Capela da Graça, que existiu de 1562 até 2 de dezembro de 1903 na antiga Rua Santo Antonio (Rua do Comércio), esquina da Rua do Sal (Rua José
Ricardo), desenhada a partir de pinturas. As portas foram esboçadas por faltarem ao autor elementos seguros sobre seu aspecto. Pelo mesmo motivo, alguns detalhes não foram incluídos. Desenho feito em 2000
Imagem cedida a Novo Milênio pelo autor, o professor Francisco Carballa
Capelas e igrejas particulares
Francisco Carballa
Oratório, ermida, tapera [01] ou capela é uma pequena igreja que atende às necessidades do culto, tendo uma cobertura e um altar para celebrar o sagrado culto da Eucaristia do Corpo e Sangue de Jesus Cristo.
Assim, quando houver o sacrário com a Eucaristia nele guardada, haverá uma lâmpada vermelha ou lampadário, geralmente contendo uma vela com um vidro
vermelho ou - em alguns casos mais modernos - uma lâmpada elétrica [02], que segundo a crença dos cristãos indica a
presença de Jesus Cristo; por isso, o lampadário sempre será com um vidro vermelho, indicando uma lâmpada votiva especial chamada por alguns de Lauda Perene [03].
Algumas são do tamanho de um pequeno cômodo, o suficiente para abrigar seus fiéis em oração ou simplesmente pequenina para guardar das intempéries o oratório; para isso, deve atender aos
fiéis, ter símbolos cristãos relacionados à comunidade e função, geralmente com os cultos celebrados por um padre ou diácono da paróquia onde esteja situada essa casa de oração. Mesmo que o prédio seja muito grande, se estiver sob a administração
de outra igreja que tenha o título de paróquia, esse templo será tratado como uma capela.
No Brasil, até os anos de 1960 antes do Concílio, a maioria da população era do cristianismo católico (do grego: cat = cristão e ólico = universal)
[04]. Mas, com as mudanças ocorridas nos costumes, na sociedade e na forma de se pensar, outras religiões também
passaram a disputar os locais para instalar suas igrejas, em muitos casos, destruindo a antiga igreja do lugar, sem ao menos respeitar os sentimentos do povo ou a instituição a qual ela pertença.
A origem dessa pequena estrutura de templo começa com a devoção de um cristão, um falecimento no local [05], um acontecimento estranho e sobrenatural, como marcação histórica do local em caso de uma fundação ou simplesmente ao acaso quando o terreno está disponível e assim é
adquirido para tal finalidade.
Em muitos outros casos essas capelas estariam relacionadas a ordens religiosas e seus carismas, como as ordens dedicadas aos hospitais e ensino (onde antes havia as irmãs para o ensino
feminino e os padres para o ensino masculino, coisa que mais tarde seria abolida e os sexos misturados nos estabelecimentos de ensino).
Quando essas ordens foram organizadas, havia a necessidade de a igreja católica instalá-las em hospitais e escolas, onde não os havia para atender à população ou era muito precária,
situação atual resolvida com a responsabilidade que recaiu sobre prefeituras e governo. Sendo assim, as ordens pouco a pouco foram cedendo seu espaço para a responsabilidade governamental.
Existem até hoje, em nossa cidade, muitas capelas de ordens religiosas ou particulares onde o povo tem acesso limitado para fazer suas preces; outras estão descaracterizadas ou
desapareceram e nem sequer constam em registros oficiais, por serem particulares com o acesso somente para as ordens, instituições ou pessoas as quais serviam ou comunidade local, ou ainda foram demolidas para em seu lugar surgirem grandes igrejas,
de prédios mais modernos e que atendam a população.
Entre elas:
NOTAS:
[01] Tapera seria um termo usado pelos antigos, referente no caso das construções
religiosas de uma capela de aproximadamente quatro metros de comprimento por três de largura, variando muito quanto ao seu tamanho, com telhado típico de galhos de eucalipto (ou calipitero, como se dizia na roça da Piedade, em Caçapava/SP),
onde poderiam ser vistas as colocações dos galhos para amparar as telhas geralmente do tipo calha e sua pintura se resumindo a caiação branca, com variantes azuis ou amarelas.
[02] Frei Rafael Maria Marinho O.C. (falecido em 1998), havia mandado eletrificar o
grande lampadário de prata da igreja quando, trocando a vela, ocorreu que o peso de cobre que o elevava caiu sobre ele, quase causando um acidente nos anos 1950. Por isso, segundo o que dizia: "Meu filho, eu mantenho uma vela sempre acesa, pois, se
faltar energia, Nosso Senhor não ficará desprovido de luz, pois é um desrespeito com ele!" (N. E.: no caso, a sigla O.C. indica: Ordem Carmelita).
