Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/santos/h0334a.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 05/18/06 11:53:27
Clique na imagem para voltar à página principal
HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - Toponímia santista
Origem dos nomes topográficos regionais

Diversos povos e idiomas participaram nesse processo
Leva para a página anterior
Na sua edição especial de 26 de janeiro de 1939, comemorativa do centenário da elevação de Santos à categoria de cidade (exemplar no arquivo do historiador Waldir Rueda), o jornal santista A Tribuna publicou esta matéria (grafia atualizada nesta transcrição):
 


Imagem: reprodução parcial da matéria original

Toponímia Santista

Origem e significação das denominações brasílicas e portuguesas aplicadas aos lugares e bairros mais conhecidos da cidade e do município de Santos

Como homenagem especial a Santos em seu primeiro centenário de elevação a cidade, resolvemos incluir, também nesta edição comemorativa, este elucidário brasílico-português, que visa eliminar para os santistas os segredos denominatórios de sua terra, rematando os efeitos do grande mapa municipal que adiante estampamos.

Gohayó, Goayó, Guaió ou Guaiahó - Nome brasílico, primitivo, da ilha de S. Vicente, em que assenta a cidade de Santos. Corruptela de Gu-Ai-OG - "cortada, despegada". Alusivo a ter sido a ilha, em épocas distantes, separada do continente pela força e pressão das águas ou fenômeno sísmico violento. Deste nome saiu a denominação GOAIONAZES ou GUAIANAZES, aplicada aos indígenas locais, mais tarde levados para o planalto e que tão grande papel desempenharam no início de São Paulo.

Ilha de S. Vicente - Denominação dada por Américo Vespúcio e André Gonçalves, a 22 de janeiro de 1502, à ilha anteriormente denominada pelos indígenas de GOHAYÓ, quando batizaram o atual estuário santista de "rio de São Vicente".

Enguaguassú ou Yguaguassú - Nome do lagamar interior de Santos, que vai do Caneú até o Itapema, fronteiro ao rio da Bertioga, e por extensão nome também da parte da ilha de S. Vicente banhada por esse lagamar.

Essa denominação foi durante muitos anos objeto de confusões e controvérsias, atribuindo-a o povo e alguns autores, erroneamente, a toda a ilha de S. Vicente e, o que é pior, com a significação de PILÃO GRANDE ou INGÁ GRANDE, abstrusidades hoje completamente vencidas e desprezadas.

ENGUAGUASSU, que foi também, e por extensão, como já dissemos, o nome do primeiro povoado surgido à sua margem, depois tornado Porto de S. Vicente e mais tarde Vila do Porto de Santos, é corruptela de HÉ-NGUAA-GUAÇÚ - "Enseada maior da saída" -, alusivo a ser a maior extensão de águas interiores existentes em Santos e a ficar na saída do rio da Bertioga. YGUAGUASSÚ seria apenas uma simplificação de pronúncia, e sua significação seria ainda: "meio de água grande" ou "enseada grande, maior".

Santos - Nome aplicado pelo povo, naturalmente e com o correr do tempo, ao primitivo povoado de ENGUAGUASSÚ e PORTO DE S. VICENTE - tirado à invocação do Hospital inaugurado pela Irmandade da Misericórdia - "Hospital de Todos os Santos" - em 1543, hospital esse cujo melhor impulso pertenceu indiscutivelmente ao colonizador Braz Cubas, que, a esse tempo, ainda não possuía foro de nobreza.

Muita gente ainda confunde, até hoje, a fundação desse hospital de "Todos os Santos" com a fundação da atual cidade, coisas, entretanto, perfeitamente distintas e distanciadas, datando o hospital, como dissemos, de 1543, e a formação do povoado de Enguaguassú de 1532/33, que se tornou PORTO DE S. VICENTE em 1541, ou seja, desde a transferência do fundeadouro oficial da Capitania, da atual Ponta da Praia, onde ficava, para o lagamar de Enguaguassú. (N.E.: o autor, que parece ser o pesquisador Francisco Martins dos Santos, interpretava erroneamente o diário de Pero Lopes, irmão de Martim Afonso, imaginando que este havia descido na Ponta da Praia, e não em São Vicente mesmo, próximo à Praia do Gonzaguinha).

Embaré - Nome da praia de Santos, desde a chamada "Ponta da Praia" até o "José Menino", onde passa a chamar-se Praia de Itararé, dando início ao município de S. Vicente. Hoje, a praia de Embaré está dividida em quatro seções ou bairros - Ponta da Praia, Boqueirão, Gonzaga e José Menino.

É corruptela de MBARAA-HÉ - "conforto para enfermidades" - por contração MBAR'HÉ, que se pronuncia tal como pronunciamos em linguagem corrente: EMBARÉ.

Refere-se o nome Embaré à propriedade dos banhos de mar tomados nesta praia, para a cura de várias moléstias, circunstância essa verificada já em sua plena verdade e comprovada pela moderna medicina.

