No Morro de Santa Terezinha, que agora foi loteado, outro cassino famoso
Foto publicada com o texto
Cassinos, a opção perdida
Dojival Vieira dos Santos
A liberação do jogo no País, com a abertura de, pelo
menos, três grandes cassinos na Baixada será a saída para impedir que a região se esvazie com o agravamento da crise econômica que fez com que
Santos - até há alguns [anos] atrás uma das cidades mais
importantes do Estado em termos de arrecadação -, passasse a ser um Município endividado, sem muitas opções para buscar recursos.
A opinião é de políticos e empresários, principalmente do setor hoteleiro santista,
para quem os cassinos são a esperança de redenção da economia da Baixada, pela possibilidade de abertura de um novo mercado de trabalho e pelo que
os Municípios vão arrecadar de impostos e outros tributos.
A liberação do jogo - hoje proibido pela legislação penal, porém praticado de forma
clandestina - será importante não só para uma região, no caso específico a Baixada Santista, mas será, inclusive, uma importante fonte de divisas
para o País, que hoje, além de não receber turistas de fora, atraídos pelos grandes cassinos, ainda os perde para países como o Paraguai e o
Uruguai, onde o jogo é há muitos anos regulamentado.
Há outro aspecto que é lembrado por políticos e empresários favoráveis à abertura de
cassinos, e que, segundo eles, demonstra o erro que o Governo Brasileiro está cometendo, não legalizando o jogo: principalmente nos fins de semana e
feriados longos, muitos brasileiros de condição econômica privilegiada deixam o País, indo jogar nos cassinos do Paraguai e do Uruguai.
Ayres: tempo de glória - A reivindicação para regulamentação do jogo no Brasil,
entretanto, tem movimentado líderes empresariais e boa parte dos políticos, havendo vários projetos na Câmara Federal, em que é pedida a revogação
do artigo do código penal que proíbe o jogo.
Pelo lado dos empresários do setor hoteleiro, o pedido tem sido objeto de moções
encaminhadas à Embratur - Empresa Brasileira de Turismo - e ao próprio presidente da República, não tendo o Governo manifestado até agora qualquer
posição a esse respeito: "Nós, de Santos, fizemos uma reivindicação em conjunto com a Federação da classe, que vem pleiteando a regulamentação do
jogo há muito tempo", conta Ayres Rodrigues, presidente do Sindicato dos Hoteleiros de Santos.
Segundo Ayres, a esperança para a crise econômica, que se reflete de uma forma bem
acentuada na Baixada Santista, está nos cassinos: "Na época do jogo havia dezenas de restaurantes trabalhando 24 horas por dia; os cassinos mais
avançados do mundo estavam aqui; e a nossa hotelaria era considerada uma das maiores do País".
Naquela época, acrescenta o dirigente dos hoteleiros santistas, "havia emprego, táxis
rodando, grandes boates e grande movimento. Era isso que nós queríamos ver novamente", afirma, acrescentando que desde o fechamento do jogo a cidade
começou a decrescer economicamente, com os grandes hotéis e restaurantes noturnos fechando as suas portas.
O Miramar, o "Palácio Dourado do Boqueirão"
Foto Acervo José Carlos
Silvares/Santos Ontem, também publicada com o texto
A volta da vida noturna - Para Ayres Rodrigues, a proibição torna-se ainda mais
prejudicial para uma cidade como Santos, que tem no turismo uma das principais bases de sustentação de sua economia. Nos últimos anos, entretanto, a
crise econômica que o País passou a enfrentar, e a falta de alternativas sobre como enfrentá-la, fez com que a cidade fosse se esvaziando, e "a
única construção que tivemos, no nosso setor, foi o Holliday Inn" (N.E.: estabelecimento hoteleiro construído em 1976
no lugar do antigo Parque Balneário Hotel, e que anos depois retomaria o nome tradicional) - completa.
"Santos foi uma cidade que realmente parou no turismo, e eu realmente não consigo
entender o porquê do nosso governo ainda não ter nos dado essa abertura, mesmo porque ele já controla boa parte do jogo no País".
Segundo Ayres, caso o governo resolva atender a reivindicação da classe, a Baixada tem
condições de ter, pelo menos, três cassinos de grande porte - um em Santos, outro em Guarujá e o terceiro em São Vicente - uma vez que a
infra-estrutura necessária não é problema. "Nós ainda temos o Cassino do Monte Serrat, o Atlântico.
