HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
A santa e o outeiro (1)
Marco do início de Santos, o Outeiro de Santa Catarina quase foi demolido totalmente numa época em que a mentalidade era de abrir
espaços para o progresso, sem muita preocupação com a história. No alto desse pequeno monte, retratado por Benedito Calixto em suas telas, existiu na época do início da povoação uma ermida em homenagem a Santa Catarina,
depois destruída.
Entorno do outeiro recebeu tratamento urbanístico em 2003
Foto: Benê Pontes - Decom/PMS, publicada no Diário Oficial de Santos em 15/8/2003
Na rocha restante, o médico João Éboli construiu uma casa em curioso estilo acastelado, que mais tarde, após longo período de abandono, seria recuperada para abrigar a sede da
Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS). E é das páginas Web dessa entidade, datadas de 13/10/2003, que foram retiradas as histórias sobre o local onde Santos
começou:
O local, após a primeira fase da restauração, cerca de 1998
Foto: Prefeitura Municipal de Santos
Outeiro de Santa Catarina
Com as primeiras escrituras de doação e divisão de terras, a área que inclui o Outeiro passou a pertencer, no ano de 1532, ao casal Luiz de Góes e Catarina
de Aguillar, que construiu, ao pé desse pequeno monte de pedra, uma capela dedicada à Santa Catarina de Alexandria. Daí o nome Outeiro de Santa Catarina.
Junto ao lugar, Braz Cubas e o próprio Luiz de Góes ergueram suas moradias. Próximo dali surgiram, logo depois, a primeira Santa Casa do Brasil e o
Colégio São Miguel, dos padres jesuítas. Assim, a região foi sendo ocupada e começou a estender-se a "Nova Povoação", que mais tarde seria "Vila de Santos" e, por fim, Santos.
Em 1591, piratas ingleses, liderados por Thomas Cavendish, atacaram e saquearam a vila, destruindo a capela e lançando a imagem da santa ao mar. Após 72 anos,
escravos dos jesuítas, enquanto pescavam, tiraram-na da água com uma rede, casualmente. O então reitor do Colégio de Santos, padre Alexandre de Gusmão, levantou, com a ajuda da população, outra capela para a santa, desta vez no alto do Outeiro,
onde permaneceu por quase dois séculos.
O pequeno monte de Santa Catarina foi desaparecendo aos poucos: no começo do século XIX, começaram a retirar terra e extrair pedras do local e, em 1869, a Câmara Municipal autorizou o
desmanche do que ainda restava do Outeiro para demarcação de ruas e quadras.
A casa de João Éboli, em 1998
Foto: PMS/Decom
Porém, permaneceram duas grandes pedras, sobre as quais o médico e abolicionista João Éboli
construiu uma bela casa acastelada. A 22 de outubro de 1922, a Câmara Municipal reconheceu o Outeiro de Santa Catarina como sendo o marco inicial do povoamento de Santos. Mas, nem esse fato serviu para proteger e conservar esse lugar que foi o
berço da cidade e testemunha da nossa história.
O abandono do Outeiro contribuiu para que famílias se instalassem dentro da casa, transformando-o num cortiço. Quando já estava totalmente destruído, foi tombado (1985) e, depois de
quase 100 anos de deterioração, passou a ser recuperado, sendo os trabalhos concluídos em outubro de 2000, com a entrega da praça construída ao seu lado.
Hoje, a Casa de João Éboli, instalada sobre o Outeiro de Santa Catarina, abriga a sede da Fundação Arquivo e Memória de Santos. O lugar é um dos mais bonitos e importantes pontos
históricos da nossa Cidade, podendo ser visitado de segunda a sexta, das 8 às 18 horas e, nos fins de semana, das 9 às 13 horas, na Rua Visconde do Rio Branco, 48.
O local, por volta de 1985, servia como habitação coletiva de baixo nível
Foto: Francisco Lopes Rubio/Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS)
João Éboli
Retrato a óleo do médico João Éboli
Foto: Ana Lucia Pergolizzi/FAMS
O médico italiano
João (Giovani) Éboli veio para o Brasil ainda jovem e, de início, morou no estado do Rio de Janeiro. Mais tarde, mudou-se para Santos, onde realizou importantes obras, contribuindo grandemente para o desenvolvimento do
lugar. Durante os anos em que permaneceu na Cidade, Éboli ligou-se a todas as entidades por atos de benevolência e caridade, além de ter participado ativamente nas campanhas abolicionista e republicana.