Paquetá - Nome do bairro mais oriental da cidade. Não vem de PACA-ETÁ, como parece e como muitos ainda julgam, com a significação vulgaríssima de "lugar ou viveiro das pacas", e sim de PAA-IQUE-TÁ, que por evolução tornou-se PAQUETÁ ou TÁ - de PAA - "atolar" - IQUE - "lado, costado" - e TÁ - apócope usual de TATÁ - "duro, forte", significando "lugar de atoleiro forte" (mais forte do que em outros lugares da ilha habitável). Os velhos santistas ainda se lembram do pântano fortíssimo que lá havia ainda no fim do século passado (N.E.: século XIX), pegajoso ao extremo.

Jabaquara - Nome do bairro que fica para trás da Vila Mathias. Procede do pequeno rio que havia outrora na mesma região, saindo dos fundos dos morros atualmente chamados do Fontana, de S. Bento e Nova Cintra, cortando toda a várzea do Marapé e indo desaguar na praia de Embaré, entre Gonzaga e José Menino. Nele existiu, de 1882 a 1888, o famoso quilombo santista, chamado de JABAQUARA por estar na região daquele nome, e que foi a mais alta expressão do abolicionismo no Brasil. Como, entretanto, JABAQUARA pôde ser traduzido também como "refúgio de fujões", não se confunda um dia o sentido do nome da região ou bairro, com o determinativo indígena do quilombo.

JABAQUARA é corruptela de YAB-A-QUARA - "o buraquento", alusivo ao característico principal do antigo riozinho santista, os sucessivos peráus que a natureza do terreno, pela proximidade dos morros, permitia que se formassem.

Itororó - Nome da fonte histórica, em cujas proximidades se estabeleceram dois dos primeiros povoadores de Santos - Paschoal Fernandes e Domingos Pires. Fica na encosta do Monte Serrate, junto à atual subida.

Itororó aparece nas mais antigas escrituras como TORORÓ e é corruptela de XOORORÓ, simplesmente, ou de I-XORORÓ, "corrente", "manancial" ou "água corrente". O Larousse antigo inclui esta fonte santista entre as águas altamente férreas do mundo.

Marapé - Bairro e morro santistas. É evolução de PERAPÉ e PARAPÉ, como figura em escrituras antigas. De PERÁ ou PARÁ - "mar" e PÉ - "caminho", significando "caminho do mar". Alusivo ao primitivo caminho dos indígenas da ilha, único que existiu durante alguns séculos, comunicando a parte da ilha que deita para o estuário com a parte que deita para o mar grosso. Sabido que os nossos aborígenes, como os primitivos colonizadores portugueses, chamavam o nosso estuário de "rio" (aliás, o famoso "rio de São Vicente", desde 1502), bem justificada nos parece essa denominação brasílica, tornando-o de fato o caminho que levava ao "mar, propriamente dito".

O caminho do Marapé é o mesmo tão citado em todos os compêndios e obras históricas, como sendo o caminho aberto por Paschoal Fernandes e Domingos Pires, fundadores de Santos, os quais, entretanto, nada mais fizeram que melhorar o que já existia, feito pelos índios, para que por ele se fizessem as comunicações com a praia que levava a S. Vicente, independente do caminho que havia por cima dos morros, a desembocar no Cutupé.

Cutupé - Morro alto, que marca o extremo atual do território santista, confinando com o vicentino. Cutupé é denominação dada pelos índios a esse morro, para indicar que era junto a ele que saía o caminho bom para o mar, da banda do Oeste, levando do Enguaguassú para Tumiarú e para a S. Vicente do Bacharel.

A linha divisória de Santos e S. Vicente vai do extremo ocidental da ilha Urubuquiçaba ao alto do morro chamado José Menino, deste ao alto do morro Cutupé, e deste por fim à serra de Paranapiacaba, cabeceiras do rio Passareúva.

CUTUPÉ é a forma evoluída de CATU-PÉ - de CATU - "bom" e PÉ - "caminho", significando "morro do bom caminho", e constituía, portanto, para os primitivos indígenas, uma legítima e visível referência geográfica, como as demais denominações congêneres.

Embaré, ou Pico do Combuca - Estes são os nomes antigos do morro alto, hoje chamados pelo povo de "MORRO DO LOUREIRO" ou "DE SANTA THEREZINHA", por pertencer ao capitalista Francisco Loureiro, que nele vem criando um bairro de verão, tendo construído em seu cume uma bonita capela, sob a invocação daquela venerada santa. Em algumas escrituras, encontra-se este morro nomeado simplesmente "sítio Baré ou do Baré", e esse nome é apenas extensão do nome primitivo da grande praia santista que lhe fica em frente.

Nova Cintra (antigo "Tachinho") - Denominação portuguesa do bonito arrabalde santista situado sobre os morros, onde há uma população de cerca de 1.000 almas, distribuída por pequenos sítios e casas. Este bairro era servido outrora por um elevador hidráulico, até cerca de 1922, quando um grave desastre veio dar fim a esse pitoresco melhoramento.

O nome NOVA CINTRA foi aplicado ao lugar pelo cidadão Luís de Mattos, que lá estabeleceu moradia, junto ao lago da Saudade, levado certamente pela semelhança com aquele pedaço de Portugal, e isto, pouco antes de 1890.

O nome indígena, primitivo, da Nova Cintra, era TACHY ("resvaladio, escorregadio"), alusivo ao morro em que ela assenta, cuja pronúncia pareceu aos antigos colonizadores "TACHINHO", aliás em coincidência com o aspecto topográfico do lugar, que é um vale pouco fundo, entre morros pitorescos, e daí o ter prevalecido essa denominação aportuguesada para esse arrabalde, até o advento de Luís de Mattos.

