Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0300h2.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 10/12/05 11:15:08
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - SANTOS EM...
1913 - por Moreira Pinto e Almeida Moraes (2)

Ao editar em livro os números do recenseamento realizado em Santos em 1913, a Prefeitura Municipal de Santos incluiu nos anexos um texto relativo à situação do município. A obra é o Recenseamento da Cidade e Município de Santos em 31 de dezembro de 1913, e foi publicada em 1914, fazendo parte do acervo do historiador santista Waldir Rueda. A grafia foi atualizada no texto principal, nesta transcrição:

Breve notícia geográfica e histórica sobre Santos

SANTOS - Do Dicionário Geográfico:

Leva para a página anterior[...]

O primeiro edifício público, que se encontra ao desembarcar da Estrada de Ferro, é o da Câmara Municipal. Funciona essa repartição em um vasto prédio de dois andares no Largo Monte Alegre, em frente à Estação da Estrada e Ferro e ao lado dos Armazéns das Docas. Tem uma sala das Sessões, ornada com gosto. À cabeceira do Presidente vê-se um grande retrato de José Bonifácio, o moço, de pé, tendo a mão direita descansada sobre uma folha de papel, sobre a qual se lê: "Emancipação dos escravos". É uma admirável tela de Décio Villares.

Em frente ficam os retratos de todos os brasileiros que têm exercido a Presidência da República. Além da sala das Sessões, possui mais o gabinete do presidente, a Secretaria, com um retrato de José Bonifácio, o velho, devido também ao pincel de Décio Villares; a Biblioteca, com mais de 5.000 volumes, e os retratos do Generalíssimo Deodoro e do General Benjamim Constant; o Arquivo, a Contadoria e a Seção de Obras Públicas. A renda da Câmara é superior a 4.000 contos anualmente.


Teatro Guarani, no início do século XX
Foto: coleção Laire Giraud

O Teatro Guarani, situado na Praça dos Andradas, tem, no primeiro pavimento, duas portas de entrada e duas janelas, uma das quais serve de bilheteria; e, no segundo, cinco janelas. Acima do corpo central vê-se a figura de um indígena. O interior é espaçoso e bem decorado; tem, além da galeria, uma ordem de camarotes. A platéia comporta mais de quinhentas cadeiras.

A Cadeia é um vasto sobrado, antiquado, de aspecto colonial, sem conforto, nem higiene, inteiramente em desacordo com o progresso da cidade; fica ao fundo da mesma praça. No primeiro pavimento fica uma porta de entrada e oito janelas, todas fechadas com grades de ferro; e, no segundo, uma janela central e quatro de cada lado. No primeiro pavimento ficam a Secretaria e a Repartição do Carcereiro, e nos fundos, as prisões; no segundo funcionam o Júri e o Fórum. Na sala do Júri encontram-se os retratos de Silva Jardim, Antonio Bento, Luís Gama e José Bonifácio, o moço.

A Santa Casa de Misericórdia ocupa um vasto e belo edifício, no sopé do Monte Serrat, em frente à Praça dos Andradas e a Rua S. Francisco. Precede-o um elegante jardim, tendo à direita o necrotério e à esquerda uma bem montada farmácia. Sobe-se por duas escadas cimentadas, abaixo das quais há uma espécie de nicho com a estátua da caridade. Compõe-se de três corpos e uma capela à direita. Tem dezenove janelas de frente no terceiro pavimento e dezesseis no segundo. O seu interior é extraordinariamente limpo; as salas, espaçosas e bem arejadas; a seção cirúrgica contém os mais modernos instrumentos. Na sala de honra ou Consistório, há retratos de diversos benfeitores, entre os quais o do Visconde de Embaré e o do Visconde de Vergueiro.


A Santa Casa, no sopé do Monte Serrate, em cartão postal de 1912, com foto de H. Eckmann
Foto: Acervo José Carlos Silvares/Santos Ontem

Na capela há dois altares: o altar-mor com São Francisco em um nicho, e um outro, no corpo da Igreja, com Santa Isabel, além de um nicho com S. Manuel. No Presbitério há seis tribunas e no corpo da Igreja dois púlpitos e quatro tribunas.

