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Publicado originalmente em 09/06/2004 07:15:19
Última modificação em 04/10/2024 23:57:08
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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Um Polyphon na Casa do Sol
Detalhe com o disco produzido pela Polyphon em Leipzig,
com a Marche des Trompettes da ópera Aída, de Verdi

Até esse título parece algo esotérico. Mas a Casa do Sol é uma já centenária (foi fundada em 2 de junho de 1904 como Asylo de Mendicidade de Santos) entidade de atendimento a pessoas idosas, instalada no Morro da Nova Cintra. E Polyphon é o nome de um aparelho quase desconhecido, primo das pianolas que tocam sozinhas nos filmes de faroeste e tio ou irmão dos gramofones (alguns preferem gramophones), estes por sua vez tataravôs dos modernos aparelhos que tocam discos compactos laser, os populares CDs.

E de compacto o Polyphon não tem nada, basta ver o tamanho dos "discos", cerca de meio metro de diâmetro. Data de fabricação? Incerta, algo entre 1774 e 1900. Como chegou à instituição, no início do século XX? Falta o trabalho de um pesquisador que leia todas as atas de assembléia da entidade até localizar a informação. Detalhe curioso é que a Casa do Sol foi fundada e é mantida pela Loja Maçônica Fraternidade de Santos (fundada em 5/1/1853, sendo a terceira mais antiga do Brasil), e que uma página Web maçom californiana cita que Henry Klein, o proprietário da casa fabricante desses aparelhos, a Polyphon, era um maçom que trabalhou em Leipzig e Londres. Apenas coincidência?


O Polyphon, em funcionamento
Clique >>aqui<< para obter o vídeo em formato MP4 (0'44", 1,81 MB))


Avaliação? Nenhuma sobre esse aparelho específico, mas uma página Web italiana cita que um aparelho bem menor, tipo carrilhão, foi negociado recentemente em leilão na famosa casa de leilões Sotheby's por 25 mil Euros.

Mas o fato é que o vetusto aparelho da Casa do Sol, raro no mundo e talvez só encontrável hoje em alguns dos museus mais importantes, ainda funciona perfeitamente, como os internautas podem conferir num arquivo de áudio e vídeo disponível nesta página. A demonstração do funcionamento foi feita pelo diretor de Patrimônio da Casa do Sol, Glauco de Lima Guedes.


O diretor Glauco de Lima Guedes coloca o aparelho em funcionamento


Na parte inferior do móvel, um compartimento para guardar os discos... 


Detalhe do mecanismo, no interior do aparelho
Fotos e vídeo acima cedidos a Novo Milênio pela Casa do Sol

Para melhor situar na história este raro aparelho, eis algumas informações sobre as origens dos gramofones, das pianolas e dos fonógrafos, traduzidas e com imagens de página Web espanhola mantida pela Fundación Joaquín Díaz, na deputação de Valladolid (Urueña), na Espanha; de uma página mexicana do Museo Franz Mayer; e da página britânica Player Piano Page, sobre as pianolas:

CILINDRO DE PUAS SOBRE PENTE DE METAL

Caixa de música de Antoine Favre
No primeiro século da Era Cristã, Heron de Alexandria descreve em seu tratado Pneumática fontes musicais e autômatos movidos pela circulação de água ou pressão. Mas só na Idade Média, com o invento dos relógios de pesos, é que surgiram os primeiros instrumentos de música mecânica.

Referências sobre o uso de um cilindro de puas movido por diversas engrenagens para acionar determinados instrumentos existem desde o século IX: em Bagdad, os irmãos Mohamed, Hasan e Ahmed Musa, especializados no estudo da ciência árabe, criaram o automatófono; León o Filósofo, na corte de Teófilo o Iconoclasta, inventou umas árvores com pássaros que cantavam automaticamente, graças ao mesmo sistema.

Antigos instrumentos musicais mecânicos

No século XVII, os pesos são substituídos por molas. Parece que o mestre relojoeiro genovês Antoine Favre teria sido o primeiro a ter a idéia, em 1796, de fazer música colocando várias lâminas umas ao lado das outras, afinadas de forma diferente e acionando-as por meio de um cilindro com puas; para obter o volume de som desejado, jogava com o comprimento, a espessura e o peso de cada lâmina.

Este novo mecanismo ocupava muito menos espaço que os carrilhões ou os órgãos clássicos e pôde ser instalado em objetos de recordação e curiosidades como relógios, caixas de jóias, tabaqueiras, álbuns de cartões postais, garrafas, jóias, quadros, pedestais de relógios de parede e até em móveis como cadeiras e mesas.

Antigos instrumentos musicais mecânicos

Um dos instrumentos derivados deste novo mecanismo foi o orquestrião, que toca vários instrumentos ao mesmo tempo, como tambores, címbalos, castanholas e xilófonos, para animar cafés, salas de baile etc.

Esses inventos vão sendo aperfeiçoados com as contribuições de personagens tão destacados como Leonardo da Vinci ou o jesuíta Athanasius Kircher. Em fins do século XVIII e começos do XIX, aumenta o número de invenções, chegando-se, em 1796, a patentear um tipo de caixa de música criada pelo genebrino Antoine Favre e, em 1866, a registrar a patente de um disco com puas na parte inferior, inventado por Paul Lochmann em Leipzig.