[03] Louvor perpétuo; segundo frei Rafael Maria Marinho O.C. (+1998), no templo do Rei
Salomão de Israel era mantido o Menorá ou castiçal de sete braços com lâmpadas perpétuas diante do Santo dos Santos em adoração. Os cristãos mantiveram a mesma devoção, inclusive marcada pelo milagre que gerou a festa do Chanuch (Dedicação) ou
Festa das Luzes, quando apenas uma lâmpada queimou milagrosamente durante oito dias com o pouco azeite que nela havia somente para um dia, mantendo o louvor perpétuo daquele templo.
[04] Segundo consta na história do paleo-cristianismo, esse nome foi dado pelo próprio
São Paulo de Tarso, após verificar que estariam formando muitas religiões com nomes distintos, semelhante ao que ocorre atualmente. Assim, para evitar a divisão, ele, junto com São Pedro, determinou o nome de acordo com a missão da Igreja de se
estender pelo mundo como cristianismo universal. No século II d.C., o Santo Mártir Irineu de Lyon reafirmou esse nome e assim ficaram conhecidos os cristãos entre si e simplesmente por cristãos pelas demais pessoas.
[05] Costume de origem bandeirante que até pouco tempo foi mantido no Vale do Paraíba,
onde, nos locais de falecimentos, sejam eles por um raio ou assassinato, surgiram para marcar as locais das ermidas, taperas, oratórios, nichos ou simplesmente uma cruz fincada no local. Vale recordar que em Santos ocorreu um atropelamento na
Avenida Francisco Glicério, próximo da Avenida Dona Ana Costa e por um tempo no Jardim foi mantida uma pequena cruz. Posteriormente, no aniversário do ocorrido, eram colocadas lindas flores no local até que o jardim desapareceu com a reforma da
rua, ou a pessoa faleceu.
Referências:
A Campanha Sanitária de Santos - Guilherme Álvaro, Santos, 1919.
Os Andradas - Alberto Sousa, Santos, 1922.
Arquivo e Memória de Santos.
Santos noutros tempos – Costa Silva Sobrinho - 1953
Dados recolhidos entre moradores de Santos.
Memórias da Cidade do Rio de Janeiro – Vivaldo Coaracy – 1965 – vol. 03 –Livraria Jose Olympio Editora.
Eduardo Etzel
Site Novo Milênio.
Jornal A Tribuna. |
Primeiras capelas de Santos1532 - "Capela da Madre de Deus" - junto ao Engenho do mesmo nome - fundada por Pero de Góes.
1540 - "Capela de Santa Catharina" - junto ao outeiro do mesmo nome - primeira capela propriamente santista - fundada por Luís de Góes e sua mulher, d. Catharina de Andrade e Aguillar.
1545 - "Capela de Santo Antonio" - Em Jurubatuba - fundada por Braz Cubas, em sua sesmaria.
1560 - "Capela de Nossa Senhora da Apresentação" - Junto ao Engenho do mesmo nome - fundada por Gonçalo Affonso.
1562 - "Capela de Nossa Senhora da Graça" - Em Santos - fundada por José Adorno e sua mulher, d. Catharina Monteiro.
1565 - "Igreja de Santo Antonio de Guaibe" - fundada por José Adorno, na ilha de Sto. Amaro, fronteira à Bertioga.
1568 - "Capela de Nossa Senhora do Desterro" - no morro do Desterro, atual S. Bento - fundada por mestre Bartholomeu Fernandes Gonçalves (o Ferreiro). Em 1650 foi nela fundada a igreja de S.
Bento.
1570 - "Capela de São Miguel" - fundada pelos jesuítas ou pelos padres do Carmo, junto ao rio Cabuçu atual.
1585 - "Igreja do Colégio" - fundada pelos jesuítas, junto ao Colégio da Vila. Passou a exercer funções de Matriz, em substituição à de Santa Catharina, em 1591, depois do saque e depredação de
Thomás Cavendish.
1590 - "Capela de Nossa Senhora do Pilar" - fundada pelos jesuítas, junto ao Engenho do mesmo nome, em Itapanhaú.
1599 - "Igreja de Nossa Senhora do Carmo" - com convento. Fundada, parece, por frei Domingos Freire e outros carmelitas, os mesmos que, chegados em 1580, haviam se recolhido provisoriamente à capela
de Nossa Senhora da Graça.
1603 - "Capela de Nossa Senhora do Monte Serrate" - fundada por d. Francisco de Sousa, no alto do morro de São Jerônimo, depois Monte Serrate.
1641 - "Igreja de Santo Antonio" - fundada por frei Pedro de S. Paulo e seus companheiros: frei Manoel dos Santos, frei Francisco de Coimbra, frei Bernardino da Purificação, frei Thomás da Madre de
Deus, e os leigos: frei Domingos dos Anjos e frei Antonio de S. José, todos franciscanos.
1650 - "Mosteiro de S. Bento" - Igreja e convento, fundada pelos frades beneditinos, sobre a antiga capela do Desterro, em terras e capela doadas por Bartholomeu Fernandes Mourão, neto do
"Ferreiro". |