O Hospital recebe anualmente mais de dois mil enfermos. A Irmandade da Santa Casa de Misericórdia, a primeira do Brasil, foi fundada por Braz Cubas em 1543, e confirmada em Almerim por D. João III, aos dois de abril de 1551, concedendo-lhe todos os privilégios dados por D. Manuel, às Misericórdias de Portugal. O mesmo Braz Cubas, com adjutório dos confrades e habitantes do lugar, edificou uma igreja com o título de Nossa Senhora da Misericórdia, e junto a ela um hospital com a denominação de Santos, à imitação de outro que em Lisboa tinha o mesmo nome. Este nome, que era próprio somente do Hospital, se generalizou à povoação, que começou a chamar-se porto de Santos.

O Hospital de Isolamento acha-se situado no Caminho Velho da Barra, hoje Rua Dr. Oswaldo Cruz. São diversos pavilhões construídos de pedra e cal, com toda a exigência moderna a respeito da higiene hospitalar, tendo o solo cimentado.

A Alfândega é um vasto edifício construído no lugar em que houve outrora o Colégio dos Jesuítas, levantado sob a invocação de S. Miguel, em 26 de maio de 1885. É de estilo moderno, tendo uma bonita fachada, com cinco janelas e cinco portas, voltadas para a Praça da República, onde se acha a estátua de Braz Cubas, fundador da cidade. Tem quatro estátuas na cimalha. Rende por ano mais de 60.000 mil contos.

A Estação da Estrada de Ferro da S. Paulo Railway está situada no Largo Monte Alegre, onde também se acha estabelecido o telégrafo, da mesma Estrada. Os armazéns de expedição e recebimento de cargas ficam por detrás da igreja de Santo Antonio.

A Estação da Estrada de Ferro de Santos a Juquiá acha-se localizada à Avenida do Saneamento.

O Matadouro está localizado a dois quilômetros da cidade, em terrenos limítrofes com os da cidade de S. Vicente e à margem do rio S. Jorge.

O Mercado é um edifício construído modestamente e fica situado na praça Iguatemy Martins.

Há também o Mercado de Peixe, da Companhia de Pesca, que é um edifício moderno, construído debaixo de todas as condições higiênicas.

As Docas de Santos são uma obra monumental que honra a engenharia brasileira. O cais construído e a construir-se mede uma extensão de 4.700 metros. Sobre a sua faixa estão construídos e em serviço vinte armazéns de ferro, munidos de guindastes, linhas de trilhos e giradores para fácil movimentação das mercadorias.

Além destes armazéns, existem mais dois, grandes, construídos de pedra e cal, cobrindo uma área de cerca de 25.000 metros quadrados, destinados ao serviço de warrants e mercadorias em geral não sujeitas à Alfândega, enquanto que os outros acima mencionados são todos alfandegados. Acha-se estabelecida ao longo do cais, sobre a muralha que o orla, uma série de quinze guindastes hidráulicos, cada um de capacidade para 1.500 quilos, além de três outros a vapor de 6.000 a 30.000 quilos. Existe ainda um guindaste-locomotiva de 14.000 quilos de capacidade.


Edifício com chaminé abrigava as máquinas geradoras de vapor para os guindastes do porto
Foto: reprodução de cartão postal de João Emílio Gerodetti e Carlos Cornejo, no livro
Lembranças de São Paulo - imagem incluída no Calendário 2002 da Gráfica Guarani, de Santos/SP

Os guindastes hidráulicos são móveis sobre uma linha de trilhos assentada sobre a muralha do cais. A força para acionar os mesmos é a água comprimida em uma pressão de 50 atmosferas por uma bomba dupla, movida por uma máquina a vapor de 130 cavalos, indicados no sistema "compound" com a condensação por superfície. A produção de água prensada e o seu consumo são regulados automaticamente por um acumulador de força que tem o peso de 75 toneladas e o pulso de 17 pés. Todos os 15 guindastes podem trabalhar simultaneamente.

