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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 08/23/02 14:28:35
FEBEANET
Ciça ou Suíro?

O período da propaganda eleitoral gratuita é tradicionalmente fértil na produção de besteiras de todo tipo, e na revelação das muitas besteiras antes produzidas pelos candidatos a cargos eletivos. Nas eleições de 2002, o candidato a presidente Ciro Gomes deu a partida, num programa de rádio em que chamou de burro o interlocutor - o que foi imediatamente aproveitado pelos adversários, em mensagem publicitária na televisão em que perguntam se Ciro é problema ou solução, além de apontarem outros destemperos verbais do candidato:

Publicidade anti-Ciro Gomes na televisão, em 23/8/2002: citação da revista 'Veja' de 19/10/1994 Publicidade anti-Ciro Gomes na televisão, em 23/8/2002: citação do jornal 'O Globo' de 23/3/1993
Publicidade anti-Ciro Gomes na televisão, em 23/8/2002: citação do jornal 'O Globo' de 19/7/2002 Publicidade anti-Ciro Gomes na televisão, em 23/8/2002: a pergunta final
Ciro responde, em mensagem eletrônica (diga-se de passagem, não solicitada, o que configura a odiosa prática de spam - em nenhum momento ele pediu autorização para passar a atulhar diariamente as caixas de correio eletrônico dos internautas com sua agenda de campanha), transcrevendo nota de jornal:
 
Assunto: TSE acata defesa de Ciro contra Serra
    Data:  Thu, 22 Aug 2002 13:07:29 -0300
       De:  "Ciro 23 / Imprensa" <imprensa.ciro23@newtradebr.com>
     Para:  <Undisclosed-Recipient:;@asimov.bignet.com.br>
                                                                                  22/08/2002 - 11h48

TSE proíbe Serra de usar imagem e voz de Ciro em propaganda

SILVANA DE FREITAS
da Folha de S.Paulo, em Brasília
O ministro auxiliar do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Caputo Bastos, concedeu liminar ao candidato Ciro Gomes (PPS) e proibiu o tucano José Serra de usar a imagem e a voz de Ciro na qual ele chama um ouvinte de "burro".

O programa eleitoral de Serra veiculou uma resposta de Ciro a um ouvinte durante uma entrevista na Bahia sobre o apoio que recebe do ex-senador Antonio Carlos Magalhães (PFL). O ouvinte havia perguntado se o candidato queria ser presidente da Suíça, porque ele dissera que não daria cargos aos aliados se fosse eleito.

A resposta foi: "Lá é parlamentarista. É só um aviso aí para esses petistas furibundos. Tem que fazer as perguntas com um pouco mais de cuidado para largar de ser burro" .

O TSE julgará no mérito do recurso se concederá direito de resposta a Ciro, que pediu um minuto do tempo de Serra na propaganda.

Ciro 23 / Assessoria de Imprensa

Bem, os internautas estão atentos, como prova esta notícia da Agência Estado, no mesmo dia espalhada pela rede mundial de computadores: 
 

22/08/2002 - 15h25
Ouvinte chamado de "burro" por Ciro tinha razão

Genebra - Não bastasse ter chamado um eleitor de "burro", o candidato à presidência, Ciro Gomes, errou ao dizer que a Suíça tem primeiro-ministro, e não presidente.

Em entrevista a um programa de rádio de Salvador, Ciro chamou de "burro" um ouvinte-eleitor, que fazia pergunta a ele. O ouvinte disse que dava a impressão de que o candidato presidiria a Suíça, se vencesse as eleições."A Suíça não tem presidente da República, mas primeiro-ministro", respondeu Ciro, que ainda completou: "São estes petistas furibundos. Isso é para você deixar de ser burro".

O problema, porém, é que o ouvinte tinha razão: a Suíça tem presidente. Segundo o regime suíço, em vigor desde o século XIX, o presidente da Confederação tem um mandato de apenas um ano e toma posse todo o dia 1 de janeiro. O presidente é escolhido entre os sete membros do Conselho Federal, que são eleitos a cada sete anos.

