HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Rua Tiro Onze, casa 11 (A)
Considerada o prédio público mais antigo de Santos, a Casa
do Trem Bélico tem esse nome devido ao sentido popular da palavra "trem", significando "diversos materiais". Nela esteve sediada (desde
4/7/1910 até sua extinção em 1945) a corporação militar Tiro de Guerra nº 11, criada em 25/1/1908 e que acabou sendo
homenageada pelos importantes serviços prestados à Cidade, passando em 21/3/1919 a denominar a Rua Tiro Onze (onde funcionava, no
histórico casarão do número 11).
Casa do Trem Bélico, na função de centro de convivência, em 1998
Foto: Prefeitura Municipal de Santos
Classificada a partir de 1937 como Monumento Nacional, foi construída entre 1640 e 1656
(há bastante controvérsia a respeito, alguns dizendo que a data de 1734, de uma reforma importante, seria a verdadeira data da construção), junto ao
Outeiro de Santa Catarina, para armazenar o arsenal de guerra que protegia a Vila de Santos contra ataques indígenas e de
piratas, em apoio aos fortes construídos na entrada das barras de Santos e Bertioga.
Tem estrutura interna conhecida como falsa-tesoura (em relação ao método de sustentação do
telhado) e no pavimento térreo há três amplos salões separados por portas e grades de ferro, enquanto no andar superior há dois salões. As paredes,
feitas com uma mistura de pedra, cal de sambaqui e óleo de baleia, têm cerca de 90 cm de espessura.
Detalhes da porta principal da Casa do Trem Bélico, com o local do brasão real, retirado em 1889
Foto: jornal Cidade de Santos, reproduzida em Fortes e Fortificações do Litoral
Santista
Para a professora Wilma Terezinha de Andrade, o prédio foi desfigurado com a passagem do
tempo, pois parece desproporcional em termos de colocação de janelas, "fato que não era comum na época". É que a porta principal está entre duas janelas
do lado esquerdo e uma do lado direito, dando a impressão de que a reforma - promovida em 1734, ao tempo do Conde de Sarzedas (então capitão-general) e
do rei português D. João V -, tenha incluído alguma ampliação no prédio.
E o brasão do Império que existia no alto do arranjo da porta principal foi arrancado por
populares, ao ser proclamada a República, já que identificava o imóvel como sendo Casa do Trem Real. O imóvel acompanhou a vida militar santista, sendo
ali que, em 1821, se municiou a guarnição de Santos, quando do levante de Francisco José das Chagas. Em 1910, foi cedido ao
Ministério da Guerra para que ali funcionasse a Sociedade de Tiro Brasileiro de Santos número 11, da Confederação do Tiro (daí o nome atual da rua, Tiro
Onze). Aliás, em seus vários séculos de existência, serviu quase sempre para atividades militares, exceto em breve período em que lá funcionou uma
escola municipal. Tombada pelo Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, a construção chegou a ser cogitada para abrigar o Museu Bélico.
Retratando a péssima situação em que se encontrava então a Casa do Trem (que mais tarde
passou por nova restauração, sendo usada no final do século XX como Centro de Convivência Casa do Trem, buscando orientar e profissionalizar crianças
carentes, de 7 a 18 anos), o jornalista Antônio Alberto de Aguiar escreveu, na segunda parte da série de artigos "Socorro, a história de Santos está
morrendo!", em 11 de janeiro de 1982:
Casa do Trem Bélico, Rua Tiro Onze, 11
Foto: Francisco Dias Herrera, publicada com a matéria
A Casa do Trem Bélico, popularmente conhecida como Casa
do Trem, fica na Rua Tiro Onze, entre as ruas Visconde do Rio Branco e Xavier da Silveira, e ocupa praticamente um dos dois pequenos quarteirões que
restaram da antiga rua que chegava até o mar, formando um atracadouro conhecido como Porto Geral. A Casa do Trem Bélico teve também os seguintes
nomes: Armazém de Artigos Bélicos, Casa do Trem Real, Depósito de Trem-de-guerra, Edifício do Trem ou somente Trem. O prédio, um casarão colonial,
com dois pavimentos, contendo três salões na parte baixa e dois salões nos altos, foi construído em 1712
(N.E.: desconhecidas outras referências a tal ano, a polêmica seria sobre a construção por volta de 1640)
e reformado em 1734.
