O MUSEU DE ARTE SACRA
Na subida do Morro de São Bento, ergue-se altaneiro o Museu de Arte Sacra.
Ele foi instalado no Mosteiro de São Bento, uma construção que já conta com 300 anos de existência. É mais um exemplo das construções do tempo do Brasil Colonial. O Mosteiro originou-se da Capela de Nossa Senhora do
Desterro, fundada em 1644 e doada em 1650 para a Ordem de São Bento.
Imensa área verde rodeia o secular prédio. O local se transforma em oásis, onde devaneios dissipam preocupações e o ritmo trepidante da metrópole é esquecido por instantes. Nesse local,
como em outros, nos apegamos ao passado do qual nem somos testemunhas, mas sentindo no coração as coisas que escreveram a história de nossa cidade. Nossa capacidade de imaginação é posta a serviço de nos transportar no tempo, chegando ao ponto de
nos iludir com a idéia de que presenciamos suas raízes germinarem e crescerem.
Como deve ter sido bom viver naquele tempo, quando as competições não eram acirradas e havia uma conjugação de esforços, no sentido de vencer todas as dificuldades e conquistar vitórias.
Quantas coisas aconteceram, quantas criaturas trabalharam para nos deixar tão preciosos legados! Essas edificações do tempo da colonização são totalmente diferentes dos grandes edifícios
de concreto que hoje despontam em toda a cidade, mas que nos dão uma sensação de frio.
A idéia de se fundar um museu de arte data do ano de 1750. Foi na França, país de grande cultura e amor às tradições, que surgiu o primeiro deles.
O Museu de Arte Sacra de Santos, que tanto nos orgulha, foi criado há 25 anos. Embora o prédio do Mosteiro tenha passado por uma grande reforma em 1725, sofreu a ação do tempo e foi
preciso muita obstinação, perseverança e dedicação para conseguir as condições necessárias para ali instalar esse espaço cultural.
Foram anos de luta em que se empenhou o grupo de idealistas, tendo à frente Nazareth Motta Leite. As dificuldades encontradas no trabalho de recuperação constituíram um desafio enorme,
mas eles corajosamente as venceram.
Principalmente a capela, sofreu danos quase irreparáveis, mas, quando há amor naquilo que se faz, a vitória é certa. Pouco a pouco vêm sendo recuperadas as partes que sofreram a ação dos
cupins. Isso será trabalho para mais algum tempo, mas o resultado será compensador. Os altares ressurgirão com a primitiva beleza, exaltados pelo seu estilo barroco.
O acervo do Museu é riquíssimo. Nele encontramos imagens dos séculos XVIII e XIX e também uma coleção de máscaras de rituais e outra de miniatura de aviões. Várias vitrines mostram peças
de prata, imagens de santos, alguns objetos que pertenceram aos nossos bispos.
Encontramos ainda edições da obra de frei Gaspar da Madre de Deus, oratórios, bíblias e um grande número de quadros de artistas famosos, entre eles os de Benedito Calixto e Guiomar
Fagundes.
O museu briga a cela onde frei Gaspar da Madre de Deus passou os últimos 30 anos de sua vida.
Além disso, o Museu possui uma biblioteca com 3.500 livros de arte e literatura e um acervo significativo de imagens de santos, obras de arte, paramentos e vestimentas de bispos, bem
como objetos que fazem parte do ritual de cerimônias religiosas.
No espaço dedicado à arte sacra, encontramos uma imagem de São Bento e outra de Santa Gertrudes, ambas do século XVIII, uma de Jesus morto, do século XIX, de Jesus em seu martírio, de
Nossa Senhora da Conceição, que é considerada a peça mais valiosa da coleção. Encontramos ainda uma peça importante que é a de Santa Catarina da Alexandria, que deu nome ao Outeiro de Santa Catarina.
Atualmente a gente santista está despertando para a necessidade de zelar pelas suas tradições e recuperar tudo que representa valor histórico.
