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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Cidade "plana", mas cheia de morros

Vila Progresso, o bairro mais alto de Santos
Foto: Secom/PMS

Em comparação com a capital paulista e outras cidades, Santos é lembrada como uma cidade de planície, sem ladeiras que dificultem o trânsito. É que a ocupação das áreas de morro só começou efetivamente em fins do século XX, após a abertura de ligações viárias entre os inúmeros morros - tantos que os próprios santistas até esquecem de alguns deles, numa tentativa de enumerá-los.

Alguns desses morros tem nomes curiosos, que o pesquisador Olao Rodrigues buscou explicar em Morros - sua Toponímia - um dos capítulos de sua Cartilha da História de Santos, editada em 1980 e impressa na gráfica da Prodesan:

Morros - sua toponímia

Olao Rodrigues

SABOÓ - É o primeiro do conjunto de morros habitados de Santos, que se estende do Saboó ao José Menino. Saboó fica na mesma área do bairro que se tornou muito popular devido à localização do Cemitério da Filosofia, que o povo chama de Cemitério do Saboó, dizendo-se noutros tempos ser o campo-santo dos humildes, ao contrário do Paquetá. Certo porém que em nossos dias o cemitério mais simples do Município é o de Areia Branca.

Saboó é um morro de constituição física granítica, de rala vegetação. Corruptela de Ça-oóg - de Çab que significa pêlo, cabelo, pena, vegetação - e Og - que exprime em tupi-guarani tirar, arrancar -, precedido de "o" para revelar coisa natural e não porque a vegetação tenha sido arrancada artificialmente ou por mão do homem, o que quer dizer que Saboó sempre careceu de matas. Assim se definiu Francisco Martins dos Santos em sua História de Santos. Há vários morros pelados, como em São Roque e Guarulhos, exemplifiquemos.

FONTANA - Chama-se Fontana porque, no passado, os donos de suas terras eram os Fontana. Há 83 anos (N.E.: em 1897, portanto), Benjamin Fontana, que veio a ser sogro do comendador Augusto Marinangeli, vice-cônsul da Itália, dono de chácara e terras no morro que tinha seu sobrenome, quis abrir um túnel sob o Morro do Fontana para o assentamento de trilhos para bondes movidos a muares, cuja linha percorria vários pontos da Cidade.

Para tanto requereu permissão à Câmara Municipal, que mandou ouvir a Comissão de Obras e Viação. Afinal, o túnel não saiu. Deveria ser construído na garganta do morro, bem perto de onde se situava a famosa Casa da Pólvora. Todavia, o plano de Benjamin Fontana deve ser considerado como pioneiro na espécie, pois só 55 anos após é que se construiu um túnel, como se sabe, mas sob o morro ao lado, o do Monte Serrate. (...) Faz-se oportuno registrar que o Hospital da Santa Casa da Misericórdia permaneceu no sopé do Fontana durante cerca de 100 anos, daí se transferindo para as instalações atuais, no Jabaquara.

BELMIRO - O Morro do Belmiro é pequeno morro entre o Fontana e o Pacheco. Assim denominado porque o proprietário de suas terras, ou da moradia, chamava-se Belmiro Ribeiro de Morais e Silva, capitalista e comerciante. Como político, foi vereador à Câmara Municipal e ascendeu ao posto de prefeito municipal, que exerceu por duas vezes ou de 1910 a 1914 e de 1920 a 1924, como também presidente da Câmara Municipal.

BUFO - Há munícipes que habitavam e ainda habitam morros que diziam e dizem da insubsistência do Morro do Bufo, não passando, segundo eles, de fantasiosa criação popular. Mas o Morro do Bufo existe, de verdade. É a parte posterior do Morro do Fontana, quer dizer, um morro com dois nomes. Talvez falem da sua inexistência por não ser morro cercado de habitações, como quase todos os demais.

Está devidamente configurado na Planta do Conjunto dos Morros de Santos, levantada em 1963 pela Sociedade de Levantamentos Aerofotogramétricos e adotado pela Prefeitura Municipal, através da Prodesan, pela Divisão de Arquitetura e Urbanismo. Encontra-se, repetimos, na parte posterior do Morro do Fontana, à saída do Túnel Rubens Ferreira Martins, direção Centro-Praias, alcançando embaixo o bairro do Jabaquara, onde se localizam a Rua Prof. Celso Cunha Alves, Rua Gastão Vidigal, Av. Waldemar Leão e, logo depois, a Rua Marechal Carmona, entre outras.

