilustres, saídos do berço dos Andradas.
Sua existência foi sempre muito viva. os problemas debatidos na Câmara empolgavam todo o mundo. A
história está cheia de interessantes episódios que bem retratam o interesse do santista pela administração da sua terra. Observou-se, no entanto, um
fenômeno curioso: gente que tão de perto seguia a discussão de seus problemas não foi das primeiras a ter um edifício que correspondesse à
importância da cidade. Ainda há pouco, a Prefeitura de Santos estava instalada naquele velho sobrado do
Largo Monte Alegre, como de empréstimo, onde não havia nada que se recomendasse, beleza arquitetônica, espaço para os
múltiplos departamentos, facilidades para o público etc. A Câmara e a Prefeitura ali funcionaram não apenas alguns anos, mas dezenas de anos. Tudo
cresceu ao redor da Prefeitura, menos a Prefeitura. Todo este imenso progresso saiu dali, só o governo municipal não saiu daquele sobradão.
Lembrara-se de tudo, menos de si mesmo.
Para um indivíduo, tal atitude poderia ser a melhor das recomendações, mas para uma cidade que
representa de vestíbulo no Estado de São Paulo, a modéstia dos santistas se transformava num esquecimento, senão num pecado. Parecia desmentir as
cifras oferecidas pelo seu imenso comércio. Uma cidade cujo nome, ligado a um produto, dava volta ao mundo, discutido e aclamado nos maiores centros
do planeta, não poderia continuar a ter como sede administrativa aquele sobradão carcomido pelo tempo, enquanto os seus departamentos andavam
espalhados pela urbe, em edifícios particulares.
A idéia da construção de um Paço Municipal que correspondesse ao progresso e à beleza da cidade
vinha sendo, desde muito tempo, uma aspiração dos santistas. Na Praça Mauá, em frente ao prédio dos
Correios e Telégrafos, havia um terreno murado que se destinava, havia muitos anos, desde 1908, a essa construção. Era preciso, porém, dar
início à grande obra. Essa glória coube ao governo de São Paulo que, em 13 de novembro de 1936, deu os primeiros passos para a sua realização. Logo
a seguir, organizados plantas, orçamentos, maquete e demais preparativos, a obra teve início em dezembro de 1936, sendo oficialmente inaugurada em
26 de janeiro último, por ocasião das festas comemorativas do primeiro centenário da cidade de Santos.
Graças a essa iniciativa, a cidade de Santos já conta com o seu Paço Municipal. É o mais belo
edifício público da cidade, indubitavelmente um dos mais formosos do Brasil. Ergue-se na Praça Mauá, uma vasta e clara praça onde a arte urbanística
traçou, com extrema felicidade, uma miniatura dos jardins de Versalhes. Ao fundo desse cenário, completando-o, ergue-se o suntuoso palácio
neoclássico.
À direita, um quadro admirável: movimentadas ruas bem características de Santos e, logo a seguir,
o panorama inesquecível dos morros, com suas manchas claras de edificações, vendo-se no topo do Monte Serrat a boate
cinzenta do Casino e um pano alvo da torre da Igreja. À esquerda, adivinha-se o movimento da
Rua Quinze de Novembro e, mais para longe, a vida tumultuosa do estuário, terminando igualmente num decór de
morros que, afastando-se, percorrem toda a gama do azul.
Contemplamos com emoção aquela massa arquitetônica em cujo interior palpita o coração desta terra
excepcional, onde a riqueza nacional circula em torrentes, sob palavra, e o café se transforma em ouro. Sim, café vale ouro. E ouro de tão boa
qualidade que pôde um dia servir de lastro para a nossa moeda.
Mas nós caminhamos para o palácio e, já a subir a suntuosa escadaria, ocorre-nos pedir algumas
informações técnicas sobre aquela construção. Somos atendidos com presteza.
O edifício pesa, com suas sobrecargas (móveis etc.) de 11.000 a 12.000 toneladas. Está fundado
sobre 258 estacas Franki, de comprimento médio de 16 m cada uma.