Uma visita aos museus tem um alcance pedagógico incalculável. É a melhor forma de despertar o amor por tudo o que fez a nossa história, reveladora da grandeza de nosso povo e de nossa
cidade.
Visitem os santistas o Museu de Arte Sacra, que atrai, surpreende e encanta visitantes de outras plagas. Assim fazendo, orgulhar-se-ão de seu valioso acervo!
CLUBE INTERNACIONAL DE REGATAS
Pela história gloriosa e pela tradição nos meios sociais e esportivos de Santos, o Internacional
também merece um capítulo especial, que retrate os principais fatos de sua já longa trajetória.
À semelhança do Clube XV, que nasceu de dissidência entre elementos de outra agremiação, o Clube Internacional de Regatas surgiu de uma divergência entre os
associados e dirigentes do Clube de Regatas Santista.
Numa assembléia realizada aos 24 de maio de 1898, às 19h30, na Rua Martim Afonso nº 1, com a presença de 36 pessoas, era fundado o Clube Internacional de Regatas, com o entusiasmo de
verdadeiros idealistas. Em sua maioria eram adeptos do remo, representativos de várias camadas sociais e comerciais. Entre elas, com grande destaque, as militantes no comércio cafeeiro, que começava a crescer a olhos vistos. Com a construção do
cais, um grande impulso ocorreu nos setores de importação e exportação e o café era o produto que mais movimentava o porto.
Foram fundadores as seguintes pessoas: Adolpho Hayden Barbosa, Alarico Vieira Barbosa, Alberto Moraes, Alberto Reisman, Alfredo Peixoto, Antonio de Almeida Campos, Arthur Campos de
Camargo, Augusto Costa, Augusto Serne, Bernardino Gondim, Carlos Beyrodt, Carlos Sant'Anna, Charles G. Vieira, David Ferreira, Deoclício Andrade, Henrique Jayme de Mello, Henrique Porchat de Assis, Henrique Tross, Isaú Silveira, João Dumans, João
Guimarães Junior, João Martins Peixoto, João Scott Hayden Barbosa, Jorge Sayí, Lauro Guedes Pereira, Manoel Ignácio da Fonseca, Manoel Martins de Oliveira, Marcelino Campos, Mário da Cunha Nogueira, Mário Moraes, M. L. Peterson, Nívio de Paula
Martins, Raul Schimidt, Renato Malheiros, Thomaz da Silva, Vicente Ferreira Martins.
A notícia correu rápida pela cidade, que nessa época já possuía 40.000 habitantes. Logo surgiram pessoas interessadas em participar da nova agremiação, como sócios contribuintes, o que
redobrou o entusiasmo dos seus fundadores. Já se delineava um futuro promissor para o Clube Internacional de Regatas.
O primeiro passo foi elaborar os estatutos. Logo depois, era eleita a primeira diretoria, assim composta: presidente, João Scott Hayden Barbosa; vice-presidente, Palemon Cândido Gomes;
1º secretário, Mário Moraes; 2º secretário, Henrique Jayme Mello; tesoureiro, Manoel Martins de Oliveira; diretores: Arthur Campos de Camargo, João Martins Peixoto, Henrique Tross, David Ferreira e Marcelino Campos.
O 2º passo foi procurar um local para se instalar e dar início às atividades. Foi oferecido a eles um imóvel no bairro da Bocaina, no antigo Itapema,
hoje Distrito de Vicente de Carvalho, Guarujá. Era um terreno de boa dimensão. Possuía um enorme barracão, que seria aproveitado para guardar os barcos. Um outro serviria para
montar uma oficina de reparos, providência bastante necessária. Havia ainda um chalé, com espaço suficiente para receber os sócios e ali funcionar a parte social e recreativa.
Um ano após a sua fundação, o terreno da Bocaina foi vendido com todas as suas benfeitorias, mas o clube vencia todas as dificuldades, projetando-se como agremiação de grande futuro.
