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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS
Guaiaó, Guaíbe e Enguaguaçu
Palavras primitivas que designaram a região quando chegaram os primeiros povoadores europeus, Guaiaó, Guaíbe e Enguaguaçu tiveram seu significado pesquisado pelos historiadores.

Guaiaó era o nome indígena da Ilha de São Vicente, que compreende as cidades de Santos e São Vicente, conforme citado na escritura das primeiras terras doadas a Pero de Góis em 1532, ano da fundação de São Vicente, quando ele chegou à região como integrante da comitiva de Martim Afonso de Souza.

Registra o historiador Francisco Martins dos Santos, em sua obra História de Santos, que Gohayó é corruptela de Gu-ai-og, termo formado pela união de GU (= recíproco), AI (= despegar, abrir, separar), OG (cortar, arrancar) - sendo que os verbos AI e OG aparecem unidos como expressão de "separação por força". O termo alude a ter sido a ilha separada do continente pela força e pressão das águas ou por algum fenômeno sísmico que teria ocorrido muitos séculos antes.

Em outra parte de sua obra, o mesmo Francisco Martins revê esse conceito: "Pensávamos nós que este nome era de origem brasílica (indígena), como consignava Mendes de Almeida, e com um sentido que, em verdade, estaria muito acima da compreensão ou da concepção científica do indígena logal, em seu significado de 'terra cortada ou despegada à força, pela pressão ou agitação da terra e da água'. O nome goiaió ou guaió (formas antigas: goaihó e guaió) é de origem semítica, aplicado evidentemente pelos exploradores e povoadores semitas do litoral - do hebraico gua (=região, centro, meio), hi (= ela) e hó (= merenda, repasto, graça, benefício); inicialmente guahihó ou goáhihó (guayhó e goahihó) com o significado de 'ilha ou lugar do fornecimento, das provisões, das vitualhas' e portanto do apoio às armadas e aos viajantes (verdadeiro benefício, verdadeira graça), que ali encontravm indígenas amigos, bons, entrosáveis, que negociavam com eles os gêneros da terra, em permuta com o que eles traziam.

"É o que afirma, aliás, Diogo Garcia de Moguér, em 1527, em sua Memória de la Navegación, dizendo: 'e de aqui fuemos a tomar refresco em San Vicente questá en 24 grados.... y está una gente ali con el bachiller que comen carne umana y es mui buena gente amigos mucho de los cristianos que se llaman topíes'

"Esta versão, que deve ser a verdadeira - continua Francisco Martins - possui conteúdo descritivo e sociológico, traduzindo, como traduz, a alegria de quem chegava pelo mar, já sem provisões, e de repente encontra um ambiente amigo e farto, onde terminam suas agruras e sofrimentos, e onde muitos acabavam ficando, ligando-se às ameríndias, constituindo família, povoando. Vêem-se aqui, neste depoimento importante de Diogo Garcia de Moguér, a razão e o fundamento do batismo semita daquela gente - topí, topíes, do hebraico tob (=bom, virtuoso, com virtudes) e pi (= boca, entrada, borda, margem), significando 'a gente boa, amiga, acolhedora, virtuosa' da parte da frente, da entrada do país, da costa, como vimos na introdução."

O historiador completa: "A origem semítica do vocábulo está demonstrada pelo próprio Anchieta que, escrevendo a sua gramática, não a chamou de Gramática Tupi, e sim, de Gramática da Língua mais usada na Costa (declarando-a, assim, a melhor e mais usada do litoral, da entrada do país, e portanto da gente melhor, superior, mais virtuosa e mais amiga".

Guaíbe representa vocábulo indígena designativo da Ilha de Santo Amaro, ao norte de Enguaguaçu, ou da Ilha de São Vicente. O pesquisador Olao Rodrigues registra em várias obras que Guaíbe é palavra paroxítona, isto é, com acento na penúltima sílaba, e não oxítona, com acento na última sílaba, como muitos pronunciam e indicam as placas denominativas da rua situada no Bairro de Aparecida ("Rua Guaibê").

Mapa de João Teixeira Albernaz, do século XVII, mostra a área do Enguaguaçu

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Enguaguaçu - Embora cauteloso, o historiador Frei Gaspar da Madre de Deus errou em alguns pontos de suas Memórias para a História da Capitania de São Vicente, entre eles o significado tupi do vocábulo Enguaguaçu. Segundo ele, significaria Pilão Grande, "nome que lhe adveio da configuração topográfica do sítio".