Ao longo dos armazéns correm 4 linhas de trilhos da mesma bitola que as da São Paulo Railway Company com as quais são ligadas, de modo que o material rodante desta Companhia pode percorrer todo o cais, entregando ou recebendo mercadorias em diferentes pontos. A muralha do cais foi construída sobre um vasto estaqueamento de fundação e consta de uma base de concreto da espessura de 4 a 7 metros, que vem até a altura das águas mínimas, seguindo-se daí para cima um muro de alvenaria de pedras com cantarias na face aparente e no capeamento.

O fundo do porto, junto à muralha, está a 7 metros abaixo das águas mínimas. A muralha se eleva a três metros e oitenta acima do nível. E sendo a diferença máxima das marés de 2,30 m, segue-se que a superfície do cais fica ainda um metro e cinqüenta acima das águas máximas.

A Companhia Docas de Santos foi encarregada pelo Governo Federal da drenagem e da desobstrução do porto, para o que ela possui, além de aparelhos secundários, 50 embarcações, em sua maioria movidas a vapor, entre estas, sendo mais importantes, as seguintes: uma draga de alcatruzes com a capacidade de escavar 900 metros cúbicos por dia, na profundidade de 9 metros; duas dragas de alcatruzes com a capacidade de 2.000 metros cúbicos por dia, na profundidade de 12 metros cada uma, desenvolvendo 225 cavalos indicados.

Essas duas dragas são servidas por oito batelões a vapor para transporte do dragado, sendo iguais, cada um com a capacidade de conter 250 metros cúbicos de dragado, com máquina de 50 cavalos de velocidade de 7 nós por hora. O dragado é conduzido barra afora, sendo a produção anual excedente a um milhão de metros cúbicos. o escritório técnico e as vastas oficinas de reparação do material da Companhia Docas de Santos, acham-se situadas no Macuco, no lugar denominado Outeirinhos, funcionando o escritório do tráfego em um belo edifício, situado no Paquetá.


Praça Barão do Rio Branco, Convento e Venerável Ordem Terceira do Carmo, início do século XX
Foto: Calendário de 1979, editado pela Prodesan - Progresso e Desenvolvimento de Santos S.A.,  com o tema Imagens Antigas e Atuais. Santos/SP, 1979

A Igreja e o Convento do Carmo estão situados no começo da Praça Visconde do Rio Branco. A 4 de setembro de 1752, dia de Santa Rosa de Viterbo, lançou-se a pedra fundamental da Capela da Ordem Terceira do Carmo da cidade de Santos, com a epígrafe: Ad majorem Dei gloriam, no ano XII do Pontificado de Benedito XIV. A oito de abril de 1860, benzeu a mesma capela o visitador Frei Bento de Sant'Anna.

Na Igreja da Ordem Terceira do Carmo existe no trono do altar-mor o Senhor de Matosinhos, nicho de Nossa Senhora do Carmo, e aos lados Santa Tereza e São João da Cruz. Nesta parede da Igreja há seis tribunas. No corpo da igreja ficam seis altares com os Passos da Paixão; há aí dois púlpitos e seis tribunas. O coro é sustentado por quatro colunas de granito artisticamente lavradas. A pia de água benta é também de granito, tendo gravada a data de 1710.

No Convento há o altar-mor com a Senhora do Carmo, e aos lados os Patriarcas Santo Elias e Santo Elizeu. Tem oito retábulos grandes com os retratos dos religiosos da ordem que ocuparam os lugares de Bispo e Arcebispo; há aí 36 cadeiras ricas, de espaldar de jacarandá, para os religiosos. Na nave existem dois altares: o do Sacramento e o dos Passos; e duas tribunas. No corpo da igreja há seis tribunas e seis altares com Nossa Senhora dos Navegantes, Santo Ângelo, Santa Bárbara, Nossa Senhora da Boa Morte, Nossa Senhora da Conceição e São Francisco Xavier. Abaixo do arco-cruzeiro e em frente ao altar do Senhor dos Passos está sepultado Martim Francisco Ribeiro de Andrada (N.E.: a instalação do Panteão dos Andradas é posterior a este relato). A 18 de julho de 1893 foi colocada uma lápide, a mandado do dr. Martim Francisco Filho, a qual tem a seguinte inscrição:

