HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
CIDADE FESTIVA
Cidade musical
Texto
publicado na revista Depois da Cena, produzida pelo jornal A Tribuna para
distribuição ao final de espetáculos culturais, edição 2/ano 2, distribuída em 30 de abril de 2009, páginas 54 e 55:
Reprodução das páginas 54 e 55 da revista Depois da
Cena
Uma cidade musical por excelência
Luiz Gomes Otero
O
que é que Santos tem que atrai tanto a atenção dos músicos? Além de ter seus talentos reconhecidos não só no Brasil, mas também em vários países do
exterior, a Cidade ainda serve como fonte de inspiração nos mais diversos tipos de manifestações culturais. Desde a música erudita até a popular,
ela está representada em quase todos os segmentos.
Em um patamar
superior, podemos citar o compositor Gilberto Mendes, de 86 anos, talvez o maior nome da música erudita da
atualidade. Ícone da chamada música concreta de vanguarda, ele iniciou seus estudos de música aos 18 anos, no Conservatório
Musical de Santos, com Savino de Benedictis e Antonieta Rudge. E foi um dos integrantes do movimento Música Nova, que acabou resultando na
criação do Festival Música Nova de Santos em 1962, o mais antigo do gênero na América. Mendes é o programador e diretor artístico do evento.
Sua obra já foi
tocada nos cinco continentes, principalmente na Europa e nos Estados Unidos. E o fato interessante é que ela tem títulos inspirados em Santos e na
Baixada Santista: Saudades do Parque Balneário Hotel, Vila Socó Meu Amor e Santos Football Music, considerada emblemática por
críticos e estudiosos. Essas composições retratam o amor de Mendes para Santos e a região como um todo.
No Brasil,
Mendes recebeu inúmeras láureas, entre elas o Prêmio Carlos Gomes do Governo do Estado de São Paulo e as diversas nominações na Associação Paulista
dos Críticos de Arte (APCA). Em cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, no ano de 2004, ele recebeu a insígnia e o diploma de sua admissão na
Ordem do Mérito Cultural, na classe de comendador, do Ministério da Cultura, das mãos do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e do
então ministro da Cultura, Gilberto Gil.
Com todos esses
atributos, era de se esperar que Mendes acabasse fixando residência em um país do exterior. Mas o fato é que ele preferiu continuar vivendo em sua
amada Santos. A terra da liberdade e da caridade conquistou definitivamente o coração do músico reconhecido mundialmente pela sua obra. E ainda o
ajudou a produzir verdadeiras obras-primas da música erudita.
No plano da
música popular, destaca-se o compositor Lúcio Cardim Filho, nascido em 1932 e falecido em 1982, quatro dias antes de completar 50 anos. Ele faz 250
canções, sendo que 90 delas foram gravadas por diversos artistas de renome, como Jamelão, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Altemar Dutra, Nora Ney,
Marta Mendonça, Nelson Gonçalves, Chitãozinho e Xororó, Dupla Ouro e Prata, Wilson Miranda, Maria Bethânia, Simone, entre outros.
Mas a canção
mais emblemática de seu repertório seria lançada na voz de Jamelão. Matriz ou Filial, um samba-canção com temática sentimental, que trata de
uma relação amorosa não correspondida, até hoje costuma ser erroneamente atribuída ao gaúcho Lupicínio Rodrigues, considerado um mestre no estilo
conhecido como música de fossa.
Outra história
interessante foi escrita pelo compositor Renato Borgomoni, ou Rebór, como ele mesmo faz questão de ser chamado.
Aos 93 anos de idade, 70 dos quais dedicados à composição de sambas, ele viu ser lançado o seu primeiro disco, um registro gravado ao vivo com
cantores e músicos da Cidade como Luiz Cláudio Santos e Roberto Biela (que juntamente com Julinho Bittencourt integravam o saudoso grupo Jornal do
Brasil, que animou diversas noites do Bar do Torto no Boqueirão), além das cantoras Kika Wilcox e Elenira Ribeiro.
Rebór é um
patrimônio do samba. Ele está para nós como Adoniran Barbosa está para a cidade de São Paulo. Alguém que sempre buscou colocar nas letras simples,
mas incrivelmente inspiradas, a realidade vivida em Santos.