Foi concessionário da Ferro-Carril Santista, empresa que explorou o serviço de bondes a tração animal, fundou a Casa Bancária Éboli & Cia., trouxe a
luz elétrica para as ruas de Santos e exerceu a Vereança de setembro de 1892 a fevereiro de 1893. Como perito comercial, colaborou na legislação brasileira.
Depois da concessão do título de benemérito, em julho de 1900, a Santa Casa de Misericórdia colocou seu retrato no consistório, como forma de homenagear um
irmão que prestou tantos serviços ao hospital. A Câmara Municipal de Santos também deu seu nome a uma das ruas da Cidade. João Éboli faleceu no dia 8 de agosto de 1923, quarenta e três anos após ter construído sua casa sobre as duas grandes pedras
que restaram do Outeiro de Santa Catarina.
Nova aparência, completada a restauração do local, no ano 2000
Foto: Prefeitura Municipal de Santos
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Santa Catarina de Alexandria Santa Catarina nasceu no ano 300, em Alexandria, no Egito, numa
época em que existia uma forte perseguição aos cristãos. Pertencente a uma família nobre, estudou Filosofia, Teologia e outras ciências. Além de muito inteligente e culta, era dotada de singular beleza.
Fascinado por seus encantos, o imperador Maximino Daia procurou divorciar-se de sua esposa a fim de se casar com Catarina. Diante de sua recusa, ele convocou cinqüenta sábios com o objetivo de convencê-la de que
Jesus não tinha poderes e fazê-la abandonar a sua fé. Entretanto, a Santa não somente refutou as posições dos sábios, como converteu-os ao cristianismo.
Furioso pela derrota, Maximino mandou executar todos os sábios e torturá-la sob uma roda com pontas de ferro que, em contato com o seu corpo, quebrou-se ao meio e nada fez contra ela - por causa disso, Santa
Catarina é invocada pelos que trabalham com rodas. Foi ordenado, então, que ela fosse decapitada. Quando deceparam sua cabeça, do seu pescoço começou a brotar leite ao invés de sangue - daí, ser ela invocada pelas mães que, tendo pouco leite,
precisam amamentar seus filhos.
Os relatos de seu martírio continuam. Contam que os anjos desceram dos céus e levaram seu corpo para o Monte Sinai, onde mais tarde teria surgido um mosteiro consagrado à sua memória.
Em exaltação à Santa Catarina, foram levantadas numerosas igrejas em toda a Europa. Por sua sabedoria, a Santa é invocada como protetora pelos estudantes, intelectuais e filósofos. Literatura e arte celebraram os
louvores e imortalizaram sua figura. A Universidade de Paris escolheu-a como padroeira. E o Brasil honra-se em tê-la protetora de um Estado, que leva seu nome.
O dia 25 de novembro é dedicado a Santa Catarina de Alexandria.
A segunda capela, no alto do outeiro, em detalhe de quadro do pintor Benedito Calixto
A Santa Catarina do Outeiro
Estatueta de Santa Catarina, mantida em Santos
Foto: Ana Lucia Pergolizzi/FAMS
A imagem de Santa Catarina de Alexandria
foi colocada na capela construída em Santos por volta de 1540, no sopé do outeiro que recebeu o seu nome, pelo casal Luiz de Góes e Catarina de Aguillar.
Em 1591, a capela foi parcialmente destruída e a imagem foi lançada ao mar pelos corsários de Thomas Cavendish e, após 72 anos, em 1663, recolhida casualmente por escravos de jesuítas. Por iniciativa do Padre
Alexandre de Gusmão (N.E.: nascido em Lisboa em 14/8/1629 e falecido em Belém da Cachoeira, na Bahia, em 15/3/1724, era homônimo do irmão de Bartolomeu de Gusmão, e preceptor de
ambos) e com a ajuda do povo, a capela foi reedificada, desta vez no alto do outeiro. No século XIX, a capela foi demolida para a abertura da Rua Santa Catarina, hoje Visconde do Rio Branco.
A imagem de Santa Catarina de Alexandria, peça em madeira do século XVI, medindo aproximadamente 90 cm de altura, hoje pertence ao acervo do Museu de Arte Sacra de Santos e é a mais antiga do local, possuindo
grande valor artístico, histórico e afetivo.
O Outeiro de Santa Catarina em 2002
Foto: Prefeitura Municipal de Santos
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