Martim Francisco Ribeiro de Andrada
Coronel de Engenheiros
1775-1844
Santos
Pátria - Liberdade - Família

A Comissão, encarregada de erigir o mausoléu a José Bonifácio, depois da aquiescência do Cônego dr. Eduardo Duarte da Silva, a 7 de dezembro de 1889, reuniu-se na Capela Mor da Igreja do Convento do Carmo e procedeu à exumação dos ossos do grande morto. Erguendo-se a pedra mármore que existia sobre a sepultura, mandada colocar pelo paulista, artista e diretor de uma companhia eqüestre, Antonio Carlos do Carmo, estavam os ossos do finado dentro de um caixão de zinco, tendo por fora do mesmo tábuas de outro caixão, recolhidas em urna.

Ficaram depositados na Capela Mor, até o dia 12 do mesmo mês de dezembro, em que foram conduzidos para o mausoléu, no centro do claustro do Convento, onde ainda descansam. O mausoléu é de muito gosto artístico e obra de Rodolpho Bernardelli. Há sobre ele o corpo do Patriarca, em bronze e sobre um caixão sem tampa, repousando a cabeça sobre um travesseiro, e coberto com manto também de bronze. Está resguardado por um alpendre de vidro e cercado por um gradil de mármore. Aos pés foi colocada a pedra oferecida por aquele artista, na qual se lê:

Aqui jaz
o Patriarca da Independência
do Brasil,
grande e desinteressado
patriota, distinto cidadão
José Bonifácio de Andrada e Silva
Tributo à virtude
honra e mérito
pelo artista A. C. do Carmo.


Monumento funerário de José Bonifácio, no Panteão dos Andradas, inaugurado em 7/9/1923
Imagem: captura de tela, TV Mar, em 16/6/2003, 13h54

A Igreja de Santo Antonio fica situada no Largo de Monte Alegre, em frente à Rua Santo Antonio e ao lado da Estrada de Ferro S. Paulo Railway. Tem quatro janelas de frente, a torre do lado esquerdo e um adro cercado por um gradil de ferro com um cruzeiro. No presbitério há o altar-mor com Santo Antonio, em um nicho, e aos lados, Sant'Anna e São Francisco da Penitência.

Há aí quatro tribunas, duas das quais inservíveis. No corpo da igreja ficam cinco bonitos altares com a Senhora da Conceição, São Francisco da Penitência, Bom Jesus de Iguape, Nossa Senhora das Dores e um com a imagem do Sagrado Coração, que foi transportada para o templo situado à Rua da Constituição (N.E.: esse templo - Santuário do Sagrado Coração de Jesus - foi abalado em 1967 com a explosão do Gasômetro, e por isso demolido no ano seguinte. Sua área passou depois a abrigar instalações do Colégio Santista).

Ao lado direito da igreja fica a rica capela, em que se vê São Francisco ajoelhado em adoração ao Cristo Crucificado. Abaixo, um nicho com a Senhora da Conceição e aos lados São Domingos, São Francisco, Santa Rosa e Santa Isabel. As paredes são forradas de azulejo, representando diversas passagens da Escritura e os evangelistas. Ao lado desta capela fica a sacristia. Nesta igreja esteve hospedado, durante alguns dias, Pio IX, em 1825, quando se dirigia ao Chile e ainda não era Papa.

Foi fundada esta igreja pelos religiosos da Ordem Franciscana. O padre pregador Frei Manuel de Santa Maria, custódio da Província de Portugal, alcançando do Capitão General do Brasil, D. Francisco Mascarenhas, Conde da Torre, licença, veio para a então vila, trazendo para prelado local o pregador Frei Pedro de São Paulo, natural da Bahia, com mais alguns companheiros, os quais se recolheram à capela de Nossa Senhora do Desterro, igreja que é hoje do Mosteiro de São Bento.

