Em 1957, Juscelino Kubitschek inaugurou terminal da CDS
Foto: Arquivo A Tribuna, publicada com a matéria
HISTÓRIA
Visitas presidenciais mostram importância do complexo
Quase 20 chefes do Executivo já vieram ao cais santista
Da Reportagem
A história do mais importante porto do Brasil também é
marcada pela passagem da maioria dos chefes de Estado do País, do então príncipe-regente Dom Pedro I a
ditadores e os presidentes da Velha e da Nova República. As viagens foram feitas pelos mais diversos motivos, da inauguração de novos terminais, a
entrega de navios à Marinha e uma visita a amantes, até o embarque no navio que levaria o estadista ao seu exílio.
Os primeiros registros da passagem de um líder da nação pelo cais santista surgem às
vésperas da Declaração da Independência do Brasil. Oficialmente, em 5 de setembro de 1822, D. Pedro I
veio a Santos para inspecionar as fortificações do porto. Aproveitando a descida da Serra do Mar, visitou sua amante, a Dona
Domitila de Castro, a Marquesa de Santos (N.E.: na verdade, eles se encontraram na capital
paulista).
Foi exatamente na volta à Capital Federal (o Rio de Janeiro) que, quando passava por
São Paulo, às margens do Rio Ipiranga, o príncipe-regente recebeu a mensagem do seu ministro e conselheiro, o santista José
Bonifácio de Andrada e Silva (que se tornaria o Patriarca da Independência), sobre a exigência dos portugueses para que retornasse à Europa.
Irritado diante da ordem, o futuro imperador do Brasil declarou ali a definitiva separação entre a colônia e a metrópole.
O próximo registro aparece em 1909, durante as primeiras décadas da República. Foi
neste ano em que o então presidente Afonso Pena (que governou a nação de 1906 a 1909) visitou as terras
santistas.
Quase uma década depois, em 1918, os comerciantes de Santos, motivados no início do
século 20 pela indústria cafeeira - que gerava também as maiores movimentações no porto - convidaram o então presidente
Wencesláo Braz (1914-1918) para uma visita à Cidade. O chefe do Executivo da época esteve na região em 22 de
maio daquele ano, quando foi homenageado.
Outro líder brasileiro que participou diretamente da história do cais santista foi
Getúlio Vargas (1930-1945). O ditador passou pela região no dia 6 de janeiro de 1938, a bordo do hidroavião
Tupã, em viagem para Porto Alegre, onde faria o lançamento da ponte ligando Brasil e Argentina. Como escala da viagem, o aparelho pousou na
entrada do porto, no início do Canal do Estuário (onde hoje ocorre a travessia da balsa para Guarujá), o que
levou centenas de pessoas à Ponta da Praia, como mostram fotos de A Tribuna da época.
Algumas inaugurações de pontos importantes do cais santista também contaram com a
participação de ex-presidentes. Eurico Gaspar Dutra (1946-1951) inaugurou, em 15 de outubro de 1949, o Cais do
Saboó. Na passagem por Santos, também assinou um convênio entre a companhia de navegação do Governo, o Lloyd Brasileiro e a Estrada de Ferro
Santos-Jundiaí (antiga São Paulo Railway), visando melhorar o transporte de cargas e passageiros pelo País através da
intermodalidade.
Outro presidente que esteve em Santos para marcar o início das operações em
instalações do porto foi Juscelino Kubitschek (1956-1961), no dia 29 de janeiro de 1957. Veio à Cidade para
inaugurar um novo armazém da Companhia Docas de Santos (CDS), empresa que
administrou o porto por 90 anos.
Portuários viram do costado a partida de Jânio Quadros para o exílio
Foto: Arquivo A Tribuna, publicada com a matéria
Jânio renuncia e parte para o exílio pelo Porto de Santos
Jango esteve em sindicato e Medici entregou terminal graneleiro
Da Reportagem
Presidente do Brasil em 1961,
Jânio Quadros teve um capítulo importante de sua biografia passado nas águas do Porto de Santos. Após renunciar
ao cargo (depois de sete meses de governo, em 25 de agosto desse ano), ele seguiu para a Baixada Santista no dia seguinte. Após chegar a São Paulo
de avião, tendo sempre ao lado sua esposa, Dona Eloá, e sua mãe, Dona Leonor Quadros, o estadista desceu para o Litoral. Dirigindo o carro de um
amigo, percorreu a Serra do Mar, passou por Santos, pegou a balsa para Guarujá e rumou para a Praia
de Pernambuco, onde permaneceu confinado por dois dias na casa do empresário José Kalil.
O estadista só deixaria a residência para se auto-exilar na Inglaterra. Em 28 de
agosto de 1961, o político seguiu até Vicente de Carvalho, onde embarcou em uma lancha que o traria ao navio
Uruguay Star, atracado no Armazém 15 (onde funcionava o antigo terminal de embarque de passageiros). Conforme reportagem de A Tribuna do
dia 29, centenas de trabalhadores do cais e moradores da região se aglomeraram no costado para saudar o ex-presidente.
O sucessor de Jânio Quadros, João Goulart
(1961-1964) também veio ao porto. Em maio de 1962, ele visitou os armazéns da Companhia Docas de Santos e o prédio da Alfândega,
onde discursou para a população, e participou de uma sessão solene no Sindicato dos Operários Portuários.