Vila Mathias - Nome do bairro mais central da cidade, situado ao sopé do Monte Serrate, na banda Sul. Seu nome provém de Mathias Costa, português, antigo concessionário dos bondes a tração animal em Santos, proprietário de todas as terras que hoje formam esse bairro, que as dividiu em lotes e arruou, cerca de 1890, doando à Municipalidade todas as áreas das ruas abertas, como a Avenida Anna Costa, a Rua Júlio Conceição, a Rangel Pestana, a Comendador Martins, a Júlio de Mesquita, a Lucas Fortunato e outras.

Em homenagem a esse cidadão foi dada, à primeira avenida aberta, o nome de sua mulher, Dª. Anna Costa, permanecendo seu nome, em batismo popular, sobre toda a região de suas antigas terras.

Mathias Costa foi assassinado em Santos, por questão de terras, antes de 1900.

Gonzaga - Nome do bairro residencial mais importante de Santos, que passou a determinar também a parte da praia do Embaré que lhe fica fronteira. Procede de ANTONIO LUÍS GONZAGA, o "Gonzaga" como o chamavam, homem gordo, de estatura média, santista de nascimento, que possuía um pequeno negócio de secos e molhados junto ao antigo Caminho do Encanamento (hoje Rua Marcílio Dias), no mesmo local onde está o prédio do Clube XV (ex-Jockey Clube).

Junto à sua venda ficava a saída para o mar para todos os que vinham da cidade, visto que a atual saída da Avenida Anna Costa estava fechada ao trânsito, por achar-se em questão a área necessária à sua abertura até a praia, sendo, por isso, passagem também do "bondinho" de burros que seguia para o José Menino. Antonio Luís Gonzaga foi então, nesse ponto e nessa época, o iniciador das chamadas "cabinas de banho" de aluguel, e faleceu a 10 de julho de 1916, com 62 anos de idade.

José Menino - Nome do bairro extremo da cidade, que faz o seu limite com São Vicente. Provém de José Honório Bueno, o "José Menino", como o chamavam, um dos mais antigos despachantes da Alfândega, homem de grande estatura e corpulência, assim chamado pelos amigos, por antinomia, hábito vulgar ainda hoje, procurando o contraste do apelido com a aparência do apelidado.

José Honório Bueno era dono de todas as terras que compreende, hoje o bairro do José Menino, e sua propriedade, bastante larga, vinha, em diagonal, até encontrar-se com a Avenida Ana Costa atual, seguindo daí em paralelo, até atingir a Avenida Conselheiro Nébias, antiga Rua Octaviana), correspondendo hoje, neste ponto, aos terrenos ainda não construídos da Cia. City, onde estão realizando a grande Exposição comemorativa do Centenário.

Sobre a origem deste nome corriam e talvez ainda correm várias lendas, que devem ser postas de lado, por inconseqüentes e desprezíveis.

Vila Belmiro - É uma das mais recentes denominações da cidade, e determina o bairro central do" Campo Grande", vizinho do "Marapé".

Vem de BELMIRO RIBEIRO DE MORAES E SILVA, que foi prefeito de Santos durante 12 anos, importante figura, não só da sua política, como do seu alto comércio de café.

O bairro do Campo Grande era, ainda à entrada deste século, um vasto lençol de campos encharcados, matas e brejais fortíssimos, onde se refugiava a gente da pior espécie existente na cidade, e onde proliferavam, aos milhões, os mosquitos de toda espécie.

Belmiro Ribeiro comprou, então, todo o centro daquela região, assim como outras glebas mais próximas à Vila Mathias, mandando aterrar o que exigia aterro, abrindo ruas, vendendo aos lotes e fazendo, pouco mais tarde, com que a Cia. City para lá encaminhasse seus veículos elétricos. Fez-se assim o novo e esplêndido bairro, e nele ficou o seu nome, pelo uso popular e pela consagração municipal.

Belmiro Ribeiro de Moraes e Silva ainda é vivo, trabalha em Santos e reside em São Paulo.

Boqueirão - Bairro que fica ao extremo da Avenida Conselheiro Nébias, entre os bairros da Ponta da Praia e do Gonzaga.

A palavra Boqueirão refere-se à circunstância de ter sido ali, antes da abertura da Avenida Anna Costa, o ponto de afluxo de toda gente, a única saída grande para a praia da Barra, formando entre a Rua Octaviana e o antigo Caminho Velho da Barra (hoje Rua Oswaldo Cruz), um "boqueirão" ou grande aberta para a referida praia, e isso desde a altura de 1840, com a construção das primeiras chácaras solarengas de beira-mar, rumo que se tornou desde então, dos carros e berlindas da gente mais abastada, que "viajava" para lá, em estação de repouso e banhos, e, por fim, ponto dos bondes de burro inaugurados a 7 de setembro de 1872.

Junto a ele fica o belíssimo "Parque Indígena", do recém-falecido e benemérito comm. Júlio Conceição, grande parque e orquidário público, chácara formada pela família Carneiro Bastos, cerca de 1880, vendida mais tarde a Azurém Costa e finalmente a Júlio Conceição.

