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Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/24/02 09:41:47
FEBEANET
Um parafuso solto paralisa o Brasil

Ora, ora, quem diria? A culpa pelo apagão que em 22/1/2002 atingiu diretamente metade do Brasil, desligando 13 dos 17 geradores de Itaipu, a maior usina hidrelétrica do mundo, por "falta de demanda de eletricidade", enquanto o caos se instalava por falta de eletricidade nas principais cidades brasileiras, foi de um mísero parafuso enferrujado que se soltou, derrubando um cabo de alta tensão, que provocou o desligamento de outro cabo ao lado e assim sucessivamente, até desligar todo o sistema elétrico interligado das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil!
 

Todo este sistema de controle fica inútil quando um parafuso cai... (captura de tela - Rede TV!, 22/1/2002, 21H31) O problema começou na rede entre Ilha Solteira e Araraquara/SP... (captura de tela - Rede TV!, 22/1/2002, 21H31)
O desligamento de segurança paralisou 13 turbinas em Itaipu... (captura de tela - Rede TV!, 22/1/2002, 21H31) A falha na rede de Itaipu/Araraquara/SP desligou outra rede, até a usina de Ilha Vermelha... (captura de tela - TV Globo, 24/1/2002, 0H49)
O ano de 2002 mal começou, e quase se poderia dizer que esta é a maior besteira do ano. Quase, pois se há uma certeza no Brasil, é a de que a administração pública sempre consegue se superar quando o assunto é incompetência. Siderúrgicas e outras indústrias param, comércio fecha as portas, metrô deixa as pessoas no meio dos trilhos, pessoas morrem nos hospitais pela falha nos equipamentos de manutenção da vida, o trânsito urbano se torna caótico, equipamentos queimam, o comércio é prejudicado, pessoas ficam presas nos elevadores, entope-se a rede telefônica com avisos de cancelamento de compromissos, o Brasil vira piada nos jornais estrangeiros, por causa de um parafuso solto!

Na verdade, o parafuso solto não está na rede de transmissão, mas na cabeça das autoridades que permitem tal situação. No apagão geral de 1999, elas disseram que tinham aprendido a lição, sobre a vulnerabilidade do sistema interligado. Na época, a culpa foi de um misterioso raio numa subestação de Bauru/SP. Raio em céu de brigadeiro, segundo os próprios moradores da cidade, que não entenderam nada da tal explicação. Agora, enfim, chegamos a causas mais plausíveis.

Falta um parafuso na cabeça de quem montou o sistema interligado, sem a mínima condição de, em primeiro lugar, localizar pelo menos em que estado brasileiro teve origem a falha; em segundo lugar, isolar essa região, mantendo o resto do sistema funcionando normalmente; em terceiro lugar, corrigir rapidamente o problema específico ou fazer com que seja isolado emergencialmente o trecho, restabelecendo a energização do resto da rede.
 

Metade do Brasil parada.. (captura de tela - Rede TV!, 22/1/2002, 21H32) ...por um parafuso que detonou um cabo de alta tensão. (captura de tela - Rede TV!, 22/1/2002, 21H32)

Lição... no escuro - O operador nacional de energia, que tinha a obrigação de informar pelo menos a origem do problema poucos minutos após o parafuso cair, não tinha a mínima idéia de em que ponto do país ocorrera a falha... quatro horas depois! Demorou mais que no apagão de 1999, quando as autoridades disseram que tinham aprendido a lição.

Aprenderam? No Rio de Janeiro, os computadores que deveriam monitorar a volta da energia à rede estavam desligados... por falta de eletricidade! Não, não é piada! A televisão mostrou (os cameramen usam baterias...)!
 

Explicando não ter explicações.. (captura de tela - Rede TV!, 22/1/2002, 21H32) Culpando a CESP... mas ninguém fala em demissão dos irresponsáveis... (captura de tela - TV Globo, 24/1/2002, 0H48)

'Tadinho - O interessante na história é que as mesmas empresas que alegam queda no faturamento por conta do racionamento de energia - criando a situação absurda do consumidor ser punido com reajustes por ter economizado - têm dinheiro para empregar executivos super bem pagos.

Tão bem pagos que o presidente da agência reguladora do setor declarou na televisão se sentir constrangido de sentar à mesma mesa com interlocutores que ganham dez vezes mais que ele (que, aliás, recebe pelo menos quarenta vezes mais que a média da população assalariada - a tal ninguenzada que vai pagar a conta de eletricidade mais cara, os prejuízos do racionamento causado pela incompetência governamental, os prejuízos com os apagões...). 

Falando claramente: o peão de obra que luta o mês inteiro para receber um salário mínimo (menos os descontos de praxe) - e ainda corre o risco de ser dispensado em razão dos prejuízos que as empresas enfrentam com a palhaçada energética -,  vai pagar também por mais esta demonstração da incompetência de executivos que recebem, no mesmo período, 400 vezes mais. E pelo parafuso que o governo comprará dos mesmos de sempre, a peso e preço de ouro, para substituir o que caiu... 

Autoridades da área elétrica: parafusos soltos em lugar de lâmpadas acesas, num sistema de ponta-cabeça...
Lá no Céu, o famoso apresentador de televisão Chacrinha buzina furiosamente, exigindo a imediata inscrição desse absurdo no Festival de Besteiras que Assola a Internet (Febeanet). Tubo bem, Abelardo, já fiz! Agora, vá buzinar no ouvido dos (ir)responsáveis pela interligação do sistema elétrico nacional que deixam o sistema bagunçado assim, de ponta-cabeça, com parafusos soltos em vez de lâmpadas acesas... Eles já comeram o bacalhau que você costumava jogar para o auditório, agora faça com que eles dancem um pouquinho, pois o resto do país já dançou demais...