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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 04/23/02 16:47:54
FEBEANET
"... não é um país sério"

Franceses foram pescar... acabaram fisgados!

Consta ser falso que um falecido presidente francês, Charles De Gaulle, tenha dito, na década de 1960, que "o Brasil não é um país sério". Na verdade, ele apenas teria dito que 'o Brasil não é um país". O "sério" foi acrescentado depois, para amenizar... Não importa, prevaleceu a versão. E agora, ela se volta contra os franceses. Pois não é que eles, mesmo querendo mudanças, abandonaram as eleições em curso e foram para a praia e as montanhas? Ou preferiram aproveitar que era o primeiro dia da temporada de pesca...

Protestos em Paris contra Le Pen em 22/4 (Imagem: captura de tela da TV Globo/Brasil, 23/4/2002, 7h41) Protestos em Paris contra Le Pen em 22/4 (Imagem: captura de tela da TV Globo/Brasil, 23/4/2002, 7h41)
Resultado: deu mais peixe no anzol e mais bronzeador na praia do que voto na urna! 27,85% dos 38.585.465 eleitores franceses não compareceram às urnas e, dos que votaram, 962.867 anularam o voto. Na apuração dos resultados, os franceses descobriram que o candidato direitista Jacques Chirac não foi bem nas urnas, ficando com 19,94% dos votos, o que era mais ou menos esperado. Os eleitores apostavam que o candidato "de renovação", o primeiro-ministro esquerdista Leonel Jospin, disputaria o segundo turno com Chirac.
Jean Marie Le Pen contesta ser racista e facista (Imagem: captura de tela da TV 5/França, 23/4/2002, 16h36)
Entretanto, Jospin ficou em terceiro lugar com 16,01% dos votos, e quem passou ao segundo turno foi o candidato da direita radical, Jean-Marie Le Pen, com 17,87% dos votos. Ele é visto como favorável às ações neonazistas contra imigrantes e chega a ser rejeitado por 80% da população francesa. Depois da estupefação, o protesto: os franceses saíram às ruas, em manifestações contra Le Pen.
Protestos em Paris contra Le Pen em 22/4 (Imagem: captura de tela da TV Globo/Brasil, 23/4/2002, 7h41) Protestos em Paris contra Le Pen em 22/4 (Imagem: captura de tela da TV Globo/Brasil, 23/4/2002, 13h38)
Como comenta o articulista Joel Conrado em seu "Bilhete da Europa", distribuído em 21/4/2002 pela Internet desde Paris, "afirmar que a extrema direita, em ligeira ascensão em outros países da Europa, estaria também se impondo na França será um julgamento prematuro e sem fundamento. Na verdade, Jean-Marie Le Pen, considerado por muitos como facista e racista, não terá a mínima chance de se eleger presidente da República. Desde ontem e hoje, mais de cem mil (!) pessoas desfilaram nas principais ruas das grandes cidades francesas protestando contra a candidatura de Le Pen. E lá estavam jovens, velhos, comunistas, socialistas e muitos emigrantes. Eles procuram recuperar o tempo perdido e visam agora, e principalmente, as eleições para o Parlamento. Se a esquerda vencer e obter a maioria no Legislativo, a França, mais uma vez terá que viver com um governo de coabitação com um presidente da direita (Chirac) e um Parlamento da oposição."

Joel continua: "Curioso, para não dizer trágico: a militância da esquerda francesa, composta de comunistas e socialistas terá que votar em Jacques Chirac, um candidato da tradicional direita francesa.... Mas como um popular disse ao microfone de uma televisão: 'Não temos outra escolha... ou votamos num facista, ou num super mentiroso' - referindo-se à alcunha recebida por Chirac num programa de marionetes (Les Guignols) de grande audiência aqui na França".

Protestos em Paris contra Le Pen em 22/4 (Imagem: captura de tela da TV Globo/Brasil, 23/4/2002, 13h38) Protestos em Paris contra Le Pen em 22/4 (Imagem: captura de tela da TV Globo/Brasil, 23/4/2002, 13h38)
Protestos nas ruas de Paris! Contra o quê? Contra uma candidatura surgida dentro da normalidade do processo eleitoral francês, e legalmente sufragada por parte da população? Onde estavam os manifestantes, no dia da eleição?

Pois é, a atitude francesa de abandonar a forma efetiva de manifestar sua vontade (o voto) e depois fazer manifestações nas ruas, num estilo de "muito ruído e pouca ação", configura uma grande bobagem, merecedora de figurar neste Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet)! E que sirva de exemplo aos eleitores: no final de 2002, votem na melhor história deste festival, pois se não o fizerem, depois não adianta manifestarem seu protesto contra a besteira escolhida...