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Jazigo 358 - Cemitério dos Estrangeiros
Imagens publicadas com o texto
Cemitério dos Estrangeiros ou dos Protestantes
Até 1840, os sepultamentos eram feitos nas Paróquias,
principalmente na de Santo Antônio do Valongo. Nesse ano surgiu uma divergência religiosa local, que proibiu os enterros
de protestantes nas capelas católicas. Na reunião da Câmara de 13 de agosto de 1844, foi lido requerimento de Frederico Fomm, pedindo permissão para
estabelecer um cemitério para os protestantes (ou estrangeiros, como era popularmente conhecido, por ter ingleses entre os
primeiros sepultamentos).
A permissão foi concedida, com a condição de que fosse construído fora dos limites urbanos.
Frederico Fomm (liquidante da casa falida Aguiar, Viúva, Filhos e Cia.) como vendedor, e Gustavo Backheusen, como
comprador, compareceram dia 1 de agosto de 1844, no Primeiro Cartório de Notas, registrando a aquisição de um terreno situado ao pé da
Vila Nova, terreno este, em nome de todos os interessados no dito cemitério, sendo o senhor Frederico um simples
procurador.
Em 1 de novembro de 1850, Bárbara Fomm doa à Instituição do Cemitério um terreno contíguo ao
mesmo, ampliando assim a sua área, e ficando assim vizinho ao futuro cemitério do Paquetá. Em 19 de janeiro de 1933, a
Prefeitura despachou ordem para a transferência dos cadáveres para o Cemitério do Paquetá, sendo os despojos colocados na campa 358, pois a área do
cemitério dos protestantes seria vendida à Cia. Docas de Santos.
O sr. Antonio Otero Monteiro, RG 10.251.629, passou um abaixo-assinado, pedindo o tombamento do
jazigo 358, processo que já está em andamento no COMPESA, juntamente com o do próprio Cemitério do Paquetá.
Praça Martinho Lutero, inaugurada em 1970. Está localizada na Av. Francisco Glicério com a Av.
Bernardino de Campos
Fotos publicadas com o texto
Liberdade religiosa em Santos
Santos, sempre coerente com o moto de seu brasão, "Patriam
Charitatem Liberate Docui" (À Pátria ensinei a liberdade e a caridade), permitiu a liberdade religiosa e de culto desde o fim da "luta
religiosa" que tinha sido aberta no Brasil em 1870 e terminara com as ações de Saldanha Marinho e Rui Barbosa, e consagrada pela primeira
Constituição Republicana.
Santos acompanhou as mais avançadas capitais do Brasil, como São Paulo e Rio de Janeiro, incluindo
em seu liberalismo esse importantíssimo fator, deixando para trás o privilégio concedido ao credo da Igreja Católica Apostólica Romana, que
transformara quase todas as cidades brasileiras em feudos sem tolerância e liberdade. Todas as religiões, credos, práticas e doutrinas têm desde
então templos, terreiros, lojas, tendas e locais sagrados nesta terra, e convivem harmoniosamente.
Escola Alemã localizada no centro de Santos, na Praça dos Andradas, 33
Foto publicada com o texto
Santos e os imigrantes alemães
Formação e desenvolvimento da vila de Santos - No século XVI, a região do litoral de São
Paulo pertencia à Capitania de São Vicente. A Ilha de São Vicente, que hoje abriga os centros urbanos, administrativos e comerciais de Santos e São
Vicente, era considerada nas cartas náuticas um dos melhores atracadouros do mundo, e o ponto mais favorável para transpor a formidável barreira da
Serra do Mar, no acesso ao interior do País. Tais condições favoreceram o estabelecimento de uma população local e um grande fluxo de viajantes.
Em 1532, Martim Afonso transfere o antigo povoamento situado na
praia do Boqueirão/Embaré para o Gonzaguinha, como forma de protegê-lo dos assaltos que vinham do mar
(N.E.: essa informação foi em anos recentes corrigida, com base em reanálise dos documentos da época:
a primeira povoação vicentina estava situada na área próxima ao rio Sopeiro ou Sapateiro, correspondendo aproximadamente ao trecho da praia do
Itararé, e a transferência ocorreu depois, em 1541).
Na outra parte da ilha, Valongo, existia uma povoação chamada Enguaguaçu, que começou a prosperar
por estar em melhores condições de abrigar um porto, também por estar mais próxima ao porto de Cubatão e conseqüentemente mais perto do acesso à
trilha que levva ao alto do planalto.
Em 1540, o povoado de Enguaguaçu, que já contava com uma igreja dedicada a Santa Catarina,
construída por Luís de Góis, passou a ser chamado de "Porto de São Vicente".
Um grande maremoto atingiu a Vila de São Vicente, Gonzaguinha, em
1541, destruindo a Casa do Conselho o pelourinho, a igreja e muitas casas. Este cataclisma levou muitos dos moradores a se transferirem para o
Enguaguaçu (N.E.: na verdade, foi essa inundação da primitiva povoação que levou Martim Afonso
a transferi-la para lugar mais abrigado, nas proximidades).
