HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS Cidade festiva: música, vida noturna e dança
Existiu um tempo em que a senha entre os boêmios era um número - e nada mais precisava ser dito, todos sabiam que esse número era o endereço de alguma conhecida casa noturna situada no final da Rua General Câmara. Que muitas vezes não tinha qualquer nome na porta, esta ficava apenas entreaberta, abrindo para um pátio interno com música, mulheres e cerveja à espera.
Pela mesma razão, as raras casas de família (residenciais) restantes é que colocavam uma tabuleta na porta informando essa condição, para evitar a entrada dos incautos. Também havia a instrução, nem sempre seguida, de acender uma lâmpada vermelha na entrada das casas noturnas, para distingui-las das residências.
E uma forma de testar o conhecimento do pretenso boêmio era comentar sobre uma nova casa noturna aberta nessa rua, por exemplo no número 600. Se o pretenso boêmio não estrilasse com a brincadeira, e mesmo tentasse mostrar seus dotes de grande conhecedor, confirmando a beleza e a sensualidade das mulheres encontradas nesse fictício endereço subaquático (pois o último número da rua General Câmara era o 512, junto ao cais), era desmascarado sob sonora vaia.
A Boca de Santos, no final da Rua General Câmara (à direita), junto ao cais
O local dessas brincadeiras foi conhecido internacionalmente como a Boca de Santos, com a fama sendo espalhada por todos os continentes graças aos marinheiros que freqüentavam a área, num tempo em que até podiam confiar que os garçons e proprietários dos estabelecimentos fariam o encaminhamento de cartas e pacotes aos seus familiares - objetos que os marinheiros não poderiam postar diretamente, já que seus navios deixariam o porto na madrugada seguinte.
A Boca - que começou a perder força a partir de 1970 com o alargamento da Rua João Pessoa e a redução a algumas horas apenas do tempo de escala dos navios cargueiros no porto (progresso devido à conteinerização das cargas, que acelerou bastante as operações no porto) - é um dos pontos principais enfocados nestas séries de artigos. Elas foram escritas pelo historiador e escritor santista Bandeira Jr. - autor entre outras obras, de História do Carnaval Santista - e publicadas em várias partes no jornal A Tribuna de Santos, em 1992.
Seu autor também relembra os tempos em que os grandes nomes da música e dança internacional incluíam os clubes e teatros santistas como escala obrigatória em seus roteiros pelo Brasil, muitas vezes complementando com a passagem pelos microfones e auditórios de uma das emissoras de rádio da região. Veja:
Outros músicos, em diferentes épocas, se destacaram em Santos, e não apenas na noite. Orquestras, bandas e fanfarras, conjuntos de música clássica, jazz etc., santistas ou não, também tiveram sua época, bem como os locais em que eles se apresentavam. Eis alguns deles:
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