PENHA - Sobretudo o povo humilde, em sua fértil imaginação, é o maior criador de nomes de bairros, núcleos e vias públicas. Em Santos há muitos exemplos. Penha é um deles. Não apenas o núcleo, como a via pública e o próprio morro. Oficialmente, o bairro denomina-se Valongo (N.E.: posteriormente a este texto, foi reconhecido no Plano Diretor de Santos o topônimo Morro da Penha). Havia, porém, ou ainda há, um morro que se fazia distinguir em seu sopé por uma rocha saliente, rala de vegetação. Foi a conta. Deram ao morro o nome de Morro da Penha. Faz séculos.

Também o núcleo ficou conhecido como Penha. Foi instalada, na área, famosa cervejaria à qual os proprietários deram o nome de Penha: Companhia Cervejaria Penha. Lembram-se? Havia até uma rua, antes travessa, com esse nome. Antes, muito antes, por volta de 1800, o vulgo chamava a pequena rua de Sete Casas.  Afinal, por iniciativa do vereador Xavier Pinheiro, a Rua da Penha passou a denominar-se Rua Marquês de Herval, em homenagem ao legendário Osório, que visitou oficialmente Santos no dia 29 de novembro de 1877.

Eis aí, portanto, a origem do nome de Morro da Penha. Como os seus vizinhos, é habitado por gente trabalhadora e humilde, correta e pobre. Também dispõe de água potável, iluminação pública e particular, telefones e de outros recursos de utilidade e comodidade pública.

PACHECO - É um dos morros que se situam na entrada da Cidade. É o mais aprazível sítio para morar-se em Santos, terra estival por excelência, desde que as moradias em morros observem os mais sólidos recursos de segurança e não [sejam] edificadas sobre pontos críticos. A denominação provém de cidadão português de sobrenome Pacheco, que se tornou muito popular na área. Homem de alguns recursos, dispunha de terras e chegava a cobrar, por cabeça, aluguel a animais bovino, caprino e cavalar, que lá pastavam, dizendo-se que também possuía vendola muito procurada pela gente das redondezas. Tão conhecido se tornou que, invariavelmente, diziam à guisa de informação: "Vá por ali pelo Caminho do Pacheco". A área também se tornou tradicional por nela existir a Chácara do Barreiro.

O Morro do Pacheco, em todos os tempos, foi habitado por gente humilde, trabalhadora e honrada. Até prefeito municipal já deu! Sim, o atual chefe do Executivo, sr. Paulo Gomes Barbosa, residiu com sua família no Pacheco, dos 2 aos 20 anos. Criou-se, pois, no morro, que sobretudo, neste período em que ele chefia os públicos negócios do Município, significa-lhe orgulhoso o honroso título cívico-social.

Muita gente mora hoje no Pacheco, inclusive um homem de 90 anos, Seu Antônio Pinto, lúcido, revestido de clareza de inteligência. Gente boa, repetimos, para servir à qual subsiste a Sociedade Melhoramentos do Morro do Pacheco.

Bairro do Jabaquara e seus morros, com o hospital da Santa Casa em primeiro plano
Foto: Secom/PMS

JABAQUARA - Ladeando o de Nova Cintra, o Morro do Jabaquara também é histórico. Noutros tempos, de suas fraldas, nascia pequeno rio que despejava as águas no Estuário depois de cursar o bairro que se tornou o reduto estrênuo da libertação dos negros cativos. Pois foi nesse arrabalde que existiu o maior quilombo de Santos, o do Jabaquara, administrado por Quintino de Lacerda. Em seu livro Memórias e Viagens, assim o descreveu o imortal Silva Jardim:

"Vejam esta série de casinhas, ligadas entre si, num grande barracão, precedidas de um armazém, que serve fornecimento a todos. Em frente ao terreiro, o pátio comum, e em banda, um caramanchão para descanso geral e para festa. Deste lado a planície, que olha a terra, deixando à margem o mar, que murmura ao longe, nesta planície estão as terras aforadas onde os pretos trabalham; deste lado a montanha, enorme, que defende o quilombo contra a cidade, no caso de ataque; um só carreiro, dificilmente transitável e sempre vigiado pelos espias do chefe, podia servir de comunicação. Vejam ali, naquela encosta, uma única habitação anterior ao quilombo, e a ele cavaleiro; casa de campo de um abolicionista, palmeiras ao derredor, dando ares daquele quilombo no Leblon, do Seixas, do Rio de Janeiro, que avista do alto o mar quebrando na areia, em Copacabana, e de onde vieram flores à Princesa no dia 13 de maio".

Casebres do Quilombo do Jabaquara ainda existiam  em 1900
Foto: J.Marques Pereira

NOVA CINTRA - O primitivo nome do morro foi Tachinho, atribuído por seus moradores, quase todos chacareiros portugueses, que o teriam adotado de um arrabalde montanhoso, quiçá, de sua terra. Durante a metade do século passado (N.E.: século XIX), recebeu a denominação também portuguesa de Nova Cintra (Sintra), nome igualmente de chão de Portugal. No passado, Nova Cintra tinha mais atrações e era mais visitado, pois os santistas e não santistas escolhiam-no como ponto preferido de passeio.

Quem lhe deu o nome atual - afirma-se - foi o cidadão português Luís de Matos, que se tornou figura de evidência na Cidade e um dos líderes, senão o líder, da colônia lusa, vice-cônsul, que chegou a ser, de Portugal. Homem de cultura, capitalista e de idéias adiantadas, foi o codificador do Racionalismo Cristão, movimento religioso que se criou em Santos e hoje difundido em algumas partes do mundo.

Entre as atrações de Nova Cintra distingue-se a Lagoa da Saudade. É logradouro aprazível, de clima privilegiado, onde hoje residem centenas e centenas de famílias.

Nova Cintra tornou-se muito popular no passado, por dispor de serviço de elevadores movidos por tração hidráulica, cuja estação inicial se localizava no sopé do morro, alcançada por bondes elétricos da linha nº 16. O funicular de Nova Cintra funcionava de hora em hora, das 6 às 11 horas e das 14 às 18 horas. Em 1913 seu procurador era Maurício Gazarini e, chefe do Tráfego, Antônio de Brito. No dia 29 de maio de 1922, exatamente às 15h30, quando o bondinho transportava 14 passageiros, entre homens, mulheres e crianças, "despencou do alto da colina e, depois de várias peripécias, veio chocar de encontro à aba do morro, quase no sopé da estação inicial". Morreram 2 pessoas e 11 sofreram ferimentos, inclusive um moço que teve a perna amputada.

Faz-se também oportuno registrar que, no dia 1º de outubro de 1972, em ato presidido pelo general Clóvis Bandeira Brasil, interventor federal do Município, foi inaugurado o serviço de ônibus para Nova Cintra, o da linha nº 61, do Serviço Municipal de Transportes Coletivos (SMTC), com ponto final na Praça Guadalajara, também criada pelo interventor federal Clóvis Bandeira Brasil ao assinar decreto nº 3.7883, de 24 de julho de 1970.

Na oportunidade inaugural do logradouro em homenagem à cidade do México que acolheu carinhosamente a delegação de futebol do Brasil (que participou do Campeonato Mundial de Futebol em 1970, no México, tornando-se campeã, ou tricampeã), discursaram os srs. engenheiro Otávio Cavalheiro Alves, do SMTC; engenheiro Aníbal Martins Clemente, presidente da Prodesan; coronel Chaves e Amarante, secretário de Serviços Públicos do Município; jornalista Antônio Nunes e general Clóvis Bandeira Brasil.

Em 1979 Nova Cintra e Marapé foram ligados por via asfaltada que recebeu o nome de Avenida Brasil, em consonância com o Plano de Interligação de Morros, havendo nas proximidades da Lagoa da Saudade, em Nova Cintra, marco comemorativo do empreendimento, erguido pela Prodesan. Essa importante obra pública foi iniciada em novembro de 1977, durante a gestão do prefeito municipal dr. Antônio Manoel de Carvalho.

Por derradeiro, vale salientar que Nova Cintra já deu uma Rainha de Carnaval. Foi Lindalva Lopes, eleita Rainha do Carnaval Oficial de Santos em 1969.

Lagoa da Saudade, no Morro da Nova Cintra, em 1998
Foto: Tadeu Nascimento (Secom/PMS)

MARAPÉ - Morro que se estende entre o Santa Teresinha e o Nova Cintra, no bairro do mesmo nome. De conformidade com o historiador e estudioso da língua Tupi, o saudoso Francisco Martins dos Santos, em História de Santos, Marapé é evolução de Perapé (depois Parapé como figura em escrituras antigas e depois ainda Marapé). Decorre de Pera (mar) e (caminho), significando Caminho do Mar. Alusão ao primeiro caminho dos indígenas, único que existiu durante séculos, comunicando a parte da ilha que deita para o Estuário com a parte que deita para o mar grosso.

O caminho do Marapé era o mesmo aberto por Pascoal Fernandes e Domingues Pires, os primeiros povoadores de Santos, que nada mais fizeram do que melhorar o que já subsistia, aberto pelos aborígines, para que por ele se fizessem as comunicações com a Vila de São Vicente. Trata-se, portanto, o Marapé do único caminho que, no passado, havia para a ligação com São Vicente através do Morro do Embaré, já no vizinho município.

No final da Rua Dr. Carvalho de Mendonça alcança-se o Morro do Marapé. Em novembro de 1977, o prefeito municipal, Dr. Antônio Manoel de Carvalho, iniciou simbolicamente as obras de ligação do Morro do Marapé e Morro de Nova Cintra, mandando construir rodovia asfaltada, vinculando os dois promontórios - a Avenida Brasil - como série inicial do Plano de Interligação dos Morros de Santos. Em Nova Cintra, junto à Lagoa da Saudade, foi fincado marco comemorativo dessa obra que ligou os dois morros santistas.

O prefeito Antônio Manoel de Carvalho (à esquerda) e diretores da Prodesan
(inclusive o presidente, engenheiro José Lopes dos Santos Filho, ao centro na foto, com terno) inspecionam as obras da Avenida Brasil na subida do Morro do Marapé, em junho de 1978
Foto publicada no jornal A Tribuna em 27/6/1978

SANTA TERESINHA - Um só morro com dois nomes: Santa Teresinha e José Menino. Constituindo-se em sociedade, Cláudio Pires Castanho Doneux, Engiberto T.H. Van Wee, Júlio Kneffer, Rosa Marsaiolli e Luís Marsaiolli adquiriram 400.000 m² do Morro de Santa Teresinha para empreendimentos imobiliários.

Revestindo de calçamento uma ala do Morro, reconstruíram a Capela de Santa Teresinha, ergueram amplo cassino, de dois pavimentos, com mirante no andar superior, onde houve reuniões sociais e artísticas durante a noite, com jantares, e o transporte também servido por ônibus especiais. Era cobrado pedágio, descontado na consumação no Bar do Planalto.

Mais tarde, o cassino foi adquirido por Édison Arantes do Nascimento, Pelé, que pretende nova construção, quiçá residencial, quiçá comercial, e há plano geral para erguimento de residências unilaterais de fina concepção arquitetônica.

Primitivamente chamou-se Morro do Cutupé, inclusive o Morro do José Menino que, como dissemos, é a mesma área em conjunto do Morro de Santa Teresinha, por cujas encostas caminharam figuras ilustres, como Martim Afonso, Braz Cubas, José Adorno, Francisco Adorno, Pascoal Fernandes, Luís Pero de Góis e outros. Séculos depois, já em nosso tempo, o morro passou à propriedade de Francisco Loureiro, que ergueu capela em honra de Santa Teresinha do Menino Jesus e o povo passou a denominar aquele pedaço de morro do José Menino de Morro do Loureiro. Seus atuais proprietários adquiriram o acervo de Antônio Ferreira da Silva, mais conhecido por Nhonhõ.


Praias santistas, vistas do Morro do José Menino em 1998
Foto: Tadeu Nascimento (Secom/PMS)

MORRO DO JOSÉ MENINO - Como o seu vizinho Santa Teresinha, situado ao lado, na mesma elevação, o José Menino assinala o extremo do território de Santos, tendo ao lado o Morro do Embaré, ou o Itararé, popularmente designado, já sob jurisdição de São Vicente. Como referimos, é o mais alto de Santos: 220 metros de altitude. Antigo Cutupé, que é forma evoluída de Cat-pé, de Catu (bom) e (caminho), significando Morro do Bom Caminho. Seu acervo de terras pertenceria à Irmandade da Santa Casa da Misericórdia de Santos.

