FEBEANET
Palmas para o candidato onipres(id)ente...-I
A
desculpa
apresentada pela Agência Estado, a agência de notícas
do jornal O Estado de São Paulo, até que seria compreensível,
se já não existisse uma ampla suspeita de parcialidade desse
e de outros grandes - em tamanho - jornais brasileiros na cobertura da
campanha eleitoral, como as apontadas na revista CartaCapital
apenas dois dias antes.
O fato é
que
no dia 20/9/2002, às 13h07, aquela agência informou aos leitores,
com inúmeros detalhes, sobre a "vitoriosa chegada" a Palmas, no
Tocantins, do candidato apoiado pelo governo federal, José Serra,
e horas depois soube-se do cancelamento
da viagem. Imediatamente, o candidato oposicionista
Ciro Gomes abriu
suas baterias, apontando o caso como uma prova indiscutível
da parcialidade da grande imprensa a favor do candidato governista.
Então,
ou ocorreu uma lamentável falha jornalística - que não
deixa de ser uma formidável besteira, aumentada devido ao momento
em que se verificou - ou surgiu uma bela prova da acusada estreita ligação
entre os "donos" do poder e os dos grandes jornais, deixando-a ainda mais
evidente.
É normal,
por exemplo, agências de notícias manterem prontos no arquivo,
com atualização constante, os obituários de todas
as grandes personalidades, faltando apenas acrescentar dia, hora, local
e circunstâncias do falecimento. Isso permite que, em tais casos,
seja possível distribuir esse material de pesquisa rapidamente,
momentos após a confirmação do falecimento. Em algumas
situações, porém, esse material não é
bem controlado, acontecendo então de um veículo de comunicação
"furar" todos os outros com uma extensa reportagem sobre o falecimento...
que não ocorreu.
Também
é normal que um jornalista repasse à redação
informações apuradas no local, antes do clímax do
acontecimento, para agilizar a montagem da notícia e chegar primeiro
ao leitor com os detalhes. O problema é que se isso não é
muito bem controlado, causa situações como essa de 20/9/2002...
Um detalhe
importante é que a agência noticiou como ocorrido, às
13h07, um fato que só estava programado para ocorrer duas horas
depois, às 15 horas. Isso é ponto a favor da explicação
dada pelo jornal, quanto à liberação errada da notícia.
Mas é também ponto contra, ao se constatar que várias
horas antes (considerando o tempo necessário à redação
do texto, transmissão à central e tramitação
interna para a entrega aos leitores) já havia um texto pronto com
detalhes do evento que, de tão variáveis, nem compensaria
deixar no texto pronto, como o número de participantes da carreata.
Seria compreensível
que a jornalista deixasse pronta com antecipação a parte
"fria" da notícia (que pode ser apurada com antecedência),
mas o primeiro parágrafo (o "lead", no jargão jornalístico)
só deveria ser feito no momento apropriado, constatados os fatos
- as pessoas, mais de duas horas antes, ainda estavam indo para o aeroporto,
então é um belo exercício de adivinhação
calcular quantas estariam no local no momento da chegada do candidato à
Presidência.
Bem, que foi
uma besteira do jornal, não há dúvida. E mais grave
besteira é alguém pensar que pode esconder a verdade para
sempre, no caso das ligações espúrias entre imprensa
e governo. Se a alma do negócio, no jornalismo, é a credibilidade,
vender a alma, manchando a reputação de forma que muitos
anos depois isso seja lembrado, é como dar um tiro no próprio
pé.
Que o diga
a Rede Globo de Televisão, sempre lembrada - como neste momento
- por suas ligações com a empresa Proconsult, no escândalo
da apuração dos votos em uma eleição no Rio
de Janeiro, cerca de duas décadas antes, e por ter ignorado como
"inexpressivo" o fato de a Praça da Sé, no centro da capital
paulistana, estar completamente tomado por manifestantes exigindo as eleições
diretas no País - clímax de uma série de outras manifestações
conhecidas como "Diretas Já" que marcaram a história nacional.
Agora, o presidente
Fernanto "Dois Mandatos" Henrique Cardoso usar tão abertamente a
máquina oficial em favor do candidato governista já não
é uma besteira apenas - é uma grande imoralidade, que por
si só justificaria medidas mais sérias do Tribunal Superior
Eleitoral - não tivesse esse tribunal também pés de
barro, devendo ao país explicações sobre sua absurda
posição no caso das urnas eletrônicas com segredos
inconfessáveis - explicações que a História
um dia cobrará dos protagonistas...
Independentemente
das besteiras isoladas, vale portanto a inclusão desde já
das eleições 2002 como uma das grandes besteiras nacionais,
com lugar de (des)honra na edição 2002 do Festival de Besteiras
que Assola a Internet (Febeanet), pelo nível
a que chega o desrespeito ao leitor/eleitor - o "voto de cabresto", do
tempo dos coronéis do sertão, pelo menos era claro, sem hipocrisias...
Veja mais:
Palmas
para o candidato onipres(id)ente... - II
Palmas
para o candidato onipres(id)ente... - III
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