Imagem: reprodução parcial da matéria original
Do A.B.C. do futebol santista...
Os primeiros contatos com a bola - Como surgiu o futebol em Santos - O primeiro
jogo - Os clubes que foram surgindo - Quando se disputou o primeiro "inter-municipal" e o primeiro "internacional" - Fatos e coisas do futebol do
passado
Um pouco da história do nosso futebol - De ontem para hoje -
A vida esportiva-futebolística em Santos -
Clubes que são tradições e nomes que são bandeiras
Perilo Prado
Há tempo, em modesta crônica que escrevi para este mesmo
jornal que na data de hoje completa cinqüenta anos de existência, cinqüenta anos que equivalem a tantos outros anos de vida redobrada de árduos
trabalhos, de notáveis e brilhantes realizações e campanhas visando sempre e cada vez mais a grandeza e o progresso desta terra nobre e boa, "terra
que trabalha e canta", no dizer do poeta meigo que tanto honrou as letras de sua cidade, disse que Santos já apresentava todos os característicos de
um grande, de um extraordinário núcleo esportivo, onde, praticando o esporte, se aprendia a amar a terra brasileira.
Isso foi há tempo. E o tempo passa. E, se em tal época, Santos já apresentava esse
extraordinário movimento esportivo, que se poderá dizer nos dias de hoje quando o nosso esporte é uma positivação brilhantíssima da capacidade da
nossa gente e de nossa mocidade?
Não muitas cidades poderão, nesse terreno, competir com a nossa. Em todo o Estado,
Santos é a segunda, tendo-lhe à frente, apenas, a capital. Mesmo em cidades onde imperam e dominam grandes núcleos operários, cidades onde a
indústria canta o hino da grandeza paulista, em matéria de esporte, poderemos afirmar sem receio algum de contestação e com justo orgulho, nenhuma
se avantaja ou mesmo se iguala a Santos, que, de há muito, tem seu crédito firmado com a difusão, a prática e o desenvolvimento físico, pelo bom
desempenho de todos os esportes.
De todos os esportes que se vem há anos praticando, apenas um - infelizmente - teve
sua marcha atrasada como uma locomotiva ultra-possante que fica em meio do caminho, e esse nobre esporte parou, deixando para trás, nas marolas do
Valongo lendário, algumas décadas de glória e de esplendor, vivendo, em nossos dias, apenas dessa mesma glória de ontem,
atestando um passado que foi uma seqüência de feitos notáveis e brilhantes: o remo.
Mas, se praticamente desapareceu o remo esporte, aí estão, entretanto, palpitantes de
vida e de entusiasmo, os grêmios náuticos de Santos e o Tumiaru, de São Vicente. Enquanto o Saldanha
dominava na Ponta da Praia, Vasco, Santista e
Internacional vieram do lado de lá, onde, em tempos áureos do nosso remo, tinham duas sedes, onde
realizavam festas que ainda hoje são comentadas, fazendo a todos reviver como num pano branco de cinema, dias rútilos de glórias imarcescíveis, dias
que são ouvidos em doridas saudades...
Ilha Barnabé,
Itapema, Pai cará... madrugadas no Valongo, noitadas na ilha Barnabé...
"Taça da Câmara", "Scott Barbosa", Campeonato Paulista do Remo... as famosas remadas
do Conselho, o saudoso Lulu na presidência, o Araldo, o Belhache, o Sucupira, o Gerino Bispo, o Barbosa, o "Bribosa dos Bigodes", o Carmo
Neves... o Carvalho e tantos outros.
São evocações que nos vêm à memória, relembrando uma
época, quando todos esses grêmios e todos esses clubes iam, uma a uma, levando suas pedras para a construção do gigantesco edifício esportivo de
Santos, e aos quais aqui rendemos nossas homenagens, mesmo que esta crônica não vise o esporte náutico, mas, falando do esporte de ontem, do começo
do nosso futebol, não podemos deixar de citar esses clubes de cujos triunfos fomos tantas vezes testemunhas, passando, também, para o papel, seus
feitos brilhantes marcados em águas do Valongo e mesmo da Guanabara, onde o saudosíssimo José Ferreira foi demonstrar o valor da nossa gente.
***
Para que se possa, com mais segurança, avaliar o que
é hoje o futebol amador da cidade, basta que se voltem os olhos para essa entidade modelo que é a Liga de Futebol Amador que Aníbal Sousa dirige com
tanto carinho e com tanta eficiência. Atente-se para os clubes filiados, para o número de jogadores inscritos, para a relação dos campeonatos em
disputas em suas várias séries e ter-se-á claro, com notável realidade, o que é, hoje, o nosso futebol amador.
Mas... o futebol amador de hoje é um. O de ontem era outro.
E é justamente do "outro", do velho, do antigo, que vamos procurar falar, se tanto nos
ajudarem o "gênio" e a memória... É daquele outro futebol que iremos procurar reviver seus dias, seus primeiros passos, que já eram grandes,
demonstrando que breve chegaria à maioridade, cheio de vida, estuante de entusiasmo. E assim foi.
Vamos, como for possível, voltar para seus primeiros dias, antes e depois do advento
da Associação Santista de Esportes Atléticos, até a época em que se implantou o profissionalismo, desde os tempos quando "três escanteios valiam por
um penal", até os dias de hoje, perfeita época pacaembuzeana, quando dominam os craques que recebem milhões de cruzeiros, em contraste com aquela
outra época sem Pacaembu (N.E.: estádio de futebol da capital paulista), quando os craques
pagavam suas chuteiras, suas meias, seus recibos e ficavam vários anos no mesmo clube sem toda essa complicação dos contratos de hoje, imposta pela
exigência do futebol remunerado.