O próximo presidente a conhecer o complexo portuário foi
Emílio Garrastazu Medici (1969-1974), que dirigiu o País na pior fase da Ditadura Militar (época denominada
Anos de Chumbo). Para entregar o complexo de armazéns graneleiros da Ponta da Praia, o Corredor de Exportação (na época, denominado somente
Terminal de Grãos), ele esteve na região no dia 24 de outubro de 1973, em plena Ditadura Militar. Além do porto, ele também visitou a
Companhia Siderúrgica Paulista (Cosipa), para celebrar o início do
funcionamento de um alto-forno da empresa.
Engano - Algumas visitas chegaram a ser canceladas. O mau tempo que fazia na
região no dia 29 de junho de 1976 impediu a vinda do então presidente Ernesto Geisel (1974-1979) ao
Porto de Santos. O gaúcho, que viria à Cidade para a inauguração da Rodovia dos Imigrantes,
desceria na Base Aérea de Santos (em Guarujá) e atravessaria o cais para chegar até a Prefeitura,
de onde partiria para a estrada.
Todo o esquema de recepção ao chefe da Nação entrou em funcionamento, quando uma
lancha da Polícia Naval cruzou o canal do estuário do Porto de Santos na hora em que estava prevista a chegada do militar. Apitos de navios e de
empresas situadas no Centro foram acionados. Dezenas de pessoas se aglomerarm junto a um cordão
de isolamento, na faixa do cais atrás do edifício da Receita Federal, e acenavam para a embarcação. Todos, porém, estavam
enganados, pois o ex-presidente não estava a bordo.
Quando o avião que traria o general se aproximava da Baixada Santista, recebeu
informações sobre as condições de tempo na região, inclusive o nível zero de visibilidade na área onde a aeronave iria descer. Foi então que Geisel
decidiu, por motivos de segurança, ir para o Aeroporto de Congonhas e chegar a Santos pela Rodovia dos Imigrantes, que horas depois iria inaugurar.
Segundo reportagem de A Tribuna, ninguém se lembrou de desarticular o esquema
que recepcionaria o presidente no porto.
Presença do ex-presidente Garrastazu Medici no cais
marcou inauguração do Corredor de Exportação
Foto: Arquivo A Tribuna, publicada com a matéria
Figueiredo anuncia autonomia da Cidade no Tecon
Episódio marcante na história política da Cidade ocorreu no dia da inauguração do
Terminal de Contêineres (Tecon), na margem esquerda do Porto de Santos. O início das operações das
instalações, em 30 de agosto de 1981, contou com a presença do presidente João Baptista Figueiredo.
Após acionar o portainer que efetuou a primeira operação completa de embarque e
desembarque de um conteiner no terminal da Codesp, ele aproveitou a ocasião para anunciar que a autonomia política de Santos ocorreria nas próximas
eleições municipais (em 1984). Na ocasião, Figueiredo chegou a aconselhar políticos, como o então prefeito de Santos, Paulo
Barbosa (hoje, presidente da Câmara de Vereadores), a iniciarem suas campanhas.
A próxima passagem de um presidente pelo Porto de Santos ocorreu em 1988, já na Nova
República. Primeiro presidente do Brasil após a ditadura militar, José Sarney esteve no Porto de Santos em 2 de
setembro daquele ano, no Terminal Portuário da Cutrale, em Vicente de Carvalho (Guarujá). Sarney participou da comemoração do embarque da
milionésima tonelada de suco concentrado pela Citrosuco Paulista S.A.
Na ocasião, um fato curioso chamou a atenção de alguns integrantes da comitiva
presidencial. É que em frente ao terminal da Cutrale fica a Favela da Conceiçãozinha, onde os moradores se concentraram para pedir que Sarney
distribuísse laranjas.
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Sarney, FHC e Lula também já prestigiaram o porto
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Regionalização - Em 2001, no dia 28 de abril, o ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso (1994-2002) foi recebido por autoridades no Porto de Santos. FHC, que chegou à Cidade
a bordo do porta-aviões São Paulo, assinou a ordem de incorporação da embarcação ao Comando de Operações Navais da Marinha de Guerra do
Brasil. O navio-aeródromo era a mais nova unidade adquirida pela Marinha.
Porém, o principal momento da sua visita ocorreu após a cerimônia, quando conversando
com o governador Geraldo Alckmin, o presidente prometeu iniciar o processo de regionalização do complexo portuário. Apesar do anúncio, Fernando
Henrique não conseguiu concluir a transferência do controle do cais santista para o Estado e os municípios da Baixada Santista, medida que é cobrada
até hoje pelas autoridades.
Obras - Na sua primeira visita à região na condição de presidente da República,
Luiz Ignácio Lula da Silva, em 1º de agosto de 2003, participou da inauguração do novo terminal da Copersucar e
aproveitou a ocasião para anunciar que o Governo Federal daria prioridade às obras de infra-estrutura do Porto de Santos.
Na época, Lula destacou, principalmente, a necessidade de se retomar a dragagem do
canal de navegação. Suspensa desde o final do governo de FHC (dezembro de 2002), ela deve ser reiniciada até o final desse mês, segundo a Codesp. Na
solenidade, o presidente declarou que "se os portos não forem eficientes, perde-se a produtividade conquistada".
João Baptista Figueiredo esteve no porto santista em 1981
para a abertura do Terminal de Contêineres
Foto: Arquivo A Tribuna, publicada com a matéria
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