Werner Vana (*)
Colaborador
Em 1902, entrou em operação na cidade de Santos um plano
inclinado de funcionamento muito curioso. O funicular instalado no morro da Nova Cintra foi
apelidado pelo povo de "tramway", e passou a ser conhecido como o "tramway de Nova Cintra".
A obra, concessão de José Luis de Matos, partia do final da rua Rangel Pestana, na
base do morro da Nova Cintra, ponto final da linha de bondes de tração animal.
No topo do morro da Nova Cintra existia um lago alimentado por fontes. As quais, em
1534, moviam um engenho localizado no lado oeste do morro. Estamos falando do Engenho do Governador, mais tarde conhecido como Engenho de São Jorge
dos Erasmos.
O funicular de Nova Cintra não utilizava motores, vapor ou tração animal. Utilizava
simplesmente a água das fontes do topo do morro para movimentar o funicular instalado na encosta leste (voltado para a praia).
O funicular tinha duas linhas, e em cada linha corria um carro de tração atrelado a um
carro de passageiros e cargas. Os carros de tração funcionavam lastreados pelo peso da água contida em seu tanque. Cada carro de serviço tinha um
reservatório sobre o teto do veículo, com capacidade de duas toneladas (2 mil litros de água).
Quando a carga e os passageiros contidos no vagão destinada a subir estavam
acomodados, o reservatório de água do carro de tração que estava no topo do morro, era abastecido com água até estabelecer o desequilíbrio. Momento
no qual começava a descer puxando o carro que estava embaixo.
O controle de descida era efetuado pelo freio dos carros de tração. Este funicular
funcionou de 1902 até 1922, quando cessaram as atividades em conseqüência de um acidente muito sério causado pela ruptura dos cabos de tração.
Imagem: arquivo de Werner Vana
Nesta rara montagem fotográfica que reúne três fotos do acidente, publicada na edição 186 da revista A
Cigarra, em maio de 1922, a parte superior da imagem mostra o carro de tração, com a gôndola à direita e o teto (reservatório de água)
arrancado, à esquerda. Na foto central, o cabo de aço rompido. Embaixo, os dois carros de passageiros.
(*) Werner Vana é também colaborador do Museu do
Transporte Público Gaetano Ferolla, da capital paulista.
Na Cartilha da História de Santos, escrita por Olao Rodrigues e publicada em
1980 (gráfica da Prodesan), consta na página 59 o registro:
"Nova Cintra tornou-se muito popular no Passado, por dispor de serviço de elevadores
movidos por tração hidráulica, cuja estação inicial se localizava no sopé do Morro, alcançado por bondes elétricos da linha nº 16. O funicular de
Nova Cintra funcionava de hora em hora, das 6 às 11 horas e das 14 às 18 horas. Em 1913 seu Procurador era Maurício Gazarini e, Chefe do Tráfego,
Antônio de Brito. No dia 29 de maio de 1922, exatamente às 15:30 horas, quando o bondinho transportava 14 passageiros, entre homens, mulheres e
crianças, 'despencou do alto da colina e, depois de várias peripécias, veio chocar de encontro à aba do morro, quase no sopé da estação inicial.
Morreram 2 pessoas e 11 sofreram ferimentos, inclusive um moço que teve a perna amputada'."
E o Werner tem uma surpresa para os apreciadores dos
bondes... |