Não existia Pacaembu, é verdade, mas já existiam jogadores e ainda hoje, muitos que
estragam a grama do gigante de cimento armado, não apresentam nem a metade das virtudes técnicas daqueles que nem sonhavam com Pacaembu...
Não vai nisso saudosismo algum. Nem se trata de
estabelecer um confronto. Desejamos, apenas, procurar reviver as primeiras jornadas do futebol santista, como uma homenagem aos esportistas da
cidade, relembrar seus primeiros feitos, reviver o futebol antigo, o do "tempo da Asea", com todo seu cortejo de grandiosos acontecimentos, de
também notáveis feitos e de purpurinas glórias, para as quais também tanto e tanto concorreram os grandes jogadores que o nosso futebol apresentou
em todos os tempos, jogadores que souberam dignificar uma época e dignificar a terra onde nasceram.
***
Os ponteiros do grande relógio do tempo não param.
Não param e nem voltam. Entretanto, vamos procurar fazer esta coisa espantosa. Vamos fazer o relógio do tempo voltar. Estamos no começo do século.
Um inglês muito simpático, baixo, de bons bigodes largos, implantara o futebol em S. Paulo, onde o Velódromo já ia começando a aparecer para seus
grandes dias. Esse inglês é Charles Miler, que ainda há pouco, em S. Paulo, entregou a taça que tem seu nome a um clube vencedor.
O futebol foi criando adeptos e Santos também os teve desde logo e é assim que, em 1902, já
vários moços se arregimentavam e já se passou a jogar futebol em nossa cidade, podendo-se assim afirmar que data de 1902 o início do futebol em
Santos. Moços de destaque em nossa cidade social e comercial fundaram o primeiro clube e realizaram o primeiro treino, em "campo" conseguido próximo
ao mar, na Avenida Bartolomeu de Gusmão, e onde os postes dos gols eram grossas varas de bambu imperial.
E essa mesma gente, no ano seguinte, já disputava o primeiro jogo de futebol, com o
nome de Clube Atlético Internacional, fundado no Miramar (N.E.:
consta a informação de que a reunião de fundação desse clube ocorreu no antigo Teatro Variedades).
Fazia o futebol, assim, sua entrada oficial na cidade de Braz
Cubas, e aquele mesmo clube, pouco depois, era o que representava Santos na Liga Paulista de Futebol. A "isca" estava lançada. E pegou e pegou
bem. E os times que primeiro jogaram em Santos foram estes:
Internacional - J. Thompson; Walter e Trall; André Miler; Joyce, Cox; Charles
Murray, Marsland, Loyd e Harold Cross.
Ipiranga - Armando Pederneira, Geraldo Toledo e Walter; Jeffrey, Armando Prado,
Guerra e Mário Prado; Sinésio Braga, Aristides de Castro, Jorge Mesquita, Álvaro Nogueira e Cross.
Serviu de juiz o sr. Cícero de Lima Júnior, que era do Internacional, e o vencedor foi
o Internacional, por 2 a 1.
Foram, pode-se dizer, esses vencedores os pioneiros do nosso futebol, os bravos moços
que abriram a caminhada para a mocidade que ia então surgindo e que ia aprendendo a não temer o sol e o ar...
E esse jogo teve também sua boa assistência e já as primeiras regras do futebol
começavam a ser difundidas e conhecidas.
Depois, foram surgindo, pouco a pouco, como uma cidade que se vai formando, outras
agremiações. Hoje surgia um clube, amanhã aparecia outro, ia-se formando o ambiente futebolístico de Santos, até que se disputou o primeiro jogo
internacional na cidade. Esse fato marcou uma época e constituiu acontecimento de vulto.
Entretanto, a semente que os fundadores do
Internacional tinham lançado já havia frutificado e não podemos, aqui, deixar de citar os nomes daqueles moços que organizaram o primeiro futebol em
Santos. São eles: Quintino Rato, João Mourão, Agenor da Cunha Machado, Haroldo Cross, André Peixoto Muler, Leão Peixoto de Melo, Lucas Alves
Fortunato, Francisco Martins dos Santos Filho, Jonas da Costa Soares, Luiz Nery de Sousa Júnior, Henrique Porchat de Assis - que era um dos mais
entusiastas - Francisco Salgado Cesar, Raul Schmidt, Gil de Souza Ruiz, Manoel Baraúna Nery, Vitor Cross, Teodureto Faria Souto, A. Werneck, Roberto
Muler e alguns outros.
***
Daquele primeiro jogo, outros seguiram. Crescia o
entusiasmo pelo futebol. A cidade ainda não tinha propriamente campos. Um único existia, pertencente a um clube de boa organização. Era o Velo
Santista. Praticava ele vários esportes. No mesmo local, onde hoje se levanta a igreja do Coração de Maria, à
Avenida Ana Costa, foi que se disputou, em 1906, o primeiro jogo internacional, realizado na cidade.
Viera a Santos um possante time argentino e do qual - o que causava comentários e admiração
- faziam parte cinco irmãos, os famosos irmãos Browne.
