Imagem: reprodução parcial da primeira
página do jornal de 15/1/2009
FENÔMENO
Tempestade com granizo destrói e fere em Santos
Ventos atingiram ontem 90 km/h, segundo a Base Aérea. Guarujá e São Vicente
também registraram estragos
No porto, um armazém desabou, ferindo cinco pessoas, duas delas com gravidade. Partes
das paredes do Casarão do Valongo caíram. Pelos bairros da Cidade, 51 dos 300 semáforos ficaram apagados à tarde. Árvores
e postes foram derrubados. Ruas ficaram alagadas.
A força dos ventos, ontem, provocou
desmoronamento de parte do Armazém XII, arrendado pela Pérola Terminais de Granéis. Um dos feridos foi retirado dos escombros por equipes de resgate
do Corpo de Bombeiros
Foto: Irandy Ribas, publicada com a matéria
"As previsões são dinâmicas, mas estamos monitorando-as
constantemente. Botamos as equipes nas ruas assim que o temporal começou" - João Paulo Tavares Papa, prefeito de Santos.
"Há uma desarmonia climática, resultado de ações do homem no meio-ambiente, que
está causando tempestades, ciclones e furacões atípicos" - Rodolfo Bonafim, estudioso de Climatologia.
Na Rua Silva Jardim, em Santos, árvores caíram e
impediram o trânsito
Foto: Alberto Marques, publicada com a
matéria
TEMPESTADE TROPICAL
Rastro de destruição
Ventos de até 90 km/h, chuva forte e com granizo pararam parte de Santos por 40
minutos na tarde de ontem
Em torno de 100 mil consumidores foram prejudicados pela interrupção no
fornecimento de energia elétrica, ontem, em Santos, segundo a CPFL. A causa principal foi a queda de árvores
Mais de 50 dos 300 semáforos de Santos deixaram de funcionar a partir das 14
horas de ontem. A CET espera recuperar todos até o início da noite de hoje
Da Redação
Foram apenas 40 minutos,
mas o suficiente para que uma tempestade tropical de verão transformasse muitos pontos de Santos em cenários de guerra e deixasse vítimas.
Com ventos que chegaram a inéditos 90 quilômetros por hora na Base Aérea de Santos e
muito granizo, o fenômeno ocorrido a partir das 14 horas de ontem derrubou paredes de um armazém no porto, deixando cinco feridos (dois gravemente);
jogou árvores sobre casas e carros; obrigou parte do comércio a fechar as portas; alagou ruas; interrompeu o trânsito, a travessia de barcas para
Guarujá e o fornecimento de energia elétrica.
Em São Vicente, dezenas de árvores também atingiram casas,
veículos, canais e a rede elétrica, mas não houve vítimas.
Em Guarujá, um homem desapareceu no mar.
De acordo com a Base Aérea de Santos, essa foi a
ventania mais intensa dos últimos oito anos. A velocidade foi de 50 nós, o equivalente a 90 quilômetros por hora.
A força dos ventos foi também a principal responsável pela
formação de granizo, segundo o Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
No cruzamento das ruas Silva Jardim e Luiz Gama, no Macuco, poste de sinalização caiu em cima de
um carro
Foto: Alberto Marques, publicada com a
matéria
TEMPESTADE TROPICAL
Morros representam a maior preocupação
Árvores, telhados, paredes, postes e fios foram arrancados pela força dos
ventos. Carros foram destruídos e nem imóveis históricos escaparam dos estragos. Em meio ao caos, parte da Cidade ficou às escuras e o trânsito
registrou congestionamentos
Apesar da falta de luz, a Santa Casa da Misericórdia de Santos não teve o
atendimento interrompido, graças a três geradores de energia
Da Redação
Árvores e postes caídos
sobre casas e automóveis, sujeira, placas de publicidade e de trânsito danificadas, destelhamentos. A vida calma de ruas arborizadas se transformou
em poucos minutos de fortes ventos e chuvas e tomou horas de conversa e exercício de fotografia dos moradores, ainda surpresos no início da noite
com os estragos causados pela tempestade.
Do Palácio José Bonifácio, no Centro de Santos, chegavam os
primeiros números oficiais, trazidos pelo prefeito João Paulo Tavares Papa (PMDB). Foram 119 árvores caídas com a força
dos ventos e 51 cruzamentos com sinalização semafórica sem funcionar, além de dois pequenos deslizamentos de encosta nos morros da Penha e da
Caneleira. "Os morros eram a nossa grande preocupação", disse Papa. Segundo ele, todas as equipes da Defesa Civil foram colocadas nas ruas assim que
a chuva teve início. Papa garantiu que existe monitoramento do tempo na Cidade pela Defesa Civil. "As previsões são dinâmicas, mas estamos
monitorando-as constantemente", disse.
