Desabamento de parte do galpão atingiu quatro caminhões que estavam estacionados na lateral do
imóvel, na Avenida Eduardo Guinle
Foto: Irandy Ribas publicada com a matéria
TEMPESTADE TROPICAL
Ventos arrasam armazém
Pelo menos cinco trabalhadores foram atingidos pelo desmoronamento da
instalação portuária
Cerca de um terço do Armazém 12 externo, arrendado à Pérola Terminais de
Granéis, desabou na tarde de ontem
Da Redação
Os ventos de 90 km/h que
atingiram a Cidade ontem à tarde, por volta das 14 horas, provocaram o desmoronamento de cerca de um terço do Armazém XII (12 externo) do
Porto de Santos, arrendado à Pérola Terminais de Granéis, do Grupo Rodrimar. Pelo menos cinco trabalhadores
foram soterrados com o desabamento das paredes e do telhado do imóvel. Até o fechamento desta edição, dois deles permaneceriam internados, em
observação.
Os bombeiros retiraram as primeiras vítimas do entulho com o auxílio de macas. Elas
foram atendidas emergencialmente pelas equipes de enfermagem dos terminais vizinhos. "Estamos fazendo o possível. Este (um dos feridos) está em
estado de choque", disse uma das enfermeiras. Ela se referiu ao trabalhador que era embarcado na ambulância naquele momento, pouco antes das 15
horas. Tratava-se de um homem de aproximadamente 30 anos preso à maca, que tremia bastante. O bombeiro fez perguntas simples a ele, para mantê-lo
consciente, enquanto posicionava o balão de oxigênio no nariz do trabalhador. A viatura partiu logo em seguida.
As equipes do Corpo de Bombeiros levaram três das cinco vítimas para o Pronto-Socorro
Central, da Prefeitura de Santos. Duas foram medicadas e liberadas, enquanto uma permaneceu internada, em observação. O pronto-socorro da
Santa Casa da Misericórdia de Santos recebeu os outros dois trabalhadores. Só um ficou internado.
2 vítimas |
permaneciam internadas até a noite de ontem |
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Caminhoneiros - O desabamento de parte do armazém também atingiu quatro
caminhões que estavam estacionados na lateral do galpão, na Avenida Eduardo Guinle, aguardando para operar em terminais próximos. O motorista que
estava na boléia de um dos veículos de carga, chegando a ser ferido, contou como tudo aconteceu. "Estacionei e estava dentro (da cabine). De
repente, ouvi um barulho e levei uma pancada aqui", disse o caminhoneiro autônomo Francisco de Oliveira, de 63 anos, apontando para um ferimento na
cabeça.
Com a cabeça e o tórax sangrando, o sobrevivente relatou que aguardava para carregar
em um terminal próximo, do outro lado da Avenida Eduardo Guinle. Oliveira saiu sozinho de dentro do caminhão e foi até o local onde eram realizados
os atendimentos. Seu veículo foi totalmente destruído. Ele sentia dores só na cabeça.
O motorista Carlos Alberto, de 34 anos, também presenciou o incidente. "Eu estava na
barraca ao lado quando nós percebemos que tudo ia cair. Nós ajudamos a tirar um de dentro do caminhão, mas acho que ainda tem gente aí".
"Toda as ações estão sendo desenvolvidas no sentido de remover os escombros, com o
apoio das máquinas, e tentar chegar nessas possíveis vítimas", disse o major Eduardo Noceti, subcomandante do 6º Grupamento do Corpo de Bombeiros de
Santos, no final da tarde.
Até o fechamento da edição, nenhuma outra vítima foi localizada sob as paredes e o
telhado do armazém.
Os trabalhos de remoção envolveram 35 bombeiros e 70 funcionários de terminais
graneleiros. Foram utilizadas oito viaturas dos bombeiros, quatro escavadeiras, dois guinchos e veículos de apoio da Guarda Portuária.
