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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 09/30/02 23:44:27
FEBEANET
O dia em que o crime assumiu o poder

Veremos em breve o presidente Fernandinho Beira-Mar decretando luto oficial de três dias em todo o Brasil, em "honra" de algum narcotraficante falecido? Não seria de surpreender, como nada mais surpreenderá no Brasil a partir dos episódios verificados no dia 30/9/2002, o histórico dia em que o Rio de Janeiro parou por ordem do Comando Vermelho. São dessa data histórica as principais imagens desta página, captadas nas emissoras de televisão...

Em 13/9, julgamento por mais um crime de Fernandinho Beira-Mar (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h03) No mapa, os principais bairros do Grande Rio em 'luto' (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h03)
Comércio fechado, em mais de 30 bairros (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h02) Mercadão do bairro Madureira: fechado (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h02)
Esta história começou há alguns anos: em certas favelas, a polícia não ia, por medo dos criminosos que tinham o comando da área. Depois, quando um bandido morria, os comerciantes já sabiam que tinham de respeitar o luto "oficial", não abrindo as portas. Senão, no dia seguinte as suas famílias é que estariam de luto. Em seguida, Suas Insolências resolveram que isso não bastava: era preciso deixar bem claro nos morros cariocas quem é que mandava: imagens luminosas começaram a ser colocadas em pontos chaves, inclusive escolas públicas.
Comércio fechado, em mais de 30 bairros (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h03) Comércio fechado, em mais de 30 bairros (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h02)
Comércio fechado, em mais de 30 bairros (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h02) O comerciante é que fica atrás das grades... (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h03)
A moda se espalhou, e é bem conhecido o sinal: quando rojões são disparados na noite - ou durante o dia - em uma cidade brasileira, não é necessariamente uma festa local ou a comemoração de um jogo de futebol: o mais provável é que sejam os criminosos informando a todos - inclusive à polícia, para mostrar que não a temem - que mais uma operação com narcóticos foi bem sucedida na região.

Em 13/6/2002, comandos dos traficantes metralharam e lançaram granadas contra prédios públicos do Rio de Janeiro, inclusive a própria prefeitura da capital carioca, em pleno dia, num novo nível de desafio às autoridades.

Nas semanas seguintes, ruas e avenidas de toda a capital carioca foram interditadas por horas seguidas pelas verdadeiras batalhas campais diurnas e noturnas entre criminosos e a polícia, com dezenas de mortos e feridos, inclusive por balas perdidas.

Estudantes fogem da escola para suas casas, dispensados da aula (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h03)
Fechar as portas, a ordem em todo o comércio. Poucos desobedeceram... (Captura de tela: Rede Globo de Televisão, 30/9/2002, 20h04)
Fechar as portas, a ordem em todo o comércio. Poucos desobedeceram... (Captura de tela: Rede Globo de Televisão, 30/9/2002, 20h04) Mesmo junto a quartéis, os comerciantes não se sentiram seguros. (Captura de tela: Rede Globo de Televisão, 30/9/2002, 20h04)
E a audácia vai num crescendo. No mesmo mês, descobre-se que num "estabelecimento estatal de alto nível para integrantes do alto escalão do poder paralelo", o Gran Hotel Bangu I, onde o líder Fernandinho Beira-Mar mantinha sua base de operações, os itens de conforto incluíam aparelhos de telefonia celular para facilitar os negócios. Em Pernambuco, a telefonia e o fax tinham inclusive as ligações pagas pelo Estado, já que eram usados aparelhos conectados à linha telefônica comum. 

Como a pressão pública considerou que assim era demais, as mordomias tiveram de ser retiradas (temporariamente, é claro) e alguns criminosos foram transferidos para o quartel da Polícia Militar, sem as regalias que tinham. Tal decisão provocou novas rebeliões nas prisões.

Bancos fecharam também, junto com escolas e repartições públicas (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 19h24)
Presidente Fernando Henrique Cardoso nota que podem existir razões políticas por trás (Captura de tela: TV Band News, 30/9/2002, 19h34)
Em Praia Grande/SP, todo um bairro teve seu comércio fechado por um dia, apenas pela suspeita de que um criminoso tinha morrido. Apenas uma semana depois, na região metropolitana do Rio de Janeiro, bastaram apenas alguns recados no início da manhã e, sem que um tiro precisasse ser disparado (exceto alguns disparos de morteiro contra uma universidade com cinco mil estudantes, para forçá-la a encerrar as aulas), todo o comércio de mais de 30 bairros, mais bancos, escolas, universidades, transportes e até repartições públicas imediatamente fecharam por todo o dia. Prejuízo contabilizado pela federação carioca do comércio varejista: R$ 130 milhões. Mais R$ 30 milhões de prejuízo calculado pela federação carioca das indústrias. Não foram contabilizados os demais prejuízos (do turismo, do ensino, da população em si). 

E é apenas uma parte da história. Motivo, segundo algumas suspeitas: a insatisfação do Comando Vermelho sobre a forma como alguns de seus líderes estão sendo tratados no presídio de segurança máxima do Bangu. A polícia também manda seu recado: cada um por si, ela não tem como garantir a segurança da população. E ponto.

Governadora do RJ fala à imprensa e em rede carioca de rádio e TV (Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h04) Zaqueu pensa que podem estar aproveitando a insegurança do povo com outros fins(Captura de tela: Rede Bandeirantes de Televisão, 30/9/2002, 20h04)
Secretário de Segurança do RJ fala à imprensa sobre os episódios (Captura de tela: Rede Globo de Televisão, 30/9/2002, 20h05) Polícia Militar: efetivo está nas ruas para garantir a segurança (Captura de tela: Rede Globo de Televisão, 30/9/2002, 20h05)
A governadora Benedita da Silva falou em cadeia... de televisão. Mas, apesar de seus esforços no combate ao crime, quem acredita em suas afirmações, diante da ousadia dos bandidos, que anos a fio desafiam as autoridades constituídas, com toda a audácia de que são capazes? Aliás, no final da noite do mesmo 30/9/2002, chega o complemento da notícia: pelo menos sete ônibus são incendiados no Rio de Janeiro, e a ordem teria partido de narcotraficantes. Uma passageira que não conseguiu sair rapidamente teve mais da metade do corpo queimado...
Comandos criminosos metralham até o prédio da Prefeitura do RJ em 24/6/2002 (Captura de tela: Rede Globo de Televisão, 25/6/2002, 13h21) Comandos criminosos metralham até o prédio da Prefeitura do RJ em 24/6/2002 (Captura de tela: Rede Globo de Televisão, 25/6/2002, 13h21)
Por mais esta, justifica-se a nova inclusão das relações governo/criminosos na edição 2002 do Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet). E, com certeza, já está reservado o espaço para a próxima inclusão, quando ocorrer o luto nacional pelo falecimento de Sua Excelência, O Bandido... Quando se pensa que nem a Máfia, nem a Cosa Nostra, tiveram tanto poder para o desafio ostensivo ao governo de seus países...
Aviso do feriado inesperado no RJ: Motivo de força maior (Captura de tela: Rede Globo de Televisão, 30/9/2002, 20h04)
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