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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Clubes
Clube de Regatas Santista (1)

Esportes náuticos e atividade social são as marcas dos dois grandes ciclos das atividades do Clube de Regatas Santista, um dos quatro grandes clubes da Ponta da Praia. A Prefeitura Municipal de Santos incluiu em suas páginas alguns comentários que valem como uma introdução ao tema dos esportes náuticos santistas:

No tempo das regatas

A vida de Santos sempre girou em torno do mar, do porto. Foi desta relação que surgiu o primeiro esporte praticado na Cidade e também um dos que mais títulos lhe proporcionou, o remo. Para reviver a gloriosa trajetória da modalidade, é preciso voltar ao final do século XIX, com a fundação dos primeiros clubes de regatas. O primeiro em Santos e no Estado é o Clube de Regatas Santista, de 30 de abril de 1893. A seguir vieram o Clube Internacional de Regatas (1898), o Clube de Regatas Saldanha da Gama (1903) e, mais tarde, o Clube de Regatas Vasco da Gama (1911).

Uma curiosidade sobre estas agremiações, todas localizadas na Ponta da Praia, é que eram sediadas na Base Aérea (Regatas Santista), Vicente de Carvalho e Praça Mauá (Internacional), cais em frente ao Armazém 8, Praça da República (Saldanha) e Ilha Barnabé (Vasco).

O principal local das regatas foi o Valongo, onde viviam os santistas com maior poder aquisitivo e também pela facilidade no transporte dos barcos e dos remadores que vinham de São Paulo pela estrada de ferro. Estas competições representavam grandes acontecimentos na Cidade. Só para ter idéia, nestes dias linhas especiais de bonde elétrico operavam para levar o público ao Valongo.

Santos tornou o remo popular, ganhou muitos títulos, promoveu campeonatos e provas e fez grandes remadores, entre eles, Edgard Perdigão, que dá nome à ponte na Ponta da Praia. Em 1930, a crise econômica do café refletiu no remo, um esporte caro que também foi perdendo espaço para outras modalidades, como a natação, futebol, vôlei e pólo aquático. As regatas passaram a ser realizadas em datas comemorativas, até que foram desaparecendo. Os amantes do esporte ainda tentaram reerguê-lo sem sucesso.

Sobre o Clube de Regatas Santista, conta Olao Rodrigues, em seu Almanaque de Santos - 1971 (edição do autor, impresso na W. Roth & Cia. Ltda., em São Paulo/SP):


Fachada social  do Clube de Regatas Santista, em 1971
Foto publicada com o artigo

Um dos mais antigos do Brasil

A despeito da velha e respeitável existência, não é a agremiação mais antiga de Santos, pois o Azulão proveio da fusão de duas outras sociedades náuticas: Clube Nacional de Regatas e Clube Internacional de Regatas. Essa aliança ocorreu em 3 de abril de 1893, em reunião havida na Rua Amador Bueno nº 8, sob a presidência do Sr. Olegário Rocha e secretariada pelo Sr. Joaquim Lopes Gouveia. Como dirigente dos trabalhos, o Sr. Olegário Rocha sustentou a necessidade da fusão do Nacional com o Internacional, como o desejavam os sócios de ambos os clubes, propondo o Sr. José Maria de Queirós Matos, com aprovação unânime, que, estabelecida harmoniosamente a ligação, o órgão associativo nascente passasse a denominar-se Clube de Regatas Santista.

E assim surgiu o Azulão, cuja primeira diretoria teve a seguinte constituição: presidente, Abraão Bitton; vice-presidente, Artur Skey; tesoureiros, Manuel da Costa Oliveira e Charles Wright; secretários, Joaquim Lopes Gouveia e João Ribeiro; diretores zeladores, Domingos L. A. Rendo, José Maria Queirós Matos, Manuel de Carvalho Osório A.P. Lopes Arpuca, Serafim Pereira da SIlva, Augusto Fonseca, Domingos Peixoto e Júlio César da Silva.

Segundo falam as crônicas, os gaúchos reivindicam a glória de possuir o clube náutico mais antigo do Brasil, o Guaíba, de Porto Alegre - que não mais subsiste - surgido da fusão do Clube de Regatas Guaíba, fundado em 29 de outubro de 1982, com o Clube de Regatas de Porto Alegre, em 21 de novembro de 1888. Em que pese esse registro, não se pode assegurar se o esporte do remo em nosso País surgiu em Santos ou Porto Alegre, por isso que, lavrada em 3 de abril de 1893, a ata da fundação do Clube de Regatas Santista não assinala as datas da fundação do Nacional e do Internacional, que se fundiram na histórica reunião a que nos reportamos.


Ginásio esportivo do Clube de Regatas Santista, em 1971
Foto publicada com o artigo

Antigo e ativo - O Clube de Regatas Santista colecionou imarcescíveis triunfos no esporte náutico, dignificando a Cidade, o Estado e honrando o País. O mais rico e precioso troféu já disputado em remo, tanto no Estado como no País, a Taça Câmara Municipal de Santos, toda de prata maciça, pesando 7 quilos, verdadeira jóia de arte, pelo valor moral e material, está na sede do Azulão, guardada a "sete chaves", como expressão de pujança técnico-esportiva.