51 semáforos |
ficaram sem funcionar em pontos distintos da
Cidade, segundo dados oficiais do chefe do Executivo santista |
|
Nas ruas - No Centro de Santos, as chuvas e ventos
trataram de desmontar barracas de camelôs e levar as pessoas para dentro dos estabelecimentos. Nas Lojas Americanas, uma das portas ficou
interditada por alguns momentos, porque persianas metálicas do prédio caíram com os ventos e outras ameaçavam despencar.
Uma das paredes do casarão que vai abrigar o Museu Pelé,
no Valongo, caiu sobre um caminhão também por causa dos ventos. Por pouco, o motorista não perdeu a vida.
Na Praça dos Andradas, um estacionamento teve parte do
telhado arrancado. Bem próximo dali, o Túnel Rubens Ferreira Martins foi interditado no sentido Centro-Praias por mais de
uma hora porque uma placa de orientação do trânsito na Avenida Waldemar Leão tratou de cair com a força dos ventos e ficou pendurada. Poucos metros
à frente, o forro da cobertura de um posto de gasolina, o Jabuca, despencou. "Parecia que o mundo estava acabando", disse o frentista Marcos Renan.
A placa do Centro de Treinamento Rei Pelé, na mesma avenida, também ficou danificada.
No rastro do vento, árvores caídas na Avenida Bernardino de Campos e perto dali, um
quadrilátero que parecia ter sido escolhido pelos ventos para derrubar árvores e postes, e que envolveu o Campo Grande, a
Encruzilhada e o Boqueirão.
Na Rua Espírito Santo, no Campo Grande, na altura do número 158, um veículo Celta não
resistiu ao ingazeiro de mais de 15 metros que sobre [ele]
caiu e ficou totalmente danificado. Duas quadras à frente, na mesma Espírito Santo, a dentista Adriana Helena Pereira encontrou o seu Ford Fiesta
achatado.
Numa transversal da Espírito Santo, a Rua Pará, no número 55, a aposentada Maria da
Graça Gonzalez Lopes, de 57 anos, percebeu que a chuva era forte. Fechou a janela do quarto e foi telefonar para irmã para avisar que vinha
tempestade. Uma rajada de vento derrubou mais um ingazeiro e arrastou um poste metálico para o quintal da frente da sua casa. "Foi um grande
estrondo. Agora, já estou mais calma, mas a Minie ainda está muito nervosa", disse Maria da Graça. Minie é uma cachorrinha da raça Daschund.
15 metros |
era a altura de um ingazeiro que caiu sobre um
automóvel Celta na Rua Espírito Santo, no Campo Grande |
|
Encruzilhada - Na Rua Miguel Costa, na Encruzilhada, um poste de energia caiu
entre dois veículos e quebrou o vidro de um deles, depois que dois ingazeiros o puxaram pelos fios, arrancados pelos ventos. O aposentado Edmar
França, de 77 anos, morador do 314, atestou: "Nos meus 77 anos nunca vi nada igual. Quando eu era garoto teve uma tempestade forte, mas esta foi
mais", garantiu.
Já na Pérsio de Queiroz, também na Encruzilhada, quatro ingazeiros caíram e a calçada
ficou destruída. Na Rua Tomé de Souza, no Boqueirão, um Fox foi atingido por um chapéu de sol, que durante décadas só tinha trazido sombra ao local.
Não havia nenhuma sinalização nem pessoa no local. Possivelmente, o dono ainda desconhecesse o ocorrido às 17 horas de ontem.
Na Rua Paraguassu, os moradores estavam indignados com a queda de árvores. "Pedimos a
poda à Prefeitura, mas ela nunca acontece", reclamou Antonio Semionovas, de 53 anos, morador do número 20. "Estava no carro e assisti os galhos e a
árvore (sibipiruna) caírem sobre o meu jardim e eu não podia sair do meu veículo", disse o aposentado Antônio de Carvalho, de 74. A vizinha dele,
Isabel Colmenero, do número 5, também viu uma árvore cair no seu jardim. "Assisti a rua inteira sofrer danos da minha janela".
