Este texto é parte de um livro sobre o fundador da revista Destaque, Emiry Felicio, e personalidades santistas com que ele conviveu, e que foi deixado
inédito pelo jornalista Paulo Mattos, falecido em 19/7/2010. Sua publicação em Novo Milênio foi autorizada por seus familiares em agosto de 2012: Santos feliz, com Feliciano
Antonio Ezequiel Feliciano da Silva foi um político de expressão na cidade de Santos. Foi vereador, prefeito e representou a cidade na Câmara Federal. Sobre ele, Emiry tem inúmeras lembranças.
Foi na Capital Federal, como deputado, que Feliciano conseguiu por projeto de lei a devolução da autonomia de Santos, em 1954. Junto com Santos, Guarulhos e a capital paulistana eram libertadas do projeto 121, que
cassara a autonomia em 1947.
Santos teria um prefeito comunista nas eleições programadas para este ano, Leonardo Roitmann, mas as eleições foram canceladas. E Roitman foi apenas o vereador mais votado da cidade, em que o PCB faria mais da
metade dos vereadores.
Emiry Felicio foi amigo e aliado do prefeito que oficializou a nossa maior festa, o carnaval: Antonio Ezequiel Feliciano.
Nascido em Paraibuna no dia 22 de abril de 1899, filho de José Porfírio da Silva e de dona Feliciana Marcondes da Silva, Toninho Feliciano era irmão de Othon e Lincoln.
Feliciano estudou no Colégio Santista e no José Bonifácio, antes de formar-se em Direito no Largo de São Francisco - em São Paulo. Tinha apenas 19 anos e advogou com o amigo Waldemar Leão e com o irmão Lincoln, este
nomeado interventor da cidade de agosto a outubro de 1945.
Vereador eleito em 1926, fundou com Reinaldo Porchat o Partido Democrático. Considerado um dos maiores advogados criminalistas do Estado e notável orador, em 1928 seria eleito deputado estadual. Morava, nessa
ocasião, na Avenida Siqueira Campos, 96.
Em 1930, fez parte da Junta Governativa que dirigiu o município de 28 de outubro a 30 de novembro - nomeada por Vargas, após os tumultuados momentos pós-revolucionários. Integrou a Junta ao lado de Waldemar Leão e
Leopoldo de Oliveira Figueiredo.
Com o mandato de deputado estadual interrompido por ocasião da Revolução de 1930, serenados os ânimos reassumiu e ingressou no Partido Constitucionalista.
Cassado como todos os políticos brasileiros em 1937, retorna com a normalidade democrática em 1945, elegendo-se deputado federal constituinte pelo PSD.
Nessa eleição, Feliciano teve 6.309 votos, quando o líder da estiva Oswaldo Pacheco da Silva, pelo PCB, teve mais de 16 mil votos. Alvaro Parente, do PPS, teve 489 votos, Benedito Neves Goes, do PTB, 3.324. O PDC
veio com Jaime Horneaux de Moura e teve 3.011 votos, e José Armando Fonseca, do PDS, 782.
Leogivildo Trindade, do PRP, teve 431 votos e Marcelo Ulisses Rodrigues, da UDN, 3.151. Rafael Sampaio Filho, também do PCB, teve 1.115 votos e Romeu de Andrade Lourenço, da UDN, 1.156.
Patrono dos conferentes
Os conferentes de carga e descarga, assim como outras categorias do porto, têm Antonio Feliciano como seu patrono. É que ele é o responsável pela lei 1.561, que instituiu a categoria a nível legal, em 1951, no
Congresso Nacional.
Teve validade para todos os portos brasileiros essa conquista, durante a gestão de Remo Petrarchi, vereador e conferente, presidente do sindicato da categoria na época.
Reeleito deputado em 1953, interrompe o mandato para assumir a Prefeitura de Santos, para a qual fora eleito em 22 de março desse ano. Assume em 14 dce abril e governa até 1957.
Feliciano, pelo PSD-UDN e PDC, venceu a disputa contra Athié Jorge Coury (PSP-PTN-PST), Nilton Silva (PTB) e Oswaldo Franco Domingues (PRT).
Era a mesma eleição que colocava Janio Quadros na Prefeitura de São Paulo, com o vice Porfírio da Paz. Aqui, Feliciano deu uma lufada de desenvolvimento na retomada da autonomia. Ampliou e remodelou os jardins da
praia, construídos por Aristides Bastos Machado, aumentou a rede telefônica e oficializou o carnaval.
O prefeito Feliciano concluiu o túnel ligando o centro às praias e fez o retorno praia-centro. Como obra maior, abriu o caminho para os bairros, a Avenida Afonso Pena. Entre outras iniciativas de vulto, como a
construção dos abrigos de bonde em vários pontos da cidade.
Terminado seu mandato municipal, foi nomeado membro do Conselho de Estado, que dirigia a unidade da federação junto com o governador. Escolhido para ministro do Tribunal de Contas, seria novamente deputado federal
de 1958 a 1962 e de 1966 a 1970.
Em 1962, apesar de não ser eleito - teve 3.597 votos, pelo PSD: foi superado por Mário Covas (PST - 22.247 votos), Athié Jorge Coury (PDC - 10.444 votos) e Paulo Mansur (PTB -10.103 votos) e Rubens Ferreira Martins
(PSP - 6.234 votos) -, assume a vaga deste último. Aconteceu que Rubens Ferreira Martins, eleito deputado do PSP, vem a falecer um mês após as eleições e os partidos PSP e PSD estavam coligados.
Feliciano presidiu ainda a Federação Paulista de Futebol, o Santos Futebol Clube e advogou para o Jabaquara Atlético Clube e para a Associação Atlética Portuguesa.
O jornalista Hamleto Rosato, presente neste livro, foi secretário e diretor de gabinete de Feliciano - sobre quem o Magnífico Reitor da Universidade Santa Cecília escreveu em seu livro Lembranças da Casa Amarela.
Antonio Ezequiel Feliciano da Silva faleceu em primeiro de agosto de 1981, sem que tivesse nenhum membro da Prefeitura na homenagem derradeira. Foi cogitada sua denominação para a "Ilha de Conveniência" construída
como adaptação de seu abrigo de bonde no Boqueirão.
Mas Feliciano só seria homenageado com a sua denominação para uma ruela ao lado do canal, na praia - em seu acesso. Uma referência ao seu papel de consolidador dos maiores e mais belos jardins do mundo. |