Também não
podemos deixar de mencionar os nomes que atuam na música instrumental, como o santista Roberto Sion, que, além de saxofonista, é também flautista e
clarinetista. Isso sem falar nas atividades que desempenha como compositor, arranjador, maestro e professor. Sion utilizou elementos do jazz na
música brasileira, sendo ela bossa nova ou samba, fazendo deste estilo sua marca registrada. Integrou a primeira formação do quinteto Pau-Brasil e
lançou elogiados discos em carreira solo, todos tendo como base principal a nossa música popular brasileira. E esse talvez seja o seu maior mérito.
Além do merecido reconhecimento no exterior, sua obra sempre procurou enfocar a genuína música brasileira.
E quem já não
ouviu falar de José Simonian, também conhecido na Cidade como o Zé da Flauta? Natural de Santos, iniciou seu contato com a música como autodidata em
1978. Seus primeiros professores de flauta transversal foram Roberto Moraes (popular) e Marcos Martins (erudito). No saxofone, teve iniciação com
Teco Cardoso e Roberto Sion (curiosamente ambos integrantes do grupo Pau-Brasil em épocas diferentes). O convívio com vários gêneros o fez atuar com
diversas formações, tais como grupos de câmera, duos, quartetos de jazz em projetos por todo o Brasil.
Seus três
discos são referência para qualquer músico iniciante. O talento nato do Zé da Flauta só nos faz encher de orgulho por contarmos com um músico desse
quilate entre nós. E, acima de tudo, ele é um homem simples, uma pessoa agradável que nunca se negou a ter um dedo de prosa com quem quer que fosse.
Outro músico
natural da Cidade é o guitarrista Alexandre Birkett, que iniciou sua formação em 1984 e já gravou quatro discos, sendo os dois primeiros de forma
independente e os outros dois pelo selo Marine Music, todos com música instrumental de qualidade. O seu terceiro disco como artista solo (Mixtura
Brasileira) foi gravado em parceria com o renovado percussionista Robertinho Silva, que já acompanhou Milton Nascimento e diversos outros
artistas consagrados da nossa música. Uma de suas composições faz menção à nossa Rua XV de Novembro, ponto de referência
do nosso Centro Histórico. Além disso, compôs peças instrumentais homenageando o Engenho dos
Erasmos e o bairro do Valongo. Basta ouvir um de seus discos para perceber que Birkett é um músico acima da média.
A Cidade ainda
tem outros nomes que estão conquistando o merecido espaço dentro da música instrumental. O guitarrista Mauro Hector, por exemplo, já gravou dois
elogiados discos independentes, cujas composições mostram suas principais influências (rock, jazz e blues). E Milton Medusa, outro guitarrista com
mais de 20 anos de estrada, já se apresentou na Rede Globo, no programa de entrevistas do Jô Soares e trabalhou com outros artistas como Kiko Muller
(vocalista do grupo Golpe de Estado) e Percy Weiss (ex-vocalista da banda paulistana Made In Brazil), dentro de um processo de resgate da memória do
rock nacional.
Ainda no plano
do rock, nos anos 90 a banda santista Charlie Brown Jr. projetou a Cidade de Santos para o resto do País. Fundado e liderado pelo vocalista
Alexandre Magno, o Chorão, o conjunto não só emplacou diversos prêmios nacionais como também conquistou um público fiel, que lota seus
shows até os dias de hoje. Com uma mistura de vários estilos musicais (punk, hip-hop e reggae, entre outros), o grupo passou a servir de modelo
para diversas outras bandas de rock, como Detonautas e até mesmo para a NX Zero, que vem fazendo sucesso mais recentemente. É inegável o fato de
Chorão, que aliás é paulistano de nascimento, mencionar em várias oportunidades a Cidade de Santos em entrevistas dadas para a televisão. Até mesmo
alguns videoclipes foram produzidos tendo como fundo a paisagem da Cidade.
Por tudo isso,
é possível dizer que Santos pode ser vista e admirada através da música, seja ela cantada ou instrumental, erudita ou popular. Em todos os
segmentos, a Cidade está muito bem representada, inclusive pelos novos talentos que surgem a cada dia que passa.
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