Valongo - O mais antigo dos bairros de Santos, junto ao estuário, à estação da estrada inglesa, à Prefeitura Municipal e à igreja de Santo Antonio. Prende-se esta denominação ao primeiro caminho feito em Santos, junto ao porto, beirando-o em toda a sua extensão, que no século passado chamou-se "Rua da Praia". Como ia ao longo do estuário, do porto, do cais e das antigas pontes de atracação, nos primeiros cem anos, e até mesmo muito mais além, até entrar em função a lei portuguesa, do século dezoito, que mandava denominar devidamente as ruas e praças brasileiras, chamava o povo a esse caminho: "o caminho que vai ao longo do porto".

Acontece ao mesmo tempo que, até 1605, mais ou menos, prevaleceu no lugar a expressão italiana, ou melhor, genovesa "VA AL LUNGO", usada pelos abastadíssimos ADORNOS (José e Francisco), que foram os Cresos da antiga Vila e dominadores do porto santista, senhores que eram do grande Engenho de São João. Daí a formação do nome: VALONGO, ligeira evolução da expressão genovesa e mesmo da forma portuguesa, usadas para marcar o lugar enquanto a lei não forçou o uso de um nome bem definido.

Vila Macuco - Bairro iniciado a contar de 1886, entre a Rua D. Luísa Macuco, a Avenida Conselheiro Nébias e o estuário santista, onde reside grande parte do operariado e do proletariado de Santos.

Prende-se sua história à tradicional família Macuco, possuidora, desde tempos remotos, de quase todas as terras onde se formou todo o bairro. A antiga chácara dos Macucos começava na atual Rua Braz Cubas, junto ao canal da Avenida Campos Salles, seguindo daí até a região da Encruzilhada, atual Av. Rodrigues Alves, abrangendo o antigo Caminho Velho até aquele ponto, e dali avançando até as águas do porto.

Francisco Manoel do Sacramento, nascido cerca de 1780, em Portugal, foi quem, transferindo-se para Santos, adquiriu ali as primeiras terras, aumentando-as aos poucos com novas compras depois de 1820. Havia nas matas do lugar muitos macucos, que Francisco Manoel caçava com freqüência, presenteando aos amigos e conhecidos, a ponto de ser conhecido como o "homem dos macucos" e finalmente como Francisco Manoel do Sacramento, "o Macuco", tal como acontecia no fim de sua longa vida, e de tal forma que passou o apelido à família, cujos varões entraram a assinalá-lo como nome, até sua última filha, D. Luísa Macuco, falecida a 22 de novembro de 1884, que foi, pode-se dizer, a iniciadora do arruamento e loteamento primitivos do atual bairro, motivo por que ficou o seu nome a uma das suas ruas principais.

O nome MACUCO passou, pois, de uma ave da terra ao povoador, e dele aos seus descendentes, voltando novamente à terra, na denominação de um extenso e importante bairro.

Monte Serrate (antigo S. Jerônimo, Morro de Braz Cubas e também Morro do Vigia) - Ignora-se completamente o nome brasílico deste morro tradicional, tão procurado pelos turistas e forasteiros, como pela própria gente da terra, onde há a ermida de Nossa Senhora e um cassino de danças e diversões.

Quando Martim Afonso chegou a esta parte da ilha de S. Vicente e nela deixou o grupo de iniciadores da atual cidade, já esse morro se chamava de S. JERÔNIMO, denominação do "Bacharel" de São Vicente e sua gente, que estendiam seus domínios até a ilha Barnabé, onde "criavam porcos e galinhas de Espanha", como diz Alonso de Santa Cruz, em relato de 1528, publicado em Paris em 1532.

Quando Braz Cubas, no mesmo ano de 1532, nele se estabeleceu com carta de data de terras, onde hoje se acha o hospital da Santa Casa (N.E.: junto à Av. São Francisco: ainda não havia sido inaugurado o conjunto de prédios hospitalares do bairro Jabaquara), os colonizadores entraram a chamar a esse morro, conforme a necessidade de indicação, "Morro de São Jerônimo" e "Morro do Braz Cubas", como ainda hoje acontece, por exemplo, com o morro do Embaré, que o povo chama ora de "Morro do Loureiro", por pertencer a este, e ora de "Morro de Santa Therezinha", em referência à capela da Santa.

Depois que D. Francisco de Souza fez levantar a capela de Nossa Senhora do Monte Serrate no alto desse morro, como já fizera na Bahia e em outros lugares, pela devoção especial que lhe tinha, e isso entre os anos de 1602 e 1603, pelo tempo adiante ficou "Monte Serrate", como denominação definitiva do morro santista, restando o nome "São Jerônimo" apenas à pequena fonte e ao ribeiro que nasciam em sua encosta oriental.

Por ser verdadeira atalaia do porto e barra, chamaram-no, também, no século passado, quando lhe deram um posto fiscal, de observação, "Morro do Vigia", que não prevaleceu e em breve caiu, restando apenas em poucos papéis oficiais e oficiosos da época.

