Reunião em dependências do SAC em 1915
Foto: acervo de Carmen Cabral e sua avó Sylvia Pires Faria de Paula,
imagem enviada a Novo Milênio em 6/6/2006
Os ingleses em São Paulo e Santos
Com a chegada dos ingleses em Santos e São Paulo, muita
coisa mudou. Foi de suma importância o conhecimento trazido nos processos de saneamento, infra-estrutura urbana; transporte e comunicação foram
fundamentais na evolução das cidades. Mas, não foi só nos conhecimentos adquiridos, também o estilo de vida inglês chegou até aqui, os cavalheiros
aderiram ao uso de guarda-chuvas, bengalas e monóculos; as roupas de casimira, calças de flanela, gravatas, calças de barra dobrada à inglesa e o
chapéu redondo. Anúncios de remédios e cosméticos ingleses tornaram-se mais freqüentes.
A alimentação tornou-se mais sofisticada com a importação de manteiga inglesa, chás,
canela, cereja etc. Nas casas, a influência destacava-se nas cristaleiras, aparadores, escrivaninhas, lavatórios e cadeiras.
Ingleses de Santos em fins do século XIX
Foto: A Presença Britânica no Brazil, Editora Pau-Brasil/Lloyd's Bank
No
início do século XX, ser como os ingleses era a grande aspiração da classe média. O footing pelas ruas centrais da cidade, passear, fazer
compras e tomar chá foram hábitos incorporados; falar inglês era chique, o cultivo e a exportação de orquídeas eram exemplos da marcante presença
inglesa no país. Mas, foi na arquitetura a grande influência inglesa: monumentos de ferro e tijolos aparentes são encontrados na cidade,
destacando-se a estação de passageiros da São Paulo Railway.
Os jogos de cricket e tênis, as partidas de golfe e as corridas de cavalos passaram a
ser grandes eventos sociais. Começam a surgir os clubes ingleses, as escolas e igrejas. E é, justamente nesta época, no mês de agosto de 1889 que,
um grupo de ingleses, praticantes do críquete, resolve fundar um clube para a prática esportiva, o Clube dos Ingleses, chamado Santos Athletic Club.
Após a I Guerra, a influência americana se torna mais marcante e, após a II Guerra Mundial diminui a presença britânica no país.
Time de críquete em Santos, em 1891
Foto: Santos Atlético Club
O grande impulso
Santos, em 1888, alcança um desenvolvimento surpreendente através da evolução do
comércio cafeeiro. O lazer e o esporte ganham grande impulso e clubes esportivos e recreativos começam a surgir em uma tentativa de se organizar
atividades atléticas e sociais.
A prática do críquete, originada na Inglaterra no séc. XV, torna-se um hábito
britânico na cidade. Destes jogos de críquete, realizados na praia, surge a idéia de se fundar um clube atlético. Como tantos outros clubes da
época, organizados sem sede social, um grupo de ingleses, liderados pelo australiano Alexander Kealman, reuniram-se nos escritórios da firma Naumann
Gepp & Co e lá elegeram a primeira diretoria do Santos Athletic Club, no dia 15 de agosto de 1889.
Esta diretoria era composta pelo presidente, W. Ellis; vice-presidente W. S. Baillie;
secretário, A. Miller; tesoureiro: A. Sell, e os diretores: J.W. Kempster, E.U. Broad e C.H. Tross.
Salto em altura, uma das modalidades da competição Sportiva Annual, em 1901
Foto: Santos Atlético Club
As cores do clube
A cidade, que contava com 20 mil habitantes e 2.000 casas, no início do ano de 1889,
assistiu a epidemia de febre amarela, que grassava por toda a região.
Contam as lembranças do clube que, tendo sido marcada uma partida de críquete em São
Paulo, o Santos Athletic Club viu seus jogadores serem acometidos pela doença e, em função disto, estabeleceu como suas cores oficiais: azul, do
céu; amarelo, da febre; e preto, do luto. É certo que, em fins de maio de 1889, o surto da febre amarela, após vitimar 733 pessoas, abrandou e, o
Sr. F.S. Hampshire ofereceu Rs 940$000 (novecentos e quarenta mil réis), em nome da colônia inglesa, ao Hospital Beneficência
Portuguesa, a fim de demonstrar a gratidão dos ingleses pelo atendimento e tratamento de saúde que receberam nos dias mais dramáticos do surto.
E, desde o dia 8 de janeiro de 1898, quando a Associação Santos Athletic Club
registrou seus Estatutos Sociais e estabeleceu individualidade jurídica, estas são as cores que passaram a figurar como distintivos do clube.
