[37] Capela de São Miguel do Góis
Referência de antigo morador da Pouca Farinha que trabalhava de garçom no antigo restaurante Bar e Restaurante Chave de Ouro [06a], depois trabalhou como cozinheiro e finalmente se aposentou.
Quando descobri que residia na Praia da Pouca Farinha, eu lhe perguntei sobre coisas do local, como o forte e o porquê da presença dos azulejos com a efígie de São Miguel Arcanjo dentro
da capela, pois imaginei que ali houvesse uma imagem sua, decerto tão antiga quanto o forte.
Ele me disse que "no tempo antigo" falavam seus pais que existiu um oratório, mas - perguntando ou pesquisando - nunca achei registros históricos que comprovem sua existência. Segundo a
informação disponível, seria próxima da bica que existe na praia do Góis.
Naqueles tempos de ocupação das terras de El Rey, era comum que o proprietário do local fizesse uma humilde capela ou oratório para as orações da família e agregados ou escravos. O
sobrenome de Luiz de Góis é uma palavra semelhante à palavra hebreia góy, que identifica ainda hoje um cristão convertido ao judaísmo, sendo que - possivelmente reconvertido ao cristianismo - o nome tenha sido mantido. Nesse caso, por
lógica, haveria a necessidade de se mostrar devoção para com as autoridades religiosas, inseparáveis das civis no século XVI.
Também o que pode confirmar a presença de uma capela no local na proximidade do Forte de Góis - que ainda está lá, evidentemente melhorado com
grandes pedras, pois no seu início seria apenas uma estacada -, é que naqueles tempos devotos seria comum que se fizesse uma casa de oração para servir o local.
O forte de Santo Amaro da Barra Grande seria erguido em 1584, armado com os canhões retirados do naufrágio em suas proximidades da nau Santa Maria
de Begoña, e sua ermida seria construída somente em 1742, adaptada de uma construção mais antiga que servia como casa de pólvora ou depósito de munição - o que explica a mesma ser afastada do morro e assim livre de umidade e talvez para
substituir a antiga em ruínas na praia.
Os azulejos com a figura de São Miguel Arcanjo foram o ponto de partida para a explicação de sua presença naquele local, recordando a antiga devoção da praia do
Góis.
NOTA:
[06a] Bar famoso que do final do século XIX chegou até os anos
90 quando, ao ser alargada a Rua João Octávio, o quarteirão foi demolido do número 10 até a Rua General Câmara. Aquele antigo estabelecimento ocupava a esquina dessas duas ruas, sendo visão obrigatória para quem passava de bonde. Esse mesmo senhor
disse que os moradores estavam pilhando as telhas do prédio e que alguns moleques haviam jogado um canhão ou dois ao mar em gente do mesmo forte, disse ainda que mantinha em sua casa bolas de canhão. |