COMÉRCIO
ELETRÔNICO
Comércio eletrônico
já é uma realidade - V
Carlos Pimentel Mendes
Editor
Vem sendo
enfatizado nesta série de matérias que não se pode
esperar lucro imediato no comércio eletrônico, via Internet.
Porém, se uma empresa comercial pretende sobreviver no mercado globalizado,
tem de investir nessa tecnologia, e já começa atrasada em
relação a alguns concorrentes que têm experiência
de um, dois, até cinco anos no sistema.
Como citou Ronald (McDonald's) Luiz
Monteiro, presidente da Associação Comunidade de Mãos
Dadas, em palestra realizada dia 6/7/1999 no Rotary Club de Santos-Porto,
nesta nova realidade globalizada o tradicional concorrente estabelecido
no outro lado da rua agora é parceiro, pois o verdadeiro concorrente
pode estar em outro continente. Talvez seja necessário aliar forças
com o concorrente-parceiro, para continuar competindo no mercado mundial.
Antarctica e Brahma que o digam melhor.
Num mercado global e com produtos
e serviços de qualidade cada vez mais padronizada e semelhante,
ganha quem tiver capacidade de oferecer menor custo final ao cliente. Recente
matéria da revista
Exame ("Perdidos no ciberespaço",
edição de 24/3/1999) mostra que embora o mercado seja cada
vez maior ("as vendas on-line somaram 8 bilhões de dólares
no ano passado e podem crescer dez vezes nos próximos quatro anos"),
o sonho pode virar pesadelo, principalmente quando uma indústria
passa a vender diretamente ao consumidor final. Os ralos por onde escoam
os lucros estão nos custos da logística de entrega física
dos produtos, na concorrência predatória, no atendimento ao
cliente e no marketing. A empresa terá ainda de enfrentar a ira
de distribuidores e varejistas, hoje responsáveis geralmente por
grande parte de suas vendas.
Ralos a
fechar - A emblemática Amazon.com desistiu de usar estruturas
de distribuição terceirizadas, por não confiar no
nível de atendimento ao cliente que elas poderiam oferecer, e está
construindo seu terceiro depósito (28 mil m² no estado norte-americano
de Nevada), enquanto planeja a construção de novos depósitos
- o que também significa aumento nos gastos com funcionários.
Dos cerca de 2.100 empregados mantidos
por essa livraria virtual, cerca de 1.400 trabalham com a "satisfação
do cliente", em tarefas burocráticas, embalagem de pacotes, resposta
a e-mails etc., consumindo uns 10% do faturamento. Investimento
necessário: quanto menor a diferença entre os produtos vendidos
por lojas concorrentes, mais importante se torna a satisfação
do cliente com o atendimento (clareza, rapidez, eficiência). Isso
requer investimentos em recursos humanos, treinamento e sistemas de gerenciamento.
Aliás, verifica-se que os
consumidores virtuais costumam passear pela loja eletrônica enchendo
o "carrinho de compras", mas antes de chegar ao final apagam dois terços
das mercadorias compradas, ou simplesmente se perdem na loja e precisam
de algum tipo de atendimento humano que não pode ser suprido pelos
textos padronizados de ajuda.
A satisfação do consumidor
também passa pelo grande investimento em atualização
tecnológica, pois os clientes vão modernizando seus equipamentos,
acrescentando periféricos aos computadores, e a loja mais moderna
acaba se tornando mais atraente. Se uma loja criar uma opção
de páginas imprimíveis em Braille, a concorrente que não
investir nessa opção perderá todo o nicho de mercado
representado pelos deficientes visuais.
No palheiro da Internet, só
é encontrado quem se divulga. Colocar uma mensagem interativa num
dos grandes portais da Internet - aqueles endereços mais conhecidos,
como o site de buscas Yahoo! por exemplo - pode custar mais que se instalar
fisicamente em locais como a Avenida Paulista. A empresa só conseguirá
reverter esse quadro quando se tornar famosa o suficiente para ela mesma
virar um portal e começar a cobrar para que outras coloquem publicidade
em suas páginas (é o que a Amazon está começando
a fazer agora). A matéria de Exame cita que a Barnes &
Noble paga US$ 40 milhões à América OnLine (AOL) pelo
direito de exclusividade como livraria virtual no site durante quatro anos.
Ao mesmo tempo, a loja virtual terá
de enfrentar a grande redução na margem de lucro propiciada
pela maior concorrência. No mundo real, não compensaria atravessar
a cidade várias vezes para comprar cada produto num supermercado
diferente, buscando os preços mínimos. O consumidor se resigna
a pagar mais, às vezes, para não perder tempo nessa pesquisa
de preços e no trânsito. Isso muda na Internet: a pesquisa
é feita automaticamente e de forma gratuita por sites especializados
em comparação de preços, e logo será possível
até mesmo o comprador submeter uma lista de produtos a serem adquiridos
e algum sistema de pesquisas efetuar as compras em seu nome em cada loja
virtual, oferecendo assim a menor cesta de preços finais. A inércia
- que levava o consumidor a pagar mais caro pelo conforto de comprar num
só lugar - deixa de existir no meio eletrônico.
A soma de tudo isso resulta num exemplo
prático, também citado naquela matéria: um livro que
custe US$ 100, se vendido numa loja real, renderia US$ 12,50 à loja.
A venda pela Internet resulta num prejuízo de US$ 1,24. É
desanimador, sim, porém a pressão do mercado mundial (quase
o equivalente à população total do Brasil já
atua hoje na chamada economia digital em todo o mundo) é tal que
não há como resistir: o empresário terá de
enfrentar o desafio, rever minuciosamente cada etapa do processo de venda
e usar sua criatividade para fazer com que o lucro apareça. Como
será, ninguém sabe direito ainda, mas é certo que
as soluções terão de ser encontradas rapidamente.
E quem as encontrar primeiro é que ficará com os lucros,
porque deterá o conhecimento de como fazer, e os demais ficarão
para trás, talvez nem se recuperem do baque sofrido...
Veja nesta série:
I -
Abertura
Crescimento começou com a Web
"É uma nova revolução nos
negócios"
II -
Abertura
Duas siglas que já beneficiam os usuários
Web tem respostas até mais rápidas
III
- Abertura
Se minha geladeira falasse...
Mulheres lideram no número de net-compradores
(40% em nove meses)
Shopping virtual é inaugurado em Ribeirão
Preto.
IV -
Abertura
Opus é exemplo santista de loja virtual
Promoções e preço menor atraem
clientes
Tomorrow é exemplo de shopping digital
Uma loja de ferramentas faz sucesso na Internet
Automóveis usados ganham maior loja virtual
da Internet brasileira
V -
Abertura
Internet muda relação entre comerciante
e cliente.
Canais de distribuição reformulam
suas práticas.
VI -
Abertura
Custo da publicidade na Web não é
o problema
Presença na Internet é tão
importante quanto dispor de telefone e fax.
Nova economia é alicerçada na informação.
VII
-
Mais de vinte motivos para a empresa se instalar
na Internet
Quem tem medo de entrar na Web?
Banners apresentam resultados acima das
expectativas |