Entre os jogadores do time de Santos, figurou o estimado associado do Santos F. Clube,
o "velho" Miler. E era um bom jogador e tem, por isso, nos dias de hoje, credencial bastante para discutir jogadores e fatos do futebol. Nesse
primeiro jogo os argentinos triunfaram pela contagem de 6 a 1. Para a cidade, esse jogo constituiu acontecimento de grande vulto e de S. Paulo veio
muita gente para assisti-lo. E à noite, no Miramar, resplandescente de luzes, jogadores brasileiros e argentinos se confraternizaram numa alegre e
feliz noitada.
Esse jogo foi mais uma palha para a fogueira do entusiasmo que já alastrava Santos
pelo futebol, nessa época em que, na cidade, era o futebol livre e liberto de ligas, entidades e regulamentos. Isso veio depois... quando, também,
por essa época, o futebol já havia declinado um pouco.
A cidade foi crescendo, tomando vulto. Com ela, o futebol. Em 1912, era fundado o
Santos. Iniciativa de Raimundo Marques. Em 14 de abril, desse ano, aparecia o alvi-negro para as lides esportivas, seguindo,
desde logo, numa belíssima seqüência de feitos que ia ilustrando sua vida e a da cidade esportiva. E o Santos surgiu em ocasião, como acima dizemos,
quando o futebol declinava. Motivo: o Internacional deixara de existir. O Americano, este, havia sido "removido" para S. Paulo e o
Santos Atlético não mais quis saber de futebol, que, assim, sem esses elementos, viveu dias de pouca miragem, mas eis que
surge o Santos, e, de novo, começou a vida intensa do nosso futebol.
E os clubes foram aparecendo, surgindo, formando logo uma grande constelação. Em 1913,
no dia 21 de agosto, aparecia o querido Brasil F. Clube, que mais tarde se sagraria como Campeão do Centenário. Também em
1913 surgia para a vida esportiva da cidade o Clube A. Santista, outro magnífico núcleo esportivo que tanto fez e tanto
brilhou. Tinha então sua sede à Rua Floriano Peixoto. Em 1914 outros clubes foram aparecendo.
O Espanha, esse valoroso grêmio que hoje Damasco de Paiva
Magalhães dirige, apareceu nesse ano. No dia 15 de novembro. Igualmente em 1914, surgia o S. P.R., com seu campo no Macuco,
e sua sede à Rua Amador Bueno.
Entretanto, em 1908, em São Vicente, já existia um clube futebolístico: era o S.
Vicente A. Clube, que em 1917 se filiou à Associação Santista.
Em 1914, do mesmo modo, aparecia o Atlas Flamengo, time onde figuravam jogadores que
"davam duro"... Em 1915, no dia 4 de junho, era fundado o Clube A. Lusitano. Um ano antes, surgia o Lusitano, que disputou o campeonato da Segunda
Divisão. Em 1914 era fundado o Síria. Em 1916, o S. Bento, em 1918 o União Fluminense, em 1920 o A. A. Boa Vista, em 1919 surgia o Americano, que um
ano depois já disputava o campeonato da Segunda Divisão; em 1919, outro clube mais, o Tecelagem, quando quatro anos, já o Vera Cruz, do
bairro de Santa Maria, disputava jogos.
Clube de pouca duração, foi o Palestra Itália, que apareceu em 1919, no mês de
novembro. Era filiado da Associação Santista, que se fundou em 21 de abril de 1917, sendo Olegário Lisboa seu primeiro presidente.
A A. A. América, o clube que o meu querido colega e amigo Chiquinho Sá tem no coração
- e o clube bem o merece - foi fundada em 1914, no dia 14 de julho, para futuro orgulho e gozo do simpático Mário Benincasa, que ainda o ano passado
foi um baluarte fortíssimo para o clube dos três A, dando-lhe o título de campeão amador de 1943. Em 1914 estava fundado o América, lá no Macuco,
onde depois passou a existir um leão, que se mudaria, mais tarde, para a beirada do mar. E o América era bem o "Campeão do
Macuco". Teve bons valores e boas vitórias. Em 1916 filiou-se à Liga Santista de Futebol, cujo campeonato principal passou a disputar em 1919.
A Associação A. Aliança, já é mais velha. Data de 24 de abril de 1924. Viveu até 1926.
Ascânio Bueno, o "rei do munhecaço", foi seu fundador. O futebol, por esse tempo, já ia então bem alto na cidade. O Santos já havia disputado
partidas memoráveis, e Vila Belmiro já possuía, entre outros, um vulto que se agigantava.
Manoel Teixeira, Edmundo Fernandes, Hélcio e Leônidas Cortez, Oscar Savary, Cândido
Reis, foram seus iniciais batalhadores, mas, entre estes, cumpre destacar um nome que é o de Eugênio Wansuit, que tudo fez, tudo fazia e estaria
ainda fazendo pelo Aliança. Wansuit, bom coração e boa alma, era mesmo o coração e a alma do Aliança, que chegou a ser denominado o Clube Escola.
O Aliança sempre teve ótimos elementos. Vejamos, por
exemplo, alguns deles, da "velha guarda": Ascanio, Luiz Campeão, Abílio Rocha, Batata, Paredão, Sinhozinho Loris e o próprio Wansuit, que também
sabia dar no couro, e bem, podendo-se ainda citar Constantino, que foi um dos nossos grandes "ases" do passado, chegando a integrar o quadro
brasileiro que foi disputar o Campeonato Sul-Americano, no Chile, para onde também seguiu Castelano, que era, como Constantino, do Santos. Clube
algum, de S. Paulo, quis ceder jogadores, nessa quadra, para a seleção nacional, e o Santos, tendo em vista tratar-se de uma seleção nacional, não
quis, felizmente, acompanhar os clubes de S. Paulo e cedeu seus dois jogadores, num gesto magnífico de compreensão esportiva e patriótica.
