Que o presidente Bush júnior não é significativamente dotado de quociente de inteligência, nem é preciso comentar, a história corre o mundo inclusive via Internet, ajudada por uma série de gafes diplomáticas e atitudes políticas irracionais. Que o Bush não representa a média do pensamento da população estadunidense, fica mais claro ainda com atitudes que só beneficiam uns poucos capitalistas e políticos daquele país e são reprovadas até mesmo pelos próprios governados.
Obedecendo à diretriz EUA-exterior, o Brasil desregulamentou a navegação de longo curso e até a de cabotagem, sem qualquer contrapartida, e praticamente acabou por tabela com a navegação mercante sob bandeira brasileira - elevando bastante a dívida externa com o pagamento de fretes marítimos (aos EUA!). Em conseqüência direta, o Brasil praticamente acabou em menos de dez anos (década de 1980) com sua indústria de construção naval, que já foi a oitava maior do mundo.
Mais ou menos na mesma época, a exportação brasileira de frangos e ovos para os países árabes foi prejudicada pelo subsídio norte-americano aos insumos usados como ração, num autêntico processo de dumping (subpreço praticado com o objetivo de alijar a concorrência do mercado) - prática aliás internacionalmente condenada, sendo os estadunidenses os primeiros a apontar o dedo contra o país que se atrever a fazer isso com eles.
No caso da energia elétrica, em meio ao apagão político e econômico do governo Fernando Henrique Cardoso, ficou mais uma vez claro esse paradoxo entre o dito e o feito: querem os EUA que o Brasil entregue à iniciativa privada a geração da energia (e as hidrelétricas), que nos EUA está sob controle do Exército...
Outros países, como alguns da Comunidade Européia, defendem as barreiras aduaneiras e os subsídios, mas pelo menos não ficam se proclamando campeões das liberdades políticas e econômicas. O Japão também é campeão do fechamento econômico, apenas faz diferente do Brasil (aqui, apregoamos cada norma de subsídio ou sobretaxa; os japoneses têm um sistema de barreiras não escritas que impede a produção de provas específicas, embora seja fácil verificar quantas empresas estrangeiras atuam na ilha nipônica e em que setores).
E nem esfriou a polêmica do aço, o governo Bush aprova a Farm Bill, uma lei agrícola que reserva US$ 180 bilhões para subsídios aos agricultores durante os próximos dez anos. Dinheiro com endereço certo, segundo seus críticos: um grupo de grandes empresários e deputados. Como citou em entrevista ao telejornal Bom Dia Brasil (Rede Globo de Televisão, 14/5/2002, 7h42) o fazendeiro Luiz Suplicy Haffers (na verdade, uma das lideranças patronais no setor), adiantando que já estão sendo feitos contatos nos EUA para mostrar aos estadunidenses que pagarão mais (via impostos) por produtos de menor qualidade, beneficiando não o pequeno agricultor local e sim alguns oligopólios e grandes corporações, e indiretamente prejudicando nações que dependem mais da agricultura para equilibrar sua balança comercial. O Brasil lembrará que a decisão do Farm Bill foi condenada como maracutaia até mesmo pelos principais jornais norte-americanos, como Washington Post, New York Times e Wall Street Journal.
Curiosamente, nesse momento é que o governo Bush vem dizer que a agricultura é a principal indústria dos Estados Unidos. Quem (a não ser um texano) diria isso de um país conhecido pela tecnologia de ponta, pelas indústrias automobilística, bélica e farmacêutica, para não citar outras. Talvez seja momento propício para mandar tal presidente plantar batatas... Bem, é mais ou menos isso que o ministro brasileiro da Agricultura, Pratini de Moraes, pretende fazer junto com a Austrália e muitos outros países, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), ao contestar tais subsídios.
Interessante que os estadunidenses se preocupam muito com ecologia, defesa dos recursos naturais, efeito estufa etc. Mas ignoram o que foi definido na conferência mundial sobre ecologia realizada anos atrás no Rio de Janeiro, e o presidente Bush rasgou o acordo de Quioto sobre proibição de clorofluorcarbonetos (gás CFC, um dos causadores do efeito estufa no planeta pela destruição da camada atmosférica de ozônio) a pretexto da incapacidade da indústria dos EUA se adaptar a tais normas. O mesmo país que acabou com suas florestas, quase extinguiu as manadas de búfalos e as tribos indígenas agora usa a desculpa da experiência adquirida para promover a ingerência política na gestão dos recursos ambientais de outros países... Mais uma vez, faça o que digo, não faça o que faço...
Terrorismo - A propósito, se Cuba produz vacinas, é acusada pelo governo Bush de colaborar com o terrorismo internacional, produzindo armas químicas (e o ex-presidente dos EUA, Jimnmy Carter, está justamente fazendo uma viagem à ilha, onde poderá verificar in loco as tais fábricas). No caso das cartas com antraz postadas nos EUA com destino tanto a endereços internos como externos, os EUA tentam disfarçar mas é cada vez mais evidente que o antraz foi produzido em sofisticadas instalações dos próprios Estados Unidos, burlando o ineficaz controle estatal - que não consegue informar ao presidente sequer o número de instalações com tal capacidade existentes em seu território. Mas, consegue identificar por foto de satélite um laboratório químico terrorista - assim foi dito - no interior do Afeganistão ou do Iraque.
Não seria o caso de a comunidade internacional, preocupada com o avanço do terrorismo de origem estadunidense, promover uma inspeção em regra nas instalações químicas dos EUA, comprovadamente facilitadoras do acesso às armas biológicas pelos terroristas? Até mesmo bombardear tais instalações, como querem os EUA fazer com outros países a pretexto de combater o terrorismo, já que o governo estadunidense se mostra incompetente para fiscalizar tais instalações em seu próprio território? Ah, caiu a máscara...
Nesse capítulo, mais uma besteira dos EUA: forçar o afastamento em 4/2002 do embaixador brasileiro (ingerência na política de outro país, que os EUA condenam...) José Maurício Bustani do cargo de diretor geral da Organização para a Proibição das Armas Químicas, por não aceitar uma manobra dos EUA de incluir pesoal do serviço secreto estadunidense na inspeção de instalações químicas iraqueanas. E o presidente Fernando Henrique Cardoso imediatamente se curvou à pressão - o que não é de surpreender: depois de tantas outras do mesmo naipe, já está acostumado a se ajoelhar, mesmo sendo ateu confesso...
Apesar de que, quando vale mais o direito da força que a força do direito, não há muita esperança de que a simples argumentação lógica acima tenha qualquer influência nas posições dos EUA, fica a espectativa de que pelo menos a diplomacia brasileira acorde para a realidade e não se deixe levar pelo canto de sereia das falácias de Bush... & Cia. ...
P.S.: o título "EUA não são um país sério" faz referência a uma lendária afirmação do presidente francês Charles de Gaulle sobre o Brasil. Bem, a França subsidia sua agricultura. Os EUA também. Todos dizem que não é sério um país que faz isso. ...Então?
P.S.2: a música desta página é a folclórica Old MacDonald, sobre um velho fazendeiro dos EUA. É uma "homenagem" ao presidente do poderoso país agrícola...