Morro do Fontana - Fica em seguida ao Monte Serrate e possui um bairro suspenso, de pequenos chalés de madeira, atualmente de propriedade do cônsul italiano, comm. Auggusto Marinangeli. Seu nome vem do sogro deste, o italiano Benjamim Fontana, que nele possuía uma chácara em 1885 e, antes disso, junto à selada que faz o morro, na passagem para o Jabaquara, caminho dos antigos abolicionistas, cuja obra foi protegida por Benjamim Fontana, para o famoso Quilombo santista, que ficava na baixada oposta.

Morro de São Bento - Morro vizinho ao do Fontana. Chamou-se no primeiro século, até meados do segundo (1650), "Morro de Nossa Senhora do Desterro", devido à capela que nele havia, no mesmo lugar onde fizeram, então, o mosteiro de São Bento.

O primeiro dono deste morro foi o colonizador ferreiro, Mestre Bartholomeu Fernandes Gonçalves, vindo com Martim Afonso, em 1532, que nele se estabeleceu com casas e oficina, e que foi o fundador plausível da capela de Nossa Senhora do Desterro, considerando, por certo, com exagero de sentimento, a sua situação de desterrado voluntário da sua terra, uma vez que veio contratado, como se vê de uma de suas próprias cartas.

Com sua morte, ocorrida pelas proximidades de 1570, passaram suas propriedades aos filhos e depois aos netos, um dos quais, Balthazar Fernandes Mourão, em 1650, doou aos beneditinos os terrenos necessários à fundação de seu mosteiro, assim como a antiga capela de N. S. do Desterro, que foi transformada e readaptada por seus novos senhores.

Morro da Penha - Em seguida ao de São Bento. Assim chamado por ser todo penhascoso e bordado de dolmens graníticos, muitos dos quais, na abertura da atual Rua Visconde de Embaré, foram removidos ou desfeitos a dinamite, por impedir-lhe o acesso ao caminho de S. Paulo. Foi um dos últimos morros aproveitados pelo homem, pela sua altura e ausência de água fácil. Só de 1880 para cá é que teve início o seu aproveitamento por gente desprovida de recursos, que lhe permitisse ocupar outros lugares.

Saboó - Bairro e morro, depois do morro da Penha. Existe neste bairro, onde tem início o Caminho do Mar, o Cemitério da Filosofia, hoje chamado simplesmente do "Saboó", vindo o nome Filosofia da antiga chácara desse nome, propriedade de Roberto Maria de Azevedo Marques, ilustre poeta e literato, autor de O lenço de Luís XIV, excelente obra poética. Ali se realizavam animadas reuniões intelectuais durante uma boa parte do século passado.

O nome Saboó não vem, como muitos julgavam, de SAPOÓ ou ÇAPOÓ - "raízes" -, alusivo às chamadas "sapopemas", formadas pelas figueiras brancas da região, e sim de ÇAR-OOG - "vegetação arrancada ou nula", alusivo à qualidade granítica do morro e à quase ausência de vegetação de algum porte, equivalendo a "morro pelado", a exemplo do que existem em S. Bernardo, onde nasce o ribeirão Aricanduva, ao de Louveiras, ao de Itaquery, ao de Iporanga, ao de São Roque e ao de Guarulhos, estes dois últimos deturpados para "morro do sabão". Trata-se, pois, de denominação indígena, primitiva, e ponto de referência geográfica para os antigos dominadores brasílicos.

Urubuquiçaba (ou Ilha das Cobras) - Ilhota granítica, junto à praia do José Menino. Seu nome provém de URUBÚ-QUÊ-ÇABA - "dormida ou pouso de urubus", e alude ao fato de ter sido, como era até trinta anos atrás, ponto predileto dos urubus, que, em bandos e em revoadas, procuravam-na à tardinha, para o descanso noturno, até que o movimento da maré e das águas do lugar os afugentaram para novos pousos. Ilha das Cobras foi determinação do século passado, que não pegou, ficando apenas em algumas citações.

Alemoa ou Alamoa - Este estranho nome determina o pequeno e pitoresco arrabalde onde se localizavam (ao Norte da ilha) alguns armazéns industriais, uma vila operária e o antigo Depósito de Inflamáveis e Corrosivos, atualmente transferido para a Ilha Barnabé, pela Cia. Docas.

No século passado, quando os primeiros imigrantes alemães, mandados vir por Nicolau Vergueiro, se localizaram em Santo Amaro, diante do fracasso da primeira tentativa imigratória daquele grande vulto do nosso primeiro império, alguns deles desceram para Santos e regiões do litoral, indo um casal estabelecer-se nessa região isolada do corpo da cidade, para trabalhar nos curtumes (extração de casca de mangue) e nas ostreiras ou "sambaquis" (extração de cal), para vários interessados.

Anos depois, desaparecido o chefe do casal, ficou apenas sua mulher a viver ali, isolada, em seu rancho, cercada de um respeito quase supersticioso da gente humilde da redondeza. Quando alguém queria ir até lá ou até as redondezas, dizia na linguagem dos portugueses provincianos, existentes em grande porção, "eu vou à Alemoa", isto é, ao lugar onde morava a alemã. E o nome ALEMOA, deturpação portuguesa, provinciana, de ALEMÃ, ficou na determinação daquele recanto da terra santista.