Desde o início de 2002, o presidente suíço é Kaspar Villiger, que tem a função de presidir o Conselho de Ministros e representar o país até o final do ano. Villiger, portanto, acumula a função de chefe de estado e de governo. Já um primeiro-ministro apenas tem a função de chefe de governo, como é o caso da Inglaterra.

A fórmula usada no Executivo federal se repete nas cidades suíças. Os prefeitos ficam no poder por apenas um ano e são escolhidos entre os membros do conselho cantonal.

Formada por 20 cantões e seis subcantões, com quatro línguas oficiais e pouco mais de sete milhões de habitantes, a Suíça ainda consegue que o Conselho sempre represente a totalidade do país, e não apenas um grupo político.

Jamil Chade

Noticiando o fato, a Rede Globo de Televisão registrou em seu telejornal noturno Jornal da Globo, em 22/8/2002, a manifestação inicial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), destacando no documento o fato de a troca de xingamentos ser feita no horário eleitoral gratuito, devendo-se nesse período privilegiar a troca de idéias, pois "até pelo alto custo que a sociedade paga para a realização da propaganda eleitoral gratuita - que é gratuita apenas para os partidos e os candidatos - o valor a ser preservado na hipótese é o interesse do eleitor e não o do candidato":
Sede do TSE em Brasília, na matéria do 'Jornal da Globo' de 23/8/2002 às 00h22 - Rede Globo de Televisão Sede do TSE em Brasília, na matéria do 'Jornal da Globo' de 23/8/2002 às 00h22 - Rede Globo de Televisão
Trecho destacado na decisão do TSE, na matéria do 'Jornal da Globo' de 23/8/2002 às 00h22 - Rede Globo de Televisão Trecho destacado na decisão do TSE, na matéria do 'Jornal da Globo' de 23/8/2002 às 00h22 - Rede Globo de Televisão
Dizem que política é arte de engolir sapos e ainda fazer cara de satisfeito, e ninguém estranha que desafetos de ontem se tornem solidários hoje. O problema é quando o candidato que num momento critica duramente a própria hombridade do desafeto, no momento seguinte aparece trocando afagos com ele. Vem à mente o ditado: "Dize-me com quem andas, dir-te-ei quem és". Por isso, o público não perdoa o entendimento recente entre Ciro Gomes e Antônio Carlos Magalhães, nem engole a tentativa de Ciro - em sua campanha eleitoral - de dizer que se trata de um ato visando o bem do Brasil. Quando duas raposas se unem, o galinheiro não deve ficar mesmo tranqüilo, muito pelo contrário, é sinal de que algo desagradável está para acontecer.

A propósito de galinheiros, o internauta Pedro Castilho, do Rio de Janeiro, é apenas um dos divulgadores da edificante cena abaixo - com o beija-mão entre Ciro e o ex-senador baiano Antônio Carlos Magalhães -  com o título "Quem toma a bênção de quem?". Pedro é citado por ser o primeiro (em 20/8/2002) a enviar a Novo Milênio a cena com animação, reunindo várias imagens do ato - as demais fotos recebidas eram estáticas. Vale recordar que Ciro havia dito que ACM é mais sujo que pau de galinheiro e o político baiano respondeu que Ciro é o próprio pau de galinheiro.

Os destemperos do candidato Ciro - que pretende ser presidente de um país e nem sabe como é a organização política nos principais países do mundo -, e seu relacionamento de tapas e beijos com o ex-senador baiano, mais o uso do horário eleitoral gratuito para troca de ofensas, justificam a inclusão desses episódios na edição 2002 do Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet). 

P.S.:
O fantasma helvético do Ciro - Para que não reste dúvidas ao ilustre candidato à presidência, eis duas páginas Web com domínio suíço, em francês e alemão, sobre o presidente da Suíça: