Em 1952 o Jabaquara foi quarto colocado no Campeonato Paulista, uma classificação de
time grande. Depois viria a queda para a 1ª Divisão. Agora, a luta é para voltar
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Jabuca pensa na Especial
O Jabaquara trabalha em silêncio. Talvez este seja um
aviso aos interessados e, principalmente, aos adversários. Mas a verdade é que o clube não mede esforço para voltar à Divisão Especial, com um
trabalho de fôlego, baseado em planejamento, renovação e orçamento ampliado.
A diretoria concluiu que a exaustiva maratona para a conquista do título da Primeira
Divisão exige um elenco forte, onde o entusiasmo da mocidade seja temperado pela experiência: contratou-se, assim, Valtinho - que o técnico não
perdia de vista; agora, a ordem é conseguir o futebol de Pagão e Del Vecchio.
O Jabaquara, que começou em 1914, como Espanha, com um grupo de
jornaleiros do Largo do Rosário, hoje é assim: 25 jogadores, com a média de 20 anos; previsão financeira para
aquisição de envergadura; e um comando disposto a trabalhar de verdade.
O Jabaquara de agora, jovem e forte, pensa outra vez na Especial. E não está deixando
a luta por menos.
Mudança a bico de lápis - Normalmente, falar-se de Jabaquara é ter-se uma
imagem de tipo ruim de bola, sempre fora da briga na Primeira Divisão. O presidente Rayceldo Jorge dos Santos tomou uma decisão corajosa para acabar
com essa espécie de tabu que se criou: reformulou seu quadro, chamando gente moça.
Os gastos normais da equipe, os reforços pretendidos, a média de prêmios, tudo foi
calculado a bico de lápis.
O pessoal pôs a mão na cabeça, ia dar prejuízo, as despesas mensais chegariam a NCr$
40 mil, quase o dobro da receita, quase uma loucura. Uma idéia, então, surgiu: a dos "Leões" de ouro e prata, a NCr$ 300 e 100 cruzeiros. Os gastos,
mesmo assim, não serão cobertos. A tesouraria do clube, contudo, responsabilizou-se pelo resto.
A força para subir - O Jabaquara melhora para subir. O técnico Jackson declara
que agora não pode reclamar muito, só pretende mais um atacante de área e um homem para a armação. Os outros, que queria, conseguiu: Pardal, do
Santos; Cacalo, que jogava no Paraná; e Valtinho, que estava no São Paulo e no Paulista, de Jundiaí.
Antes dos três, mais reforços chegaram: Dedão, Ademar, Buzzone, Sérgio Cunha, Alcides,
Carriça e Isaías.
Jackson tem quase um novo elenco nas mãos. Poucos jogadores são do ano passado. Agora
o Jabaquara tem gente moça e de futebol comprovado: Buzzone, o mais velho, tem 28 anos e é atacante de choque e de grande poder de área.
A gente jovem no novo Jabaquara: Antenor, como exemplo, tem 16 anos; Marcílio, com 18,
vai lutar com Cacalo pela posição.
Equilíbrio na experiência - Na renovação, o Jabaquara não esqueceu dos "velhos".
Um emissário está em Buenos Aires, tentando, pelo menos, o empréstimo de Del Vecchio, que joga pelo Boca Juniors. Aqui, a ordem é conseguir Pagão, o
jogador que convém por ser o equilíbrio numa linha jovem e vibrante.
Guerra é no campo - Mário Baraçal, um dos diretores do Futebol Profissional,
fez um perfil da equipe e disse que, este ano, a coisa mudou de figura: a renovação partiu de cima e terá efeito em todos os setores.
"Este quadro não tem lugar para medalhões, joga quem ensopa a camisa e mostra o jogo
jogado. Dentro desta filosofia trabalhamos. Já conseguimos boas aquisições. Caímos em 63, estivemos sempre por baixo. Agora, entramos na guerra para
valer, sem golpes de secretaria, sem nada. Nosso negócio é o título da Primeira, sim senhor, mas queremos ganhá-lo dentro do campo".
O diretor foi rápido na conclusão: "Não é possível continuar como estava. Afinal de
contas, o Jabaquara tem sua história e sua tradição. É o time que tem a maior torcida da Baixada Santista e precisa honrar esta tradição".
A história, ontem e hoje - Aqueles jornaleiros que faziam ponto no Largo do
Rosário, hoje Praça Rui Barbosa, nem sonhavam que o Espanha, um modesto clube de futebol que fundaram aos 14 de novembro de 1914, para suas
brincadeiras nos fins de semana, se transformasse na agremiação de maior torcida da Baixada.
Como bons espanhóis - quase todos os fundadores eram espanhóis ou descendentes - não
pensaram muito para escolher o nome: Espanha Futebol Clube. E foi Espanha até 1940, quando todas as agremiações brasileiras que tinham nome de
outros países foram obrigadas a mudar de nome.
A batalha do nome - Foi travada uma verdadeira batalha para a escolha de um
novo nome. Depois de alguns dias, três foram selecionados para votação da assembléia geral: XV de Novembro, Comercial e Jabaquara. A primeira
sugestão, XV de Novembro, com pouco apoio, foi eliminada logo no começo; depois, Comercial Futebol Clube, que também não foi aceita.
Finalmente, um grupo fez a observação: "Por que não ficamos mesmo com Jabaquara
Atlético Clube? Afinal de contas, quase todos os fundadores do Espanha moram no bairro do Jabaquara!"
O nome Espanha morreu naquele instante.
Da história, pouco sobrou - Hoje, com mais de meio século de existência, a
história do "Leão do Macuco" existe somente para alguns batalhadores antigos, como Zeferino Moran, Cesar Ruas, Damasco Paiva Magalhães e
Júlio Moreno.
"É uma pena - dizem eles - que um clube tradicional como o Jabaquara não tenha um
arquivo digno de sua história".
O arquivo com toda a história do Espanha e Jabaquara estava na casa de um antigo
massagista do clube. Um dia, alguém foi buscá-lo, mas ele havia desaparecido. Do início do Jabuca, pouca coisa ou nada restou: até os
recortes de jornais, livros de ata, registro de atletas e outros documentos desapareceram.
Agora restam somente alguns livros de ata dos anos de 1937 a 1946, dois livros de
registro de jogadores - um de 1939 e outro de 1946, ainda quando era Espanha - e um de registro dos jogos que o Espanha disputava. Do Jabaquara, nem
este último existe.
A verdade da queda - O Jabaquara nasceu de um bate-papo de esquina. Subiu,
dominou a Baixada, tornou-se esquadrão que fazia até o Santos tremer. Depois, a queda.
As explicações sobre o rebaixamento do clube foram e são muitas: algumas diretorias
foram acusadas; os associados foram acusados de deixarem tudo para a diretoria; e um sem fim de explicações. Mas a verdade, a causa da queda, todos
sabem: Nicanor Martinez, Emilio Perez, Miguel Parada e Manuel Cabral, que foram corpo e alma do Jabaquara, não tiveram continuadores.
Anúncio da inauguração do estádio do então Espanha F.C. no Macuco, em 15/11/1939
Imagem: reprodução do jornal santista A Tribuna, 15 de novembro de 1939
A foto, de julho de 1966, pertence ao arquivo de Reginaldo Emmerich de Souza. Ela mostra a equipe
do Espanha, campeã invicta do Primeiro Campeonato de Futebol de Campo do Caiçara Clube. O time tinha como capitão o craque Cássio, ex-zagueiro do
Santos Futebol Clube. Agachados, os campeões: Édio, Cássio, Maia, Vaguinho, Reginaldo, Átila e Milton
Foto e legenda publicadas no jornal santista A Tribuna, na seção Imagem do passado, em
15 de dezembro de 2006
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