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HISTÓRIAS E LENDAS DE CUBATÃO
Histórias da principal avenida

No nome, a referência à data da emancipação do município: Nove de Abril. Bem apropriado a um caminho centenário que recebeu às suas margens as primeiras habitações do povoado que se tornaria Cubatão. As histórias dessa avenida foram lembradas na publicação especial Avenida de Todos Nós - Desenvolvimento Histórico da Avenida Nove de Abril, editada em agosto de 2003 pela Sociedade Amigos da Biblioteca e Arquivo Histórico de Cubatão, com pesquisa de Francisco Rodrigues Torres e Wellington Ribeiro Borges:


Capa do livrete editado em 8/2002

Avenida Nove de Abril

A partir da metade do século XVIII, a Capitania de São Paulo estava saindo de uma profunda crise econômica. A recuperação se daria progressivamente nas décadas subseqüentes através dos produtos agrícolas, principalmente o açúcar. Justamente por esse motivo, os antigos caminhos na Serra se tornaram insuficientes para o devido fluxo das tropas de animais carregadas das preciosas mercadorias.

O governador da Capitania, Bernardo José Maria de Lorena, de 1788 a 1798, reverteria essa dificuldade ao construir a estrada denominada Calçada do Lorena, em 1790. A situação se desenhava dessa forma; havia fluidez de animais e pessoas no perímetro da Serra, porém o mesmo não ocorria quando chegavam ao povoado de Cubatão que, à época, não possuía ligação por terra até Santos. Os rios eram utilizados como estradas, o que, sem dúvida, repercutia no encarecimento dos produtos devido ao transporte e estocagem.

As reivindicações para que se construísse um caminho entre Cubatão e Santos surgem no início do século XIX. Apesar das dificuldades crescentes, tal propósito tomará forma quando da posse do presidente da Província de São Paulo, Lucas Monteiro de Barros. Ocorre que não foram poucas as dificuldades enfrentadas para a execução do empreendimento. Além do calor excessivo, próprio do clima tropical úmido, a enorme quantidade de mosquitos infligia sofrimento e doenças.

Diante dessas circunstâncias, eram poucos os trabalhadores assalariados que se adaptavam às dificuldades impostas pelo meio-ambiente. Na verdade, a obra se concretizava devido à utilização do trabalho escravo. Domar o mangue não era tarefa fácil. A obra extenuava em todos os sentidos. Fisicamente: por ser todo aterro transportado em cestos. Financeiramente: pois, até o final de 1826, foram gastos 47.465$802 (ou seja, quarenta e sete contos, quatrocentos e sessenta e cinco mil, oitocentos e dois réis).

A esperada inauguração ocorreu a 7 de fevereiro de 1827 e o empreendimento ficou conhecido como o Aterrado de Cubatão ou Entulhado. O ano de 1835 registra o surgimento da Barreira do Cubatão, que, em outros termos, era o pedágio cobrado sobre pessoas, animais e mercadorias que passavam pelo Aterrado. A Barreira do Cubatão esteve em franca e rentável atividade até 1877.

A "Avenida de Todos Nós" está inserida nesse contexto histórico do desenvolvimento da economia paulista. Interessante observar, também, as várias denominações pelas quais passou. Quando Cubatão ainda era um bairro de Santos, o traçado era conhecido como Via Bandeirantes, com início nas imediações da Alemoa e término no Pontilhão da Estrada Velha, bem próximo à antiga Capela de São Lázaro.

Após a emancipação politico-administrativa, a Lei Municipal nº 36/50 designava o trecho entre a estação ferroviária e a raiz da Serra como Avenida 9 de Abril. A partir da referida estação até a ponte sobre o Rio Casqueiro permanecia como Av. dos Bandeirantes. Posteriormente, através da Lei nº 848/70, os citados trechos foram reconhecidos na denominação unificada de Av. 9 de Abril.

No tocante às transformações urbanísticas, devido à instalação do pólo industrial e o rápido crescimento demográfico, a Avenida sofrerá transformações profundas. A partir da década de 1960, as administrações municipais se empenharam em sua duplicação.