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"Eu estava na barraca ao lado quando nós
percebemos que tudo ia cair. Nós ajudamos a tirar um (motorista) de dentro do caminhão" |
Carlos Alberto,
motorista |
Reconstrução - O presidente do Grupo Rodrimar, Celso Grecco, informou que já
planeja a reconstrução do armazém destruído. Ele garantiu que dará todo o apoio às vítimas do acidente.
Grecco disse que, ainda ontem, a construtora Latina, responsável pela reforma e
adaptação do complexo Pérola, foi acionada para avaliar os motivos do acidente. Segundo ele, o galpão estava "Praticamente vazio, porque não é época
de importação de fertilizantes" e, por isso, os prejuízos não foram maiores. AInda não há uma soma dos danos causados pelo acidente.
A princípio, segundo avaliou o empresário, o desmoronamento de parte do armazém foi
causado pelo forte vento, que acabou destelhando parte da estrutura do terminal. "A gente acredita que o vento entrou e, como não tinha por onde
sair, arrastou as paredes, desmoronando tudo".
O desabamento de parte do Armazém XII:
1 - Ventos de até 90 km/h atingiram a
cidade de Santos por volta das 14 horas
2 - Pelo menos um terço do Armazém XII
(12 externo) no Porto de Santos, arrendado à Pérola, ruiu com a força das rajadas de vento
3 - Quatro caminhões e pelo menos cinco
pessoas foram soterradas. Uma pista da Avenida Eduardo Guinle, onde fica o galpão, foi interditada
4 - Equipes de resgate removeram
entulhos à procura de mais vítimas. Escavadeiras auxiliaram na retirada de pedras
Infográfico publicado com a matéria
Cargueiro fica à deriva no porto
O navio conteineiro Holsatia Express, que estava atracado no ponto 4 do Cais do Saboó, teve
as amarras rompidas durante a tempestade que atingiu a região na tarde de ontem. A embarcação se soltou do berço, em frente ao Terminal para
Contêineres da Margem Direita (Tecondi), e ficou à deriva no Canal do Estuário.
De acordo com o Tecondi, a maré e os ventos intensos causaram o incidente.
Segundo apurou A Tribuna, quando se soltou, o navio se distanciou do cais, movendo-se por
dezenas de metros em direção ao centro do canal de navegação.
Em nota, o Tecondi informou que acionou as autoridades portuárias assim que constatou o problema.
As operações no terminal foram paralisadas por cerca de 20 minutos e, após este período, restabelecidas, inclusive no interior do cargueiro
Holsatia Express.
Mais estragos - Uma pilha de cinco contêineres desabou no pátio do terminal retroportuário
da Marimex, na Avenida Eduardo Guinle, no Porto de Santos. Informações obtidas no final da tarde de ontem dão conta de que ninguém se feriu no
incidente.
A assessoria de imprensa da Codesp informou que uma árvore desabou, também na Eduardo Guinle, na
direção da Rua General Câmara, e atingiu uma viatura da Guarda Portuária e outro veículo.
Trânsito - O mau tempo provocou a paralisação momentânea do trânsito nas avenidas do porto,
no Cais do Saboó. Uma fila de caminhões se formou no local, após o incidente no Tecondi. Segundo o diretor de Infraestrutura e Serviços da Codesp,
Paulino Moreira Vicente, a situação foi normalizada no final da tarde.
Em relação à área interditada pelos escombros do armazém da Pérola, a empresa informou que
desocuparia a via o mais rápido possível para permitir a fluidez de caminhões.
Com o rompimento de suas amarras, o cargueiro Holsatia Express ficou à deriva no Canal do
Estuário
Foto: Irandy Ribas publicada com a matéria
TEMPESTADE TROPICAL
ZN tem 15 residências destelhadas
Moradores da Zona Noroeste ficaram assustados e com medo antes mesmo de terem
noção dos prejuízos
Os bairros da Caneleira, Areia Branca e Chico de Paula e a região dos morros
foram duramente castigados pelo violento temporal
Da Redação
A tempestade também
provocou prejuízos, sustos e medo na Zona Noroeste, em Santos, sobretudo no trecho da Rua Alberto Eduardo Levi,
Caneleira, onde pelo menos 15 casas foram destelhadas. Trechos da Avenida Nossa Senhora de Fátima
ficaram alagados. No Chico de Paula, várias ruas ficaram inundadas.
