FEBEANET
De volta à fábrica
das carroças
L
eiam atentamente esta notícia (grifos nossos):
Recall no
Brasil
Quem pensa
que a manutenção do carro é irrelevante na hora de
viajar pode estar enganado. No Brasil morrem cerca de 42 mil pessoas
por ano em acidentes automobilísticos e 25% desses desastres
são provocados por falhas nos automóveis, defeitos de fabricação
das peças e vícios ocultos......
" Aproximadamente
4 milhões de veículos foram convocados para recall no Brasil
desde 1992, segundo dados do site estradas.com. Somente nos últimos
quatro anos, foram 2,5 milhões de veículos. No mesmo
período, as vendas de carros em todo o país foram de 3,52
milhões, de acordo com a Associação Nacional dos
Fabricantes de Veículos Automotores (Amfavea) e a Associação
Brasileira de Empresas Importadoras de Veículos Automotores (Abeiva).
Em outras palavras, os veículos com defeito equivalem a 71% dos
carros vendidos desde 1999."
OAB SP
(transcrito
do boletim eletrônico Varejo
Século 21, edição 693, de 21/8/2002)
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Bem, se a maioria
dos produtos vendidos no Brasil por uma indústria com acesso à tecnologia
de ponta, e com capacidade portanto para ter tecnologia sofisticada de
controle de falhas, apresenta ainda assim tal índice de defeitos
de fabricação, bem dizia o ex-presidente da República
que as multinacionais montadoras de veículos só produzem
carroças...
Pensando bem,
as carroças feitas no fundo dos quintais e das fazendas até
que não davam tanto defeito, duravam anos sem problemas com ferrugem
e no máximo, se algum usuário se irritasse com o ruído
nos eixos, era só colocar um pouco de óleo...
Considerando
que o trânsito caótico não permite mesmo que tenhamos
nas cidades velocidade média superior à do tempo das carroças;
Considerando
que nas estradas também não é possível maior
velocidade por falta de confiança da "tecnologia" dos veículos;
Considerando
que até agora não foi preciso pagar aos fabricantes de carroças
nenhum centavo de direitos de patente, mas o Brasil perde verdadeiras fortunas
em divisas com o pagamento de royalties às matrizes das indústrias
automobilísticas;...
...talvez o
Brasil devesse retomar a idéia das bucólicas carroças.
Ou aperfeiçoá-la, implantando os riquixás, em que
os coitados dos cavalos são substituídos por tração
humana, garantindo assim a ampliação do mercado de trabalho
para os engenheiros e técnicos desempregados pela indústria
automobilística. Executivos influentes podem continuar blindando
as carroças e colocando nelas sistemas de alarme (que só
disparam na mão do proprietário, nunca na do ladrão)
e rastreamento - e todas as outras bugigangas que desejarem, pois só
muda a tecnologia construtiva e de tração: teremos sistemas
100% nacionais, com freios, aceleração e sistemas de direção
controlados pelo mais complexo computador existente (a mente humana)...
e sem gasto de combustível à base de petróleo!
Podem até
colocar nome inglês para deslumbrar os deslumbrados. Por exemplo:
"Powermen-2003, com direção eye-controlled, freios
(brakes) ABS (Assegurados por Botinas ou Sandálias)".
Com o detalhe final de sofisticação: serão os primeiros
carros do terceiro milênio com motorista integrado ao sistema de
tração/direção! O usuário só
precisará dizer (em inglês, alemão ou português
mesmo, conforme a nacionalidade do "sistema de tração") para
onde deseja ir, sem precisar dirigir ou teclar complicados comandos no
painel... E o veículo é também o primeiro da nova
série com a característica de ser auto-estacionável!
Besteira?
E não é besteira maior conviver com uma indústria
em que a quase totalidade dos produtos apresenta erros de fabricação?
Erros que são responsáveis por parte considerável
dos acidentes de trânsito que matam milhares de brasileiros todos
os anos (além de incapacitar/aleijar milhares de outros)? E ainda
ter de conviver com cemitérios de veículos destruídos
ou sucateados, verdadeiro atentado ao meio-ambiente? E conviver com a violência
inerente aos roubos de veículos, aos rachas promovidos por
ricos motoristas inconseqüentes que matam pedestres nos passeios e
ainda assim são liberados pela Justiça por terem padrinhos
influentes?
Unindo as duas
correntes do pensamento nacional: "com certeza"... "fala sério"!
Enquanto lança
a campanha pela volta das carroças originais às nossas ruas
e estradas, a organização do Festival de Besteiras que Assola
a Internet (Febeanet) inscreve esta besteira
na edição 2002 do festival e faz também a sua rechamada
(o tal do recall), convocando todos os motoristas a que se apresentem
e depositem seu voto, durante a eleição que no final deste
ano classificará a principal besteira do ano.
Pesquisas pré-eleitorais
indicam que a história da indústria automobilística
nacional tem 71% de intenções de votos, o que lhe dá
folgada margem de votação, mesmo levando-se em conta que
cerca de 10 mil desses votantes já não estarão vivos
no momento da eleição...
P.S.: Um
dos inspiradores desta seção, o Barão de Itararé,
pede licença para fazer um recall
do que publicou em seu AlManhaque do segundo semestre de 1955, pág.
47:
Automobilismo
O
automóvel moderno é um estábulo ou pequeno jardim
zoológico estilizado. Além dos 40 ou mais cavalos
do motor, ainda entram nele, para segurar as rodas, uma manada de porcas;
um burrinho ou pequena bomba, movida a eletricidade, para encher
os pneus; e um macaco, para ajudar a levantar o carro em caso de
necessidade.
Os
desastres de automóvel poderiam ser evitados, se, para cada cavalo
do motor, houvesse um freio. Não é possível fazer
parar, de repente, 80 cavalos, em vertiginosa carreira, acionando-se um
único freio.
No
dia em que se aproveitar a enercia nuclear para mover automóveis,
as bombas de gasolina serão substituídas por bombas atômicas. |
Sábias
ponderações... |