***
O lema do Aliança era "Lutar e Vencer" e se, às
vezes, não vencia, sabia lutar sempre. Entretanto, surgiram no Aliança "correntes contrárias". Trabalhadores subterrâneos e eis a discórdia lançada.
Vários jogadores deixaram o clube, passando então para o S.P.R., que, recebendo assim magnífico reforço, pôde apresentar um magnífico quadro para os
torneios da Asea. Adriano, Abílio e Ascasio passaram para o S.P.R. Para o Brasil, por seu turno, lá se foram Lewis, Arlindo Constantino e ainda
Fellecioti; entretanto, no Aliança, as coisas ainda não tinham entrado em linha reta. Do resto do "incêndio" ainda existiam laivos de fogo e eis que
Luiz Campeão e Francisquinho vêm para o América, ao passo que Pedro Melo e Horácio mudam-se para o Atlético, enquanto Caio e os irmãos Marreiros,
Argentino, Belmiro, Manequinho, pensam em fundar outro clube e aparecia, pouco depois, o Espanha, atual Jabaquara.
Todos os clubes, grandes ou pequenos, têm elementos para contribuir para a história
esportiva de uma cidade e é por isso que descrevemos esses episódios aliancistas, que são, também, episódios de nossa vida esportiva futebolística,
ao seu início. Mas o Aliança, a despeito da evasão e do verdadeiro êxodo de seus jogadores, ainda ficou com um time, no qual figuram, entre outros,
Nezinho, Nogueira, Ventureiro, Quintino (esse excelente centro-médio), Meira, Arribas, Mário Silva, Wansuit e Savary e isso acontecia justamente
quando em 1917 surgia a Associação Santista de Esportes Atléticos, mas a filiação do Aliança à novel entidade é preterida em favor de outro clube, o
S. Vicente A. Clube. Já havia política...
O Aliança, porém, não esmoreceu. Conseguiu novos
elementos, ao passo que Quintino lá se ia para o América. Entretanto, o Aliança conseguia sua filiação, disputando, de início, o torneio da Segunda
Divisão, que era então vencido pelo América, que vai para a 1ª Divisão, para onde também, a seguir, foi o Aliança. Euclides, Jarbas, Açúcar,
Colombino, Savary, Nino, Mário Silva, Estanislau, Roberto, Cacildo, Mário Januário e alguns outros elementos foram os que, até 1926, quando se
extinguiu o Aliança, disputaram suas partidas. Viveu o Aliança 12 anos e sua história é bem um pouco da história do início de nosso futebol.
***
Fundada a Asea, da qual Olegário Lisboa foi o
primeiro presidente, começou, por assim dizer, uma nova vida para o nosso futebol. Os campeonatos eram disputadíssimos. Havia empenho, havia incomum
entusiasmo por parte dos jogadores na defesa de suas cores.
Eram notáveis, então, as disputas entre o Brasil, o Atlético, a
Portuguesa, a Americana, o S.P.R., o América e o Aliança, que formavam o bloco principal.
Muito interessantes eram também os jogos da Segunda Divisão. E memoráveis eram então
as assembléias da Asea, onde, não raro, os representantes credenciados se debatiam em notável torneiro de oratória e de... "sabidez" política. Havia
a então famosa "Comissão de Ferro", cujo quartel-general era na "A Leonesa", onde se discutiam e, não raro, se decidiam, os
grandes fatos do futebol de então.
Foram presidentes da Asea: Olegário Lisboa, Henrique Soler, Nicanor Ortiz, Manoel
Tavares da Silva, Amazonas Duarte, Pedro Paulo de Giovani, Samuel Bacarat. Todos eles tiveram seus grandes momentos.
Em 1922 houve grande "barulho" na cidade. Trata-se dos festejos esportivos
comemorativos do Centenário (N.E.: da Independência do Brasil). A Asea, alegando ser uma
entidade, queria manter e ter a primazia da realização dos festejos. O Santos, por sua vez, também isso queria para si. Houve muita parlenga, muita
discussão, muita viagem para S. Paulo, mas afinal, tudo se acomodou. A Asea teve tempo de tanto esplendor que chegou, em um só dia, organizar dois
selecionados e dois bons selecionados, indo um jogar em Jundiaí, onde empatou por dois pontos, e outro, que jogou em Santos, com os checoslovacos,
que venceram por 5 a 4.
Episódios múltiplos se sucederam e verificaram no futebol amador de Santos até o
advento do profissionalismo. Certa vez, apareceu em Santos um time de jogadores espanhóis, de Gupuscoa. Eram eles para jogar com o Santos, mas
acabaram jogando com a Asea. De outra feita, o Vasco veio a Santos, também para jogar com o Santos, mas golpes de politicagem torceram a engrenagem
da máquina e o Vasco terminou jogando com a Portuguesa, ficando o Santos de amizade estremecida com o Vasco. Fervilhava a política esportiva. A Asea,
de uma feita, chegou a aprovar uma preposição de que, se o Santos quisesse ter com ela relações futebolísticas, teria que jogar com seus clubes
filiados, mas nunca com o seu selecionado representativo, o selecionado cereja. Havia coisas...
Foram campeões da Asea em:
1915 - União - Santos
1916 - Brasil
1917 - Atlético
1918 - Brasil
1919 - Atlético
1920 - Atlético
1921 - S.P.R.