Eis a relação dos vencedores da 1ª Taça Câmara Municipal de Santos: 11/12/1910, C.R. Santista; 12/11/1911, C.R. Saldanha da Gama; 6/10/1912, C.R. Espéria; 9/11/1913, C. Internacional de Regatas; 8/11/1914, C. Internacional de Regatas; 14/11/1915, C.R. Tietê; 12/11/1916, C. Internacional de Regatas; 11/11/1917, C.R. Santista; 11/5/1919, A.A. São Paulo; 20/11/1919, A.A. São Paulo; 28/11/1920, C.R. Vasco da Gama; 20/11/1921, C.R. Santista; 26/11/1922, C.R. Santista.

A segunda Taça Câmara Municipal de Santos foi instituída pela Lei nº 694, de 16 de julho de 1923, assinada pelo  Sr. Arnaldo Ferreira Aguiar, vice-prefeito em exercício. Segundo aquele diploma legal, a Taça Câmara Municipal de Santos foi criada para entrar em disputa anual entre os clubes filiados à Federação Paulista das Sociedades do Remo, ficando de posse do concorrente que vencesse durante três anos consecutivos ou quatro alternados. O Clube de Regatas Santista quase também abiscoitou esse segundo troféu, pois venceu em 1926 e 1927.

Eis as provas conquistadas em competições oficiais pelo Clube de Regatas Santista: 1909 e 1914, Prova Clássica S.R. São Paulo; 1908, 1915 e 1919, Prova Clássica Associação Protetora dos Homens do Mar; 1910, 1917, 1921 e 1922, Prova Clássica Câmara Municipal de Santos (1º troféu); 1911, Campeonato do Remo do Estado de São Paulo; 1912, 1913, 1915, 1917 e 1919, Campeonato Paulista do Remo; 1926 e 1927, Prova Clássica Câmara Municipal de Santos (2º troféu); 1929, Prova Dr. Inácio Tavares Guimarães; 1934, Campeão Santista, Paulista e Brasileiro.

Fase social - Com o remo a ser envolvido pelo dinamismo que dominava outras modalidades esportivas, o Santista deixou suas históricas instalações da Bocaina em 1943, transferindo-se para a Ponta da Praia, onde ergueu pequena e precária sede, conhecida como Cabana do Pai Tomás.

Mas o clube, reagindo à fase de marasmo que ameaçava contê-lo, avançou para as grandes realizações esportivo-sociais, já com considerável quadro associativo. E no dia 23 de setembro de 1953, na presidência de Manuel Neves dos Santos, realizou a solenidade do assentamento do marco inicial do soberbo edifício-sede, cuja primeira pedra foi lançada pelo conselheiro Acácio Augusto de Almeida. Outras pedras surgiram e hoje o clube possui uma das principais sedes da Cidade, em edifício de soberbas linhas arquitetônicas.

Depois veio o Ginásio de Bochas Acácio Augusto de Almeida, o primeiro, aliás, com cobertura de cimento-armado construído no Estado, cuja pedra fundamental foi lançada em 25 de setembro de 1958.

Demolida a primitiva e acanhada sede, foi festivamente inaugurado o conjunto de piscinas, na presidência de Joaquim Alves da Costa Fonseca, em 1963, com a primeira pedra lançada no ano anterior.

Nos dias atuais, ergue-se imponente o Ginásio de Esportes Otávio Corrêa, onde deverão praticar-se tênis de mesa, judô, bola-ao-cesto, volibol, futebol de salão, hóquei e patinação, além de servir para grandes bailes, como os de carnaval.

Também sobre o clube, publicou em 19 de outubro de 1970 o antigo jornal diário Cidade de Santos:

Santista

"A benção, vovô!" É assim que todos os clubes de remo do Brasil se dirigem ao CR Santista. E não é nenhum favor tratá-lo assim, porque o Santista é o pioneiro do remo, oficializado, no Brasil. Houve uma regata, no Rio, Botafogo, na década de 80 (N.E.: do século XIX), mas correram barcos de diversas categorias, sem classe e sem distinção. E quando o Santista, fundado em 93, realizou sua primeira regata nesse mesmo ano, fez tudo tão direitinho que, na falta de fotógrafo, houve o pintor consagrado, Benedito Calixto, a retratar uma chegada, num quadro que deve estar exposto na sede-palácio, como a chamamos poucos dias antes de sua inauguração. Mas as raízes do Santista vêm de 1887 e de 1890, quando existiam, respectivamente, o Nacional e o Iº Internacional, de cuja fusão nasceu o Santista. Daí figurar o Santista como o clube mais antigo do Brasil.

Seus triunfos no mar concederam-lhe a denominação de "Clube mais premiado do Brasil-náutico". E a sua 1ª fase, áurea, perdurou até o marasmo que envolveu o remo. Vivendo na Bocaina, só os abnegados o estimulavam. Poucos, mas invencíveis. E as suas tenacidades transportaram o Santista da noite da Bocaina para a aurora da Ponta da Praia.

Em 1943, o Santista se reanima totalmente, no novo cenário de suas porfias. Torna-se um grêmio eclético. E brilha em todos os esportes. Cada diretoria é uma trincheira de onde os homens saem para conquistar vitórias em todas as batalhas. Hoje, de tão remoçado que ficou, ninguém lhe pede mais a benção. Mas é ainda com respeito e admiração que o saúdam: "Salve o Don Juan dos esportes!"

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