COMÉRCIO
ELETRÔNICO
Comércio eletrônico
já é uma realidade - II
Carlos Pimentel Mendes
Editor
A principal
diferença entre uma simples página institucional de uma empresa
na Internet e uma loja virtual é o aspecto segurança. Se
alguém alterar fraudulentamente o visual de uma página, causa
algum transtorno mas o caso vai apenas para os anais folclóricos
da Internet. Se um sistema de comércio eletrônico tiver seus
procedimentos de segurança violados, significa um grande prejuízo
para a empresa, que fica inoperante até o problema ser corrigido,
e pode representar problemas com débitos glosados no cartão
de crédito, mercadorias produzidas e/ou enviadas sem que o destinatário
tivesse realmente feito a encomenda, um sério arranhão na
confiança que o público deposita nessa empresa etc.
Nada que já não exista
em sistemas tradicionais como venda por catálogo, por telefone ou
mesmo no balcão. Mas, pelo fato da Internet ser algo novo na vida
empresarial, essas deficiências acabam sobressaindo. Ainda mais pelo
âmbito mundial dos negócios através dessa rede, fugindo
aos controles legais de cada país, o que abre (por enquanto) uma
brecha para fraudes serem praticadas a partir de países em que não
é possível punir os responsáveis. Não será
surpresa se surgirem paraísos comerciais (onde tudo é permitido),
a exemplo dos atuais paraísos fiscais e dos países com bandeira
de conveniência para o comércio marítimo. Com a diferença
de que será mais difícil para o usuário identificar
a que jurisdição nacional obedece determinada empresa virtual
- pelo menos, até que sejam abolidas as fronteiras nacionais para
o comércio e surja uma regulamentação aceita mundialmente.
Nada garante que uma loja virtual
aparentemente sediada nos Estados Unidos, e até exibindo endereço
postal e telefax para passar a idéia de solidez, não seja
apenas uma sala com telefone alugados por alguém, e o site redirecione
as consultas para um endereço eletrônico situado no outro
lado do mundo. A pessoa faz a encomenda, debita no cartão de crédito
e simplesmente não recebe a mercadoria. E não há nada
que possa fazer, a não ser divulgar ao máximo que a tal loja
é uma fraude.
Do outro lado do balcão, o
lojista também não conta ainda com mecanismos seguros amplamente
difundidos para identificar se quem fez a compra é realmente detentor
do cartão de crédito utilizado. Eles existem - são
os sistemas de certificação de assinatura digital e os cartórios
eletrônicos -, mas ainda são pouco difundidos. Como existe
um custo para essa certificação, ainda que baixo, não
há como as lojas exigirem essa garantia dos clientes. O dilema prossegue:
burocracia não condiz com comércio eletrônico, se o
cliente em potencial tiver de preencher extensos formulários que
visem identificá-lo, tenderá a desistir da compra, por medo
de que esses dados sejam usados para formatar valiosas listas de e-mails
não solicitados (o chamado spam), por exemplo.
Mas o problema estará resolvido
em breve: estudo recém divulgado pelo Massachusetts Institute of
Technology (MIT) projeta que no ano 2006 as mensagens e-mail não
garantidas por algum sistema de certificação (assinatura
digital) tenderão a ser totalmente descartadas pelos destinatários.
A insegurança que os usuários
sentem em usar o cartão de crédito nas compras via Internet,
embora tenha uma certa razão de ser devido ao grande número
de intermediários desconhecidos pelos quais circula a informação
entre comprador e vendedor, se torna irracional quando esses mesmos usuários
vão a um restaurante e entregam o cartão ao garçom
para que seja debitada a despesa do jantar. Nada garante que o garçom,
pelo caminho, anote o número e o nome do usuário, ou mesmo
- se ainda for utilizado o sistema de papel carbono - guarde a cópia
carbono para depois usar no preenchimento de outra guia de compra, em lugar
distante (isso já aconteceu aqui em Santos mesmo...). Nas compras
por telefone, o número também é passado de forma descuidada
(alguém pode estar ouvindo numa extensão da linha), e não
é por acaso que existem tantas recomendações sobre
digitar o número do cartão em aparelhos telefônicos
de estranhos (os dados podem ficar na memória do aparelho).
Regulamentações
-
Todos esses (e muitos outros problemas) de segurança nas transações
não estão intimidando as empresas, que nos países
mais adiantados estão rapidamente escalando posições
no comércio eletrônico mundial. Ao mesmo tempo, os governos
desses países estão desenvolvendo regulamentações
voltadas para o e-commerce, diante da constatação de que,
nos próximos três anos, terá um crescimento explosivo
em todo o mundo (todos os gráficos estatísticos têm
a linha da evolução voltada brusca e diretamente para cima
no período compreendido pelos próximos três anos).