1922 - Brasil
1923 - Portuguesa
1924 - Portuguesa
1925 - Americana
1926 - Portuguesa
1927 - Portuguesa
1928 - Atlas Flamengo
1929 - Santos
1930 - Espanha
1931 - Portuguesa
1932 - Portuguesa
1933 - Portuguesa
1934 - Portuguesa
1935 - S.P.R.F.C.
É - com se vê, das mais brilhantes a "fé de ofício" da Portuguesa nos torneios
promovidos pela Asea. Em 1915, quando se disputava o primeiro campeonato em Santos, na Liga, seu vencedor foi o Santos, mas como este também já era
filiado desde 1913 à Liga Paulista de Futebol, aqui não lhe era permitido fazer parte do torneio citadino com o nome de Santos; disputava, pois, o
alvinegro, esse torneio, com o nome de União. Mais tarde, voltou a ser novamente campeão local, mas aí com seu próprio nome, isso em 1929, embora
continuasse com a principal equipe no campeonato paulista.
O futebol santista sob o domínio da Asea teve grande esplendor. Aqui se realizaram
grandes jogos sob seu patrocínio, tendo vindo a Santos os grandes conjuntos de S. Paulo, inclusive o Coríntians, que veio inaugurar o campo do
Brasil. Os cronistas esportivos de então, que não eram arregimentados em classe, faziam todos os anos um festival sob o patrocínio da Asea. Certa
vez veio o Palestra. Jogo no campo do Santos. Boa assistência. Boa renda... Venceu o selecionado local por um a zero. O juiz foi Petronilho
Gonçalves. O Palestra não gostou...
Os clubes de Santos faziam memoráveis excursões. A esse tempo, as comitivas eram
esperadas nas estações. Visitas, passeios, almoços, jantar etc. Era essa uma das expressões bonitas do amadorismo, mas... tudo passa. A vida
também muda. E, com ela, seu padrão. Hoje tudo é diferente. Amanhã será de outro modo. Quando o Vasco, de uma feita, veio a Santos, todo mundo se
espantava e ficava de boca aberta sacudindo o pescoço, quando se falava que o Vasco era o "esquadrão dos cem contos". Hoje, cem contos é mato... e
um futebolista qualquer com boa "guia" na vida, sozinho, recebe muito mais que isso.
A Asea, por esse tempo, tinha sempre déficits e seus tesoureiros lutavam com extremas
dificuldades para arranjar e contrabalançar as finanças. Todos eles tinham que pôr dinheiro de seu bolso.
Dos grêmios locais, não se falando o Santos, que realizaram excursões, ficaram algumas
famosas: a Portuguesa quando foi ao Rio e venceu o Vasco, pela expressiva contagem de 5 a 3. Foi este o time da Portuguesa: Xisto, Alberto e Álvaro;
Abelha, Felisberto e Costa; Brandino, Cruz, Gonzalez, Otávio e Arnaldo.
Foi essa uma jornada de ouro da Portuguesa, tendo se realizado o jogo no campo de São
Januário, no dia 4 de março de 1928.
À Portuguesa, depois, estava reservada uma outra jornada de glória e de grande
esplendor. O time português, Vitória, de Setúbal, depois de uma larga série de complicações, que ele mesmo provocou, foi jogar em São Paulo e não
perdeu para o selecionado paulista, deixando todos os torcedores estarrecidos, pois jogar em São Paulo, com o selecionado, onde então pontificavam
os tigres da pelota, e não perder, era muita coisa.
Pois o Vitória não perdeu. Também jogou com o C.A. Paulistano e não perdeu, e veio a
Santos para jogar com a Portuguesa. Resultado: Portuguesa, 4, Vitória, 0. Estava salva a "dignidade" do futebol bandeirante, graças a essa
brilhantíssima jornada da Portuguesa, cujo time era então este: Bruno, Nelson e Álvaro; Costa, Gervásio e Abelha; Paulino, Cruz, Brandino, Joaquim e
Arnaldo. Foi juiz o distinto esportista Milton Lima. Houve um tiro máximo contra a Portuguesa, que Bruno (que jogou de luvas) defendeu, e Arnaldo
marcou um tento, anulado, por impedimento.
Esse jogo foi realizado no dia 8 de setembro de 1929.
Magnífica excursão também foi a realizada pela Americana a Santa Catarina, sendo chefe
da delegação o sr. Nelson Camisão. Com muita galhardia, representou o futebol santista.
O Brasil, esse admirável centro de esportividade e de onde
saíram tantos jogadores que logo granjearam fama e popularidade, tem, do mesmo modo, seu nome ligado muito de perto à história do futebol santista.
A "Gota de Leite", como era cognominado, contribuiu com notável acervo para a grandeza e o prestígio do nosso "association", levando também,
para outras plagas, o bom nome do futebol santista, que Siriri, Camarão, Omar, Nabor, Abel, Xisto, Dario, Batista, Seferino, Pedrinho e alguns
outros, de maneira tão eloqüente, representavam.
A excursão que o Brasil realizou a Piracicaba foi uma das memoráveis, tendo na bela
cidade o Brasil jogado com o XV de Novembro, que possuía, por essa época, um respeitável quadro, onde imperavam, entre outros, os Nardine. Depois,
Siriri, Camarão etc. passaram para outros clubes, indo, para o Santos, os irmãos Torres, formando no alvi-negro uma terrível dupla. Xisto, por sua
vez, ia para a Portuguesa, onde ainda hoje se encontra. A vida do Brasil fala muito de perto da vida esportiva santista, cabendo-lhe a glória
magnífica de ser o "Campeão do Centenário" em 1922.
