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Publicado em 28 de setembro de 1992 no jornal santista A Tribuna
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 03/29/03 19:32:15
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HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS - CIDADE FESTIVA
Os bailes de Santos (1)

Bandeira Jr. (*)
Colaborador

Os primeiros bailes da Vila de Santos ocorreram por volta de 1830, na Sociedade Harmonia - que, segundo Alberto de Souza (in Os Andradas) "ambientava a elite local, por meio de saraus dançantes e musicais e outras diversões amenas e permitidas. Era em seus alegres salões que as damas principais da Vila e os elegantes e peralvilhos da época se reuniam, mantendo em certo nível a cultura social do meio".

Essa agremiação pioneira ocupava vasto e confortável sobrado da Rua Direita (XV de Novembro), de propriedade do capitão de milícias Manoel Pereira dos Santos - porém, não conseguimos apurar o local exato.

O primeiro ou um dos primeiros balls masqués (N.E.: bailes de máscaras) foi promovido pelo Recreio Santista no nosso velho Teatro do Largo da Coroação, para festejar o Carnaval de 1851. O pardieiro, que nos servia de teatro cênico desde 1830, era deficiente em tudo: até cadeira os espectadores tinham de levar se quisessem sentar. Entretanto, os bailes momísticos neles realizados tiveram tanto êxito, que foram repetidos pós carnaval, até no mês de agosto, aliás, de muito mau gosto.

Entretanto, o maior baile do século XIX aconteceu no Palacete Mauá (hoje escritório da firma cafeeira Hard Rand), na Rua Frei Gaspar, 6, na segunda-feira gorda de 1882, e assim registrado no Diário de Santos (1872/1918):

"...Foi deslumbrante a Festa dos Meteoros, no Palacete Mauá, caprichosamente adornado desde o portão de entrada até o buffet, um verdadeiro bosque de flores e paineiras entrelaçadas, tudo iluminado por lanternas avenezianas. No salão de danças, muitas luzes, muitos espelhos e muitas flores... Ao primeiro número formaram-se logo sessenta pares da melhor elite! O serviço de buffet, a cargo do Hotel Central, foi de primeira ordem. O mais suntuoso e brilhante baile que temos assistido em nossa Cidade".


Antiga Rua Direita, hoje XV de Novembro, em aquarela do inglês Burchell, de 1825

O Clube XV realizou festas excepcionais, como a que comemorou seus quinze anos, na sede do Largo Marquês de Monte Alegre.

Era presidente Dick Martins, de tradicional família santense, que mandou vir um vagão de flores para decorar a sede do clube, que viria a ser o mais antigo do País. Isso foi no dia 12 de junho de 1884.

Igualmente marcaram época, neste século (N.E.: século XX), a série de Bailes da Chita, do Clube Atlético Santista, tanto no salão da Humanitária (1933/1948), como no ginásio da Encruzilhada (1949/1980), durante quarenta e sete anos. E nos últimos anos, o clube verde-branco do Canal 3 faz a Festa dos Veteranos, num domingo de setembro, dentro das comemorações de aniversário, por iniciativa do saudoso esportista Oscar Martins Pinheiro.

Essa evocativa celebração começa pela manhã, com missa (no ginásio), futebol de veteranos (no mini-campo), coquetel (no salão de cristal) e lauto almoço, seguido de baile, com danças e músicas antigas (no salão espacial), até o cair da noite. Essa criação atleticana foi imitada até por clubes do exterior!

Marcantes, também, foram as vesperais (domingueiras) que as agremiações estudantis promoveram, por mais de 30 anos, nos salões da Sociedade Humanitária, quase sempre com a Orquestra de Pepe & Idilberto.


Festa dos Veteranos, baile nostálgico do Atlético Santista

A colunista social de A Tribuna, Thereza Bueno Wolf, fez durante alguns anos o melhor baile do society da orla, o disputado Grande Gala Glamour Girl e nós, como cronista noctívago, no mesmo jornal, decidimos organizar o Maior Baile de Todos os Tempos, no ginásio de esportes do Clube Atlético Santista, contando com o concurso de seis bandas e meia - a do Zago, surpreendentemente, dividiu-se em duas -, mas, para evitar suspeições, deixemos que outros cronistas relatem esse inusitado acontecimento, ocorrido na noite de 2 de agosto de 1969.

João Carlos Moraes Camargo: "Esticada só poderia ter sido no Atlético onde o Bandeira Jr. estava eufórico com o su (N.E.: sucesso...) de sua festa, a maior de todos os tempos, comemorando os dois nats (N.E.: natalícios, aniversários...) de Shows da Orla. E eu nunca presenciei tamanha alegria contagiante na pista, com o ié-ié-ié, como nesta noite com aquela juventude que estava num euforismo extra-força total...".

Kiko Penteado Caldas: "O maior baile foi o que Bandeira Jr. comandou na noite de sábado no Clube Atlético Santista, com mil orquestras, comemorando o segundo aniversário de sua coluna Shows na Orla. Muita gente esteve presente nesta noite de festa e anotamos: Regina e Roberto Santini, Mariema e Arnaldo Conceição Paiva, Hilda e Ramiro Alvarez y Alvarez, entre outros nomes catalogados".

Edna Peressin: "O maior baile de todos os tempos na orla, promoção do meu amigo e colega Bandeira Júnior, foi realizado ontem no Clube Atlético Santista, com a presença de seis conjuntos musicais, cousa inédita no Brasil e acho que no mundo, todos eles de gabarito, com capacidade para tocar em qualquer lugar, sempre apresentando as últimas novidades em matéria de músicas e bossas: Original Music Choral, comemorando seu primeiro aniversário, deu um show de apresentação; Elvira e suas Golden Girls, o melhor conjunto feminino do Brasil; Tropical Juggle, o mais completo, instrumentalmente; Blow-Up, conjunto bem prá frente e a Orquestra Internacional de Ramon Torreyra, apresentando Tobias Troisi, o melhor violinista do Brasil, cedidos pela boate Las Vegas e Show Musical de New Zago, que é um espetáculo de conjunto, de uma finura sem igual, levando música para todas as preferências, velhos e moços, e show do radialista Otávio M. Filho. Um jantar bem gostoso foi servido, tudo isto em benefício da Associação de Amigos dos Cegos de Santos. O clube estava completamente lotado, com a presença de todos os diretores sociais da orla, presidentes, amigos, convidados especiais, o grande mundo santista, artistas e muita gente super importante aplaudindo o II Aniversário de Comemoração da Coluna Shows da Orla..."

(*) Bandeira Jr. é historiador e escritor em Santos. Este artigo foi publicado em duas partes, nas edições de 28 de setembro e 5 de outubro de 1992, no jornal santista A Tribuna. As imagens são reproduções do arquivo do autor.

Veja a parte [2] desta série