A quantidade de concreto empregado no edifício alcançou o volume de 3.180 m³, tendo sido
empregadas cerca de 410 toneladas de ferro. Na alvenaria de tijolos, foram empregados cerca de 2.050.000 tijolos, ou sejam 9.900 m³.
As bases para os cálculos foram as seguintes:
SOBRECARGAS:
Hall, corredores, pórtico, escadas internas, patamares,
salão de sessões, galeria, restaurante, terraços |
0,400 t/m² |
Arquivos, salão nobre |
0,300 t/m² |
Biblioteca |
1.200 t/m² |
Escritórios, gabinetes dos diretores, engenheiros etc. |
0,250 t/m² |
Lavatórios e WC |
0,100 t/m² |
Escadas externas |
0,750 t/m² |
PESOS PRÓPRIOS E PESOS ESPECÍFICOS:
Alvenaria |
1.500 t/m² |
Concreto armado |
2.400 t/m² |
Concreto magro |
2.000 t/m² |
Assoalho |
0,080 t/m² |
Ladrilhos |
0,080 t/m² |
Telhado (projeção) |
0,120 t/m² |
Forro |
0,060 t/m² |
Toda a estrutura de concreto armado foi recalculada de acordo com as normas alemãs de 1932. O
número de pranchas detalhadas da parte de concreto armado alcançou a cerca de cem.
Acreditamos que o serviço de revestimentos e decorações, bem como os demais acabamentos, são dos
mais bem terminados em edifícios públicos do Brasil, para o que não se pouparam estudos de detalhes etc.
Todas as impermeabilizações do subsolo, da fachada e dos terraços foram feitas com Imprex e
Rebocol pela Empresa Concessionária de Produtos Ltda.
Com autorização do dr. Cyro de Athayde Carneiro, prefeito municipal de
Santos, na amável companhia do dr. Octavio Ribeiro de Mendonça, diretor de Obras, e sr. Francisco Paino, diretor
administrativo, visitamos o palácio do município precisamente na véspera de sua entrega à cidade. Se o Paço Municipal, em conjunto, visto da Praça
Mauá, é de uma beleza impressionante, os seus detalhes contribuem para que essa impressão se torne ainda mais profunda. Galga-se a escadaria, na
qual a pedra parece ter sido cortada de um só bloco; de um lado e de outro, montam guarda candelabros de ferro batido, verdadeiras obras-primas.
Diante do visitante, lustrosas na brancura opaca da frontaria, surgem as três portas de ferro
batido, onde o artífice modelou o metal como se se tratasse de cera. Candelabros, portas de acesso ao prédio e gradis internos do hall, são
trabalho das oficinas de C. Giardina.
Entra-se no grande hall. O piso é de mármore. Em frente, está a escadaria que leva aos
andares superiores. São mármores da firma Hugo Porta. O hall é cortado por passadeiras, ou melhor, passadeiras de borracha.
A Diretoria de Obras da Prefeitura Municipal de Santos deu a importância que merecia ao
fornecimento de passadeiras, capachos e tapetes de borracha para o novo edifício, e o revestimento das cinco grandes escadarias de mármore, que
englobam 217 degraus e 15 patamares, preferindo os sistema Pagé, que está consagrado pela prática. Assim, foi feito o emolduramento de cada
degrau com um jogo de borracha em três peças, piso, espelho e moldura reforçada, o que dá às escadarias um aspecto de maior suntuosidade. Em 235
metros corridos, calcula-se o revestimento geral das escadarias. Na confecção desse revestimento para o Paço Municipal foram empregadas cerca de
quatro toneladas de borracha nacional.
O teto patinado, apresentando primorosos lavores, é trabalho da Sociedade Technica e Commercial
Anhanguéra, sob a direção do seu engenheiro responsável dr. Antonio Bayma. Ao fundo, sobre o primeiro patamar da escadaria interna, ardem os
vitrais. Todos os vitraux e vitrix do Paço Municipal foram fornecidos pela Casa Conrado. À direita de quem entra, estão os quatro
elevadores Otis, que servem a todos os andares. À esquerda, vê-se a entrada da Tesouraria, cujos guichês dão para a galeria do público.