Como citou o pesquisador Olao Rodrigues em sua Cartilha da História de Santos, em 1980, "contestou-o o Dr. João Mendes de Almeida ao afirmar que o erudito monge confundiu o nome indígena da Barra Grande com o da Ilha de São Vicente. Segundo o mestre maranhense, Enguaguaçu significa 'enseada maior, a denominação dada pelos primitivos à Barra Grande, compreendendo o lagamar fronteiro à cidade de Santos', com ele concordando o Dr. Teodoro Sampaio em seu Dicionário Topográfico ao asseverar que Enguaguaçu é 'baía grande, lagamar grande'."

Também o tupinólogo (estudioso do idioma indígena Tupi) Plínio Airosa registrou, para o termo, o significado de "a enseada grande, o espraiado grande de água, a baía, o lagamar".

Já o historiador santista Francisco Martins dos Santos assinalou que "o vocábulo Enguaguaçu era atribuído à Ilha de São Vicente quando, na verdade, não passava de lagamar santista formado na saída do Rio de Bertioga, defronte da Alfândega, e daí se estendendo para a direita e para a esquerda, abrangendo de um lado o Caneú e do outro o Paquetá".

Em conseqüência da vizinhança desse lagamar com o lugar onde Santos se desenvolveu, tomou este o lugar do primeiro, por necessidade de distinção entre outras regiões da ilha, a ponto de ter sido dado ao primeiro povoado surgido à sua margem o nome de Povoado de Enguaguaçu, que, depois, passou a Porto de São Vicente e mais tarde a Porto de Santos. Concordaram Olao e Francisco Martins que Enguaguaçu é corruptela de he-n (= saída), guaã (= enseada), guaçu (= maior), alusiva a ter-se a maior extensão de águas interiores e a ficar na saída do Rio Bertioga.

Francisco Martins lembrou em sua obra que Frei Gaspar localizou Enguaguassu (outra forma gráfica do termo) com estas palavras, em suas Memórias para a História da Capitania de S. Vicente: "Dérão o nome de Enguaguassú à parte da ilha de S. Vicente que vai correndo dos Outeirinhos até o princípio da baía Caneú, pouco mais ou menos".

O primeiro documento, porém, em que se localiza e define geográfica e topograficamente o sítio de Enguaguassu é o Auto de Posse, de 10 de agosto de 1540, onde, perante Braz Cubas e o capitão-mor Antônio de Oliveira, diz Antônio do Vale, tabelião público, que demarcava as terras fronteiras: "... e com esta ditta terra já demarcada lhe foi também dada a dita Ilha que na sua data disse a qual está defronte das ditas suas terras e de fronte nesta Ilha de S.Vicente, onde chamão Emguaçú" - (abreviado por contração).

Planta da Vila de Santos de 1822 mostra aproximadamente a área do Enguaguaçu e o lagamar de Santos

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O pesquisador Durwal Ferreira publicou na Cartilha da História de Santos (de Olao Rodrigues, 1980) um comparativo que permite estabelecer a área compreendida pelo termo Enguaguaçu:

"Enguaguaçu apresentava o seguinte traçado, em confronto com a atualidade: três outeiros (morros) consecutivos e do lado oposto ao estuário (porto); quatro córregos, desaguando todos no estuário (lagamar):

1) nascia no morro de São Bento e seguia toda a Rua São Bento e o largo Marquês de Monte Alegre;
2) nascia no Monte Serrate (S. Jerônimo), junto ao Morro do Fontana (Mestre Bartolomeu), atravessava o começo da Avenida São Francisco, Praça dos Andradas, Rua 15 de Novembro, Rua do Comércio e Rua Tuiuti;
3) nascia no Monte Serrate (S. Jerônimo), ao lado da Escola Barnabé, percorria a praça Correia de Melo, Rua Itororó, Rua General Câmara, ladeava o Convento do Carmo, praça Visconde do Rio Branco;
4) nascia no Monte Serrate (S.Jerônimo), deslizava pela Rua Tiro Naval, Avenida Senador Feijó, Praça José Bonifácio - o Moço, novamente Avenida Senador Feijó e Praça da República.

Os extremos laterais: Rua de São Bento e Largo Marquês de Monte Alegre e Rua da Constituição desde a Avenida São Francisco até a rua Xavier da Silveira".

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