O terreno em que está edificada a igreja de Santo Antonio é o antigo convento dos religiosos, vendido pelo provincial Frei Antonio do Coração de Maria Almeida, à Companhia da Estrada de Ferro de Santos a Jundiaí, lugar em que existe a estação da mesma companhia; foi a 22 de março de 1640 doado ao custódio de Santo Antonio, pregador Frei Manuel de Santa Maria, por Philippa Pereira de Sousa, em escritura passada pelo tabelião Vicente Pires da Mota. Os religiosos passaram-se da capela do Desterro para um recolhimento junto ao antigo Convento, com o fim de começarem a sua fundação a 13 de junho de 1641, e a 1º de julho do mesmo ano lançaram a primeira pedra.

Mosteiro de São Bento
Foto: Sérgio Eluf, 1982

O Convento de São Bento está situado na fralda do morro de seu nome, a cavaleiro da cidade e donde se goza de um belo panorama. É Padroeira Nossa Senhora do Desterro. Foi restaurado pelo dr. Frei Monte Carmello, um ilustrado ancião de 85 anos de idade e distinto republicano, que me honrou com as seguintes linhas:

"À pág. 84 do II Vol. dos Apontamentos Históricos, do finado M. E. de Azevedo Marques, lê-se: Mosteiro de São Bento em Santos. Foi fundado em 1650, com autorização da Província da Bahia, em terreno doado por Bartholomeu Fernandes Mourão, por escritura do mesmo ano, compreendendo a capela de Nossa Senhora do Desterro nele existente. O edifício que hoje existe foi começado em dezembro de 1725, sendo presidente Frei Pedro de São Caetano.

"Quando, em dezembro de 1850, vim como presidente deste mosteiro, o meu primeiro cuidado foi examinar tudo o que me pudesse ministrar informações sobre ele e entre os poucos documentos encontrados achei um antigo livro de visitas, onde mal se podia ler a proibição de andarem os frades em passeios pela chamada rua do Valongo, sem cogula e escapulário. Esta determinação caducou depois e os autorizou ao contrário, ficando a cogula somente para alguns poucos atos do culto divino.

"Na prática das mais austeras virtudes,viviam os monges habitadores do Mosteiro de São Bento da antiga Praça de Santos, sempre merecendo a veneração de seus dignos concidadãos, até que o decrescimento das ordens religiosas os reduziu a dois: Frei Manuel de Santa Catharina Motta, presidente do mosteiro, e o padre mestre Dr. Frei Gaspar da Madre de Deus. Este ilustre beneditino era natural da então capitania de São Vicente, irmão do outro não menos digno beneditino Frei Miguel, a quem deve o mosteiro de Olinda grande parte ou quase todos os melhoramentos artísticos que ali se admiram.

"Frei Gaspar deu sobejas provas de seu talento administrativo e de sua vasta ilustração, já ensinando, já governando os diversos mosteiros por onde andou e foram quase todos os da então província beneditina do Brasil. Recolhido ao mosteiro de Santos e entregue exclusivamente ao exercício das letras e à redação das Memórias da Capitania de S. Vicente, não quis Frei Gaspar aceitar a mitra da Ilha da Madeira, que lhe fora oferecida. Prova isto quanto valia uma cela perdida no já quase despovoado mosteiro de Santos!".


Praça Rui Barbosa em 1909, com a Igreja de Nossa Senhora do Rosário
Foto: Poliantéia Santista, de Fernando Martins Lichti, vol. III, Gráfica Prodesan, Santos/SP, 1996

A igreja do Rosário, hoje igreja Matriz, em caráter provisório, enquanto se não termina a construção, já iniciada, da nova, fica na Praça Moreira Cezar, antigo Largo do Rosário. Tem quatro janelas de frente e a torre à esquerda. Além do altar-mor com a imagem de N. S. do Rosário, há, no corpo da igreja, quatro altares: o do Bom Jesus dos Aflitos, o de Santa Catarina, o de Santa Luzia e o da Sagrada Família. Nesta última parte da igreja ficam dois púlpitos e seis tribunas. À esquerda fica a sacristia com o Bom Jesus da Pedra Fria, em um nicho. A igreja é pobre, os altares e os púlpitos sem gosto e as imagens pequenas e grosseiras.