Depois do temporal, os moradores começaram a contabilizar os prejuízos. Na casa da
balconista Cristiane dos Santos, 32 anos, os quartos ficaram alagados. "Molhou tudo, dos cobertores às nossas roupas. É meu aniversário e ganho um
presente desses", disse ela, desolada. "Estava na praia, quando me ligaram, voltei correndo. Agora o jeito vai ser dormir na sala até consertar
tudo".
40 turistas |
que passam as férias em Guarujá precisaram ser
retirados às pressas de uma plataforma na Praia da Enseada |
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Guarujá - Em Guarujá, a tempestade começou por volta das 16 horas e pegou de
surpresa muitos turistas que ainda estavam na praia. O vento forte carregou cadeiras, guarda-sóis e objetos pessoais, que ficaram espalhados pela
faixa de areia.
Na Enseada, um homem que tentava fugir do temporal, caminhando pela encosta do Morro
do Maluf, escorregou de uma pedra e desapareceu no mar, por volta das 16h20. Um helicóptero-águia da Polícia Militar chegou a fazer buscas no local,
mas sem sucesso. Ainda na Enseada, um grupo de cerca de 40 turistas teve que ser retirado às presas de uma plataforma da empresa de alimentos Kraft,
que estava ancorada a cerca de 70 metros da orla.
No local, estavam sendo oferecidos brindes, entre outros atrativos para o público.
Todas as pessoas foram resgatadas por uma embarcação.
Também ocorreram estragos na Prainha, em Vicente de Carvalho, onde dezenas de
barracos foram atingidos pelo vendaval. Pelo menos um deles foi levado pela maré. Outros três tiveram a estrutura comprometida com a inclinação das
palafitas e seus ocupantes precisaram ser removidos.
Um poste de madeira caiu e duas residências foram atingidas por árvores derrubadas.
Em uma delas, a dona-de-casa Sonia Maria dos Santos ficou ilhada, já que a árvore bloqueou a sua residência.
Em pior situação ficou a catadora de latinhas Eva Neuci Picoli, que perdeu o barraco
que havia comprado há um ano por R$ 600,00 para viver com a filha de 13 anos.
São Vicente - O vendaval também provocou estragos em São Vicente. Segundo a
Defesa Civil e o Corpo de Bombeiros houve queda de dezenas de árvores em ruas e avenidas da Cidade, atingindo casas, veículos, canais e rede
elétrica.
Houve queda de árvores na Avenida Antônio Emmerick, na Rua Espírito Santo, na Armando
Salles de Oliveira, na Quintino Bocaiuva (Linha Amarela), na Avenida Minas Gerais (Linha Vermelha) e na Rua Uberaba.
Queda de árvores bloqueou a Rua Augusto Gomes Pereira, na Zona Noroeste, que, como em outras
regiões da cidade, teve vários bairros alagados e residências semi-destruídas
Foto: Patrícia Cruz, publicada com a
matéria
Ruas e avenidas alagadas e imóveis destelhados em vários bairros foram cenas comuns provocadas
pela tempestade que atingiu a região
Fotos: Patrícia Cruz, publicadas com a
matéria
Professor explica o fenômeno
A interferência do homem no meio-ambiente aos poucos vem resultando em desarmonias
climáticas inesperadas. Exemplo disso foi a tempestade tropical de grandes proporções que atingiu a região, ontem, durante a tarde. A teoria é do
professor de Física e Astronomia, Rodolfo Bonafim. Segundo ele, que é estudioso de Climatologia, a probabilidade de o fenômeno voltar a ocorrer
ainda este mês é grande.
