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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos/SP em 22/6/1999
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/20/00 21:54:24
COMÉRCIO ELETRÔNICO
Comércio eletrônico já é uma realidade - II

Carlos Pimentel Mendes
Editor

A principal diferença entre uma simples página institucional de uma empresa na Internet e uma loja virtual é o aspecto segurança. Se alguém alterar fraudulentamente o visual de uma página, causa algum transtorno mas o caso vai apenas para os anais folclóricos da Internet. Se um sistema de comércio eletrônico tiver seus procedimentos de segurança violados, significa um grande prejuízo para a empresa, que fica inoperante até o problema ser corrigido, e pode representar problemas com débitos glosados no cartão de crédito, mercadorias produzidas e/ou enviadas sem que o destinatário tivesse realmente feito a encomenda, um sério arranhão na confiança que o público deposita nessa empresa etc.

Nada que já não exista em sistemas tradicionais como venda por catálogo, por telefone ou mesmo no balcão. Mas, pelo fato da Internet ser algo novo na vida empresarial, essas deficiências acabam sobressaindo. Ainda mais pelo âmbito mundial dos negócios através dessa rede, fugindo aos controles legais de cada país, o que abre (por enquanto) uma brecha para fraudes serem praticadas a partir de países em que não é possível punir os responsáveis. Não será surpresa se surgirem paraísos comerciais (onde tudo é permitido), a exemplo dos atuais paraísos fiscais e dos países com bandeira de conveniência para o comércio marítimo. Com a diferença de que será mais difícil para o usuário identificar a que jurisdição nacional obedece determinada empresa virtual - pelo menos, até que sejam abolidas as fronteiras nacionais para o comércio e surja uma regulamentação aceita mundialmente.

Nada garante que uma loja virtual aparentemente sediada nos Estados Unidos, e até exibindo endereço postal e telefax para passar a idéia de solidez, não seja apenas uma sala com telefone alugados por alguém, e o site redirecione as consultas para um endereço eletrônico situado no outro lado do mundo. A pessoa faz a encomenda, debita no cartão de crédito e simplesmente não recebe a mercadoria. E não há nada que possa fazer, a não ser divulgar ao máximo que a tal loja é uma fraude.

Do outro lado do balcão, o lojista também não conta ainda com mecanismos seguros amplamente difundidos para identificar se quem fez a compra é realmente detentor do cartão de crédito utilizado. Eles existem - são os sistemas de certificação de assinatura digital e os cartórios eletrônicos -, mas ainda são pouco difundidos. Como existe um custo para essa certificação, ainda que baixo, não há como as lojas exigirem essa garantia dos clientes. O dilema prossegue: burocracia não condiz com comércio eletrônico, se o cliente em potencial tiver de preencher extensos formulários que visem identificá-lo, tenderá a desistir da compra, por medo de que esses dados sejam usados para formatar valiosas listas de e-mails não solicitados (o chamado spam), por exemplo.

Mas o problema estará resolvido em breve: estudo recém divulgado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) projeta que no ano 2006 as mensagens e-mail não garantidas por algum sistema de certificação (assinatura digital) tenderão a ser totalmente descartadas pelos destinatários.

A insegurança que os usuários sentem em usar o cartão de crédito nas compras via Internet, embora tenha uma certa razão de ser devido ao grande número de intermediários desconhecidos pelos quais circula a informação entre comprador e vendedor, se torna irracional quando esses mesmos usuários vão a um restaurante e entregam o cartão ao garçom para que seja debitada a despesa do jantar. Nada garante que o garçom, pelo caminho, anote o número e o nome do usuário, ou mesmo - se ainda for utilizado o sistema de papel carbono - guarde a cópia carbono para depois usar no preenchimento de outra guia de compra, em lugar distante (isso já aconteceu aqui em Santos mesmo...). Nas compras por telefone, o número também é passado de forma descuidada (alguém pode estar ouvindo numa extensão da linha), e não é por acaso que existem tantas recomendações sobre digitar o número do cartão em aparelhos telefônicos de estranhos (os dados podem ficar na memória do aparelho).

Regulamentações - Todos esses (e muitos outros problemas) de segurança nas transações não estão intimidando as empresas, que nos países mais adiantados estão rapidamente escalando posições no comércio eletrônico mundial. Ao mesmo tempo, os governos desses países estão desenvolvendo regulamentações voltadas para o e-commerce, diante da constatação de que, nos próximos três anos, terá um crescimento explosivo em todo o mundo (todos os gráficos estatísticos têm a linha da evolução voltada brusca e diretamente para cima no período compreendido pelos próximos três anos).

