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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
O geômetra veneziano (1)

Saiu de Veneza para ajudar a construir Cubatão: eis como foi descrito o italiano Renzo Boischio, no suplemento especial comemorativo do 44º aniversário de Cubatão, publicado com o jornal santista A Tribuna em 9 de abril de 1993:

Boischio orienta a marcação da estrada de ferro 
Foto: reprodução, in jornal A Tribuna, 9/4/1993, caderno especial Cubatão 44 anos

O veneziano que ajudou...

...franceses, ucranianos, portugueses e baianos a construir a Refinaria

Brasileiros das mais diversas origens construíram e constróem uma Cubatão idealizada por poetas. Nascido nas proximidades da Avenida Nove de Abril, na época chamada de Estrada Velha, onde hoje é a Refinaria, que ainda não existia, Afonso Schmidt é o maior poeta e escritor produzido por Cubatão. Escreveu um romance chamado Zanzalá.

Era uma utopia. Idealizou o Cubatão do futuro, com indústrias não poluentes, pirâmides que escondiam centros de cultura e uma população que cultuava a natureza, acima de tudo. E tudo foi destruído um dia pelos inimigos dessa civilização, os caborés, que desciam do Planalto, por estradas suspensas semelhantes à Imigrantes.

E a realidade atual é diferente da utopia. Mas nem tanto.

Quando, em 1950, o comendador Celso Grandis do Amaral ouviu dizer que uma refinaria seria construída em Cubatão, ficou primeiro espantado. Depois, entusiasmado.

Estava ali o futuro de Cubatão. Apenas três fábricas dominavam a Cidade: Costa Muniz, Anilinas e Santista de Papel. Mas a Usina Henry Borden atraía o interesse dos industriais, a proximidade com o porto era um convite. A Via Anchieta, sendo aberta, um passo para chegar ao Planalto.

O veneziano Renzo Boischio deixou a Itália, logo depois da guerra, com um diploma de geômetra nas mãos e conhecimentos que o equiparavam a engenheiro operacional da construção civil. Veio, com milhares de europeus da geração pós-guerra, viver a América, construir um novo Brasil.

Com um teodolito debaixo do braço, saiu por São Paulo demarcando ruas, trabalhou na construção do oleoduto Santos-São Paulo, construindo para a Techint a estação de bombeamento no sopé da Serra do Mar. Descobriu Cubatão: "Fui contratado pelo Conselho Nacional de Petróleo, como fui empreiteiro de obras na Refinaria e em outras obras em Cubatão, na Union Carbide e na Cosipa".

O geômetra Boischio foi amigo dos primeiros dirigentes da Refinaria: general Caio Stenio de Albuquerque e coronéis Gentil e Ernesto e major Roca Dieguez. Lembra o sisudo e enérgico Ernesto, cujo retrato a óleo é um dos orgulhos da Casa da Memória da Refinaria. Ernesto Geisel seria, anos depois, presidente da República. Seu sobrinho, Bernardo, também superintendente da Refinaria, é nome de avenida em Cubatão.

Boischio lembra com saudade dessa época, de amigos - trabalhadores como ele - procedentes da França, Espanha, Portugal, Itália, que se mesclaram a baianos, pernambucanos, sergipanos, amazonenses, que construíram a primeira refinaria estatal do País e deram início à implantação das 24 indústrias hoje existentes no Município.

"É intensa a nostalgia que sinto, daquela epopéia e dos homens que dela participaram. Eu os saúdo, e penso neles, recordo com carinho os que já se foram. Eles tornaram realidade um sonho de gerações inteiras deste País". Boischio mora em Santos, na Rua Firmino Barbosa, 127, apart. 11. E aguarda avidamente correspondência ou contatos dos velhos companheiros. (N.E.: em 2004 Renzo informou estar residindo na Rua Dr. Arthur Assis, 28, apto. 53, em Santos).

Ele é o protótipo do estrangeiro que buscou ganhar a América em Cubatão, e que por aqui ficou. Mulher brasileira, filhos brasileiros, não se adaptou à nova Itália, quando tentou em 1990. Há outros exemplos. Mychajlo Halajko fugiu das desgraças da guerra, em busca de melhores dias, saindo de uma Ucrânia devastada. Casou-se com Marion, que veio da Holanda, trabalhou na Refinaria, mora em Cubatão e é mais conhecido por Miguel. É amigo do cumpadre José Feitosa Rocha - um nordestino que, como colega de Mychajlo, trabalhou na Refinaria, e do esforço do seu trabalho formou uma fieira de filhos doutores.

João Lopes da Costa veio de Lousã, Portugal, para alimentar gerações de cubatenses. Ganhou o apelido dos lugares onde trabalhou: João do Flórida, hoje sócio do Brás do Primor, onde almoçam os mineiros Nicola e Ademir, antigos vizinhos do Itamar, que hoje ocupa o Palácio do Planalto.

Também se confundem nessa Cidade, que Arnaldo Costa (o vereador) considerou amena e deliciosa, no passado, os filhos dos funcionários da moderna Cubatão: Sinval Duarte Pereira Júnior lembra com saudade da Drogaria Americana, do pai Sinval, vereador na segunda legislatura. Sinvalzinho, amigo de João, Feitosa, Nicola e Ademir, foi o mais robusto cubatense da década de 50: ganhou o concurso de bebê Johnson. Um sucesso.

Era um tempo em que Armando Peralta carregava sacos de batatas nas costas para o armazém do seu Joaquim. Hoje é dono de rede de supermercados.

Muito antes dessa época, a classe média de Cubatão trabalhava na Santista de Papel (onde Romeu Magalhães começou como condutor de carroças de burros, transportando entulho para construir a Via Anchieta, e Aldomiro de Oliveira Pereira, o Manau, tinha uma disputada farmácia), no Curtume de Costa Muniz ou na Companhia Anilinas, que não existem (as duas últimas) mais.

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