COMÉRCIO
ELETRÔNICO
Net muda relação entre
comerciante e cliente
A moça na entrada da
loja foi substituída por uma tela cheia de pontos
Paulo Eduardo Mauá (*)
Colaborador
A palavra
comércio está diretamente ligada a uma permuta, uma troca,
um processo de compra e venda de produtos ou valores. Isso se desenvolve
naturalmente desde a Idade da Pedra e não existe como impedir de
que essa prática universal invada nossos computadores. Não
é uma questão de tendência, que pode ser revertida
a qualquer instante ou porque determinado poder de mídia queira
ou não, mas sim de fato.
Quando o cerealista da esquina imperava
há 40 anos no meu bairro, ninguém poderia imaginar que, anos
após, um hipermercado - com quase tudo o que o cerealista possuía
e outros itens, antes só existentes no açougue vizinho, na
floricultura no meio da quadra, na padaria - iria se transformar na ordem
do momento da população.
Quase tudo, pois o contato humano,
seja do cliente com o balconista ou do cliente com a caixa do produto,
ou do cliente que apenas deseja que alguém lhe escute, tomar um
"ar" longe da claustrofobia de um quarto, até passear, isso não
poderá ser substituído no momento pois faz parte da característica
humana.
O comércio eletrônico,
jargão utilizado em informática para a prática de
comprar via Internet, é uma realidade que transforma a figura do
comerciante e desaparece com a do comerciário, pilares do comércio
até então. Quem faz a venda, através do monitor que
temos em casa ou no escritório, é a página web mais
bonita, o preço mais convidativo, a posição de estoque,
o prazo de pagamento mais facilitado. Pode reparar que alguns requisitos
permanecem, mas a moça que dá bom dia na entrada da loja
foi substituída por uma tela cheia de pixeis (N.E.: pixeis é
o plural de pixel, o ponto básico de cor que forma a imagem na tela
do computador).
Novos conhecimentos-
O comerciante, aquele que antes precisava ter vocação para
o comércio, necessita conhecimentos extras nunca imaginados: conhecimento
da concorrência através de suas home-pages, novas técnicas
de abordagem aos internautas, softwares mais rápidos, programadores
de telas mais imaginativos etc.
No lugar do vitrinista, o web
designer. E ele, sim, é que precisava encantar os olhos de todos
nós que surfamos pelos www, atraindo como isca para a oferta do
comerciante à disposição.
Quando criamos a home-page
da Enterdata Informática, em outubro de 1998, colocamos diversas
informações aos curiosos que fossem nos procurar sem preocupação
estética ou de formalidade na apresentação dessas
informações. Lembro-me bem que tínhamos uma média
de 3 visitantes semanais na página e nem sabíamos se era
uma taxa alta ou baixa, porque não tínhamos referência
alguma. Hoje, temos uma procura de 20 visitantes por dia e a consideramos
uma taxa baixa. E não se passou um ano.
Mudamos então com a contratação
de um cartunista espetacular (o Seri), criamos uma personagem para demonstrar
as seções e os produtos (já que não temos ninguém
de carne e osso para apresentar as telas) e estamos em constante mutação,
tanta alteração que o pessoal da BNC, que desenvolve diariamente
nosso site, as vezes nos pede um tempo. Mas esse é outro problema
da informática. O produto é lançado nos Estados Unidos
e o internauta vai correndo no site buscar a informação.
E fica bravo se ela não estiver lá. E é nossa obrigação
estarmos antenados ao mundo.
E-loja
- Desde a implantação da loja eletrônica no site (opção
e-loja),
em 1º de janeiro de 1999, muita coisa mudou. Durante o próprio
mês de janeiro, foi feita apenas uma consulta de preço via
Internet e com concretização de negócio, mas um detalhe
interessante: o cliente veio conhecer fisicamente a loja e levou o equipamento
em mãos. Ou seja, não era um comércio eletrônico.
Hoje recebemos em média 5
consultas diárias via site de diversos lugares do Brasil e inclusive
do exterior. Já fechamos negócios com Ijuí (RS), Maceió,
Salvador, Curitiba, mostrando realmente que a Internet não demonstra
limitação geográfica.