Jurubatuba (antigamente Jarabatiba ou Geribatiba) - Nome do rio, da cachoeira e do recanto, fronteiros à cidade. È um dos pontos históricos da terra, onde tinha pouso a tribo de Caiubi. Foi doado em 1532 por Martim Afonso a Henrique Montes, prático da expedição, o qual foi assassinado em 1535 pelas forças do "Bacharel", que invadiram S. Vicente e sua região. Consideradas devolutas as suas terras, obteve-as Braz Cubas, de d. Anna Pimentel, em doação de 25 de setembro de 1536, em Lisboa, para onde embarcara em 1535 e de onde voltou somente em 1540, tendo mandado de lá para tomar posse delas, a seu pai, João Pires Cubas.

Jurubatuba não procede, como erroneamente interpretaram até bem pouco tempo, de GERIBA-TY-BA ou TUBA - "abundância de jaruvás" (espécie de coqueiros) e sim de YERE-ABATY-BAE, contraído de YER'ABATY-BAE, que, na pronúncia indígena, parecia aos primeiros colonizadores JERIBATIBA ou JUBATUBA. Significa "atado e de muitas voltas" e refere-se ao rio, que corre todo entre montanhas, é encachoeirado e dá realmente muitas voltas num trajeto bastante curto, o que alonga a distância aos canoeiros.

Neves - Ponto histórico do município. Arrabalde pitoresco, pouco acima da foz do rio Jurubatuba, onde Pêro de Góes construiu, em 1532, o primeiro engenho de açúcar da colonização, com capela, sob a invocação de "Madre de Deus". Foi o grande reduto dos poderosos Góes, nobres, guerreiros e condestáveis, abrigando, no primeiro século brasileiro, uma verdadeira vila, em casario e população. No século dezoito, com a entrada dos escravos africanos, foi-lhe mudada a invocação para "Nossa Senhora das Neves", protetora dos pretos, e já pertencia então à família Menezes e Sousa. A velhíssima igreja, que era o que restava do antigo fastígio da grande propriedade no século passado, sofreu um incêndio cerca de 1870, e desde aí ficou ao abandono, desfazendo-se cada vez mais em ruínas.

Cubatão - Nome do arrabalde e arraial ao sopé da serra de Paranapiacaba, assim como do rio, ambos famosos, por seu desempenho histórico na colonização e desenvolvimento de São Paulo. Seus primeiros senhores foram: Ruy Pinto, Francisco Pinto e Antonio Rodrigues de Almeida, fidalgos portugueses, dos primeiros povoadores da Capitania.

O arraial de Cubatão foi independente de Santos, sob o nome de "Barreira fiscal do Cubatão", até 1841, quando lhe foi anexado. A barreira arrecadadora que ali existiu foi extinta somente em meados do século passado.

O segundo caminho de Piratininga, o chamado "Caminho do padre José", passava pelo lugar, e disso lhe veio a grande evidência, em que se manteve até hoje, porque o novo caminho do mar, a "Calçada do Lorena", realizado no século dezoito, continuou passando por ele, como passa até hoje, transformado em nossa atual estrada de rodagem para S. Paulo, ou "Estrada do Vergueiro".

O nome CUBATÃO é simples corruptela do tupi CUI-PAI-TA-Ã, contraído em CUI-PAI-TÃ, transformado por assimilação portuguesa em CUBATÃO - "aquele que cai dependurado do alto", alusivo à formação do rio, que cai do alto, primeiro em catadupa e depois em pequenas cascatas, encachoeirado, até distender-se na várzea, a fim de diferenciá-lo dos outros da mesma região, constituindo-o portanto em ponto de referência geográfica para os primitivos povoadores brasileiros.

O antigo transporte de mercadorias e viajantes de S. Paulo para Santos fazia-se em animais até o Cubatão, e dali a Santos em canoas e batelões. Com a realização dos grandes aterros da zona intermediária, inaugurou-se o caminho para Santos, a 7 de fevereiro de 1827, e desde então até hoje, as viagens se fizeram diretas, de Santos a S. Paulo e vice-versa.

Piassagüera - Arrabalde de Santos, junto à Estrada Inglesa, ao sopé da grande serra de Ururay. O primitivo caminho de Piratininga (o 1º) vinha sair ali, até 1553, quando foi transferido para o Cubatão.

Provém de PE-HAÇA-GUÉRA - de PÉ "caminho" - HAÇA "passagem" e GUÉRA - o mesmo que CUÉRA, verbal de pretérito - "o que foi, o que existiu", significando portanto: PASSAGEM DO CAMINHO ANTIGO, denotando assim que é denominação indígena de 1553/1560 mais ou menos, aplicada depois do abandono daquela primeira comunicação.

Paicará - Pequeno bairro e arrabalde da ilha de Santo Amaro, quase fronteiro ao Paquetá de Santos.

É corruptela de PO-ACURAÁ - que os portugueses interpretaram PAE CARÁ, como muita gente ainda escreve. Significa "enseada extensa", alusivo a ser uma várzea muito grande e rasa, cortada de mangues baixos, furados e gamboas, que se alaga comumentemente nas marés altas, semelhando então uma vasta enseada.

De fato, tendo de uma banda o rio de Santo Amaro, facilmente transbordável, e de outra o estuário santista, a várzea do PAICARÁ foi sempre considerada inaproveitável, até que os bananeiros realizavam o milagre do seu aproveitamento em parte, com o enxugo das terras por meio de grandes e fundas valas, em grandes quadrados e talhões.