MONTE SERRATE - Morro turístico. Há a Rua Monsenhor Moreira, pavimentada, em curso percurso se ostentam os nichos da Via Sacra construídos por iniciativa de A Tribuna, por meio de subscrição pública. Ainda se destacam os elevadores movidos pelo sistema funicular, em cuja estação, no Planalto, existe restaurante e bar no pavimento térreo, enquanto no pavimento superior, qual mirante, se avistam parte da Cidade, porto e Vicente de Carvalho.

Mais adiante, o Santuário de Nossa Senhora do Monte Serrate, mandado construir em 1602, como simples capela, por D. Francisco de Souza, governador geral do Brasil, que lhe deu imagem da Santa do Morro e confiou sua custódia e manutenção aos Beneditinos. Ao lado do templo, o salão de ex-votos, em que se expõem os mais curiosos objetos como resgate de promessas por graças alcançadas de Nossa Senhora do Monte Serrate.

Nossa Senhora do Monte Serrate é a Padroeira de Santos, coroada a 8 de setembro de 1955, oficializada por lei municipal sancionada em 1954 pelo prefeito municipal dr. Antônio Feliciano. Durante os festejos da Padroeira, a 8 de setembro, o movimento de fiéis ao morro é inusitado, tanto pelos elevadores como pelo caminho arruado.

Antigamente, o edifício do Cassino Elevadores Monte Serrate S/A era exclusivamente cassino com funcionamento todas as noites. Segundo a história, quando Santos, indefesa, foi assaltada pelos piratas holandeses de Van Spilbergen, a população subiu o Monte Serrrate, principalmente mulheres e crianças, refugiando-se junto à capelinha de Nossa Senhora. Ouvindo o clamor público, a Rainha de Santos colocou em fuga os invasores que tentavam alcançar o Planalto, fazendo desmoronar parte do morro, soterrando os perseguidores e pondo em fuga, espavoridos, os que ainda se achavam na baixada. Foi o primeiro e grande milagre da Senhora do Monte, protegendo e salvando a população de Santos daquela época.

Prédio do antigo cassino, no alto do Monte Serrat
Foto: Secom/Prefeitura Municipal de Santos

SÃO BENTO - Como o de Nova Cintra, o de São Bento é o morro mais habitado. Tem essa denominação porque em sua subida se ergue desde 1650 o Mosteiro de São Bento, construído sobre a Capela de N. S. do Desterro. O Mosteiro de São Bento guarda e mantém o Santuário de Nossa Senhora do Monte Serrate, construído em 1602, por ordem de D. Francisco de Souza, governador geral do Brasil.

Noutro século, na área fronteira ao mosteiro havia jardim emoldurando fonte de água límpida e prodigiosa. Muita gente importante visitou o tradicional morro. Até o imperador D. Pedro II. Ele e a imperatriz Teresa Cristina. Foi no dia 20 de fevereiro de 1846, quando o soberano bebeu dois copos d'água da famosa fonte. Ainda hoje existe uma rocha no local sobre a qual há placa com esta inscrição: "D. P.II - 1846".

Quando redigíamos este capítulo, a Prefeitura Municipal, por meio da Prodesan, procedia às obras e urbanização da praça defronte ao Mosteiro de São Bento, que receberá também especial iluminação a vapor de mercúrio corrigido. Projeto idealizado pelo arquiteto Aníbal Martins Clemente e aprovado pelo prefeito Paulo Gomes Barbosa. O plano inclui ainda melhorias na escadaria de acesso ao Mosteiro de São Bento.

Uma vez que tentamos registrar episódios ligados aos primórdios do Morro São Bento, não devemos olvidar a lenda que repercutiu em outros centros, segundo a qual durante uma das invasões de piratas estrangeiros ao povoado, decerto os holandeses corsários comandados por Van Spilbergen, os padres da Capela do Desterro, atual Mosteiro, abriram subterrâneo até o Monte Serrate, onde guardaram alfaias de ouro, moedas e outros objetos de valor, formando verdadeira fortuna, também se refugiando.