No final do século XIX, mais precisamente em fevereiro de 1900, o clube instalou-se na Ponta da Praia, em frente à Fortaleza da
Barra. Suas atividades náuticas eram cada vez mais intensas, e logo surgiu a idéia de se criar um uniforme oficial, para identificar os seus participantes. Ficou decidida a adoção de calções brancos e camiseta vermelha. Daí a origem do nome
"vermelhinhos", como eram chamados os associados do clube, nome que persiste até hoje.
Abro aqui um parêntese para fazer um esclarecimento que explicará a minha admiração e orgulho por esse clube e, porque não dizer, orgulho por saber que em 1904 e em 1908 meu pai,
Francisco da Costa Pires, teve a honra de presidi-lo.
Em 1901, início do século XX, apesar do entusiasmo de seus dirigentes, o clube não estava com uma situação financeira favorável. O número de sócios não crescera como se imaginava. A
renda do clube era pequena e não possibilitava um aumento em suas atividades. Foi quando Manoel Martins de Oliveira, então presidente, com recursos próprios, adquiriu um terreno no Itapema e alugou um grande barracão pertencente à firma Wilson Sons
e Cia. Mas o sonho da diretoria era ampliar mais as suas instalações. Alguns sócios se cotizaram para adquirir um terreno ao lado, e a sede do clube passou a ter 156 metros de frente para o mar e 100 metros de fundo.
Quando eu era adolescente, ouvia contar essa passagem e fiquei sabendo que meu pai emprestara ao clube, que tanto amava, 10 contos de réis. Algum tempo depois, ele doou essa quantia. Uma
grande prova de amor!
Os "vermelhinhos" conseguiram construir a sede social do clube, que foi inaugurada em 1906, com grande pompa. Nessa época já tinha 262 sócios, um número então satisfatório.
O nosso imortal poeta e médico, Martins Fontes, costumava a ali comparecer aos domingos. Alegre e brincalhão, pilheriava com os amigos e contava
anedotas, tornando o ambiente descontraído.
Mas os "vermelhinhos" eram sonhadores... A idéia era transferir-se do Itapema para a Ponta da Praia. O número de sócios diminuíra, talvez pela dificuldade de locomoção e também pelo
crescimento de Santos, que já oferecia outras opções de lazer. Chegaram a cogitar de transferir o clube para o Forte da Barra, em Guarujá. Também tiveram a idéia de aproveitar os encantos da Ilha de Urubuqueçaba e ali se
instalarem. Mas o sonho desfez-se! Havia muitos empecilhos, principalmente os de ordem econômica, e a decadência do clube foi inevitável. Passaram-se anos sem qualquer recuperação. Em 1934, o clube estava desativado. Contava penas com 29 sócios.
Pensaram em vendê-lo e distribuir o dinheiro para casas de caridade, de acordo com seus estatutos.
Foi quando Arnaldo de Barros Pires decidiu que não deixaria morrer o clube pelo qual seu pai tanto trabalhara. Assumiu a presidência do pequeno grupo de sócios, que passaram a se reunir
em nossa casa. Eu, apesar de muito nova, via o movimento com muita alegria, por ver o empenho desse grupo em prol do clube que tanto amavam. A luta foi grande, mas os resultados foram compensadores.
Resolveram vender a sede do Itapema para a Cia. Docas de Santos, pela quantia de 350 contos de réis. Depois de saldados alguns compromissos da
entidade, amadureceu a idéia de fazer com que o Clube Internacional de Regatas ressurgisse, superando a fase difícil por que passara. Sobraram apenas 120 contos de réis, mas daria para um recomeço.
Passaram então a namorar o terreno ao lado do local onde hoje está instalado o Museu de Pesca e que pertencia à família Zerrener. Feitas as necessárias
conversações entre as duas partes, quando os "vermelhinhos" já se regozijavam com a idéia de ver o clube ali instalado, surge um grande problema. O Clube de Regatas Santista, que funcionava na Bocaina, tinha de deixar esse
local para que o governo ali construísse a Base Aérea de Santos. O terreno da família Zerrener fora desapropriado pelo então presidente Getúlio Vargas, para nele construir um
entreposto de Pesca, o que não aconteceu, sendo construído mais adiante nas proximidades do "ferry-boat". O governo decidiu que o Regatas ficasse com esse terreno, em troca das instalações que tinha de deixar.