O cliente de Curitiba merece uma
observação, também. Conheceu a especificação
do equipamento através do site da Enterdata, enviou e-mail
para detalhes de preço, forma de pagamento e frete e, coincidentemente,
teve contato com o produto em uma loja no Paraná. Nos informou sobre
isso e, como os preços eram iguais, tanto no nosso site como na
loja curitibana, acabou fechando o negócio conosco, pois foi através
da Enterdata que ele havia conseguido descobrir o que precisava. Esse é
o cliente fiel, mas pena que apenas 10% sejam assim.
Crédito
- O fato do uso desconfiado do cartão de crédito dificulta
ainda bastante o comércio eletrônico, mas acredito que a tendência
é ir diminuindo essas suspeitas a partir do momento que as empresas
estejam afiliadas a entidades que respondam pelos seus associados, tornando
assim a transação mais segura para o cliente.
Outra informação importante
é a desinformação do provedor ou desenvolvedor dos
projetos de home-page, que podem ser craques em designer mas de
relação comercial estão sempre engatinhando em relação
ao conhecimento dos atuais comerciantes. Muitas vezes colocamos certas
condições que eles desconhecem por completo, ou acham que
não há necessidade.
Recentemente travei uma discussão
saudável com um desenvolvedor que não entendia a necessidade
da Enterdata em se proteger contra os clientes que adquirissem produtos
via Internet informando o número do cartão de crédito
via e-mail, e depois alegassem que não foram eles que realizaram
a compra, mas um funcionário da empresa. Que isso nunca tenha ocorrido
na Internet, não sei responder, mas já ocorreu fisicamente
na loja, portanto todo cuidado é pouco e se faz necessária
uma proteção para ambos os envolvidos nessa relação
de troca de produto ou serviço.
Voltando a falar da pressa que o
usuário de Internet tem, pelas características da própria
informática de hoje, isso é um problema que hoje parece sem
fim. Ele passa um orçamento ou cotação e espera que
no mesmo minuto possamos respondê-lo. Mas, como nas relações
de revenda e distribuidor, pouca coisa se alterou, a velocidade das informações
não nos chega como desejamos e não conseguimos algumas vezes
passar a informação na velocidade desejada (por nós
e pelo internauta).
Eles reenviam e-mail reclamando,
e nisso cabe outra característica. No comércio de loja, a
reclamação tem que ser feita na loja, no balcão, frente
a frente com o vendedor, o que as vezes constrange o cliente lesado. Na
Internet, basta sentar na frente de um teclado qualquer e despejar um monte
de palavras, o que torna a condição do cliente mais corajosa
e algumas vezes injusta para os receptores da reclamação,
pois nem sabemos se aquele nome ou pessoa existe, ou se o fato ocorreu
como diz ter ocorrido.
(*) Paulo Eduardo
Mauá é sócio-proprietário das lojas santistas
de informática Enterdata.
N.E.: A IBM mantém páginas
em inglês sobre desenvolvimento de negócios eletrônicos,
inclusive e-commerce, no site http://www.ibm.com/e-business/.
A página brasileira da IBM está em http://www.ibm.com.br.
Veja nesta série:
I -
Abertura
Crescimento começou com a Web
"É uma nova revolução nos
negócios"
II -
Abertura
Duas siglas que já beneficiam os usuários
Web tem respostas até mais rápidas
III
- Abertura
Se minha geladeira falasse...
Mulheres lideram no número de net-compradores
(40% em nove meses)
Shopping virtual é inaugurado em Ribeirão
Preto.
IV -
Abertura
Opus é exemplo santista de loja virtual
Promoções e preço menor atraem
clientes
Tomorrow é exemplo de shopping digital
Uma loja de ferramentas faz sucesso na Internet
Automóveis usados ganham maior loja virtual
da Internet brasileira
V -
Abertura
Internet muda relação entre comerciante
e cliente.
Canais de distribuição reformulam
suas práticas.
VI -
Abertura
Custo da publicidade na Web não é
o problema
Presença na Internet é tão
importante quanto dispor de telefone e fax.
Nova economia é alicerçada na informação.
VII
-
Mais de vinte motivos para a empresa se instalar
na Internet
Quem tem medo de entrar na Web?
Banners apresentam resultados acima das
expectativas |