Essa galeria atravessa o andar térreo da Rua Cidade de Toledo à Rua General Câmara. É por ela que
transitam os que vão à Prefeitura tratar de seus interesses. Guarnece-a de ponta a ponta uma passadeira de borracha Pagé. Sobre a galeria,
como dissemos, abrem os guichês da Tesouraria. Todas as divisões, assim como o mobiliário desse departamento, foram fornecidos pela firma José
Teperman & Cia. O piso da Tesouraria é feito de tacos de madeira, fornecidos por Presgreave, Mello & Cia. Sobre a galeria abre-se a vasta e bem
guarnecida biblioteca, para uso do público, onde se encontram obras de valor, trazidas da antiga Prefeitura. Possui guarnições e móveis fabricados
pela firma Antonio Palmieri, de Santos. Aí podem ser admiradas duas formosas telas: Bartolomeu de Gusmão e Braz Cubas.
Do hall para a galeria do público há duas portas de ferro, primorosamente trabalhadas e
providas de fechaduras La Fonte, da firma Carvalho, Meira & Cia.
Mais adiante, vemos a vasta sala dos fiscais, com as suas numerosas mesas, onde os funcionários
podem trabalhar num ambiente agradável. Essa sala está otimamente guarnecida pela casa A Mobiliadora, de Isidoro Chansky. A seguir, outro
departamento administrativo: é a seção de Tributos não Lançados, com divisões iguais às da Tesouraria e que foram fornecidas pela firma José
Teperman & Cia.
Mas voltemos ao hall, tomemos a escadaria interna e alcancemos o primeiro andar. É o andar
nobre. Ali é que se encontra instalado o grande salão das sessões da Câmara, decorado pela Sociedade Technica e Commercial Anhanguéra Ltda. Ao lado,
um salão menor para os vereadores se reunirem antes das sessões. Na sala contígua, uma biblioteca especializada para uso dos edis e comissões. O
salão de sessões é vasto, com poltronas para os vereadores e um recinto mais elevado para a presidência e secretários. No alto, a galeria para o
público. A iluminação é deslumbrante; um lustre de cristal da Bohêmia pairando entre o teto e as poltronas, acende-se em miríades de reflexos,
coando sobre o recinto uma claridade opalescente, sem sombras. Nas paredes laterais, quadros representando Martim Afonso e Braz Cubas; no local de
honra, o retrato da Princesa Isabel, trabalho de Angelo Cantú. O piso está coberto por um só tapete, admirável obra da Manufactura de Tapetes Santa
Helena. Nos ângulos, em panneaux, a Caridade, a Justiça e a Nacionalidade.
Há ainda outras salas: o gabinete do prefeito, a sala de espera, a sala nobre, a sala do oficial
de gabinete, as salas dos diretores de seções, todas elas guarnecidas de lambris de madeira compensada e folheada, jacarandá pardo e jacarandá da
Bahia, fornecidos pela firma Presgreave, Mello & Cia., como distribuidores que eram da Selecção Industrial de Artefactos de Madeira, a qual agora
está executando diretamente esses trabalhos.
As salas dos diretores de seções foram mobiliadas pela firma Antonio Palmieri, de Santos. Merece,
no entanto, especial destaque o salão nobre, destinado a receber as visitas de personalidades notáveis. É um salão Luiz XVI. Todo o mobiliário, de
estilo correspondente ao salão, foi fabricado nas oficinas do Lyceu de Artes e Officios. As cortinas preciosas, os damascos lindos das poltronas,
todos os tecidos ali utilizados foram fornecidos pela Casa Alleman. Essa sala Luiz XVI, no seu conjunto, com os móveis
dourados e adamascados, é uma das mais lindas de nossa terra.