[Ouça a caixa de música de Antoine Favre, neste arquivo MP3 de 264 KB, 16 segundos]

CILINDRO DE PUAS COMBINADO COM SISTEMA PNEUMÁTICO

Gem Roller Organ

Um cilindro de puas acionado por uma manivela permitia que certas chaves se abrissem e fechassem para deixar passar ou não o ar que percorria previamente certos tubos com lingüetas. A mesma manivela fazia funcionar uns foles para fornecer o ar. Esse tipo de órgão serviu durante muitos anos para manter os serviços religiosos em numerosas igrejinhas, daí o repertório dos cilindros ser apenas de hinos ou canções litúrgicas.

Em 1772, a companhia inglesa Flight já vendia órgãos com o mecanismo do cilindro de puas. A empresa Autophone Company, de Ithaca (New York) criou em 1885 o Gem Roller Organ, instrumento barato e de uso simples que se tornou verdadeiramente popular, vendido como "a nova caixa de música americana".

[Ouça o Gem Roller Organ de 1885, neste arquivo MP3 de 128 KB, 8 segundos]

SISTEMA PNEUMÁTICO E ROLOS DE PAPEL

A Celestina, da empresa Aeolian
Algumas companhias deram grande atenção ao fabrico de aparelhos domésticos capazes de reproduzir canções "marcadas" previamente em rolos substituíveis de pape perfurado.

A companhia Orguinette Mechanical incorporou em 1878 ao sistema de tubinhos uns rolos de papel que, por serem muito rígidos, logo foram substituídos por outros de papel mais duradouro, embora mais flexível. Disso se encarregou a empresa Aeolian, que criou a Celestina, um órgão de rolo de papel muito popular.

Vista lateral do esquema de funcionamento da Pianola

Com base nesse invento, Edwin Votey (em Detroit, EUA) patenteou em 1896 a Pianola, que movia com rolos de papel e ar as teclas de um piano. Inicialmente era um complemento externo, acoplado a um piano comum, com capacidade para tocar 58 ou 65 notas musicais (embora um piano geralmente possua 85 ou 88 teclas).

Diferentes fabricantes produziram equipamentos incompatíveis entre si, um deles chegou a criar um sistema para 73 teclas musicais. Na época, muitas músicas foram reescritas para se acomodarem a esses teclados reduzidos. Só em 1908 se chegou a um padrão, com pianolas para 88 teclas, logo adotado por toda a indústria, tirando desse mercado as indústrias que tinham investido em aparelhos para menor número de teclas musicais.

Até então, os pesados móveis tinham pouca aceitação, Só no final do século XIX Melville Clark lançou o piano Apollo, que embutia o mecanismo de reprodução automática das notas musicais, resultando num móvel mais prático - um conceito logo adotado pelos concorrentes e que levou à aposentadoria dos adaptadores externos.


Piano mecânico, antecessor do pneumático

Pianola, de Edwin Votey

SISTEMA PNEUMÁTICO COM DISCOS PERFURADOS

Rotação do disco e válvulas de ar dos aparelhos Ariston
Em 1876, Paul Ehrlich inventou um instrumento assemelhado ao órgão - ou seja, com foles e "segredo" ou caixa para armazenar o ar - dotado de uma manivela que acionava duas funções: insuflar ar com os foles e fazer girar internamente um mecanismo que, cada vez que passava pelas perfurações de um disco quadrado fixo, levantava as chaves do segredo para que o ar fizesse soar umas lingüetas livres. Este aparelho, denominado Herophon, foi logo aperfeiçoado, permitindo que, em vez de girar o mecanismo interior, girasse o disco. A partir desse momento, ganhou diversas denominações, sendo as mais freqüentes Ariston, Intona e Amorette.

A REPRODUÇÃO FACSIMILAR

Ainda que na metade do século XIX já existissem inventos que permitiam gravar e armazenar sons, foram Charles Cros e Thomas Alva Edison, respectivamente na França e nos Estados Unidos, que trabalharam para construir um aparelho que registrasse sons por meio de uma agulha sujeita a uma membrana; a vibração permitia que a ponta da agulha imprimisse esses sons em um cilindro que se movia a uma velocidade fixa. Esse mesmo cilindro podia posteriormente reproduzir o que havia sido gravado.


Fonógrafo Amberola, criado por Edison em 1914

Gem A de 1899, também de T. Edison

Foi Edison, finalmente, que conseguiu construir o protótipo, na década de 1880, e o patenteou com o nome de Fonógrafo. O alemão nacionalizado estadunidense Emile Berliner substituiu em 1888 o cilindro por um disco de laca e melhorou o sistema de leitura da agulha.

Cão ouvindo gramofone, um dos ícones do início do século XX

O novo aparelho, denominado Gramofone, podia além disso reproduzir - graças aos discos de maior capacidade - obras de maior duração. Desde 1926, a eletricidade se incorporou ao mundo da gravação e reprodução do som, deixando assim sem uso os sistemas mecânicos.

A gravação em fita magnética só surgiria na década de 1960, quando os discos também passaram a ser produzidos em plástico, para leitura analógica ainda por agulhas, e que giravam nas vitrolas a 33 1/3, 45 ou mesmo 78 rotações por minuto. Só por volta de 1980 apareceram os primeiros discos compactos com sinais digitais que podiam ser lidos por um feixe de luz laser - os populares CDs.

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