O Atlético, outro líder de nosso futebol de então - o tricampeão da cidade -, é outro
núcleo esportivo a quem se deve, como ao Brasil, feitos notáveis de nosso primeiro futebol, conseguindo sempre apresentar um quadro onde existiam
autênticos "ases", liderados por esse modelo de futebolista que era Oscar Pinheiro. Pinheirinho, campeão do futebol e campeão nas atitudes,
Pinheirinho foi um notável, um extraordinário centro-atacante, cujas virtudes técnicas nem mesmo em nossos dias muitos poderão superar.
Pinheirinho era, realmente, completo e suas jogadas eram de verdadeiro mestre.
Todos os times que vinham disputando os torneios da
cidade apresentavam magníficos "ases" da pelota, em todas as posições, e pelo Atlético passaram também Romeu e Zarzur, Bisoca e outros. A Asea,
temos remetido, viveu dias de grande fastígio e de grande esplendor. Um de seus últimos feitos foi o empate com os vice-campeões argentinos, o
Tucuman, jogo que foi realizado em Vila Belmiro, já em 1930. Dois a dois foi a contagem verificada e o selecionado que representou a Asea era assim
organizado: Edmundo, Pedro e Álvaro; Belido, Dino e Abelha; Boneli, Cruz, Benito, Cardoso e Gonçales. Dino já era um artista da pelota e mais tarde,
como é sabido, deixava o ninho antigo, rumando para o Parque São Jorge.
***
Entretanto, ao lado dos chamados grandes clubes, os
de mais prestígio, de mais popularidade, que vinham contribuindo para a grandeza do nosso futebol, à sombra da Asea, outros também existiam,
pequenos, sem nomes, mas que também entravam com a sua boa dose de contribuição para que a nossa cidade se fosse firmando no conceito geral, como um
grande centro esportivo.
Assim é que, ao lado do Docas, do Espanha, do S.P.R, do Atlas, do Brasil, do Atlético, do
Aliança, do América, existiam outros clubes, como, por exemplo, estes: Luzitano, Edu Chaves, que existiam desde 1913; A.A. Internacional, Sírio, São
Bento, União Fluminense, A.A. Boa Vista, Americano, Tecelagem, Vera Cruz e ainda o Guarujá, este então fundado em 1912. Em 1921, quando era
presidente da Asea o sr. Manoel Tavares da Silva, quase todos esses clubes disputavam o campeonato da Segunda Divisão, assim entrando, todos eles,
cada qual a seu modo, para os capítulos da história do futebol santista aseano, entrecortado, não raro, de acontecimentos que agitavam toda a cidade
e que se refletiam em rumorosas assembléias.
Em fins de 1925, fatos extraordinários agitavam o futebol paulistano, com funda
repercussão em Santos. Em 1926 surgiu, oficialmente, a Laf, isto é, a Liga de Amadores de Futebol. Estava dividido o nosso futebol. Alguns clubes de
Santos passaram para a Laf. O meio esportivo ficou agitado. O mar futebolístico, até então manso, como um manso lago azul, já ia apresentando ondas
revoltas. O aspecto já era outro... E estava declarada a "guerra". Era a Laf contra a Apea, em São Paulo, e era a Laf contra a Asea, em Santos. Em
nossa cidade, o Atlético liderava o movimento lafeano, seguindo os passos do Paulistano, então orientado pelo dr. Antônio Prado, que tinha, na Laf,
um grande auxiliar na pessoa do dr. Mário Cardim.
E surgiram os jogos lafeanos, nos mesmos domingos em que se realizavam jogos da Apea e
da Asea, e o Santos, desde logo, firme, destemeroso, surgiu, desde logo, como o núcleo supremo a combater a Laf, ao lado da Apea, da qual era então
presidente o dr. Guilherme Gonçalves.
José Maria de Matos Júnior era o líder absoluto da Laf em Santos. Pertencia ele ao
Atlético. Era ele quem escalava os jogos e quem indicava os juízes, e quem, em resumo, tudo fazia pela Laf em Santos. A luta entre lafeanos e
apeanos foi intensa e dura, mas os apeanos acabaram vencendo a partida, desaparecendo, então, a Laf, que foi, assim, um episódio de vulto em nossa
história esportiva. Mas, desaparecida a Laf ficaram ainda os rescaldos e o Atlético, não tardou, teve que entrar em luta com a Apea, pois fora
preterido por outro grêmio, não ingressando na divisão principal da entidade paulistana, surgindo daí uma ação judicial entre o clube de Milton Lima
e a Apea, mas, depois, mudando-se radicalmente o ambiente esportivo do Estado, a Apea também desaparecia e com ela a Asea, duas entidades que tanto
fizeram pela grandeza e pujança de nosso futebol.
***
No "cliché" acima figuram os valorosos elementos que formaram o primeiro selecionado
santista, representante da Asea, para a disputa da taça "João Jorge Figueiredo", entre santistas e campineiros, Benedito Soares, Aldo, Cotó,
Basílio, Sérgio, Abelha, Zezé, Constantino, Pinheirinho, Abílio e Melo, foram os "ases" de antanho, que tão bem souberam elevar o nome do nosso
futebol. Aparece, também, no grupo, o saudoso Nogueira, que faleceu em conseqüência de contusão recebida em jogo de futebol, quando, em 1922,
defendendo o valoroso S.P.R., jogava contra o Atlas Flamengo.
