"Ataques
de Israel são crimes de guerra", diz Noam Chomsky
Ataques
foram criticados por ativista americano
O
lingüista e ativista político americano Noam Chomsky define
os ataques de Israel a territórios palestinos como crimes de guerra.
"Trata-se da continuação de 35 anos de crimes de guerra",
afirmou Chomsky, em entrevista exclusiva à BBC, referindo-se à
guerra de 1967, quando Israel ampliou suas fronteiras, anexando territórios
palestinos e de países vizinhos.
Segundo
Chomsky, que é considerado um dos críticos mais ferrenhos
do governo americano, se os Estados Unidos realmente quisessem, forçariam
Israel a se retirar dos territórios palestinos e patrocinariam uma
solução para o conflito no Oriente Médio.
"Se os Estados
Unidos sentirem que as atrocidades israelenses estão produzindo
problemas para os seus interesses e a sua política externa, simplesmente
dirão ao primeiro-ministro Ariel Sharon que já basta, e Israel
se retirará porque segue as ordens dos Estados Unidos". A seguir,
os principais trechos da entrevista.
Crimes de
guerra
BBC
- O que o senhor pensa da forma que Israel está conduzindo sua campanha
nas áreas palestinas?
Noam
Chomsky - São crimes de guerra. De fato, trata-se da continuação
de 35 anos de crimes de guerra. O mundo inteiro, inclusive os Estados Unidos
de forma oficial, aceita que a Quarta Convenção de Genebra
(estabelecida em 1949 com o objetivo a proteger populações
civis em caso de guerra) pode ser aplicada para Israel quando ocupa territórios
palestinos.
Apenas em dezembro
(de 2001), os países signatários, incluindo os europeus,
condenaram Israel por violar a Convenção de Genebra com seus
assentamentos ilegais e uma série de atrocidades mencionadas por
eles, tudo isso respaldado pelos Estados Unidos.
Os Estados
Unidos nunca rechaçaram de forma oficial essa aplicação
da Convenção de Genebra, que remonta a 1971 quando George
Bush (pai do presidente George W. Bush), como primeiro embaixador (dos
Estados Unidos) na ONU, condenou Israel por violar as Convenções
de Genebra.
E isso aconteceu
muito antes da enorme expansão das atrocidades.
BBC
- O senhor acredita que o primeiro-ministro israelense, Ariel Sharon, poderia
ser julgado por um tribunal internacional?
Chomsky
- Sim. Ele, assim como todos os seus antecessores e todos os líderes
políticos americanos dos últimos 30 anos, podem ser chamados
a um tribunal internacional porque Israel faz tudo com o crucial apoio
econômico e militar dos Estados Unidos.
Na realidade,
os Estados Unidos têm a obrigação, como um dos signatários
da Convenção de Genebra, de processar judicialmente qualquer
violação (dessas convenções). E isso significa
julgar seus próprios líderes.
BBC
- O que senhor pensa sobre os apelos do presidente George W. Bush para
o governo israelense retirar suas tropas dos territórios palestinos?
Chomsky
- Isso é marginal. Muito mais significativo do que isso foi, por
exemplo, ter vetado a resolução do Conselho de Segurança
da ONU que pedia observadores internacionais para supervisionar a redução
da violência
(entre israelenses
e palestinos).
Atualmente,
o governo Bush tem problemas táticos, como conseguir apoio para
seu plano de atacar o Iraque.
Por causa disso,
os Estados Unidos fizeram dois pedidos: que os palestinos acabem imediatamente
com a violência, e que Israel se retire, não dos territórios,
mas das novas áreas que ocupou recentemente em meio a atrocidades
terríveis. E deve fazê-lo "sem demoras". O secretário
de Estado americano, Colin Powell, explicou que "sem demoras" significava
o mais rápido possível. Em outras palavras, quando eles quiserem.
BBC
- O senhor acredita que os Estados Unidos possam tomar ações
mais concretas para pressionar Israel?
Chomsky
- Essa é uma questão tática. Se os Estados Unidos
sentirem que as atrocidades israelenses estão produzindo problemas
para os seus interesses e a sua política externa, não pressionarão
Sharon, simplesmente lhe dirão que já basta. E ele se retirará,
porque Israel segue as ordens dos Estados Unidos."
BBC
- Qual poderá ser o futuro de Yasser Arafat?
Chomsky
- Isso depende dos Estados Unidos, que têm uma influência decisiva
nessa região e na maior parte do mundo. Se os Estados Unidos continuarem
bloqueando uma solução diplomática - como tem feito
nos últimos 25 anos -, seu futuro é cinzento.
Em Oslo, as
condições eram muito específicas. A meta dos acordos
de Oslo era estabelecer uma "dependência neocolonial permanente para
os
palestinos".
Estou citando as palavras do chefe da delegação de negociação
israelense.
Se Arafat quiser
desempenhar esse papel (de supervisionar uma "dependência neocolonial
permanente"), os Estados Unidos o aceitarão. Caso contrário,
não.
BBC
- Qual deve ser o papel da comunidade internacional nas circunstâncias
atuais?
Chomsky
- Devemos evitar o termo comunidade internacional, porque é usado
de forma propagandística para se referir aos Estados Unidos e seus
aliados.
As ONU (Organização
das Nações Unidas), a real comunidade internacional, deve
buscar implementar as propostas de janeiro de 1976 e não permitir
que Estados Unidos e Israel façam o que quiserem.
É claro
que não é fácil para o resto do mundo se opor a uma
superpotência que tem uma força militar avassaladora e um
enorme poder econômico.
BBC
- O que deve acontecer com o Iraque na sua opinião?
Chomsky
- Suspeito que os Estados Unidos e a Grã-Bretanha encontrarão
uma maneira de atacar o Iraque. Acho que devemos ter clareza sobre as razões
(de um eventual ataque). As apresentadas por Blair (o primeiro-ministro
britânico, Tony Blair), Bush, Clinton (o ex-presidente Bill Clinton)
e outros não podem ser verdadeiras.
Lemos todos
os dias que Saddam Hussein é um criminoso terrível, que usou
armas químicas contra o seu próprio povo e está tentando
desenvolver armas de destruição maciça. Isso tudo
é verdade, mas omite o pequeno detalhe de que ele fez isso com o
total apoio dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, e o apoio se manteve
depois de seus piores crimes.
O Iraque tem
as maiores reservas de petróleo do mundo depois da Arábia
Saudita, e mais cedo ou mais tarde os Estados Unidos e a Grã-Bretanha
vão fazer algo para voltar a controlá-las. |