O imóvel era utilizado para a guarda de armamentos e apetrechos chamados na época como
trem-de-guerra, daí a origem do nome Casa do Trem, bem como para o armazenamento de pólvora. Antes do surgimento da Casa do Trem, as armas e
pertences de guerra eram guardados em residências particulares. No ano de 1849, foi considerada patrimônio federal, juntamente com os prédios da
Alfândega e do Arsenal.
Já em 1833 (N.E.: a data correta seria 1883),
estabeleceu-se no local uma escola do município e então a Câmara começou a conservar o prédio. Em 1948 (N.E.: data
correta é 4/7/1910), a Casa do Trem passou a sede do Tiro de Guerra nº 11, que deu origem ao nome
atual da rua.
Todavia, a ocupação pelo Tiro de Guerra deu-se por um período curto, ficando o imóvel abandonado
por muito tempo. Depois, o Exército passou a ocupar a Casa do Trem, nela instalando o Setor de Subsistência. Com a transferência desse departamento
para novas instalações na Bacia do Mercado, o prédio ficou abandonado, só começando a ser lembrado em 1962, quando tiveram início as especulações
para sua restauração por parte do Patrimônio Histórico.
Dessa data em diante, a Casa do Trem ficou novamente abandonada, à espera de quem a reformasse, o
que só ocorreu realmente em meados de 1978, quando foi restaurada pelo antigo IPHAN e pelo Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico do Estado (Condephaat).
A restauração - O prédio, semi-destruído pela ação do tempo e dos cupins, foi
reconstituído. Todavia, depois de pronto ficou trancado e só de um ano para cá (N.E.: desde 1981, portanto)
é protegido por guardas, que nele permanecem nas 24 horas do dia. Essa providência deveria ter sido tomada quando da restauração, ocasião em que
suas portas estariam abertas ao público. Mas isso até hoje não aconteceu. A porta continua fechada para o público e estudantes. Esse fato em si só
não quer dizer nada, pois para ver somente uma pequena placa de bronze afixada próximo à entrada principal, não compensa o esforço de se deslocar
até lá.
As professoras organizam excursões para a Casa do Trem Bélico e as crianças ficam decepcionadas,
já que a pequena placa não serve para ponto de fixação dos ensinamentos que recebem na escola. Os estudantes, como todas as pessoas interessadas em
monumentos históricos, gostam de apreciar as formações do prédio, ler assentamentos históricos originais, armas antigas e demais acervos, mas a
porta fica permanentemente fechada e dentro da Casa do Trem praticamente nada existe de interessante. A não ser as madeiras velhas, os cupins, que,
em verdadeiras batalhas, destroem impiedosamente as coleções de livros guardadas a chave no pavimento superior, e já estão atingindo também o
madeirame novo, ou seja, o prédio caminha novamente para a fase da destruição.
Banheiros e "jardins" - A decoração do abandono já está feita: em volta da casa o mato e
pés de mamona crescem viçosamente. O reboco das paredes internas e externas começa a deteriorar-se pela ação do abandono e má qualidade da
restauração. O telhado foi também reformado, mas em épocas chuvosas é bom levar um abrigo para visitá-lo em sua parte superior.