Porém esse episódio dá início ao que podemos chamar de êxodo de raízes, pois várias famílias tradicionais, e residentes na Avenida, tiveram seus imóveis envolvidos na sôfrega especulação imobiliária. Podemos destacar, entre outras, as famílias Couto, Ruivo, Jorge, Stievani, da Guarda, Cunha, Saragoça, Domingues, Oliveira, Giordani, Duarte, Fernandes, Rodrigues, que marcaram a história de nossa Avenida com seus comércios, serviços e exemplos de vida.


Quarta capa do livrete editado em 8/2002

Este relato foi publicado no caderno especial Cubatão 46 anos, do jornal santista A Tribuna, em 9 de abril de 1995:

Avenida Nove de Abril

Mychajlo Halajko Júnior (*)
Colaborador

Nasci em 1950. Um ano antes, Cubatão transformava-se em município. Da minha infância inúmeras são as recordações, entre elas a construção e primeira inauguração da Praça Princesa Isabel (ao longo do tempo os prefeitos, a cada reforma, promoviam nova inauguração!), do mercadinho na esquina da Av. Pedro José Cardoso com Emb. Pedro de Toledo, onde hoje está o centro esportivo, o bar da Dona Rosa e a Padaria Castelões na Av. Joaquim Miguel Couto, as Casas Pernambucanas, onde hoje é o Restaurante Flórida, o pequeno armazém dos Peraltas, onde se comprava na caderneta e o armazém do seu Aníbal na beira do Rio Cubatão, do outro lado o porto de areia.

Por falar do rio, lembro-me das pescarias na companhia do meu pai, que bons tempos aqueles em que se podia beber das suas águas.

Duas alternativas existiam para se alcançar as margens do Rio Cubatão. Na primeira, bastava seguir-se o curso da avenida principal. A Nove de Abril, de mão dupla, acanhada e estreita. Sua duplicação acabou por ocorrer pela obstinação dos governos dr. Luiz Camargo e Abel Tenório.

E outra alternativa era seguir a estrada da Cia. Anilinas, ladeada de eucaliptos, a partir do Clube dos Empregados (hoje Guimarães) e exatamente onde se situa a Rua Padre Primo Maria Vieira.

Da Avenida Nove de Abril, duas recordações marcaram-se em minha memória: a primeira na garupa da bicicleta de meu pai, rumo às margens do rio para pescar. A segunda, cerca de 30 anos depois, em um Nove de Abril, quando participávamos de passeata pelo retorno da autonomia política de Cubatão, com direito inclusive a repressão e agressões.

Da Fabril e da Light, os passeios aos domingos no jipe do padre Carlos, que dizem ter sido doado pela refinaria.

Vila Nova, Jardim São Francisco, Costa e Silva não existiam, apenas imensos bananais.

No centro a Companhia Anilinas, sua fábrica e imensa chaminé de tijolinhos, a Vila Operária e as casas dos graduados e gerente. Esta, imaginem, tinha até um enorme tanque chamado de piscina.

A área da companhia, que abrangia todo o Jardim São Francisco e Conjunto Afonso Schmidt, um imenso bananal, aqui e ali entremeado de laranjeiras, limoeiros, pitangueiras, caquizeiros e outras tantas árvores frutíferas, que eram a alegria da garotada, os quais não se fartavam jamais das frutas que apanhavam nos pés.

Anualmente, as festas juninas ali realizadas atraíam gente de toda a parte, inclusive de outras cidades, tamanha era a sua fama e grandiosidade.

Os operários daquela fábrica viviam tranqüilos e felizes, como se fossem uma grande família. Até que um dia, sabe-se lá por que, foi desativada e decretada sua falência, levando-os ao desespero, pois, além de não receberem seus salários, seus direitos trabalhistas lhes foram subtraídos.

É, também, da minha infância a minha primeira recordação quanto a lesões aos direitos de trabalhadores. Toda a região que hoje constitui o Jardim São Francisco foi vendida a terceiros, que a lotearam. Do apurado pagar-se-iam os débitos trabalhistas. Posteriormente o poder público municipal desapropriou e pagou pela área que é hoje o Parque Anilinas e, ainda assim, nenhum trabalhador viu a cor do dinheiro.

Neste aspecto, os tempos não mudaram!

(*) Mychajlo Halajko Júnior é vereador, advogado e professor.

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