Bonafim explica que a tempestade de ontem foi conseqüência do encontro de uma massa
de ar de baixa pressão continental, oriunda da região do Paraguai, com a brisa marítima intensa que se encontrava no litoral paulista. "Essa espécie
de choque provocou a ventania e chuva intensas".
O especialista adverte que o fenômeno é atípico, não só pela intensidade da chuva e
dos ventos, mas até pela ocorrência de granizos. "É algo raro nesta época. O granizo se forma nessa condição em que o ar congela muito rapidamente".
Mas, a "estranheza" do fenômeno tem precedentes, diz Bonafim. Ele lembra que, no
último dia 3, um ciclone foi registrado na região Norte do Rio Grande do Sul, o que configuraria dois fatos pouco usuais. "Normalmente, ciclones
ocorrem na passagem do verão para o o outono (final de março) e na região Sul do Estado".
Outro aspecto que está diferenciando este verão dos anteriores é a temperatura.
"Desde dezembro tivemos um clima ameno na região, com pouco sol e muita umidade, o que não é normal. Somente nos últimos dias a temperatura
aumentou".
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"Fenômeno é atípico não só pela intensidade da chuva e do vento, como pela ocorrência de
granizo" |
Rodolfo Bonafim
professor de Física e Astronomia |
Interferência - O professor aponta dois fatores que podem estar contribuindo
para a desregulação do clima, não apenas no Brasil.
O primeiro seria o aquecimento global, que provoca a alta na temperatura da
superfície do mar (a área que fica em contato direto com a atmosfera). o segundo, o desmatamento da Região Amazônica. Bonafim cita como exemplo as
chamadas chuvas de verão. Segundo ele, há cerca de dez anos as massas de ar equatoriais continentais vindas da Amazônia eram muito comuns e, ao se
chocarem com a brisa do mar, provocavam as trovoadas.
Com o desmatamento, essas massas não chegam mais com tanta facilidade à região,
diminuindo a ocorrência das pancadas de chuva.
Região - O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) informou que toda
a Baixada Santista está sujeita a tempestades semelhantes até o fim do verão, mas que não é possível prever com que força elas atingirão a região.
O barraco situado na localidade de Prainha, em Guarujá, foi totalmente destruído pela força do
vento
Foto: Alexander Ferraz, publicada com a
matéria
TEMPESTADE TROPICAL
Fúria da natureza
População foi pega de surpresa e até as 22h10 algumas ruas do Bairro
Encruzilhada permaneciam sem luz
O vendaval de curto tempo de duração deixou um rastro de prejuízos, tanto
público quanto privado. Hoje o dia ainda será para contabilizar perdas
VALONGO - Vento destruiu parte das ruínas da primeira Câmara de Santos. Local lembra cena de
bombardeio
Foto: Alberto Marques, publicada com a
matéria
ENCRUZILHADA - Na Rua Pérsio de Queiroz Filho duas árvores caíram e impediram o trânsito. O mesmo
aconteceu em vários pontos de Santos, São Vicente e Guarujá
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria
CAMPO GRANDE - Na Rua Espírito Santo, árvores caíram sobre veículos. Cena se repetiu em outros
pontos de Santos
Foto: Davi Ribeiro, publicada com a matéria
PRAINHA - Na favela do Guarujá o vento destruiu parte de uma casa e deixou dezenas destelhadas
Foto: Alexander Ferraz, publicada com a
matéria
CENTRO - Às 15h19 a Prefeitura de Santos não tinha luz. Por causa da falta de energia os
servidores foram dispensados no meio da tarde
Foto: Nirley Sena, publicada com a matéria
ENSEADA - As ruas de um dos bairros mais importantes de Guarujá ficaram alagadas com o temporal
que começou por volta das 14h10
Foto: Edison Baraçal, publicada com a
matéria
119 árvores |
tombaram ontem devido à força do vento, segundo
informações da Prefeitura de Santos |
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O congestionamento de caminhões no Porto de Santos chegou a um quilômetro de extensão
Foto publicada com a matéria |