Não se pode, com precisão, determinar a época da sua fundação; mas à vista do provimento feito em 20 de agosto de 1756 pelo escrivão da vila e praça de Santos, Alberto José Gonçalves Bandeira, de mando do dr. provedor das capelas, Francisco Caetano de Almeida Lobo, ao tesoureiro e escrivão da irmandade de Nossa Senhora do Rosário, que então acumulava ambos os cargos, Miguel da Costa ordenara que lançasse no livro dos créditos a quantia de R$ 100$000, aplicados para o dote da igreja, visto não os dar na despesa.

Em 1757 já estava em construção a igreja, como se depreende da conta apresentada pelo tesoureiro e escrivão, Domingos Pereira Viegas, que gastou a quantia de Rs. 107$230; porém não funcionava em ato algum, tanto é que os irmãos da irmandade eram sepultados na então igreja da Matriz. A irmandade de N. S. do Rosário, fundadora da igreja, em 1652, já se achava criada em vista da seguinte declaração feita pelo dr. provedor de capelas, José Vieira de Andrade, em um livro pelo mesmo rubricado a 11 de janeiro de 1750, do teor seguinte:

"Tem esta irmandade nove livros, incluso este, e o primeiro que teve, principiou a ter uso em 1º de outubro de 1652, cujos dados se conservam e com especialidade o primeiro, pois nele, a fls. 38 se declara haver provimento do Ordinário pelo qual mandou dar dinheiro da irmandade a juros de 8%, donde o escrevi. - Andrade".

A Ermida do Monte Serrat fica poeticamente situada no alto do morro do seu nome, tendo na frente um telégrafo semafórico e outro Marconi. Foi doada pelos seus instituidores aos benediinos em 27 de abril de 1655, tomando posse por eles o provincial Frei Bernardo de Braga. Foi reedificada em 1864 por Fr. Florêncio das Dores Maria, que começou este trabalho no dia 23 de abril do dito ano.


Capela de Santo Antonio do Embaré, numa comemoração em 22 de dezembro de 1922
Foto: autor desconhecido

A Capela de Santo Antonio do Embaré foi mandada edificar na praia da Barra pelo barão, depois visconde do Embaré, e recebeu a bênção do vigário Scipião Ferreira Goulart Junqueira, em 19 de outubro de 1875.

A Capela de São João Batista está situada na Bertioga; foi instituidor, por legado testamentário, o vigário de Santos, João da Rocha Moreira, e edificada por provisão do bispo Fr. Antonio de Guadalupe, de 12 de outubro de 1725, tendo recebido a bênção em 1º de abril de 1740. Além dessas igrejas, há as capelas de Jesus, Maria e José (N.E.: demolida em 1902, embora ainda citada neste texto publicado em 1914), de Santo Cristo, no Cemitério do Paquetá, São Benedito e Santa Cruz, na Vila Mathias.

Tem três Cemitérios, sendo dois católicos, o da Filosofia, no Saboó, e o de Paquetá; quatro hospitais, o da Beneficência Portuguesa, o da Misericórdia, o de Isolamento e o de Tuberculosos; linhas de bondes com ramais para a Vila Mathias, Nova Cintra, Barra, Paquetá, José Menino, S. Vicente e outros pontos.

Um dos mais aprazíveis passeios que oferece Santos é a povoação balneária do Guarujá. Toma-se no cais da Docas uma lancha, que, após curta travessia, chega ao lugar Itapema, na Ilha de Santo Amaro, defronte da cidade. Aí se segue pela Estrada de Ferro da Companhia Balneária até Guarujá, seu ponto terminal.