Chegamos novamente ao hall daquele andar e, tomando a escadaria, que ainda é de mármore,
subimos até o segundo andar. Alcança-se um vasto hall, cujo piso é todo de pastilhas Argilex de fabricação da firma Serva, Ribeiro &
Cia. Limitada. Esse revestimento do piso prolonga-se por diversos compartimentos daquele andar, até a sala de arquivo das plantas, instalada
especialmente para esse fim pela firma Nascimento & Filhos Ltda.
Nesse andar estão situadas as salas dos sub-diretores, admiravelmente instaladas e organizadas,
com móveis especiais fornecidos pela firma A Mobiliadora, de Isidoro Chansky. Aí estão igualmente a Procuradoria Judicial, a Diretoria de Serviços
Públicos e a Contadoria, que faz parte da Diretoria da Fazenda, de que é diretor o sr. Jayme dos Santos Diniz. Todas as portas e lambris são de
cabreúva, toda a pintura é de Luiz Schild.
Até o segundo andar, os pisos e lambris são de mármore; do segundo andar para cima são de madeira
de lei, notáveis pela durabilidade e expressão decorativa. As passadeiras nesse andar, como nos demais, são de borracha, marca Pagé. Aí nesse
andar, ocupando uma boa parte dos fundos, estão instalados os serviços sanitários, que não destoam do conjunto, isto é, constituem o que de melhor
até hoje se tem fabricado.
Subimos ao terceiro andar.
A disposição é a mesma do segundo. Aí está instalada toda a Diretoria de Obras com as suas três
divisões: a de Obras Públicas, Jardins e de Obras Particulares, e uma Divisão de Plano da Cidade, Cadastro, Projetos etc., cujo diretor é o
engenheiro Octavio Ribeiro de Mendonça. Todo o mobiliário das salas dos diretores foi fornecido pela firma Antonio Palmieri, de Santos. As salas dos
chefes de serviço foram fornecidas pela firma Isidoro Chansky. Os lustres de numerosas salas, tanto deste andar como dos outros, são da Sambra.
Eis-nos no quarto andar.
O pavimento é de pastilhas Argilex, tanto no hall como nos corredores. Nesta parte
do edifício está instalada a Diretoria de Educação e Assistência. É diretor de Assistência o dr. Alberto de Moura Ribeiro. Aí estão igualmente
instalados o Protocolo, o Fichário e a Diretoria de Repartições Externas. O aspecto geral da construção continua a ser ótimo: as salas principais
são revestidas de lambris de jacarandá da Bahia e jacarandá pardo, e as portas são entalhadas na mesma admirável essência de nossas matas.
Acima desse andar, na parte mais elevada do prédio, o hall alarga-se inesperadamente. Aí
vemos instalado o restaurante destinado a atender aos funcionários da casa do governo da cidade de Santos. Instalado, será o mais formoso recinto
que se possa imaginar, tanto pelo gosto que presidiu ao desenho e execução daquela dependência, a cargo da Sociedade Technica e Commercial
Anhanguéra Ltda., como também pela maravilhosa vista que se descortina do hall. Tem-se a cidade aos pés. As praças ajardinadas, as ruas
formigantes, os morros pintalgados de hortas e pequenas construções, riscados de caminhos e, pelo lado do mar, a colméia da
Companhia Docas, a fita cinzenta dos armazéns do porto, o estuário prateado e tranqüilo onde dezenas de vapores
se alinham nos cais ou cortam docemente as águas.
A gente se esquece do mundo na contemplação desse quadro.
Mas chega a hora de descer. Ainda há alguma coisa de interessante a observar. Toma-se um dos
admiráveis elevadores Otis e, quase sem perceber, chega-se ao hall do pavimento térreo. No entanto, descendo, as portas do elevador clareiam
em cada hall vencido e aos nossos ouvidos chega o tic-tac suave, característico, das numerosas máquinas de escrever adotadas no
serviço da Prefeitura de Santos e que, ativamente, cooperam para a facilidade e perfeição de seus serviços. São máquinas
Remington, auxiliares indispensáveis da vida acelerada de nossos dias, todas elas fornecidas pela Casa Pratt.
