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*Publicado originalmente pelo editor de Novo Milênio no caderno Informática do jornal A Tribuna de Santos/SP em 13/7/1999
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/20/00 21:51:56
COMÉRCIO ELETRÔNICO
Net muda relação entre comerciante e cliente

A moça na entrada da loja foi substituída por uma tela cheia de pontos

Paulo Eduardo Mauá (*)
Colaborador

A palavra comércio está diretamente ligada a uma permuta, uma troca, um processo de compra e venda de produtos ou valores. Isso se desenvolve naturalmente desde a Idade da Pedra e não existe como impedir de que essa prática universal invada nossos computadores. Não é uma questão de tendência, que pode ser revertida a qualquer instante ou porque determinado poder de mídia queira ou não, mas sim de fato.

Quando o cerealista da esquina imperava há 40 anos no meu bairro, ninguém poderia imaginar que, anos após, um hipermercado - com quase tudo o que o cerealista possuía e outros itens, antes só existentes no açougue vizinho, na floricultura no meio da quadra, na padaria - iria se transformar na ordem do momento da população.

Quase tudo, pois o contato humano, seja do cliente com o balconista ou do cliente com a caixa do produto, ou do cliente que apenas deseja que alguém lhe escute, tomar um "ar" longe da claustrofobia de um quarto, até passear, isso não poderá ser substituído no momento pois faz parte da característica humana.

O comércio eletrônico, jargão utilizado em informática para a prática de comprar via Internet, é uma realidade que transforma a figura do comerciante e desaparece com a do comerciário, pilares do comércio até então. Quem faz a venda, através do monitor que temos em casa ou no escritório, é a página web mais bonita, o preço mais convidativo, a posição de estoque, o prazo de pagamento mais facilitado. Pode reparar que alguns requisitos permanecem, mas a moça que dá bom dia na entrada da loja foi substituída por uma tela cheia de pixeis (N.E.: pixeis é o plural de pixel, o ponto básico de cor que forma a imagem na tela do computador).

Novos conhecimentos- O comerciante, aquele que antes precisava ter vocação para o comércio, necessita conhecimentos extras nunca imaginados: conhecimento da concorrência através de suas home-pages, novas técnicas de abordagem aos internautas, softwares mais rápidos, programadores de telas mais imaginativos etc.

No lugar do vitrinista, o web designer. E ele, sim, é que precisava encantar os olhos de todos nós que surfamos pelos www, atraindo como isca para a oferta do comerciante à disposição.

Quando criamos a home-page da Enterdata Informática, em outubro de 1998, colocamos diversas informações aos curiosos que fossem nos procurar sem preocupação estética ou de formalidade na apresentação dessas informações. Lembro-me bem que tínhamos uma média de 3 visitantes semanais na página e nem sabíamos se era uma taxa alta ou baixa, porque não tínhamos referência alguma. Hoje, temos uma procura de 20 visitantes por dia e a consideramos uma taxa baixa. E não se passou um ano.

Mudamos então com a contratação de um cartunista espetacular (o Seri), criamos uma personagem para demonstrar as seções e os produtos (já que não temos ninguém de carne e osso para apresentar as telas) e estamos em constante mutação, tanta alteração que o pessoal da BNC, que desenvolve diariamente nosso site, as vezes nos pede um tempo. Mas esse é outro problema da informática. O produto é lançado nos Estados Unidos e o internauta vai correndo no site buscar a informação. E fica bravo se ela não estiver lá. E é nossa obrigação estarmos antenados ao mundo.

E-loja - Desde a implantação da loja eletrônica no site (opção e-loja), em 1º de janeiro de 1999, muita coisa mudou. Durante o próprio mês de janeiro, foi feita apenas uma consulta de preço via Internet e com concretização de negócio, mas um detalhe interessante: o cliente veio conhecer fisicamente a loja e levou o equipamento em mãos. Ou seja, não era um comércio eletrônico.

Hoje recebemos em média 5 consultas diárias via site de diversos lugares do Brasil e inclusive do exterior. Já fechamos negócios com Ijuí (RS), Maceió, Salvador, Curitiba, mostrando realmente que a Internet não demonstra limitação geográfica.