Como dissemos, o Morro São Bento é dos mais movimentados. Dispõe de todos os recursos de comodidade pública, inclusive Sociedade de Melhoramentos. Já foi morro carnavalesco. Sediou dois ranchos: o Rancho Carnavalesco Boêmios e o Rancho Carnavalesco Unidos do Morro São Bento.

BOA VISTA - Pouca gente sabe, mas temos o Morro da Boa Vista, na área da entrada da cidade. Morrinho entre o Pacheco e Penha, assinalado na Planta de Levantamento Aerofotogramétrico, pelo qual se orienta a Prefeitura Municipal por meio da Prodesan.

Sua origem é vulgar, não causando nenhuma curiosidade. Como o pequeno morro ostenta panorama admirável, com o Estuário à sua frente, logo o batizaram de "bela vista". No caso, todos os morros de Santos deveriam chamar-se Bela Vista ou Boa Vista...

Bairro e sopé do morro da Caneleira
Foto: Secom/PMS

OUTROS MORROS - A planta dos Morros de Santos, elaborada em 1963 pela Sociedade de Levantamentos aerofotogramétricos e adotada pela Prefeitura Municipal de Santos e seguida por Progresso e Desenvolvimento de Santos (Prodesan S.A.), assinala também os morros de Caneleira, Santa Maria e Chico de Paula, nos respectivos bairros.

Antigos - Outras elevações não foram citadas por Olao em seu trabalho, por estarem praticamente desaparecidas, devido a obras de desmonte. Existiu também em Santos o Morro do Lima, na Vila Mathias, em área defronte ao atual estádio de futebol da Portuguesa Santista.

No Centro de Santos, uma rocha ainda marca o local do antigo Outeiro de Santa Catarina, considerado o marco da fundação de Santos.

Algumas informações complementares, extraídas do site InvestSantos: "o Morro Santa Maria fica situado entre o Morro da Nova Cintra, Vila Progresso, Bairro Chico de Paula e Avenida Nossa Senhora de Fátima, e começou a ser ocupado no início do século XX". Já no Morro da Penha "está situado o Largo da Caveira, assim batizado por ter um bar onde havia uma caveira de macaco como enfeite em uma das prateleiras".

Sobre o Morro do Pacheco, o InvestSantos cita: "Como curiosidade, o morro tem uma divisão geográfica clara: à direita de quem sobe moram os pachequenses tradicionais, ou seja, filhos das primeiras famílias que ali chegaram. À esquerda, residem os que vieram nos últimos anos e que muitas vezes são locatários dos imóveis de antigos moradores que se foram. Visto de baixo, o morro lembra uma pirâmide invertida, começando afunilado e se alargando em sua subida. Já do alto, a visão é privilegiada, tendo como paisagem a Ilha Barnabé, o Estuário e o Centro da Cidade. Considerado um morro de risco, alguns deslizamentos graves foram registrados nas décadas de 1950, 60 e 80".

Também é citada pelo InvestSantos a Vila Progresso, que é o bairro mais alto de Santos, "a mais de 184 metros acima do nível do mar. Entre as características que diferem a Vila Progresso dos demais bairros, estão a baixa temperatura e os ventos cortantes que fazem do local o bairro mais frio de Santos. A Vila Progresso não faz mais parte do Morro da Nova Cintra. Anteriormente, a área se chamava Nova Cintra por estar integrada naquele morro, mas recentemente uma Lei Complementar, número 312, transformou o local em bairro. A vila surgiu em 1966 após fortes chuvas que provocaram deslizamentos no Morro do Jabaquara, onde inquilinos da proprietária, Juliana Russo, tiveram de sair de suas casas e serem removidos para outra área também de propriedade de Juliana, no alto do Morro da Nova Cintra. Após a ocupação da região houve a sugestão do nome Vila Progresso. Com cerca de 900 famílias e 2.500 pessoas, no bairro existem uma escola estadual, uma creche municipal e dois mercados. A região conta com 100% de água tratada, de iluminação pública e de pavimentação".


Morro da Nova Cintra
Foto: Luigi Bongiovanni, em A Tribuna, 22/8/1999

Veja também:
série Conheça o seu bairro
Começa a interligação dos morros

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