FEBEANET
Ciça ou Suíro?
O
período da propaganda eleitoral gratuita é tradicionalmente
fértil na produção de besteiras de todo tipo, e na
revelação das muitas besteiras antes produzidas pelos candidatos
a cargos eletivos. Nas eleições de 2002, o candidato a presidente
Ciro Gomes deu a partida, num programa de rádio em que chamou de
burro o interlocutor - o que foi imediatamente aproveitado pelos adversários,
em mensagem publicitária na televisão em que perguntam se
Ciro é problema ou solução, além de apontarem
outros destemperos verbais do candidato:
Ciro responde,
em mensagem eletrônica (diga-se de passagem, não solicitada,
o que configura a odiosa prática de spam - em nenhum momento
ele pediu autorização para passar a atulhar diariamente as
caixas de correio eletrônico dos internautas com sua agenda de campanha),
transcrevendo nota de jornal:
Assunto: TSE
acata defesa de Ciro contra Serra
Data: Thu, 22 Aug 2002 13:07:29 -0300
De: "Ciro 23 / Imprensa" <imprensa.ciro23@newtradebr.com>
Para: <Undisclosed-Recipient:;@asimov.bignet.com.br>
22/08/2002 - 11h48
TSE proíbe
Serra de usar imagem e voz de Ciro em propaganda
SILVANA
DE FREITAS
da Folha de
S.Paulo, em Brasília
O ministro auxiliar
do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Caputo Bastos, concedeu liminar ao
candidato Ciro Gomes (PPS) e proibiu o tucano José Serra de usar
a imagem e a voz de Ciro na qual ele chama um ouvinte de "burro".
O programa
eleitoral de Serra veiculou uma resposta de Ciro a um ouvinte durante uma
entrevista na Bahia sobre o apoio que recebe do ex-senador Antonio Carlos
Magalhães (PFL). O ouvinte havia perguntado se o candidato queria
ser presidente da Suíça, porque ele dissera que não
daria cargos aos aliados se fosse eleito.
A resposta
foi: "Lá é parlamentarista. É só um aviso aí
para esses petistas furibundos. Tem que fazer as perguntas com um pouco
mais de cuidado para largar de ser burro" .
O TSE julgará
no mérito do recurso se concederá direito de resposta a Ciro,
que pediu um minuto do tempo de Serra na propaganda.
Ciro 23 / Assessoria
de Imprensa |
Bem, os internautas
estão atentos, como prova esta notícia da Agência
Estado, no mesmo dia espalhada pela rede mundial de computadores:
22/08/2002
- 15h25
Ouvinte chamado
de "burro" por Ciro tinha razão
Genebra - Não
bastasse ter chamado um eleitor de "burro", o candidato à presidência,
Ciro Gomes, errou ao dizer que a Suíça tem primeiro-ministro,
e não presidente.
Em entrevista
a um programa de rádio de Salvador, Ciro chamou de "burro" um ouvinte-eleitor,
que fazia pergunta a ele. O ouvinte disse que dava a impressão de
que o candidato presidiria a Suíça, se vencesse as eleições."A
Suíça não tem presidente da República, mas
primeiro-ministro", respondeu Ciro, que ainda completou: "São estes
petistas furibundos. Isso é para você deixar de ser burro".
O problema,
porém, é que o ouvinte tinha razão: a Suíça
tem presidente. Segundo o regime suíço, em vigor desde o
século XIX, o presidente da Confederação tem um mandato
de apenas um ano e toma posse todo o dia 1 de janeiro. O presidente é
escolhido entre os sete membros do Conselho Federal, que são eleitos
a cada sete anos.
Desde o início
de 2002, o presidente suíço é Kaspar Villiger, que
tem a função de presidir o Conselho de Ministros e representar
o país até o final do ano. Villiger, portanto, acumula a
função de chefe de estado e de governo. Já um primeiro-ministro
apenas tem a função de chefe de governo, como é o
caso da Inglaterra.
A fórmula
usada no Executivo federal se repete nas cidades suíças.
Os prefeitos ficam no poder por apenas um ano e são escolhidos entre
os membros do conselho cantonal.
Formada por
20 cantões e seis subcantões, com quatro línguas oficiais
e pouco mais de sete milhões de habitantes, a Suíça
ainda consegue que o Conselho sempre represente a totalidade do país,
e não apenas um grupo político.
Jamil Chade |
Noticiando o fato,
a Rede Globo de Televisão registrou em seu telejornal noturno Jornal
da Globo, em 22/8/2002, a manifestação inicial do Tribunal
Superior Eleitoral (TSE), destacando no documento o fato de a troca de
xingamentos ser feita no horário eleitoral gratuito, devendo-se
nesse período privilegiar a troca de idéias, pois "até
pelo alto custo que a sociedade paga para a realização da
propaganda eleitoral gratuita - que é gratuita apenas para os partidos
e os candidatos - o valor a ser preservado na hipótese é
o interesse do eleitor e não o do candidato":
Dizem que política
é arte de engolir sapos e ainda fazer cara de satisfeito, e ninguém
estranha que desafetos de ontem se tornem solidários hoje. O problema
é quando o candidato que num momento critica duramente a própria
hombridade do desafeto, no momento seguinte aparece trocando afagos com
ele. Vem à mente o ditado: "Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem
és". Por isso, o público não perdoa o entendimento
recente entre Ciro Gomes e Antônio Carlos Magalhães, nem engole
a tentativa de Ciro - em sua campanha eleitoral - de dizer que se trata
de um ato visando o bem do Brasil. Quando duas raposas se unem, o galinheiro
não deve ficar mesmo tranqüilo, muito pelo contrário,
é sinal de que algo desagradável está para acontecer.
A propósito
de galinheiros, o internauta Pedro Castilho, do Rio de Janeiro, é
apenas um dos divulgadores da edificante cena abaixo - com o beija-mão
entre Ciro e o ex-senador baiano Antônio Carlos Magalhães
- com o título "Quem toma a bênção de
quem?". Pedro é citado por ser o primeiro (em 20/8/2002) a enviar
a Novo Milênio a cena com animação, reunindo
várias imagens do ato - as demais fotos recebidas eram estáticas.
Vale recordar que Ciro havia dito que ACM é mais sujo que pau de
galinheiro e o político baiano respondeu que Ciro é o próprio
pau de galinheiro.
Os destemperos
do candidato Ciro - que pretende ser presidente de um país e nem
sabe como é a organização política nos principais
países do mundo -, e seu relacionamento de tapas e beijos com o
ex-senador baiano, mais o uso do horário eleitoral gratuito para
troca de ofensas, justificam a inclusão desses episódios
na edição 2002 do Festival de Besteiras que Assola a Internet
(Febeanet).
P.S.:
O fantasma
helvético do Ciro - Para que não reste dúvidas
ao ilustre candidato à presidência, eis duas páginas
Web com domínio suíço, em francês e alemão,
sobre o presidente da Suíça:
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