Icanhema - Pequeno rio e recanto da ilha de Santo Amaro, junto à Fortaleza da Barra Grande. É corruptela de YCAÉ-MA - "que seca e enxuga", alusivo à pouca água deste riozinho que, em certas épocas do ano secava, e que, ainda hoje, diminui tanto suas águas naquelas épocas que seu leito superior fica quase a seco, só não se generalizando esse fenômeno porque o estuário o alimenta com a cheia.

Praia do Góes - Prainha histórica, de duzentos metros, onde aportou, pela primeira vez, a armada de Martim Afonso de Sousa, antes de fundear no "Porto de São Vicente".

A denominação "Praia do Góes" é muito velha, e parece realmente prender-se aos famosos GÓES (Pedro, Luís, Gabriel e Scipião), vindos na armada de Martim Afonso, como elementos de confiança na obra da colonização. É a praia da "Ilha do Sol", a que se refere o Diário de Navegação de Pero Lopes de Sousa, e nela ainda existem as ruínas do antigo Forte da Praia do Góes, levantado em 1765 por d. Luís Antonio de Sousa (o Morgado de Matheus), benemérito governador da Capitania de São Paulo.

Ponta da Praia - Bairro de Santos. Fica ao extremo da praia da barra, ou do Embaré, motivo por que tem esse nome.

Em frente à Ponta da Praia, existe ainda hoje a celebrada Fortaleza da Barra Grande ou de Santo Amaro, de 1584, com a capela do santo desse nome, e junto à linha do bonde, na última volta da praia, vêem-se, ainda, alguns vestígios do Forte Augusto ou da Trincheira, que ali existiu desde o século dezoito, quando a defesa principal de Santos era feita pelos três fortes reunidos, do Góes, da Barra Grande e Augusto.

Ilha de Santo Amaro - Grande ilha, fronteira a Santos, onde estão situados: Bocaina, Paicará e Guarujá. Seu nome primitivo era GUAYBE. É na "Ilha do Sol", do Diário de Navegação, de Pero Lopes, e a ISLA ORIENTAL, do Islario, de Alonso de Santa Cruz, obra importantíssima e imensamente reveladora para o Brasil, escrita, como já dissemos, de 1528 a 1530 e publicada em Paris em 1532, pela primeira vez.

GUAYBE, e não GUAIMBÉ, como escreveram alguns autores, nada tem de comum com o corriqueiro cipó guaimbê, que existe em todo canto e em toda parte, mas traduz um fenômeno geológico ocorrido com a ilha e conservado na tradição das tribos.

Vem de QUAI-I-MB-E, significando "separada por ter sido cortada, arrancada", alusivo a esse movimento sísmico, remotíssimo, que forçara a terra, e separara a ilha da terra firme. Este nome, como se vê, tem muita relação com o nome GOHAYÓ, da ilha de São Vicente, parecendo uma confirmação e complemento do outro, como que chamando a atenção de cientistas e estudiosos para o caso, cujo melhor ponto de referência e melhor ilustração é o morro denominado PEDRÕES, onde, a 200 metros de altitude, existe uma pequena praia de mar, com uma imensidade de conchas e todos os demais característicos da formação marinha.

Guarujá - Nome do conhecido recanto balneário, hoje considerado Prefeitura Sanitária, ponto de recreio de veranistas e turistas de todas as procedências.

O nome GUARUJÁ nada tem de GUARU'-IÁ, "viveiro de guarús ou barrigudinhos" (espécie de peixinhos). É corruptela de GU-AR-YYA, que, na pronúncia indígena parecia "guarujá". Procede de GU - "recíproco" - AR - "ladear" - YÁ - "abrir, gretar, rachar", precedido de Y - relativo, e é alusiva à existência naquele lugar, antigamente, de uma ponta de rochas que se prolongava até o mar (onde hoje está o "Recreio das Pedras"), com uma passagem natural ao centro, permitindo a passagem de pedestres e animais de um trecho a outro da praia do Guarujá propriamente dita.

Eram uns pedrouços altos, outrora certamente mais compactos, que a Prefeitura, cerca de 1908, mandou dinamitar para desimpedir o trânsito em geral, deixando apenas o restante daquele monumento natural, a que o mar vem ter, quase sempre, nas marés altas.

Na sala grande da Prefeitura Municipal existe hoje uma tela do pintor santista Wladimyr Alfaia (Mimi), que reproduz essas rochas do Guarujá, tal como se apresentavam ainda naquela vizinhança de 1908.

Esta é a verdadeira origem donome Guarujá, e constitui a demonstração viva de que os nossos primitivos tupis davam um cunho eminentemente topográfico e geográfico às suas denominações.

Itapema - Arrabalde na ilha de Santo Amaro, fronteiro ao Paquetá. Nele existiu outrora o Forte de Itapema, desde o século dezessete (Forte de Vera Cruz de Itapema), sobre cujos restos foi edificado o atual Posto Fiscal. O primeiro senhor destes lugares foi o nobre Jorge Ferreira, genro de João Ramalho, um dos grandes povoadores de Santos.

