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Séculos de fé nos 415 degraus do Monte Serrat
Subir os 415 degraus do Monte Serrat, de pé ou de
joelhos, é uma demonstração de fé que tem tradição de mais de três séculos e uma história que começa assim:
1614: soldados holandeses desembarcam nas praias e iniciam a
invasão da Capitania de São Vicente. Os defensores são mais fracos, em número e armas, e recuam, recuam, até o Monte Serrat, último reduto de
resistência. O inimigo avança sempre, saqueando e destruindo, e começa a escalar o monte. No alto, desesperados, homens, mulheres e crianças rezam à
Virgem de Serrat. Um desmoronamento soterra os invasores.
O monte transformou-se em marco histórico da cidade e até hoje, 353 anos depois, o
povo da Baixada Santista ainda mantém a tradição de escalar o monte para agradecer à Virgem a graça alcançada.
Em 1955, no dia 8 de setembro, data em que se comemora a natividade de Nossa Senhora,
a Virgem do Monte Serrat foi oficialmente coroada padroeira da cidade de Santos, atendido pelo papa Pio XII o pedido de d. Idílio José Soares, então
bispo diocesano.
Nem sempre foi Serrat - O nome de Serrat ao monte foi dado quando se construiu,
lá no alto, entre 1598 e 1609, a capela de Nossa Senhora de Serrat. Mas ele já teve outros e a história fixa três principais:
São Jerônimo foi o nome dado vinte anos antes da chegada de Martim
Afonso de Sousa, pelos primeiros povoadores do litoral. E assim foi chamado até meados do século XVII.
Outeiro do Morro do Vigia, foi seu outro nome, por ser uma defesa
natural da cidade, e como tal constou de publicações e atos oficiais do século passado (N.E.: século XIX).
Morro do Braz Cubas, assim também chamou o povo ao monte, pois foi ali
que Braz Cubas iniciou o cultivo das primeiras terras, próximas ao atual túnel Rubens Ferreira Martins.
O nome de Serrat só veio com a capela a Nossa Senhora, mandada construir pelo
governador-geral d. Francisco de Sousa, e entregue aos monges beneditinos em 27 de abril de 1656. Um deles, frei Agostinho de Jesus, que vivia no
Rio de Janeiro, foi quem trabalhou a imagem da Virgem de Serrat, que ainda se encontrar na capela, guardada hoje pelo capelão d. Rupperto
Scheitenberger, da Ordem de São Bento.
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Quando a virgem desce - Tradicionalmente, os festejos eram assim: setembro, dia
5, o povo subia com merendas ao monte e, lá do alto, ficava a "vigiar" a cidade, como à espera do desembarque dos holandeses, até o momento da
oração e do "milagre", marcados pelo toque dos sinos.
Atualmente, como há vários anos, no dia 5, a imagem de Nossa Senhora de Serrat é
retirada da capela e em procissão desce para a cidade, percorrendo as ruas principais. Depois vai para a catedral, onde fica até o dia 8. São três
dias de festejos. Daí volta à capela.
A Rua Monsenhor Paula Moreira, que dá acesso ao monte e sobe até a capela, será, este
ano, toda iluminada pela Prefeitura. E o Conselho Municipal de Turismo está preparando para a festa amplo programa popular, incluindo a exibição de
um conjunto folclórico.
Caminho para o alto - Uma escadaria, com 415 degraus e 14 nichos que
representam a Via Sacra, leva ao alto do monte. Há também os funiculares, inaugurados em 1º de junho de 1927. São dois bondinhos que transitam por
uma única linha férrea, com um desvio. Cada um pesa quase oito toneladas e os dois são movimentados por um motor de 100 HP. Circulam presos a um
mesmo cabo de aço, em equilíbrio entre a subida de um e a descida do outro. O cabo é trocado de 4 em 4 anos, o que garante sua segurança, e, para
evitar a umidade, sua manutenção é feita com óleo de peixe industrializado, que o impermeabiliza.
Em todo o trajeto dos bondinhos, a prevenção de acidentes: três sistemas de segurança,
em caso de qualquer anormalidade, entram em funcionamento ao mesmo tempo. Na própria máquina existe um freio automático e um manual, e cada
funicular possui freios de pedal. Quando os sistemas de segurança são acionados, duas tenazes fecham-se contra o trilho.
Mais além vai a prevenção: há um freio elétrico que, em caso de rompimento do cabo,
automaticamente aciona as tenazes; os bondinhos, onde estiverem, pararão, pois a casa das máquinas também é desligada, obedecendo ao comando.
Em 40 anos, um só acidente no monte: dia 9 de abril de 1947, quarta-feira, às 13h45,
os bondinhos faziam seu trajeto normalmente; faltavam 30 metros para completarem a viagem e o cabo se rompeu: trinta pessoas subiam e seis desciam,
entre elas quatro crianças; uma mulher morreu.
Ao romper-se o cabo, o cabineiro do bondinho que subia acionou prontamente o pedal do
freio. Nada aconteceu e os passageiros, assustados, completaram o trajeto pela escada e foram rezar aos pés da Virgem, Para eles, tudo não passou de
susto.
O sr. Francisco Martins, que controlava o bondinho que descia, assustado e
descontrolado, não acionou o freio e o funicular foi de encontro ao patamar: as crianças sofreram leves ferimentos, o cabineiro foi internado e uma
mulher, atirada contra o parapeito, morreu quatro dias depois na Santa Casa.
A perícia descobriu a causa do acidente: umidade penetrou na alma do cabo de aço e
danificou os fios internos.
Depois deste único acidente, o sistema de segurança e os serviços de manutenção foram
melhorados e modernizados.
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Os donos do monte - O Monte Serrat pertence à Prefeitura de Santos, à Cidade de
Santos - Serviços de Eletricidade e Gás, herdeiros de Belmiro Ribeiro, Domingos Pinto, Monte Serrat S/A - Cassino e Elevador e ao Mosteiro de São
Bento.
Os bondinhos são propriedade de Monte Serrat S/A, que explora o serviço de transporte
e também um salão de festas (antes cassino) e um bar no andar térreo do prédio.
No alto do edifício estão instalados retransmissores de duas estações de televisão da
capital, amplificadores radiofônicos da Secretaria de Segurança e o Posto de Observação do Serviço Semafórico de Santos. |