O cliente de Curitiba merece uma observação, também. Conheceu a especificação do equipamento através do site da Enterdata, enviou e-mail para detalhes de preço, forma de pagamento e frete e, coincidentemente, teve contato com o produto em uma loja no Paraná. Nos informou sobre isso e, como os preços eram iguais, tanto no nosso site como na loja curitibana, acabou fechando o negócio conosco, pois foi através da Enterdata que ele havia conseguido descobrir o que precisava. Esse é o cliente fiel, mas pena que apenas 10% sejam assim.

Crédito - O fato do uso desconfiado do cartão de crédito dificulta ainda bastante o comércio eletrônico, mas acredito que a tendência é ir diminuindo essas suspeitas a partir do momento que as empresas estejam afiliadas a entidades que respondam pelos seus associados, tornando assim a transação mais segura para o cliente.

Outra informação importante é a desinformação do provedor ou desenvolvedor dos projetos de home-page, que podem ser craques em designer mas de relação comercial estão sempre engatinhando em relação ao conhecimento dos atuais comerciantes. Muitas vezes colocamos certas condições que eles desconhecem por completo, ou acham que não há necessidade. 

Recentemente travei uma discussão saudável com um desenvolvedor que não entendia a necessidade da Enterdata em se proteger contra os clientes que adquirissem produtos via Internet informando o número do cartão de crédito via e-mail, e depois alegassem que não foram eles que realizaram a compra, mas um funcionário da empresa. Que isso nunca tenha ocorrido na Internet, não sei responder, mas já ocorreu fisicamente na loja, portanto todo cuidado é pouco e se faz necessária uma proteção para ambos os envolvidos nessa relação de troca de produto ou serviço.

Voltando a falar da pressa que o usuário de Internet tem, pelas características da própria informática de hoje, isso é um problema que hoje parece sem fim. Ele passa um orçamento ou cotação e espera que no mesmo minuto possamos respondê-lo. Mas, como nas relações de revenda e distribuidor, pouca coisa se alterou, a velocidade das informações não nos chega como desejamos e não conseguimos algumas vezes passar a informação na velocidade desejada (por nós e pelo internauta). 

Eles reenviam e-mail reclamando, e nisso cabe outra característica. No comércio de loja, a reclamação tem que ser feita na loja, no balcão, frente a frente com o vendedor, o que as vezes constrange o cliente lesado. Na Internet, basta sentar na frente de um teclado qualquer e despejar um monte de palavras, o que torna a condição do cliente mais corajosa e algumas vezes injusta para os receptores da reclamação, pois nem sabemos se aquele nome ou pessoa existe, ou se o fato ocorreu como diz ter ocorrido.

(*) Paulo Eduardo Mauá é sócio-proprietário das lojas santistas de informática Enterdata
N.E.: A IBM mantém páginas em inglês sobre desenvolvimento de negócios eletrônicos, inclusive e-commerce, no site http://www.ibm.com/e-business/. A página brasileira da IBM está em http://www.ibm.com.br.

Veja nesta série:
     I - Abertura
       Crescimento começou com a Web
       "É uma nova revolução nos negócios"
     II - Abertura
       Duas siglas que já beneficiam os usuários
       Web tem respostas até mais rápidas
     III - Abertura
       Se minha geladeira falasse...
       Mulheres lideram no número de net-compradores (40% em nove meses)
       Shopping virtual é inaugurado em Ribeirão Preto.
     IV - Abertura
       Opus é exemplo santista de loja virtual
       Promoções e preço menor atraem clientes
       Tomorrow é exemplo de shopping digital
       Uma loja de ferramentas faz sucesso na Internet
       Automóveis usados ganham maior loja virtual da Internet brasileira
     V - Abertura
       Internet muda relação entre comerciante e cliente.
       Canais de distribuição reformulam suas práticas.
     VI - Abertura
       Custo da publicidade na Web não é o problema
       Presença na Internet é tão importante quanto dispor de telefone e fax.
       Nova economia é alicerçada na informação.
     VII - Mais de vinte motivos para a empresa se instalar na Internet
      Quem tem medo de entrar na Web?
      Banners apresentam resultados acima das expectativas