Foto e legenda publicadas com a matéria
Deve-se também à Associação Santista de Esportes Atléticos o início do intercâmbio
esportivo com outras cidades. São ainda bem lembrados os memoráveis jogos em disputa da taça "João Jorge Figueiredo", entre Santos e Campinas,
troféu esse conquistado pelos santistas, graças a um bravo pugilo de magníficos futebolistas que então formavam o selecionado santista, podendo-se
citar, entre outros, estes: Ascanio, Cotó, Aldo, Brasileiro, Sérgio, Zezé, Abelha, Constantino, Pinheirinho, Abílio, Melo, Nogueira e mais alguns.
Também a Ribeirão Preto foi o selecionado santista jogar, tendo, igualmente, jogado na capital mais de uma vez, sempre com muito denodo e com muita
galhardia.
O nome da Asea nunca poderá ser esquecido na
história do nosso futebol.
***
A Laf teve sua época, apesar de sua existência
relativamente curta. Em Santos eram lafeanos o Atlético, a Portuguesa, o Espanha, o Síria e outros. Em S. Paulo eram o Paulistano, o Antártica, o
Internacional, o São Bento e mais alguns. Jogos de muita repercussão foram realizados pela Laf em nossa cidade, principalmente quando neles
intervinha o líder lafeano - o Paulistano - onde, absoluto, imperava esse grande jogador ainda não igualado que foi Artur Friedenreich, o mestre dos
mestres.
A Laf chegou a trazer em São Paulo um time dissidente argentino, mas essa entidade, sem
grande consistência para viver, acabou, como dissemos, desaparecendo, para deixar o nosso futebol ainda meio agitado, até o tempo da famosa
pacificação. O Santos, entre todos, foi o baluarte máximo, a coluna mestre em que se apoiavam todos os valores arregimentados na luta contra a Laf e
não é exagero garantir que, sem o apoio e o prestígio do Santos, no Rio, a Apea, inegavelmente, teria sucumbido na luta de vida e de morte em que se
empenhara contra a entidade do dr. Antônio Prado.
A entidade que fosse reconhecida pela Confederação
ficaria, em S. Paulo, com o bastão de mando. A Apea foi a reconhecida. Terminava o memorável prélio. Vencia a Apea. Desaparecia a Laf. Estava
terminada a luta...
***
Estava, realmente, terminada a luta, mas outras
vieram e eis que, alijado da Divisão Principal, preterido por outro grêmio, o Atlético entra em luta com a Apea, para o que recorre aos meios
judiciais, vencendo a questão. Não demorou, também, que se modificasse o ambiente do futebol em S. Paulo. Desaparece também a Apea e, em Santos, do
mesmo modo, desaparece a Asea; de todos os clubes locais, o Atlético deixa a prática do futebol oficial.
***
Todos os nossos clubes, grandes e pequenos, têm a
sua parcela de contribuição para o livro da história do futebol em Santos, e, neste reparo breve, feito, por assim dizer, às corridas, entra,
apenas, um pouco de sua vida e não a sua história, que, escrita capítulo a capítulo, formaria um alentado volume. E desses capítulos, muitos e
muitos, dos mais brilhantes e repassados de feitos magistrais, cabem, inegavelmente, ao Santos F. Clube, cuja história é bem um largo feixe da
própria história do nosso futebol, desde a época em que apareceu o alvi-negro, isto é, em 14 de abril de 1912, e o Santos, já um ano depois, firmava
sua filiação à Liga Paulista de Futebol, da qual saiu ao tempo da cisão, voltando a participar dos jogos em nossa cidade, junto à 1ª Liga Santista.
Em 1914, por assim dizer, o alvi-negro começou a escrever, para o futebol santista, as suas
páginas mais memoráveis e já em suas linhas existiam nomes que eram uma bandeira, podendo-se destacar Milon e Arnaldo, os quais vinham também
jogando pelo Paulistano, e disputaram mesmo, em Buenos Aires, a primeira taça "Júlio Roca". Jogando em Santos, com o nome de União, vencia o Santos
o campeonato local e, em 1916, já o Santos era filiado à Associação Paulista de Esportes Atléticos, passando a disputar o Campeonato Paulista.
Surgiu para a cidade uma nova era para o seu futebol. Todos os grêmios possuíam
elementos de escol. O futebol crescia com a cidade, que, dentro em pouco, poderia contar com uma majestosa praça de esportes, que era a de Vila
Belmiro, trabalho esse de muito vulto para a época, mas que o ardor, o entusiasmo dos alvi-negros, liderados por Urbano Caldeira, jamais deixou
desaparecer, até que veio a Santos o Flamengo e, numa tarde de muita chuva, fazia-se a inauguração oficial da praça de esportes de Vila Belmiro, que
teria, mais tarde, o nome de seu grande e inolvidável batalhador - Urbano Caldeira -, isso ao tempo em que o Santos já se tinha firmado no conceito
geral, como um dos maiores grêmios da cidade, que muito e muito vinha fazendo no sentido de elevar cada vez mais o nome esportivo da cidade.