Antena - Como toda a Cidade, durante a tempestade, os moradores do prédio
número 58 da Rua Guedes Coelho, na Encruzilhada, temiam pelo que vinha do alto, mas não era a chuva nem o granizo. Uma antena de telefonia celular
instalada na cobertura (décimo andar) há seis meses tombou e ficou com cerca de três metros para fora do prédio. "Não era para acontecer", disse
Orlando Gomes, técnico da empresa que iria resolver o problema ainda ontem, segundo as suas contas.
Na Avenida Martins Fontes, na entrada de Santos, painel publicitário ficou pendurado
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria
Sem semáforos, trânsito complica
Começou no inicio da tarde de ontem e deveria adentrar a madrugada de hoje o trabalho dos técnicos
da CET (N.E.: Companhia de Engenharia de Tráfego)
para normalizar a sinalização semafórica de Santos, que entrou em colapso com a falta de energia elétrica e a variação de tensão em outros pontos.
Sem semáforos e ordenação, o trânsito ficou com a fluência comprometida em diversos pontos da malha viária santista.
Aproximadamente 40 agentes foram colocados nas ruas para operar os cruzamentos mais movimentados.
Parte deles estava de saída, após o turno da manhã, e retornou para ajudar nas operações.
"Já restabelecemos uma parte da sinalização e as equipes vão trabalhar por tempo indeterminado até
normalizarmos tudo", disse Elza do Carmo, supervisora da central da CET, às 20h30 de ontem. Pelas contas da supervisora, tudo estaria resolvido em
menos de 24 horas - início da noite de hoje.
"Depois que as equipes realizam os serviços nos locais, precisamos de algum tempo para um ajuste
de todo o ciclo", explicou Elza. "Também dependemos da CPFL Piratininga para que a energia seja restabelecida totalmente", disse a supervisora (ver
matéria ao lado).
O ajuste do ciclo envolve os equipamentos que são operados remotamente e inclui a temporização -
cerca de 150 de um total de 300 que existem na Cidade.
MORADORES DE SANTOS NÃO SE INTIMIDARAM DIANTE DAS RAJADAS DE VENTOS E REGISTRARAM O CAOS QUE TOMOU
CONTA DO MUNICÍPIO NA TARDE DE ONTEM - Curiosidade também marcou a passagem da tempestade na região. Moradora do Boqueirão tira foto de carro
destruído na Rua Tomé de Souza. O veículo foi atingido por um chapéu de sol
Foto publicada com a matéria
100 mil ficam sem energia elétrica
Os ventos de até 90 quilômetros por hora causaram prejuízo às linhas de transmissão de energia
elétrica na região - principalmente em Santos, Vicente de Carvalho (Guarujá) e São Vicente. O problema foi
provocado pela queda de árvores, que, ao romperem os cabos de energia, interromperam o fornecimento pela CPFL, distribuidora responsável pelo
serviço na Baixada Santista.
Até as 22 horas, cerca de 20 mil consumidores santistas ainda estavam sem energia. "Estamos com
100 colaboradores nas ruas, trabalhando para restabelecer as redes", disse, então, o gerente da divisão de serviço de campo da CPFL, Cesar Perri.
Em Vicente de Carvalho e Guarujá, naquele momento, aproximadamente 99% dos moradores já contavam
com o serviço normalizado.
Segundo o gerente da CPFL, 12 bairros de Santos foram atingidos na hora da tempestade. Naquele
momento, cerca de 100 mil moradores ficaram sem luz. s locais mais afetados foram Saboó, Campo Grande,
Macuco, Estuário e Aparecida.
Água - O fornecimento de água em Itanhaém e
Mongaguá foi interrompido pela Sabesp, na parte da tarde, por causa das chuvas, para garantir a qualidade do
líquido. A previsão era de restabelecimento por volta das 22 horas de ontem.
Transtornos por toda cidade
Infográfico: Alex Silva/Editoria de Arte -
publicado com a matéria
1 - Rua Júlio Conceição - Queda de árvore
2 - Rua Tomé de Souza, no Boqueirão - carro destruído
3 - Maria da Graça se assustou com o poste elétrico
Rua Pará, no Campo Grande - queda de
poste
4 - Rua João Pessoa, Centro - alagamentos
5 - Túnel Rubens Martins foi interditado por causa de queda de placas na Waldemar Leão
Entenda o fenômeno
Fonte: Rodolfo Bonafim, professor de física e observador climatológico
Infográfico publicado com a matéria |