FEBEANET
O dia em que o crime assumiu o poder
Veremos
em breve o presidente Fernandinho Beira-Mar decretando luto oficial de
três dias em todo o Brasil, em "honra" de algum narcotraficante falecido?
Não seria de surpreender, como nada mais surpreenderá no
Brasil a partir dos episódios verificados no dia 30/9/2002, o histórico
dia em que o Rio de Janeiro parou por ordem do Comando Vermelho. São
dessa data histórica as principais imagens desta página,
captadas nas emissoras de televisão...
Esta história
começou há alguns anos: em certas favelas, a polícia
não ia, por medo dos criminosos que tinham o comando da área.
Depois, quando um bandido morria, os comerciantes já sabiam que
tinham de respeitar o luto "oficial", não abrindo as portas. Senão,
no dia seguinte as suas famílias é que estariam de luto.
Em seguida, Suas Insolências resolveram que isso não bastava:
era preciso deixar bem claro nos morros cariocas quem é que mandava:
imagens luminosas começaram a ser colocadas em pontos chaves, inclusive
escolas públicas.
A moda se espalhou,
e é bem conhecido o sinal: quando rojões são disparados
na noite - ou durante o dia - em uma cidade brasileira, não é
necessariamente uma festa local ou a comemoração de um jogo
de futebol: o mais provável é que sejam os criminosos informando
a todos - inclusive à polícia, para mostrar que não
a temem - que mais uma operação com narcóticos foi
bem sucedida na região.
Em 13/6/2002,
comandos dos traficantes metralharam e lançaram granadas contra
prédios públicos do Rio de Janeiro, inclusive a própria
prefeitura da capital carioca, em pleno dia, num novo nível de desafio
às autoridades.
Nas semanas
seguintes, ruas e avenidas de toda a capital carioca foram interditadas
por horas seguidas pelas verdadeiras batalhas campais diurnas e noturnas
entre criminosos e a polícia, com dezenas de mortos e feridos, inclusive
por balas perdidas.
E a audácia
vai num crescendo. No mesmo mês, descobre-se que num "estabelecimento
estatal de alto nível para integrantes do alto escalão do
poder paralelo", o Gran Hotel Bangu I, onde o líder Fernandinho
Beira-Mar mantinha sua base de operações, os itens de conforto
incluíam aparelhos de telefonia celular para facilitar os negócios.
Em Pernambuco, a telefonia e o fax tinham inclusive as ligações
pagas pelo Estado, já que eram usados aparelhos conectados à
linha telefônica comum.
Como a pressão
pública considerou que assim era demais, as mordomias tiveram de
ser retiradas (temporariamente, é claro) e alguns criminosos foram
transferidos para o quartel da Polícia Militar, sem as regalias
que tinham. Tal decisão provocou novas rebeliões nas prisões.
Em Praia Grande/SP,
todo um bairro teve seu comércio fechado por um dia, apenas pela
suspeita de que um criminoso tinha morrido. Apenas uma semana depois, na
região metropolitana do Rio de Janeiro, bastaram apenas alguns recados
no início da manhã e, sem que um tiro precisasse ser disparado
(exceto alguns disparos de morteiro contra uma universidade com cinco mil
estudantes, para forçá-la a encerrar as aulas), todo o comércio
de mais de 30 bairros, mais bancos, escolas, universidades, transportes
e até repartições públicas imediatamente fecharam
por todo o dia. Prejuízo contabilizado pela federação
carioca do comércio varejista: R$ 130 milhões. Mais R$ 30
milhões de prejuízo calculado pela federação
carioca das indústrias. Não foram contabilizados os demais
prejuízos (do turismo, do ensino, da população em
si).
E é
apenas uma parte da história. Motivo, segundo algumas suspeitas:
a insatisfação do Comando Vermelho sobre a forma como alguns
de seus líderes estão sendo tratados no presídio de
segurança máxima do Bangu. A polícia também
manda seu recado: cada um por si, ela não tem como garantir a segurança
da população. E ponto.
A governadora
Benedita da Silva falou em cadeia... de televisão. Mas, apesar de
seus esforços no combate ao crime, quem acredita em suas afirmações,
diante da ousadia dos bandidos, que anos a fio desafiam as autoridades
constituídas, com toda a audácia de que são capazes?
Aliás, no final da noite do mesmo 30/9/2002, chega o complemento
da notícia: pelo menos sete ônibus são incendiados
no Rio de Janeiro, e a ordem teria partido de narcotraficantes. Uma passageira
que não conseguiu sair rapidamente teve mais da metade do corpo
queimado...
Por mais esta,
justifica-se a nova inclusão das relações governo/criminosos
na edição 2002 do Festival de Besteiras que Assola a Internet
(Febeanet). E, com certeza, já está
reservado o espaço para a próxima inclusão, quando
ocorrer o luto nacional pelo falecimento de Sua Excelência, O Bandido...
Quando se pensa que nem a Máfia, nem a Cosa Nostra, tiveram tanto
poder para o desafio ostensivo ao governo de seus países...
Veja mais:
Rasguem
o Código Penal!
PCC:
Planejado Com Celular
Chame
o ladrão! |