Na Casa do Trem não há água e tampouco banheiros, que foram destruídos por marginais antes da
chegada dos abnegados guardas-noturnos, que a todo instante têm que rechaçá-los, já que teimam em se apropriar do imóvel como o faziam
anteriormente. Luz, só existe a natural, isto quando alguém abre uma das portas ou janelas, pois parte do relógio da eletricidade foi roubada há
muito tempo. A calçada do prédio está toda esburacada e trecho do muro, em vista da má conservação, ameaça cair sobre alguém que passe pela Rua
Visconde do Rio Branco. (...)
Casa do Trem Bélico, Rua Tiro Onze, 11
Foto: Francisco Dias Herrera, publicada com a matéria
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Sobre a rua e suas denominações, escreveu o pesquisador Olao Rodrigues, em seu livro
Veja Santos! (2ª edição do autor, 1975, Santos/SP):
Casa do Trem Bélico, em 1977
Foto: Prodesan Informativo nº 36, outubro de 1977
(...)
A pequena via pública tinha (...) o nome de Travessa do Trem. Denominou-se, depois, Travessa Visconde
do Rio Branco. Lei nº 847, de 12 de janeiro de 1929, sancionada pelo prefeito municipal, Dr. J. de Sousa Dantas, alterou-lhe a denominação e deu-lhe
a categoria de Rua, segundo o Parecer nº 23, da Comissão de Justiça e Poderes, da Câmara Municipal, aprovado na sessão ordinária de 12 de janeiro de
1929, sob a presidência do Com. João Manuel Alfaia Rodrigues. Anos antes, ou a 16 de fevereiro de 1921, pela lei nº 647, do prefeito municipal,
coronel Joaquim Montenegro, fora considerada oficial.
Rua nº 53, a atual denominação foi de iniciativa do vereador B.
(N.E.: Benedito) de Moura Ribeiro, que - em Parecer da Comissão de Justiça e Poderes da Câmara
Municipal que recebeu o número 142 (e datado de 21 de março de 1919) - assinou o ato como "justa homenagem à briosa corporação que assinalados
serviços prestou por ocasião da epidemia da gripe".
O Tiro de Guerra nº 11 - Nilo Peçanha - foi fundado a 25 de janeiro de 1908 por Conrado Miler de
Campos. Prestou importantes serviços, não apenas pelo número de reservistas que deu à Pátria - 1.800, até 1939 - mas também pela ação dedicada de
seus homens na manutenção da ordem e da segurança da Cidade, como no desabamento do prédio do Correio a 1º de maio de 1915 e durante o surto de
gripe espanhola que tomou conta de Santos.
Durante muitos anos, a útil corporação serviu-se da antiga Casa do Trem como sede-quartel.
Casa do Trem Bélico, em 1977 - compare com a foto abaixo, já sem a construção no número 7
Foto: Prodesan Informativo nº 36, outubro de 1977
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Na sua obra Fortes e Fortificações do Litoral Santista
(edição particular do autor, 1982, Santos/SP), o pesquisador J.Muniz Jr. incluiu um capítulo sobre o tema:
Casa do Trem Bélico, em 1980 (compare com as fotos
acima e abaixo desta)
Foto: boletim Agência Facos, da Faculdade de Comunicação de Santos, 28/4/1980
A Casa do Trem Real
Ao abordarmos as fortificações de outrora, não poderíamos
deixar de focalizar um velho e histórico casarão colonial, que embora não tenha servido como praça forte, teve importante e ativa participação na
história militar da cidade, isso desde o século XVII, merecendo, portanto, ser enquadrada como um verdadeiro arsenal, pois destinava-se a recolher
armamentos e munições de guerra, cumprindo tal missão no decorrer dos séculos.
Bem junto ao cais do porto, na zona denominada Golfo, em plena Rua Tiro Onze (antigo Beco do Trem)
- entre as ruas Visconde do Rio Branco e Xavier da Silveira - permanece firme o secular e histórico edifício da Casa Real do Trem, construído
provavelmente no período compreendido entre 1640 e 1656. Naquela época, a Vila de Santos era apontada como uma importante Praça de Guerra, com suas
fortificações sempre em estado de alerta contra possíveis investidas de naus corsárias que infestavam as águas do litoral brasileiro, saqueando e
pilhando as povoações da costa.
Embora na verga da entrada principal da antiga Casa do Trem esteja assinalado o ano de 1734 - pois
existe a afirmativa de que foi construída na época do reinado de D. João V, o Magnânimo -, outras versões nos dão conta que naquele ano foram
concluídas obras nas suas dependências, e que a mesma simbolizava o poderio português na defesa e no progresso da terra santista.
Todavia, existe registro de que foi mesmo erguida nos tempos de D. João IV, o Restaurador,
que reinou de 1640 a 1656, tanto é que em cima da porta principal foram colocadas as armas reais (coroa e escudo), que foram destruídas parcialmente
pelo povo com o advento da República.
É válido ressaltar que a Casa do Trem foi construída na parte mais antiga da cidade, perto do
célebre Outeiro de Santa Catarina, em cujas imediações surgiu o povoado, local considerado o Berço da Cidade.
Outro fato curioso é que, após a sua conclusão, aquela Casa D'Armas tinha o seu próprio
ancoradouro, que ficava na parte Leste, e ficou conhecido como Porto Geral da Casa do Trem Real.
Num excelente artigo histórico denominado A Casa do Trem (revista Militia, Ano XIX,
nº 109), o capitão Reginaldo M. de Miranda relata o seguinte, sobre as origens daquele antigo estabelecimento militar:
"De 1580 a 1640, Portugal e possessões estiveram sob o domínio espanhol, situação que favoreceu
sobremaneira a expansão territorial luso-brasileira. Na faixa marítima, os portugueses estavam fixados em 1580 de Cananéia a Itamaracá e em 1640 do
Oiapoque à Baía de Paranaguá.
"Restaurada a independência portuguesa, em Santos tratou-se logo da construção de um edifício que
afirmasse, segundo o costume do tempo, a soberania, domínio e posse da Metrópole na região. Esta é a origem da Casa do Trem de Santos, construída
entre 1640 e 1656, segundo documentos de antigo arquivo da Alfândega..."
É sabido que a partir de 1700, devido à criação de uma guarnição do Exército na Vila de Santos dez
anos antes, foram edificados quartéis no terreno fronteiro à Casa do Trem, que no período de 1732 a 1739 esteve em obras para melhor poder servir
como casa de armas e depósito de munições e outros apetrechos de guerra, enfim como um verdadeiro arsenal.
"A Vila de Santos - acentua o cronista setecentista Pedro
Taques (História da Capitania de São Vicente) - está em vinte e quatro graus dentro da ilha da Vila de São Vicente, e é uma das mais nobres
que há em todo o Brasil pela construção das suas casas e templos, Casa da Câmara, e uma excelente cadeia banhada de um regato que sepulta suas águas
no mar; tem dois conventos, um de religiosos carmelitas e outro de capuchos de Santo Antônio; um mosteiro de monges beneditinos, cujo lugar é o de
presidente, e um colégio que foi de jesuítas; tem casa de misericórdia, e um nobre e formoso arsenal vulgarmente chamado casa do trem..."
Casa do Trem, em tela do
pintor Benedito Calixto
Considerada uma verdadeira relíquia militar, a Casa do Trem teve no século XVIII o seu período de
maior importância, e, no século XIX, continuou a acompanhar a vida militar da cidade e adjacências, pois, nos últimos dias do mês de junho de 1821,
teve participação no episódio revoltoso que resultou no enforcamento do cabo Francisco José Dias, o famoso Chaguinha. E logo após a
proclamação da Independência, foi oficialmente designada como Depósito ou Armazém de Artigos Bélicos, época em que teve como Mestre Manoel Francisco
Azevedo. Já no início da terceira década do oitocentismo, controlava uma grande quantidade de material bélico, passando ainda a ser reconstruído a
partir de 1855.
Pela Ordem do Dia, datada de 10 de maio de 1858, do Exército Imperial, o furriel Francisco José de
Abranches foi nomeado fiel daquele depósito, que no início dos anos setenta daquele século tinha como encarregado o alferes Antonio Carlos da Silva
e como fiel Francisco Romano de Freitas. Ainda de acordo com um relatório de 15 de janeiro de 1877, assinado pelo então ministro da Guerra, marechal
Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, foi descrito da seguinte forma:
"Edifício de sobrado, de um só andar, construído de pedra e cal, de sólida construção, com janelas
sobre todas as quatro frentes, tendo o pavimento superior um vasto salão com 13m96 de comprimento sobre 7m92 de largura, com prateleiras e cabides,
e mais três salas de menores dimensões, e no pavimento térreo três armazéns".
Devido ao término da guerra com o Paraguai em 1870, a importância militar da
praça foi diminuída, e logo em 1880, um Aviso de 2 de agosto, assinado pelo ministro dos Negócios de Guerra, extinguiu o Comando Militar de Santos,
ordenando ainda a retirada da pequena guarnição local. Nessa época, a Casa do Trem passou então a ser ocupada pelo Corpo de Polícia Permanente, e,
ainda naquele mesmo decênio, foi autorizada a instalação de uma escola pública em suas dependências.
Em 1891, por ordem do governo provisório, o quartel defronte da Casa do Trem começou a ser
demolido, iniciando-se assim o desaparecimento daquele reduto quarteleiro (ou zona militar), que havia levado a antiga Rua da Praia, onde fica a
atual Rua Xavier da Silveira, a ser denominada Rua dos Quartéis, bem como o local a chamar-se bairro dos Quartéis.
Entretanto, devido à Revolta da Armada Nacional, que foi iniciada em setembro de 1893, Santos veio
novamente a transformar-se em importante Praça de Guerra, época em que o Comando do IV Distrito Militar (sediado então na capital paulista) chegou a
ser transferido para o velho casarão colonial. E, a partir do ano seguinte, o alferes Júlio Duclos passou a desempenhar as funções de Encarregado do
Material Bélico de Santos, que voltou a ser instalado naquele histórico local.
Com o raiar deste século (N.E.: século XX),
quando foram iniciadas as obras de construção da Fortaleza de Itaipu, um destacamento do 24º Batalhão de Infantaria do Exército - com três
oficiais e 136 praças - passou a ocupar o secular edifício, que posteriormente veio a alojar outras guarnições federais, motivo pelo qual veio a se
transformar novamente em ponto de encontro das altas patentes do Ministério da Guerra.
A partir de 1908, com a fundação do Tiro Brasileiro de Santos nº 11, o então
Quartel do Trem passou a servir de sede para aquela recém-fundada corporação. E foi através do Aviso de 4 de julho de 1910 que o Ministério da
Guerra autorizou a cessão provisória do histórico imóvel ao Tiro Onze, que acabou ocupando o prédio durante o período de sua existência, isso até
fins de 1945, quando foi extinto.
Vale recordar que o antigo tiro de guerra santista mereceu elogios por ter conservado em bom
estado o Quartel do Trem durante todo o tempo que o ocupou, contribuindo, assim, para a sua preservação. Se não fosse isso, poderia até ter sido
demolido. Tão marcante foi a sua presença naquele local que até a própria rua acabou recebendo o nome da briosa e famosa corporação cívica: Rua Tiro
Onze.
Após o término da Segunda Guerra Mundial, a Casa do Trem passou a servir de depósito do 38º
Batalhão de Caçadores da Infantaria do Exército, sendo que, em fins de 1949, deixou de servir àquela Arma para transformar-se na sede da Comissão
Especial de Obras. Mas no ano seguinte voltou a ser ocupada novamente pelo Exército, que instalou ali um Entreposto de Subsistência, que funcionou
até meados de 1956.