Chega-se ao hall do pavimento térreo; passa-se para a galeria do público e dali, por uma
porta que fica ao fundo do vestiário, desce-se ao embasamento do prédio. Se a parte Norte desse embasamento está ocupada pela caixa forte da
Tesouraria, pelo arquivo modelar e ainda por outros serviços, a parte Sul, que vamos visitar, encerra, por assim dizer, o organismo do prédio.
No fim da escada, pela qual só descem determinados funcionários da Prefeitura, estão localizadas
as bombas de água que comprimem o líquido de modo a proporcioná-lo com abundância de alto a baixo do prédio. Mais adiante, numa verdadeira central
elétrica, zinem misteriosos dínamos: ali é o quartel general da força que ilumina as salas, que aciona os elevadores etc. Foi contratante das
instalações o engenheiro Antonio Bayma, da Sociedade Technica e Commercial Anhanguéra Ltda. Tudo parece ter sido feito com a preocupação da
simplicidade, da facilidade, do conforto. Mais adiante, abre-se aparentemente por si mesma uma grande porta e chegamos a uma garagem. É a garagem
onde os diretores deixam os seus automóveis ao chegar ao Paço Municipal.
Do outro lado, numa série de largos compartimentos, funcionará a Junta de Alistamento Militar.
Anda-se mais. Esta parte do embasamento que se alarga em divisões claras é a Seção de Compras. Mais adiante, a sede da Guarda Municipal de Veículos.
Olhando melhor para as instalações, percebe-se que todo o mobiliário é construído de aço.
E assim, vamos terminar a nossa visita. Mas ainda não terminamos. Ali está uma curiosa instalação
da qual, sem o auxílio dos nossos amáveis cicerones, nunca chegaríamos a adivinhar o fim e a utilidade. É o depósito de lixo do Paço Municipal. A
varredura e o conteúdo das cestas, o cisco dos corredores, dos halls etc., é transportado para ali e, diariamente, esses resíduos são
queimados, mas queimados por processos novos, isto é, sem fogo, sem fumo, sem cheiro, sem dar sinal da operação por que está passando. Do depósito
só sai, após esse trabalho inteiramente despercebido por toda gente, um pouco de resíduos que só poderia ser comparado ao que resta de um idílio num
samba-canção: "É cinza e nada mais...".
Aí ficou, em largos traços, ligeiramente escarvoada, a nossa visita ao novo Paço Municipal de
Santos, que, afinal, dispõe de um palácio para o governo da cidade de acordo com a sua riqueza, a sua cultura, o seu bom gosto. Santos, há alguns
anos, ainda contava o paço municipal que só poderia corresponder á sua situação de há um século. E neste último século Santos sofreu a mudança que
vai de uma semente a uma árvore. E o desenvolvimento prossegue acelerado, já não de século para século, mas de ano para ano. Basta lembrar que em
1839 a receita orçada era de 3:500$000 e em 1939 essa receita monta a 19.250:452$500. Tal foi o crescimento maravilhoso de Santos.
Todas as fotografias que ilustram
as páginas do Paço Municipal de Santos
foram tiradas por Liberman.
Ao alto - Vista lateral do hall principal; aparecem aí as portas de dois dos quatro
elevadores Otis que servem o edifício.
Ao centro - Amplo salão da Tesouraria, vendo-se as
ricas guarnições e guichês de fabricação de José Teperman & Cia. Todo o piso é constituído de Parquet Ideal (seco em estufa), especialmente
fabricado pela firma Presgreave, Mello & Cia. como distribuidores que eram da Selecção Industrial de Artefactos de Madeira
Em baixo - O formoso salão da biblioteca destinada ao
público. Os móveis e demais instalações desse elegante recinto foram fabricados pela firma Antonio Palmieri, de Santos. O serviço é feito em
máquinas Remington, fornecidas pela Casas Pratt
Página 4 da publicação especial de O Estado de São
Paulo, de outubro de 1939
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