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finais - Vários milênios de "evolução" humana,
tem horas em que é para se perguntar se existiu mesmo alguma evolução.
Hipocrisia, ganância, desprezo pelo ser humano e pela humanidade,
falta de moral e ética, falta até mesmo do mínimo
de inteligência/competência para fazer bem feito, mesmo o erro
cometido. Viu-se de tudo em 2002, e a segunda edição do Febeanet
é apenas uma amostra.
Como diz o
pescador: vocês precisavam ver o que escapou, em comparaçao
isto é nada... Bem, na história de pescador fica palavra
contra palavra, mas quem esteve um pouco antenado que seja com o mundo
à sua volta sabe quão verdadeira é a afirmação
acima implícita, de que muitas outras besteiras foram cometidas
em 2002.
Em alguns casos,
ficamos esperando que as pessoas acordassem para o tamanho da besteira
prestes a ser cometida - como o presidente dos Estados Unidos ameaçando
abrir guerra contra o Iraque (parece que será a grande besteira
de 2003). Em outros, ocorre apenas a repetição de besteiras
já relatadas, com ligeiras variantes, como na ocupação
criminosa do Rio de Janeiro pelos narcotraficantes. No caso de filhos matando
pais, jovens ricos e desocupados matando indígenas, já não
é besteira merecedora de registro nesta seção, é
crime hediondo "apenas".
O Congresso
teve o bom senso de não criar mais um casuísmo, adiando a
posse do presidente da República, mas se deixou de cometer essa
besteira, fez outras bem piores. Como quase duplicar os ganhos dos políticos
numa votação de menos de um minuto, quando os trabalhadores
não conseguem sequer 10% de aumento ao ano. E se pareceu a alguém
que a frase acima excluiu os políticos da classe trabalhadora, não
é por acaso: pode-se chamar de trabalhadores políticos que
demoram 15 anos para votar leis que interessam a toda a população
brasileira, como a questão dos 12% de taxa máxima anual de
juros, prevista na Constituição (assunto novamente postergado)?
Cabe a pergunta: afinal, a quem servem esses políticos, que reclamam
das críticas recebidas, mas fazem de tudo para merecê-las?
Ora, as honrosas exceções apenas confirmam a regra...
Bem, talvez
a pior contribuição de 2002 para a história da Humanidade
é a constatação de que os políticos e financistas
estão agora escancarando sua hipocrisia, na certeza da impunidade
por dominarem os próprios mecanismos institucionais que permitiriam
punir seus erros. Um país que domina as Nações Unidas
e detém tal poderio militar não precisa de desculpas para
atacar qualquer outro, e mesmo quando as apresenta nem faz questão
de elaborá-las de forma a que sejam mais palatáveis para
o público. Lembram da história do leão reclamando
do carneiro que lhe turvava a água do riacho?
Israel ataca
território palestino quando bem entende, desrespeita os principais
locais sagrados de outras religiões, sabendo que o único
país que poderia fazer frente a essas atitudes - os Estados Unidos
- faz exatamente o mesmo e fica impune. As Nações Unidas,
lamentavelmente, miam temerosas e somem do cenário ante o primeiro
rugido do leão. Onde está a força internacional de
paz para separar israelitas e palestinos, só para dar um ezemplo?
Mesmo na política
nacional, a hipocrisia é elevada ao status de arte da negociação
política. Caem as máscaras, por inúteis. Quem, fora
do poder, ataca, ao obter o mandato age contra tudo em que sempre disse
acreditar, comete os mesmos atos que antes criticava. E dizem que é
assim mesmo, deve-se recuar numa batalha para não perder a guerra.
Esquecem que, de tanto recuar, nem guerra haverá para vencer depois,
serão eternos perdedores. Pois, de que adianta uma vitória,
ainda na rara hipótese de tal suceder, sem princípios éticos
e morais que a sustentem?
Até
no esporte, a falta de ética cada vez mais transforma o princípio
básico de que "o importante é competir" para uma aberração
em que "o importante é vencer a qualquer preço, passando
por cima de tudo e de todos". Triste episódio o da equipe Ferrari,
apenas um exemplo do que ocorre em um mundo em que só importa vencer,
não interessa o quanto isso custe.
2002 lamentavelmente
reafirmou essa tendência: não mais existindo um padrão
a seguir que defina Humanidade, vale tudo - até a autofagia - para
chegar "lá". Só que "lá" era o padrão que deixou
de existir. É como construir um prédio, em que para fazer
o andar atual consome-se todo o material reservado para os andares superiores,
e ainda se retira cada vez mais o material dos andares inferiores. Então,
chegar "lá" aonde?
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