Tendo permanecido fechado durante um certo tempo, o velho casarão foi sofrendo depredações, e
embora tombado pelo Patrimônio Histórico Nacional, acabou ficando num estado lastimável, quase caindo aos pedaços, servindo inclusive de abrigo de
marginais e vadios que freqüentavam a perigosa zona do Golfo. No entanto, em princípios da década de 1960, graças ao esforço do capitão engenheiro
João Sihler, que havia assumido a chefia do Serviço do Patrimônio da II Região Militar do Exército, o imóvel pôde ser preservado.
Em janeiro de 1965, na Delegacia do Serviço do Patrimônio da União em São Paulo foi lavrado o
termo de entrega ao MEC-DPHAN da antiga Casa do Trem de Santos, juntamente com outras relíquias históricas do passado, tais como as antigas
fortalezas da Barra Grande e de São Felipe, localizadas na Ilha de Santo
Amaro.
Depois de ter sido devidamente vistoriado a 25 de março daquele mesmo ano de 1965, pelo arquiteto
Luiz Saya, chefe do IV Distrito da DFHAN, e por um capitão de Engenharia do Exército, representando a II Região Militar, o imóvel foi considerado de
grande importância e um Monumento Nacional, conforme revelou o próprio representante da DPHAN no seu relatório sobre o mesmo, onde diz:
"...Além do seu valor arquitetônico, representa um documento capaz de retratar fielmente a
preocupação da posse e colonização do Governo Metropolitano, em seguida à restauração da Monarquia, já na segunda metade do século dezessete".
Inscrita nos Livros do Tombo instituídos pelo decreto-lei nº 25, de 30 de novembro de 1937, a Casa
do Trem teve a primazia de ser uma das primeiras relíquias do território paulista a ser considerada Monumento Nacional, isso logo após a criação do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Também figura nos cadastros do Patrimônio do Exército como Próprio Nacional SP-62-0077.
A antiga Casa Real do Trem, que através dos séculos serviu como casa de armas, depósito de
pólvora, salitre, enxofre, chumbo e munições de guerra; como quartel de tropas do Exército, corpos de polícia, escola pública, quartel do Tiro Onze,
Entreposto de Subsistência e outras serventias, veio a ser restaurada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional em 1977.
Quanto ao fato de ter recebido tal denominação, o historiador Costa e Silva Sobrinho assim
se expressou a respeito, num dos seus trabalhos em 1964 (A Casa do Trem, uma jóia antiga, A Tribuna, 30/11/1969)
(N.E.: notada a divergência no original, 1964/1969):
"O aludido armazém, onde se guardavam armamentos e munições, vulgarmente chamado Casa do Trem,
tinha ainda as seguintes denominações: Armazém de Artigos Bélicos, Casa do Trem Real, Depósito de Trem-de-guerra, Edifício do Trem ou simplesmente
Trem. Destinava-se, enfim, a Casa do Trem, a recolher armas e munições de guerra..."
Atualmente, o velho e sombrio casarão colonial, que simboliza uma grande parcela da história
santista, além de ser um valioso documento arquitetônico, é considerado uma verdadeira relíquia de nossa história militar, pois, desde o século
XVII, vem acompanhando a vida militar da cidade, tendo testemunhado fatos memoráveis no decorrer de seus três séculos de existência, e continua ali
mesmo, no outrora famoso bairro dos Quartéis, que ficava entre o mar e a travessa de Santa Catarina, hoje vulgarmente conhecido como Golfo.
Casa do Trem Bélico, em foto anterior à construção de um estabelecimento no número 7 da rua
(compare com as duas fotos acima)
Foto: jornal Cidade de Santos, reproduzida em Fortes e Fortificações do Litoral Santista
Detalhes da porta principal da Casa do Trem Bélico, com o local do brasão real, retirado em 1889
Foto: jornal Cidade de Santos, reproduzida em Fortes e Fortificações do Litoral
Santista
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