É essa povoação uma das mais lindas e encantadoras que conheço. Situada à beira do oceano, entre diversos morros, entre os quais o da Glória, o da Boa Vista e de Guarujá, está cercada por lindas praias, como a da Enseada, do Tombo, de Guaiuba, e do Monduba. O panorama que daí se goza é esplêndido. Na frente a ilha da Moela, com o seu farol, bem no meio o rochedo da Pombeva e a um dos lados, à esquerda, a ilha das Cabras. Uma alvíssima e extensa praia separa a povoação do oceano, que vem quebrar nela ininterruptas ondas. Os navios nacionais passam defronte dela, entre a ilha da Moela e a ponta do Guarujá, e os estrangeiros pelo mar largo, além dessa ilha.

A povoação consta de sessenta chalés de lindo gosto americano, na sua maior parte de madeira, no meio de bonitos jardins iluminados a luz elétrica. A igreja é de madeira, tem uma pequena torre com o quadro de Nossa Senhora da Conceição e duas pilastras com as imagens de Santo Amaro, bispo, Santo Amaro, frade, do tempo de Braz Cubas. Tem ainda um teatro, no meio de um gracioso jardim, e o Casino Hotel.


Bonde, na Praia do José Menino, início do século XX
Cartão postal da coleção Werner Vana, de São Paulo/SP

Um outro passeio aprazível é a Praia da Barra (Ponta, Boqueirão, Gonzaga e José Menino), que se acha ligada ao centro da cidade por diversas linhas de bondes elétricos. É lugar muito procurado para banhos, por ser aí o mar muito batido. Rasga-se em frente uma extensa e larga praia, onde se avista o mar largo, uma fortaleza à esquerda e a ilha de Urubuqueçaba à direita. De ambos os lados é cercada por uma série de colinas pouco elevadas, semeadas de magníficas chácaras e jardins.

A cidade de Santos é bastante grande, de bonito aspecto, plana, com poucas elevações e bastante limpa.

A sua imprensa é animada, achando-se representada pelo Diário de Santos, A Tribuna, Cidade de Santos, Notícia etc.

Tem diversas casas de diversões, como o Teatro Guarani, Coliseu Santista, Théatre Parisien, Polytheama Rio Branco, Theatro Carlos Gomes etc.

A iluminação acha-se a cargo da The City of Santos Improvements Co. Ltd., que explora o serviço de iluminação a gás e elétrica. O abastecimento de água está a cargo da mesma Companhia.

A cidade dista de S. Paulo, pela Estrada de Ferro, 78 k 597 m, de S. Vicente, 9, e da Conceição de Itanhaém, 80. O porto desta cidade é reconhecidamente de muita segurança para os navios que o demandam. Possui duas barras, uma ao Sul, denominada Barra Grande, e outra, a da Bertioga, ao Norte.

O ancoradouro é formado por um extenso lagamar, que recebe as águas do Rio Cubatão, Quilombo, Piassaguera, Jurubatuba e Diana, além de outros menores, todos tendo as vertentes na serra próxima do Paranapiacaba. A baía de Santos, em condições de grandeza, é uma das principais do Brasil, e em condições de abrigo e segurança não tem rival.

Santos tem dado à Pátria filhos ilustres e servidores fiéis, dentre os quais destacamos: o Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão, inventor dos balões aerostáticos, nascido em 1685; Alexandre de Gusmão, secretário de D. João V, e príncipe romano, nascido em 1695; José Bonifácio de Andrada e Silva, nascido em 1763; Antonio Carlos Ribeiro Andrada Machado, nascido em 1773; Martim Francisco Ribeiro de Andrada, nascido em 1775; José Feliciano Fernandes Pinheiro, visconde de S. Leopoldo, fundador do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil e dos Cursos Jurídicos, e autor dos Annaes da Provincia de S. Pedro do Sul, nascido em 1774; Frei Gaspar da Madre de Deus, autor das Memórias para a História da Capitania de S. Vicente.

[...]Leva para a página seguinte da série