Vem de YTA - "pedra" - PÉ - "quebrar, torcer, dobrar" e o sufixo MA (breve), para formar supino, e é alusivo a um pequeno morro tripartido que existe na várzea local, longe, muito longe de qualquer outra elevação ou montanha, parecendo, realmente, pequenos pedaços de montes ali jogados. Constitui, também, ponto de referência geográfica.

Bocaina - Nome aparentemente português do bairro situado na ilha de Santo Amaro, fronteiro a Santos e vizinho ao Itapema.

Por uma curiosa coincidência, tanto BOCAINA, de origem tupi, como BOCAINA, de origem portuguesa, significam a mesma coisa, porém, ainda aqui, a origem é tupi, e a palavra deriva de BOCAINA, por contração: BOC'AINA - "abertura desbaratada, rasa, de um ponto a outro", o que pareceu explicar-se pela existência, a seu lado, do rio da Bertioga, que, com a grande várzea que caracteriza a bocaina, realiza, realmente, uma grande aberta, rasa, situada entre montanhas, que se distanciam e se aproximam um pouco mais somente na Bertioga, e que leva de mar a mar - do estuário de Santos ao mar grosso daquele lado.

O caso da Serra da Bocaina serve de analogia, porque o característico principal daquela serra, situada entre os municípios de Cunha, São José do Barreiro, Areias e Silveiras, é uma grande depressão central, que a torna caminho fácil e útil do planalto para o litoral, buscando o porto marítimo de Mambucaba, no Estado do Rio.

Caneú - Nome do lagamar fronteiro ao Valongo de Santos, cujas águas apresentam uma largura de alguns quilômetros, onde vêm desembocar quase todos os rios, cachoeiras, gamboas, furados e ribeirões formados na serra de Paranapiacaba, da parte de dentro, desde Jurubatuba até S. Vicente, ou formados nos morros centrais da ilha de S. Vicente.

Esta última circunstância é exatamente que lhe dá o nome, significando CANEÚ, segundo o sapiente Frei Francisco dos Prazeres Maranhão: "ONDE AS ÁGUAS SE REÚNEM", que é o que acontece no lagamar santista, como já dissemos.

Todas as demais versões são inconsistentes e abstrusas.

Ilha Barnabé - Pequena ilha imperfeita, fronteira ao Valongo de Santos. Em 1532 denominava-se ILHA PEQUENA, em 1600 já era ILHA DE BRAZ CUBAS, em 1700 passava a ser ILHA DOS PADRES, por pertencer aos padres do Carmo (em parte, ao que parece) e, finalmente, em meados do século passado chamava-se ILHA BARNABÉ, por pertencer a Barnabé Francisco Vaz de Carvalhaes, chefe de importantíssima família local, que foi presidente da Câmara algumas vezes, e nela construiu solar de moradia, cujas ruínas ainda lá estão, em péssimo estado.

Esta ilha é um dos pontos históricos do território santista, e nela a gente do "Bacharel" criava porcos e galinhas da Espanha de 1516 a 1530, vivendo em perfeita harmonia com os índios de Cayubi, Piqueroby e Tibiriçá, que dominavam desta parte do litoral ao planalto, e viviam na ilha de S. Vicente em grande número, conforme depoimento da época.

Foi seu primeiro proprietário, após a chegada de Martim Afonso, o ambicioso Henrique Montes, em 1532. Em 1536 passava à propriedade de Braz Cubas. Cerca de 1630 passava à propriedade parcial dos padres do Carmo, por doação de Pedro Cubas, filho de Braz Cubas; no século passado já figurava como propriedade (parcial) de Barnabé Francisco Vaz de Carvalhaes, pasando deste a dª. Anna Zeferina Vaz de Carvalhaes, e desta aos seus descendentes, dos quais parece ser o último o Barão de Carvalhaes, residente em Pau, na França, que a negociou por alto preço há poucos anos, com a Cia. Docas de Santos, tendo esta transferido para lá os seus enormes depósitos de inflamáveis e corrosivos (gasolina, óleos etc.).

Paranapiacaba - Nome tupi, da chamada Serra do Mar, em seu trecho central, cujo ápice, em grande extensão, faz a linha divisória do município de Santos, com as de São Bernardo, Mogi das Cruzes, Salesópolis e S. Sebastião.

PARANAPIACABA, que, em velhíssimos documentos nos aparece sob a forma de PARANAMPIACABA etc., é corruptela de PERANAIPIAQUABA, de PERA ou PARÁ, "mar", NAI, "porto", PIÁ, "caminho" e QUAB, "passar", que, com o acréscimo de A breve, forma o infinitivo, o qual não tendo caso, significa a ação do verbo em geral "passagem", significando, portanto, PASSAGEM DO CAMINHO DO PORTO DE MAR, expressão que traduzia bem a serventia do antigo caminho de Piratininga, de que já falamos no estudo do nome PIASSAGÜERA.

Primitivamente, este nome referia-se somente à serra central (de Ururay e Cubatão), onde passavam os caminhos de Piratininga, e somente depois da primeira faze da colonização, quando já bem esquecido estava o primeiro acesso para o planalto, é que a nossa Serra do Mar, com todas as suas sub-denominações, de Cubatão, Maroré, Ururay, Cabrataquara, Taçuararira etc., passou a chamar-se indistintamente de Paranapiacaba.

 Leva para a página seguinte da série