Embrião do melhor futebol do mundo
Houve o primeiro treino de futebol - o novo esporte art nouveau - a 1º de
novembro de 1902, na praia do Boqueirão, defronte ao Miramar. A 7 era fundado o Club Athletic
International (assim mesmo em inglês) no Teatro de Variedades (Praça dos Andradas, esquina da Rua 15 de Novembro), e
dirigido por junta provisória formada pelos srs. João Mourão, André Miller e Quintino Ratto, até 1º de janeiro de 1903, quando tomou posse a
primeira diretoria, assim constituída: Gustavo Goetze, presidente; tte.cel. Joaquim Montenegro, vice-presidente; Ernesto
Rozo, secretário; João Mourão, tesoureiro; André Peixoto Miller, diretor; G. Pool e W. K. Marsland, captains dos 1º e 2º teams. O sr.
Cícero Lima Júnior era o referee oficial do nosso primeiro clube de futebol.
Após quatro meses de intensivos treinos, a rapaziada do C. A. International estava
ansiosa por colocar em prática o longo aprendizado e decidiu contratar seu primeiro jogo intermunicipal, já que o adversário foi o C. A. Ipiranga,
da Capital.
Os players da Colina Histórica, acompanhados dos dirigentes: srs.
Peregrino Vianna, Fábio Prado, Cássio Muniz de Souza, Renato Rudge, Paulino Barreiro, António Campos, Paulo Azevedo, João Mello, Humberto Vianna,
Manoel R. Faria e Octaviano Vaz Souza e Castro, desembarcaram na gare da Saint Paul Railway Cº. (hoje Estrada de
Ferro Santos-Jundiaí) na manhã de 15 de março de 1903.
Às 14 horas, na praia do Boqueirão teve lugar o match que, por ser o primeiro
entre dois clubes, teve grande assistência, incluindo distintas famílias da sociedade praiana.
Os teams formaram com: Armando Pedreira, Geraldo Toledo, Walter Jeffrey, dr.
Armando Prado, Augusto Guerra, Mário Prado, Synésio Braga, Aristides de Castro, Jorge Mesquita, Álvaro Nogueira e Joaquim Prado, pelos visitantes;
J. Thompson, Walter Scrinditch, A. Trail, André Miler, Th. Joyce, E. Cox, G. Gool, Charles Murray, W. Marsland, Lloid e Harold Cross, pelos locais,
atuando na arbitragem o sr. Cícero Lima Jr.
O primeiro tempo, apesar do empenho dos quadros, terminou sem abertura de contagem. No
segundo tempo, o placar foi movimentado três vezes; Pool e Joyce vêm trocando bola desde a sua intermediária até a pequena área adversária, onde
Joyce arremessa a bola ao goal, vencendo o keeper ipiranguista - estava assinalado o primeiro tento do futebol santista, fruto de uma
"tabelinha" muitos decênios antes da Pelé-Coutinho...
Momentos depois, o extrema Pool, mesmo derrubado pelos zagueiros, consegue magistral
passe ao piloto Marsland, que atira para a rebatida infeliz do guarda-valas Armando, e o mesmo Marsland, apanhando o rebote, o devolve às redes sem
apelação. Segundo tento santista. A assistência prorrompe em aplausos.
Quase ao final do partido (como então se dizia), o centro-avante paulistano Mesquita
atira bola indefensável ao goal de Thompson, consolidando o escore de 2x1. Curioso que esse tento também mereceu os aplausos da "torcida"
postada em torno do quadrilátero marcado na areia do Boqueirão.
Findo o jogo, a diretoria do C. A. Internacional ofereceu aos dois teams um
"copo d'água" no Miramar, para onde se dirigiram, acompanhados por grande assistência que vivava entusiasticamente os sportmen.
Comentando o acontecimento, na edição de terça-feira, o Diário de Santos
(fundado em 1872) - que desde os primeiros ensaios se fez paladino do novo esporte - focaliza a disputa ardorosa de ambos os lados e, sem desfazer
dos demais, destaca os jogadores Mesquita, Jeffrey, Geraldo, Armando e Guerra do Ipiranga; Pool, Joyce, Marsland, Trail, Murray, Cox, Walter e
Thompson do Internacional. E termina a longa reportagem desportiva felicitando ambos os clubes "pela belíssima festa de
domingo, iniciando com ela mais um passo para o progresso desta laboriosa cidade, cuja população, pelo que se viu, não permanecerá indiferente ao
futebol".
No domingo seguinte (22 de março), o C. A. Internacional foi a
São Vicente para disputar sua segunda partida, enfrentando o Club Vicentino, na praça do Monumento. O Cidade
de Santos, avesso ao novo esporte, nem registrou o resultado, porém destacou o primeiro acidente futebolístico: um dos jogadores do time calunga
sofreu queda na qual partiu a homoplata. O jornal (fundado em 1898, o segundo com esse nome) aproveita a deixa para atacar a violência do futebol...
A partir do mês de abril, os treinos do C. A. Internacional passam a se efetuar no seu
campo da Av. Ana Costa (onde está agora a Igreja Coração de Maria); pela manhã treinavam os
segundos quadros (formados por nacionais) e à tarde os primeiros quadros, cuja maioria de jogadores eram ingleses ou seus descendentes.
A 28 de junho trava-se o primeiro embate em campo gramado; como adversário dos nossos
pioneiros futebolistas, o aguerrido esquadrão do Sport Club Germania, da Capital, que venceu por 3x0.
O terceiro jogo do C. A. Internacional foi a 6 de julho de 1903. Enfrentando o C. A.
Paulistano, perdemos pela contagem mínima - considerada por todos honrosa, pois o Paulistano vinha de golear (4x0) o Saint Paul Athletic Club,
campeão paulista desse ano.
Antes da partida, Marques Pereira, repórter-fotógrafo de Santos, reuniu no centro do
gramado diretores e jogadores dos dois clubes e bateu a foto que ilustra este trabalho:
Foto publicada com a matéria
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