Em 1942, o Regatas vendeu metade do terreno para o Internacional, uma vez que ele era muito grande. O sonho dos "vermelhinhos" tornava-se realidade, mas outros problemas preocuparam. O
primeiro: a Cia. City mantinha trilhos em parte do terreno, para manobras dos bondes que tinham ali ponto final, e resistiu à idéia de deixar o local, assunto só resolvido após procedimento judicial.
Outro problema foi a carência de recursos financeiros para instalar o clube, mas o amor dos "vermelhinhos" uma vez mais perseguiu as soluções. Arnaldo de Barros Pires, recebido em audiência pelo governador Fernando Costa, conseguiu do mesmo uma
verba de 200 contos de réis. Somados ao que restara da venda do terreno do Itapema e mais um porte do próprio bolso, deram início à construção, que começou pelo ginásio de esportes.
Em 1946, realizava-se pela primeira vez em Santos uma edição dos Jogos Abertos do Interior. Foi um sucesso! O entusiasmo tomou conta de todos. Afinal, era um
privilégio para a nossa cidade, que até então não dispunha de um ginásio à altura de sediar a olimpíada interiorana. Quantos aplausos receberam nossos atletas da equipe feminina de basquete, as inesquecíveis irmãs Zuleide e Zuleika Oliveira Leite,
e mais Jurema Cléa Figueiroa, Marina Mena e Norma Corchs de Pinho, entre outras equipes de valor que fizeram de Santos a campeã absoluta dos jogos. E que dizer da equipe "vermelhinha" de hóquei, campeã paulista por tantas vezes? Ou de outras
edições dos Jogos Abertos, em 1949, 1952 e 1965, sendo o Inter mais uma vez o palco, inclusive, nesse último ano, das competições na sua belíssima piscina inaugurada em 24 de maio de 1954?
E aquela abençoada fachada que lembrava tantas conquistas no esporte, em meio ao crescimento de suas atividades sociais, passou também a identificar o clube como referência para os
folguedos carnavalescos considerados os melhores do Estado de São Paulo, e freqüentados por muitos artistas de renome.
O crescimento do quadro associativo possibilitou a continuidade de grandes projetos, como a já mencionada piscina, até hoje considerada a melhor piscina curta do Brasil, o salão de
festas, as quadras externas para variadas modalidades esportivas. E também a piscina infantil, os equipamentos de lazer, as quadras de tênis e tamboréu, enfim, toda uma permanente remodelação, inclusive nova fachada, com belo visual. Hoje, podemos
dizer que o Internacional é um dos maiores clubes do Brasil.
A conservação do patrimônio do clube e do seu bom nome foi uma constante nas diretrizes dos dirigentes que se sucederam através dos tempos. Suas atividades são cada vez mais
diversificadas, inclusive voltadas para as artes, contribuindo para o engrandecimento da cultura do povo santista. Suas realizações são sempre de alto nível e programadas com muito carinho, para felicidade de seus freqüentadores. O seu restaurante
oferece um serviço perfeito, prestigiado pelos associados, como se fossem de uma mesma família, principalmente aos domingos.
É, na verdade, a grande família dos "vermelhinhos", unida pelo amor ao clube, escrevendo, ao longo do tempo, belas páginas de sua própria história, que engrandecem esta cidade.
Muito me alongaria para enumerar todas as suas atividades nos dias atuais. Mais ainda, se pretendesse retratar a sua história. Direi apenas que o Clube Internacional de Regatas sempre
venceu pela persistência, obstinação e amor de todos que lutam pelo seu crescimento e bom nome.
Resta manifestar a gratidão, minha e de minha família, pelo fato de seu ginásio ter o nome de Arnaldo de Barros Pires. Esta foi, talvez, a grande compensação, o reconhecimento da grei
"vermelhinha" a quem não mediu esforços,nem lutas, para devolver à nossa comunidade o glorioso clube. |