Na verdade, o comércio eletrônico
é apenas uma pequena parte de uma completa mudança de mentalidade
que está acontecendo, traduzida no que vem sendo chamado de Sociedade
da Informação. O novo paradigma inclui temas como ensino
à distância, teletrabalho, telemedicina (em que o cirurgião
pode fazer uma operação manipulando instrumentos robotizados,
com uma distância de meio mundo entre ele o paciente), bibliotecas
virtuais, sistemas bancários e tele-bolsas de valores, shoppings
eletrônicos, comunidades virtuais.
Um ótimo livro (disponível
integralmente
na Internet) é o City of Bits, de William J.Mitchell, que se destaca
principalmente pelo paralelo que faz entre coisas a que estamos habituados
e a nova apresentação dessas mesmas coisas. Em vez de uma
prisão, o criminoso pode ser sujeito a um sistema de telecontrole
(seus movimentos são monitorados por sistemas que alertam se ele
sair da área em que lhe é permitido se movimentar - uma prisão
domiciliar, por exemplo). Em vez de hospitais, telemedicina. Em lugar de
campi universitários, escolas e universidades virtuais. Galerias
virtuais e sistemas de entretenimento baseados na Internet, em lugar de
galerias comuns, museus e teatros. Livrarias eletrônicas em lugar
de lojas comuns, vendendo bits que podem ser armazenados num computador
com formato de livro (com telas que podem ser folheadas), da mesma forma
como já existem conjuntos musicais vendendo música em formato
MP3 para o usuário colocar em seu computador e até montar
seu próprio disco.
O próprio conceito de dinheiro
está mudando: em breve, cartões inteligentes (smart cards)
substituirão a carteira com cédulas e moedas na padaria da
esquina,
no táxi etc., conforme experiências que já estão
sendo conduzidas em cidades do interior paulista. Na nova realidade, a
distância entre duas pessoas quaisquer do mundo, ou entre duas empresas,
é nula, é como se o companheiro de trabalho "da sala ao lado"
estivesse na verdade fisicamente em alguma cidade da Indonésia,
por exemplo. A própria realidade física deixa de ser importante,
as pessoas precisam se acostumar com produtos intangíveis. O suporte
papel deixa de ser necessário para que um documento assinado tenha
valor oficial, pois até mesmo o cartório que autentica a
assinatura será eletrônico, acrescentando a esse documento
um código em lugar do tradicional carimbo.
O mais importante: não é
algo para um futuro distante: tudo isso já existe e está
em uso há vários anos, falta apenas que os sistemas se tornem
universais. Se um vírus de computador como o Melissa consegue se
espalhar por cinco continentes em apenas algumas horas, alguém duvida
que a Sociedade da Informação vá invadir e transformar
sua vida dentro de bem pouco tempo? Nesse caso, visite a página
Web da centenária National Cash Register,
a mesma das tradicionais caixas registradoras NCR. Em setembro de 1998
ela lançou um forno microondas que pode acessar o sistema de home-banking
(instituições bancárias como o Barclays já
mostraram interesse), verificar os e-mails e surfar pelas páginas
Web. Literalmente, um micro (ondas) para quem não quer micro (computador).
O único fator para que essas
mudanças ainda não tenham sido amplamente implementadas é
o atraso cultural e tecnológico de algumas regiões do mundo,
e a questão econômica que dificulta investimentos para mudanças
mais rápidas. Mas elas estão ocorrendo rapidamente: você
já não movimenta sua conta bancária pela Internet?
Não pede sua pizza por telefone? Não usa cartão de
crédito, passe magnético, crachá com senha de acesso
à empresa? Não envia ou recebe fax? Não participa
de programas de televisão interativos, como teleshopping e Você
Decide? São diferentes formas de participação, ainda
que básica, nessa nova realidade. Que está apenas começando,
mas já é inevitável e se aproxima rapidamente. O melhor
a fazer é se preparar para ela.
Veja nesta série:
I -
Abertura
Crescimento começou com a Web
"É uma nova revolução nos negócios"
II -
Abertura
Duas siglas que já beneficiam os usuários
Web tem respostas até mais rápidas
III
- Abertura
Se minha geladeira falasse...
Mulheres lideram no número de net-compradores
(40% em nove meses)
Shopping virtual é inaugurado em Ribeirão
Preto.
IV -
Abertura
Opus é exemplo santista de loja virtual
Promoções e preço menor atraem
clientes
Tomorrow é exemplo de shopping digital
Uma loja de ferramentas faz sucesso na Internet
Automóveis usados ganham maior loja virtual
da Internet brasileira
V -
Abertura
Internet muda relação entre comerciante
e cliente.
Canais de distribuição reformulam
suas práticas.
VI -
Abertura
Custo da publicidade na Web não é
o problema
Presença na Internet é tão
importante quanto dispor de telefone e fax.
Nova economia é alicerçada na informação.
VII
-
Mais de vinte motivos para a empresa se instalar
na Internet
Quem tem medo de entrar na Web?
Banners apresentam resultados acima das expectativas |