Comemorações da Sportiva Annual, em 1901
Foto: Santos Atlético Club
A Sportiva Annual
Não eram comuns atividades festivas em um clube esportivo, mas o Clube dos Ingleses
anualmente recebia convidados para sua Sportiva Annual, devidamente registrada na imprensa local. Nestes eventos, o campo era todo decorado com
bandeiras, e uma enorme tenda era disposta ao lado dele, onde se instalava um serviço de buffet para os convidados. Marinheiros e oficiais da
divisão naval que se encontravam no porto dirigiam-se ao clube, onde eram recebidos ao som do hino inglês e organizavam-se provas para participarem
do evento.
Entre as provas de atletismo disputadas no Campo dos Ingleses encontramos salto
a distância, salto em altura, arremesso de peso, corrida de bicicleta, corrida de ¼ de milha, prova dos 200 e 120 metros, além de provas para
crianças, como a corrida da meninas e a corrida dos garotos. Eram ainda organizadas provas como a corrida do saco, cabo de guerra, corrida de três
pernas e a corrida do burro. De todas as provas, a mais esperada era sem dúvida a Challenge Cup do jards flat race, em que o ganhador
levava para casa o Corpo de Ouro.
O cronista De Vaney, no levantamento para o Jornal dos Esportes, provou ser
Santos o município mais esportivo do Brasil e orgulha-se o Clube dos Ingleses de ser o mais antigo clube atlético da cidade.
Primeira sede: pequeno pavilhão de madeira, usado para guardar o material de críquete
Foto: Santos Atlético Club
Primeiras sedes
As primeiras instalações da sede do clube se resumiam a um pavilhão de madeira usado
para guardar o material usado nos jogos de críquete. Esse pavilhão, que também abrigava os vestiários, possuía uma varanda de onde eram apreciados
esses jogos e as competições esportivas.
Em 1908, quando o clube estendeu suas terras até a Rua 206, recém-aberta pela Comissão
de Saneamento, nova sede em madeira foi construída, pelo engenheiro Dr. G. Krug, contendo um pequeno salão onde, nos fins de semana, eram servidos
chás, organizados pelas senhoras.
Em sua campanha presidencial, Rui Barbosa visita o clube em 1912
Foto: Santos Atlético Club
Nesta
época, o clube - que mantém pequena extensão de terra que chega até a praia, aproveita-se disso para colocar sua entrada principal voltada para a
referida rua. Nesta sede foi recebido Rui Barbosa, em 1912.
No ano seguinte, a sede foi transportada para a lateral do terreno, alinhando-se à Rua 186
que, em 1923, passa a se chamar Rua Santa Catarina. Este chalé em madeira tinha sua entrada voltada para aquela rua. Era composto por um salão
central, vestiários, bar e sala de estar, possuía enorme varanda, circundando-o por três lados, de onde se podia ver toda a extensão de terra do
clube. Do seu lado esquerdo encontravam-se quatro quadras de tênis, e do seu lado direito, mais duas. Da varanda também se podia ver a quadra de
tênis localizada no ponto oposto, a esquina da Rua Santa Catarina com a Rua Rio Grande do Sul.
Segunda sede social, de 1908
Foto: Impressões do Brasil no Século Vinte, de Arnold Wright,
publicado por Loyd's Greater Britain Publishing Company Ltd. em 1913
Em alvenaria
No dia 9 de dezembro de 1927, o clube, através da empresa O.Ribeiro & Cia. Ltd., dá
entrada ao pedido de licença para ampliar sua sede social. Do projeto, supervisionado por Dr. Antenor Bué, constava a ampliação da área para a
construção de um salão com palco, salas de leitura e bilhar, sala de estar ampliada e a instalação de vestiários femininos. O pedido foi negado por
ser uma sede em madeira, e tal construção não era mais permitida no perímetro urbano. Além disso, discutia-se a questão do alinhamento do terreno em
relação à Rua Santa Catarina.
Enquanto discute a união ao Anglo American Club, o SAC analisa a possibilidade de
erguer a sede social em alvenaria. O clube estava em grande dificuldade financeira, pois as receitas não cobriam as despesas, e era necessário
esperar que se concluísse a fusão dos dois clubes, o que ocorreu em 19 de abril de 1934 - quando também ficou estabelecida a necessidade de nova
sede social. No dia 18 de julho de 1934 foi expedida a Carta de Habitação nº 144, e o Baile Inaugural da nova sede ocorreu no dia 3 de agosto de
1934.
Chalé em madeira construído em 1913
Foto: Santos Atlético Club
Local Girls Guides Brownies and Cubs Org.