Entretanto, em 1917, já toda Santos esportiva vibrava de entusiasmo com a chegada do
famoso Dublim, time em que figuravam valores como os de Magarinos, Pereyra, Cabalero, Carbone, Heitor Escarrone, Romano, Maran e Penzalfine, por
assim dizer a fina flor, a nata, dos autênticos "ases" do Uruguai, os quais venceram o Santos por 2x1. O quadro que, representando o Santos,
representou também a cidade, era constituído por estes elementos: Odorico Rato; Arantes e Américo; Ricardo, Oscar Bastos e Pereira; Milon, Marba,
Ari, Haroldo e Arnaldo.
Cumpre aqui, neste breve relato, relembrar e recordar o nome de Ari Patusca, um dos
maiores "ases" que jamais vestiram a camisa do Santos e cujo nome, ainda hoje, com profunda saudade e respeito - sua memória - citado entre todos
quantos esportistas souberam elevar e dignificar a terra santista, que fora seu berço, como o fez, também, o de seu irmão Araken, outro prodígio do
futebol santista, que em tantas e tantas pelejas deu glórias ao Santos e deu glórias à sua cidade, notadamente quando, ao lado de Siriri, Camarão,
Feitiço, Evangelista, Bilu, Osvaldo, Júlio, Athié e tantos outros, inclusive do saudoso Tufí, soube, em prélios memoráveis, escrever páginas de ouro
para o Santos e para a terra de Braz Cubas, que, pelo seu lado futebolístico, depois de passados esses tempos de ouro, reviveu-o, em Vila Belmiro,
quando a cidade toda ia de entusiasmo em entusiasmo ante as façanhas do campeão alvi-negro, que fez o nome de Vila Belmiro ficar conhecido
além-fronteiras, pois que, de regresso de Montevidéu, onde disputaram o Campeonato Olímpico os mais caracterizados times estrangeiros, baquearam
ante o Santos, com o qual apenas conseguiu empatar o time representativo dos Estados Unidos.
Os demais foram, todos, derrotados, não se falando em outros quadros argentinos e
uruguaios que, em Vila Belmiro, depois de terem marcado espetaculares vitórias, aqui vieram conhecer o amargor da derrota, ante o Santos F. Clube,
que teve uma de suas mais expressivas vitórias quando, em jogo noturno, venceu o temível e famoso Bela Vista, integrado de notáveis campeões, que
regressavam, invictos, da velha Europa.
Todos esses e tantos outros fatos não são, propriamente, episódios, que digam e falem
somente à vida do Santos, pois que, pela sua projeção, pelo seu vulto, pertencem, mais ainda, à vida esportiva da cidade.
Já ao longe se pressentiam, entretanto, os roncos dos motores possantes da máquina
profissionalista que se aproxima, mas o Santos, com seu famoso esquadrão, ia levando para outras plagas o valor do futebol santista. Em Minas, na
Bahia, em Porto Alegre, o nome da cidade de Santos era proclamado como a terra do campeão da técnica e da disciplina.
E devemos, ainda, salientar o bom nome esportivo que a cidade já o tinha conquistado
no Rio de Janeiro, graças às memoráveis campanhas que o Santos ali realizava, levando de vencida todos os adversários e somente perdendo o grande
renome de invicto muito depois de haver conquistado glórias inúmeras, reflexo de memoráveis triunfos sobre todos os times cariocas, inclusive,
quando foi inaugurar o campo do Vasco, e quando, por sinal, assinalou uma de suas mais retumbantes vitórias, tendo em defesa de suas cores, entre
outros, estes nomes: Tufí, Bilú, Davi, Júlio, Osvaldo, Camarão, Siriri, Omar, Feitiço, Araken e outros.
Também nos torneios do campeonato paulista o Santos sempre foi um digno e valoroso da
cidade que lhe dá o nome, sendo inúmeros os feitos de brilho ímpar e notáveis os triunfos. Vila Belmiro vingava sempre... até quando o famoso
Molinari foi o melhor "jogador" de um quadro de S. Paulo, que, assim, deu-lhe o título de campeão paulista, honroso título esse que o Santos, com
ele, toda a cidade, viria a conquistar anos depois, livre dos Molinaris e de outros apitadores...
Escreveu o Santos, assim, para a vida esportiva da
cidade, páginas das mais brilhantes, todas elas gravadas com letras de ouro, porque, tanto ao Santos como a outros clubes, seus feitos de ontem
tanto lhe pertencem como à vida esportiva desta nobre, grande, boa e generosa terra santista, que tem dado para o esporte em geral valores dos mais
remarcados, dos mais robustos, dos mais notáveis e dos mais valorosos, alguns dos quais já não vivem e a cuja memória aqui deixamos a expressão
máxima de nosso respeito e de nossa admiração.
O GIGANTE DE VILA BELMIRO
"É ele quem transforma esta Praça de Esportes, ampliando-a, embelezando-a. Noites e dias,
passa-os, infatigável, vendo surgir da amálgama heterogênea dum caos, a maravilha que aí está. E, a calhar, o relato destes episódios
enternecedores: Duas palmeiras moças levantam para o Caos a colma rendilhada. Por exigência de arquitetura, tinham de ser derrubadas. Ao coração
simples de Urbano, que amava as coisas desamparadas, penaliza o sacrifício. Pensa transplantá-las e levá-las à distância, com minuciosos cuidados,
ao novo seio da terra que se abre em dois buracos profundos. E são horas de inquieto desassossego as que se seguem, até que a haste esguia de uma
palma, para regalo do seu olhar regozijado, brote e desponte por entre o gaio viçoso das folhas. TINHA VENCIDO MAIS UMA VEZ..."
(De um discurso do dr. Guilherme Gonçalves,
quando da inauguração da herma de Urbano Caldeira)
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