O próprio Holliday tem o seu salão de convenções que poderia ser tranqüilamente adaptado para cassino".
Justo: mais trabalho - Para o deputado estadual Emílio Justo, do PMDB, autor do
projeto de lei que transformou Santos em Estância Balneária, e um dos mais antigos defensores da liberação do jogo, a abertura de cassinos na cidade
só traria benefícios para a região: "Vejo na reabertura dos cassinos uma situação que trará benefícios incalculáveis à nossa cidade, no setor
econômico e social, principalmente com a abertura de um campo de trabalho para tantos que precisam de emprego".
Outro que não vê razões para a proibição do jogo no Brasil é o deputado Athiê Jorge
Coury, do PDS, que, inclusive, apoiou um projeto da deputada Lígia Bessa (PDS-RJ), revogando o artigo do Código Penal que impede a regulamentação:
"No mundo inteiro existe o jogo, principalmente nos lugares onde é explorada a indústria do turismo, e por isso não vejo razão para se impedir a
construção de grandes cassinos", disse Athiê, lembrando o caso da cidade de Las Vegas, nos Estados Unidos, que tem no jogo e nos grandes shows
um dos sustentáculos de sua economia.
O mesmo exemplo é lembrado pelo presidente da Câmara, Washington Mimi Di Giovanni, do
PDS: "Os grandes centros mundiais têm cassinos. Se você vai na Itália tem cassino; se você vai no Paraguai tem cassino e lá é o próprio Governo quem
administra. Então não vejo porque proibir, uma vez que esta seria mais uma opção em termos de turismo".
Campos e Koyu: sim - Os prefeitos Koyu Iha, de São Vicente, e Carlos Frederico
Soares Campos, de Cubatão, também são favoráveis à liberação do jogo com a conseqüente construção de grandes cassinos na Baixada. O primeiro vê
nessa medida "apenas a legalização de uma coisa que já existe", enquanto Campos ressalta o grande estímulo na indústria do Turismo na região.
"Já houve cassinos aqui e sempre funcionaram de forma a estimular o turismo na
Baixada. Eu acho muito boa medida. Agora, é evidente, com os cuidados em termos de local e cidade. Mas, como medida econômica, eu acho muito boa,
porque tem muita gente saindo para o Paraguai e Uruguai para jogar. Seria mais um atrativo para os turistas portenhos que vêm para cá. Nós
precisamos de um turismo permanente, e infelizmente a Baixada não tem" - conclui.
Por sua vez, o prefeito Jaime Dayge, de Guarujá, apesar de ressaltar que sua posição
não tem qualquer conotação moralista, é de opinião que o Governo deve liberar o jogo, mas é contra sua proliferação. Segundo Dayge, o Governo
deveria criar "A Cidade do Jogo", a exemplo do que acontece nos Estados Unidos com Las Vegas, que se constituiria em mais um pólo de
desenvolvimento.
História - A época de ouro dos cassinos na Baixada ocorreu entre os anos de
1936 e 1946, quando existiam nada menos que 4 cassinos só em Santos: o Miramar ("Palácio Dourado do Boqueirão"); o Monte Serrate, inaugurado em
1927; o Atlântico Hotel e o Parque Balneário, ponto preferido da elite santista.
No Centro funcionava o Coliseu Santista, no prédio onde
funciona hoje o Cine Coliseu, apresentando grandes shows e onde se apresentavam os nomes mais importantes da noite, muitos deles consagrados
em todo o País.
Em Guarujá existia o cassino do Grande Hotel,
ponto de encontro da alta sociedade e que, segundo o historiador Francisco Martins dos Santos, hospedava "grandes figuras nacionais e internacionais
no comércio, na indústria e na política".
Em São Vicente funcionava o cassino de São Vicente, ou "Cassino da Ilha Encantada", ou
"Paraizo do Atlântico", que disputava com os de Santos a preferência dos turistas que vinham para a cidade nos mais diferentes pontos do Estado, do
País e até turistas estrangeiros.
A época dos cassinos acabou em 1946, no Governo Dutra, quando a 30 de abril foi
baixado Decreto Federal, proibindo o jogo em todo o País.
O antigo cassino do Parque Balneário, o preferido da elite santista
Foto publicada com o texto
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