HISTÓRIAS E LENDAS DE GUARUJÁ
Primitivas ligações com Santos (1)
Enquanto
as casas de pinho da Geórgia não chegavam dos Estados Unidos para a montagem do balneário de Guarujá, que ganharia a aparência de cenário de filmes de
faroeste, na Praia de Pitangueiras, os fundadores da futura cidade, Elias Chaves e seu primo Elias
Fausto Pacheco Jordão (que administravam uma das grandes firmas santistas exportadoras de café, a Companhia Prado Chaves) construíram em 1893 uma
pequena linha férrea.
Inicialmente, essa ferrovia de 9 km (substituída em 11/1/1925 por uma linha de bondes
elétricos) ia até a chamada Balneária, junto ao Rio do Meio, no estuário de Santos (onde surgiria mais tarde o distrito do Itapema ou Vicente de
Carvalho), ligando com a nova estação das barcas ali construída no lugar deste antigo atracadouro:
O antigo atracadouro do Itapema
Foto: autor desconhecido
Para diminuir o tempo de viagem, por volta de 1910 um novo atracadouro foi
instalado em Santos, defronte à Praça da República. Em 1918, a linha férrea foi
estendida até o lugar que seria depois conhecido como atracadouro dos ferry-boats, no começo da Avenida Adhemar de Barros.
O cais 5/6, na direção da Praça da República, foi se firmando nas primeiras
décadas do século XX como local para a travessia de passageiros até o
então Itapema, depois Vicente de Carvalho
Imagem: cartão postal da época
Visando proporcionar o máximo conforto então possível aos passageiros e visitantes, foram compradas na Holanda
duas amplas barcas a vapor, denominadas Cidade de Santos e Cidade de São Paulo, que deveriam inicialmente partir do
Valongo, junto à estação da São Paulo Railway
e aportariam ao portão da Balneária.
As barcas eram descritas como pequenos navios, altos e largos, com rés-do-chão baixo e próximo ao mar, onde
ficavam a caldeira e a máquina com o depósito de lenha, lugar para bagagem e alguns passageiros, o andar de cima só com fileiras de bancos para os
viajantes. Uma dessas embarcações é vista na foto, em plena atividade no início do século XX:
Embarcação a vapor usada no transporte Santos/Guarujá
Foto: autor desconhecido
Ferries - Para atender à crescente demanda pela travessia de veículos entre Santos e Guarujá,
surgiu por volta de 1930 o sistema de barcas ferry (ferry-boats). Com prefixo FB1, a primeira embarcação atravessava os 400 metros
do Estuário desde a Ponta da Praia, em Santos, até a Vila Ligia, no Guarujá. Era feita de madeira, com espaço para
seis a oito carros e grande número de pessoas que usavam o trem. Logo depois, foi necessário incorporar as embarcações FB2 e FB3 (para
sete carros cada uma) e a FB4 (para 16 veículos). Depois, o serviço foi reforçado com os ferries 5, 6, 7 e 8, construídos em aço, com
sucatas de guerra, com capacidade individual para 20 veículos.
Em 1946, o governo estadual assumiu o comando da travessia. Um ano depois ficava pronta a pista Norte da
Via Anchieta, e Guarujá se tornou município. Por volta de 1962, chegaram as FB9, FB10 e FB11,
maiores e com novos sistemas de propulsão. A rápida expansão dos bairros de Guarujá levou à intensificação da travessia de passageiros, surgindo então
os conflitos entre carros e pedestres. Em 1971, a Capitania dos Portos proibiu o transporte de pedestres nas balsas, mas essa prática indevida continuou
até 1973, quando uma lancha exclusiva para passageiros, a Itapema, passou a operar gratuitamente entre a Ponta da Praia e Guarujá.
Balsa operada pelo Departamento Hidroviário entre Santos e Guarujá em 1980,
encostando ao atracadouro (visto no primeiro plano)
Foto: revista Agora nº 2, Editora JG Ltda., Santos/SP, junho de 1980
Na década de 1980, o sistema era operado pelo Departamento Hidroviário,
órgão ligado à Secretaria de Estado dos Transportes. No inicio da década seguinte, o sistema passou ao controle da Desenvolvimento Rodoviário S.A.
(Dersa), que terceirizou os serviços em 1996.
Na passagem para o século XXI, não tendo sido ainda construída uma ponte (ou um
túnel) entre as duas ilhas/cidades, o serviço registrava o movimento diário de 22 mil carros, 10 mil bicicletas e três mil motocicletas, empregando
oito embarcações com capacidade média para 45 veículos cada uma, mais três embarcações mistas (para carros, passageiros e bicicletas) e três embarcações
para passageiros e ciclistas que operam na travessia entre Santos e Vicente de Carvalho.
Balsa operada pelo Departamento Hidroviário entre Santos e Guarujá em 1980
Foto: revista Agora nº 2, Editora JG Ltda., Santos/SP, junho de 1980
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