Nessa época, a Associação Local Girls Guides solicitou permissão para construir,
dentro da área do clube, um quarto para guardar material e realizar as reuniões de escoteiros e bandeirantes, responsabilizando-se tal associação
pelos gastos e custos da obra, na qualidade de concessão de uso. Ficou estabelecido que a Associação Girls Guides presentearia o clube com a soma de
três contos de réis, empregados na construção da sala a ser usada para suas reuniões. O cômodo foi erguido próximo às quadras 5 e 6. Em 1937, passou
por reforma e pintura.
Em setembro de 1940, a agora intitulada Local Girl Guides, Brownies and Cubs
Organization encerrou suas atividades, por força da legislação que vigorava na época, e o pavilhão destinado a ela foi requisitado pelas sócias,
sugerindo que fosse disponibilizado para atividades infantis.
Quadra de tênis ao lado da sede social
Foto: Santos Atlético Club
A Escola do Povo
No dia 10 de agosto de 1895, em São Vicente, era fundada a Sociedade Escola do Povo,
para "auxiliar o desenvolvimento da instrução popular". Esta associação se compõe de sócios de ambos os sexos, que contribuíam mensal e
periodicamente ou de uma vez só, o valor de 200 mil réis, tornando este sócio remido. Esta associação funcionava num
terreno doado pela Prefeitura, na Praça Coronel Lopes, 37, e sua primeira diretoria foi presidida pelo Sr. Alberto Veiga.
Escola do Povo em 1913
Foto: revista Fita, ano III, nº 31, de 20 de novembro de 1913
Em
1910, o governo do Estado propõe instalar um grupo escolar em sua sede e contribuir financeiramente para a construção de um salão que se destinará a
refeitório, sala de pintura e música, aumentando a área da Escola do Povo e proporcionando maior infra-estrutura. Embora o acordo fosse firmado, a
verba encaminhada não foi suficiente e o governo estadual recuou na proposta, deixando a associação com uma obra inacabada.
Assim, em 29 de julho de 1911 é convocada uma assembléia geral extraordinária, presidida por
Antão Alves de Moura, para se estabelecer se a escola deve deixar de existir, uma vez que sua razão principal havia sido descaracterizada. É votada
a transferência de todos os direitos sobre os bens para a nova sociedade, que será chamada de Clube Vicentino.
O estatuto do clube assim fundado traz como objetivo da sociedade manter e explorar
uma casa de diversão no local de sua sede, promovendo e facilitando divertimentos de sua e alheia iniciativa. Em caso de dissolução da sociedade,
seu prédio deveria ser doado ao governo do Estado para abrigar um grupo escolar. Os móveis e utensílios que existissem seriam vendidos e seu
produto, depois de quitadas as dívidas, encaminhado ao Asilo de Órfãos de Santos.
Foi instalado um cinematógrafo e organizadas aulas de dança no salão. Também foi
aberto um botequim nas dependências anexas, mas, por falta de público, acabou por fechar. Na tentativa de melhorar a vida financeira da entidade,
foram propostas parcerias a empresas de exibição de filmes, e também ao Theatro Parisien para que realizasse diversões nos edifícios, nos dois casos
sem nenhum sucesso. Isso e a diminuição no pagamento das mensalidades levou a diretoria a concluir que a Casa de Diversões não despertou interesse
na população local. Em 29 de julho de 1916, Joaquim Duarte da Silva deixou a presidência declarando que, diante desse quadro, a associação deveria
ser extinta, o que foi resolvido pelos associados.
Mas, na assembléia ordinária de 25 de maio de 1917, foi aceita a proposta de se
levantar um empréstimo entre os associados para pagar as dívidas do clube e, se necessário, hipotecar o prédio. Assumiu a diretoria presidida por A.
Richards, que em 30 de julho desse ano convocou nova assembléia, para promover alterações nos Estatutos Sociais, modificando o nome Clube Vicentino
para The Anglo American Club.
Em 27 de novembro de 1930, nova assembléia geral ordinária para mudanças no Regimento
Interno, e A. Richards propôs então o início de estudos para a fusão do Anglo American Club ao Santos Athletic Club, como forma de resolver as
dificuldades financeiras. Porém muito tempo se passou até que as questões jurídicas da fusão fossem solucionadas. A completa fusão desses clubes foi
definida na reunião de 8 de julho de 1932.
Terminado o processo de fusão, o SAC assumiu a responsabilidade pelo imóvel de São
Vicente, que tentou colocar à venda, sem sucesso. Em 31 de junho de 1935, foi alugado ao Colégio São Paulo. Em 1938, obteve-se da Prefeitura de São
Vicente o título de propriedade do imóvel, permitindo vendê-lo nesse mesmo ano a Jayme de Almeida Paiva.
Empire Day Sports
Foto: Santos Atlético Club
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