Na verdade, o comércio eletrônico é apenas uma pequena parte de uma completa mudança de mentalidade que está acontecendo, traduzida no que vem sendo chamado de Sociedade da Informação. O novo paradigma inclui temas como ensino à distância, teletrabalho, telemedicina (em que o cirurgião pode fazer uma operação manipulando instrumentos robotizados, com uma distância de meio mundo entre ele o paciente), bibliotecas virtuais, sistemas bancários e tele-bolsas de valores, shoppings eletrônicos, comunidades virtuais.

Um ótimo livro (disponível integralmente na Internet) é o City of Bits, de William J.Mitchell, que se destaca principalmente pelo paralelo que faz entre coisas a que estamos habituados e a nova apresentação dessas mesmas coisas. Em vez de uma prisão, o criminoso pode ser sujeito a um sistema de telecontrole (seus movimentos são monitorados por sistemas que alertam se ele sair da área em que lhe é permitido se movimentar - uma prisão domiciliar, por exemplo). Em vez de hospitais, telemedicina. Em lugar de campi universitários, escolas e universidades virtuais. Galerias virtuais e sistemas de entretenimento baseados na Internet, em lugar de galerias comuns, museus e teatros. Livrarias eletrônicas em lugar de lojas comuns, vendendo bits que podem ser armazenados num computador com formato de livro (com telas que podem ser folheadas), da mesma forma como já existem conjuntos musicais vendendo música em formato MP3 para o usuário colocar em seu computador e até montar seu próprio disco.

O próprio conceito de dinheiro está mudando: em breve, cartões inteligentes (smart cards) substituirão a carteira com cédulas e moedas na padaria da esquina, no táxi etc., conforme experiências que já estão sendo conduzidas em cidades do interior paulista. Na nova realidade, a distância entre duas pessoas quaisquer do mundo, ou entre duas empresas, é nula, é como se o companheiro de trabalho "da sala ao lado" estivesse na verdade fisicamente em alguma cidade da Indonésia, por exemplo. A própria realidade física deixa de ser importante, as pessoas precisam se acostumar com produtos intangíveis. O suporte papel deixa de ser necessário para que um documento assinado tenha valor oficial, pois até mesmo o cartório que autentica a assinatura será eletrônico, acrescentando a esse documento um código em lugar do tradicional carimbo.

O mais importante: não é algo para um futuro distante: tudo isso já existe e está em uso há vários anos, falta apenas que os sistemas se tornem universais. Se um vírus de computador como o Melissa consegue se espalhar por cinco continentes em apenas algumas horas, alguém duvida que a Sociedade da Informação vá invadir e transformar sua vida dentro de bem pouco tempo? Nesse caso, visite a página Web da centenária National Cash Register, a mesma das tradicionais caixas registradoras NCR. Em setembro de 1998 ela lançou um forno microondas que pode acessar o sistema de home-banking (instituições bancárias como o Barclays já mostraram interesse), verificar os e-mails e surfar pelas páginas Web. Literalmente, um micro (ondas) para quem não quer micro (computador).

O único fator para que essas mudanças ainda não tenham sido amplamente implementadas é o atraso cultural e tecnológico de algumas regiões do mundo, e a questão econômica que dificulta investimentos para mudanças mais rápidas. Mas elas estão ocorrendo rapidamente: você já não movimenta sua conta bancária pela Internet? Não pede sua pizza por telefone? Não usa cartão de crédito, passe magnético, crachá com senha de acesso à empresa? Não envia ou recebe fax? Não participa de programas de televisão interativos, como teleshopping e Você Decide? São diferentes formas de participação, ainda que básica, nessa nova realidade. Que está apenas começando, mas já é inevitável e se aproxima rapidamente. O melhor a fazer é se preparar para ela.

Veja nesta série:
     I - Abertura
       Crescimento começou com a Web
       "É uma nova revolução nos negócios"
     II - Abertura
       Duas siglas que já beneficiam os usuários
       Web tem respostas até mais rápidas
     III - Abertura
      Se minha geladeira falasse...
      Mulheres lideram no número de net-compradores (40% em nove meses)
      Shopping virtual é inaugurado em Ribeirão Preto.
     IV - Abertura
      Opus é exemplo santista de loja virtual
      Promoções e preço menor atraem clientes
       Tomorrow é exemplo de shopping digital
       Uma loja de ferramentas faz sucesso na Internet
       Automóveis usados ganham maior loja virtual da Internet brasileira
     V - Abertura
       Internet muda relação entre comerciante e cliente.
       Canais de distribuição reformulam suas práticas.
     VI - Abertura
      Custo da publicidade na Web não é o problema
       Presença na Internet é tão importante quanto dispor de telefone e fax.
      Nova economia é alicerçada na informação.
     VII - Mais de vinte motivos para a empresa se instalar na Internet
      Quem tem medo de entrar na Web?
      Banners apresentam resultados acima das expectativas