HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
CIDADE FESTIVA
A música e os músicos de Santos (1)
Bandeira Jr. (*)
Colaborador
O primeiro músico notável de Santos foi André de
Moura (1725/1815), que aqui sempre viveu da música, quer como executante de vários instrumentos, quer como professor da divina arte. André, com seus
dois filhos, fazia a música sacra na Igreja Matriz (daí o título de Mestre da Capela, quando veio a falecer) e com outros
músicos - provavelmente seus alunos - mantinha pequena banda para abrilhantar festejos populares e solenizar enterros, como era costume na época.
Porém, o expoente máximo da música santense no século XIX foi o maestro Amaro Pinto da Trindade (1836/1901),
venerado professor de música; executante, regente e compositor, filho do maestro Luiz Arlindo da Trindade. O popular Luiz Músico, com seus filhos, o já
citado Amaro e mais Manoel Pedro Nolasco da Trindade, Geremias Profeta da Trindade e Henrique Paulo da Trindade, sonorizaram toda Santos durante a
segunda metade do século XIX.
Pode-se dizer que todas as bandas e sociedades musicais desse meio século tiveram a influência dos Trindade:
Sociedade União dos Artistas, Sociedade Musical XV de Abril, S.M. Comércio e Arte, S.C. Luso-Brasileira, S.M. Lira de Apolo, B.M. da Soc. Humanitária
dos Empregados no Comércio, S.M. Colonial Portuguesa (também clube dançante) e a Banda de Música do Corpo de Bombeiros (fundada em 17/10/1899), S.M.
União Portuguesa e, por fim, a Banda de Música do Instituto Dona Escolástica Rosa. Hoje, todo esse fervor pela arte dos sons está consagrado na
Orquestra Sinfônica de Santos!
Banda do Trindade, que animou durante muitos anos a folia na Cidade de Santos
Nos primeiros dias de 1918, o sr. Ricardo Arruda e o maestro Giuseppe Vetró, respectivamente co-proprietário e
diretor artístico do Miramar - famoso centro de diversões, inaugurado em 16 de janeiro de 1896, na Praia da Barra (Boqueirão)
- compareceram ao Teatro Municipal de São Paulo para assistir à exibição de uma jazz band americana, cuja vedette era o drummer
Harry Kozarin, que fazia sensação percutindo mais de 50 instrumentos.
Lá mesmo os dois santistas contrataram o american musician - como ele próprio se intitulou no livro de
visitantes do Instituto Dona Escolástica Rosa - para temporada de duas semanas no Palácio Dourado do Boqueirão. O artista ianque estreou em nossa cidade
na noite de 12 de janeiro e este jornal [N.E.: A Tribuna de Santos] registrou: "Foi um verdadeiro sucesso a estréia,
na soirée de ontem, no Miramar, do célebre artista Harry Kozarin, que executou 53 instrumentos. Kozarin é o mais natural artista no gênero que
tem aparecido nestes últimos tempos, não só na América do Norte como na Europa. Aplausos não lhe faltaram da numerosa assistência que teve no
confortável salão".
Banda de Música do Instituto Dona Escolástica Rosa, no início do século XX
Foto: J. Marques Pereira, de Santos/SP
Face ao êxito alcançado, o revolucionário percussionista prolongou sua temporada por mais duas semanas e, quando
em fevereiro se despediu, deixou dois aplicados alunos: os santistas Arnaldo Escudero e Nélson Serra, que conseguiram montar duas jazz bands -
hoje dizemos baterias - nas oficinas de marcenaria do próprio Miramar.
Com Arnaldo Escudero habilitado no novo instrumento, o dinâmico maestro Vetró formou o Jazz Band Miramar -
possivelmente o primeiro do Brasil -, composto de bateria, pistão, violino, banjo, celo e saxofone, que cadenciou reuniões dançantes até 1929, quando o
Miramar fechou, na parte do cassino.
Por sua vez, Nélson Serra - alto funcionário do Estado - introduziu sua improvisada bateria no conjunto do primo
Johnny Sharp, de descendência americana. O nome desse conjunto não aparece nos jornais da época, omissão que vamos encontrar ainda na inauguração do
grill do Parque Balneário Hotel, em abril de 1929. A extensa e minuciosa reportagem (quase uma página) de A Tribuna
informa apenas: "Três jazz bands cadenciaram as danças nos três salões".
A orquestra dos Irmãos Trindade abrilhantou os principais eventos santistas
na segunda metade do século XIX
(N.E.: presume-se que o cartaz seja de 1897, pela coincidência das datas com os dias da semana,
pela citação aos irmãos Trindade e pelo destaque à luz elétrica)
(*) Bandeira Jr. é historiador e escritor em Santos. Este artigo foi
publicado em três partes, nas edições de 31 de agosto, 7 e 14 de setembro de 1992, no jornal santista A
Tribuna. As imagens são reproduções do arquivo do autor.
Veja as partes [2] e [3] desta série
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