Em 1543 foi construída a Santa Casa de Misericórdia de Todos os Santos.
Braz Cubas, na condição de capitão-mor, elevou o antigo povoado de Enguaguaçu à condição de vila, e talvez influenciado pela
data (1 de novembro de 1547) e origem em redor de um hospital, o batizou de "Vila do Porto de Santos"
(N.E.: a tese é polêmica, pois não há confirmação dessa data ou de sua
vinculação direta com o nome da nascente vila).
Santos prosperou, servindo de base para a expansão para o interior. Aqui habitaram famílias
importantes como os irmãos Andrada (processo de Independência), Bartolomeu e
Alexandre de Gusmão (pioneiro do balonismo e diplomata, respectivamente). Na época da Independência (1822) a cidade
(N.E.: na verdade, vila, só em 1839 elevada à condição de cidade)
tinha cerca de 1.600 habitantes. Em meados do século XIX, uma ferrovia a ligava ao interior. Em 1895
(N.E.: na verdade, a inauguração ocorreu em 2 de fevereiro de 1892, com a atracação do navio
Nashmit) foi construído o primeiro trecho moderno de cais, acabando com as precárias
estruturas de madeira.
A população no início do século XX (1913) já chegava a 88.967 almas, sendo 478 alemães e 226
austríacos. A cidade cresceu e extrapolou o centro antigo, começando a ocupar as várzeas. A cidade tinha entretanto grandes problemas de saúde
(pestes, impaludismo), tanto por ser um local de grande tráfego de viajantes como pelas condições geográficas específicas (grandes áreas inundáveis,
brejos etc.). Estes problemas foram sanados pela demolição de pardieiros no centro e a construção do sistema de canais, por Saturnino de Brito.
Bairro da Alemoa - No século XIX, surgem os primeiros exemplos da fixação de alemães e/ou
seus descendentes em Santos. Um caso famoso é o de Adão Kunen, que era sócio de Jacob Emmerich. Adão adquiriu o Sítio da "Vargem", aproximadamente
em 1829. Este sítio era administrado por um casal de alemães, o que acabou criando o apelido pela população de Sítio "do Alemão", enquanto Adão e
sua primeira esposa, Catarina, residiam na cidade.
Nos últimos anos, Adão passou a habitar o sítio junto com sua segunda esposa, Maria Margarida
Kunem (ex-Vibrack). No dia 24 de abril de 1852, Adão Kunen foi assassinado pelo escravo também de nome Adão. Maria passou a residir sozinha no
sítio, virando referência do local. Era comum dizer-se, ali perto da Alemoa, ou além da Alemoa, o que acabou batizando oficialmente o nome deste
importante bairro industrial da cidade.
Presença nas atividades comerciais e sociais - Além dos muitos imigrantes, que por aqui
passavam a caminho do interior, e dos viajantes, vários alemães e seus descendentes se instalaram na cidade em vários ramos de atividade. Citamos
como exemplo, pois não é possível mencionar todos os nomes: August Wild (Pension Schweizerheim), Gustavo Sulzer (capitão do Corpo de Bombeiros),
Oscar Loefgren (inspetor de Imigração), Adolfo Ferdinand von Sidow (presidente da Sociedade Humanitária dos Empregados no
Comércio de Santos, em 1891).
No ramo cafeeiro, empresas como Nossack, Theodor Wille, Naumann Gepp, Schmidt & Trost, W. Botel,
Zerrenner, Bülow. Muitos alemães preferiam residir em São Vicente, caso de Gustav Kurt von Pritzelwitz
(N.E.: o correto é Kurt Gustav),
grande benfeitor desta cidade e cuja casa, preservada, foi transformada num importante museu, conhecido como "Casa do
Barão". Conforme o livro de registros de batismos da Igreja Evangélica Luterana, dois filhos de Gustav Kurt von Pritzelwitz foram batizados em
1934, em ofício realizado em sua residência em São Vicente, pelo pastor Reichardt.
A cidade, por sua vocação marítima, também abrigou os escritórios ligados a empresas de navegação
(Hamburg Süd, por ex.) e outras ligadas ao transporte, armazenagem e no apoio ao pessoal envolvido nestas atividades, como a "Missão aos
Marinheiros".
A vida não era fácil para os alemães mais humildes. Mas os ricos também tinham problemas. Bastava
ter sobrenome de origem germânica. Durante a Primeira Guerra Mundial, uma firma francesa insurgiu-se com uma organização da Praça de Santos, Krische
& Cia., acusando-a de nacionalidade alemã e conseguindo o seqüestro de uma partida de café, por meio da Corte de Apelação
de Rouen (França). A Associação Comercial pôs-se em defesa da Krische, pois se tratava de firma brasileira, com sede em
Santos, regida por leis brasileiras e administrada por cidadãos ingleses. A Associação conseguiu deslindar o caso, havendo até a intervenção do
então ministro das Relações Exteriores do Brasil, dr. Lauro Miller.
Na vida social, os alemães fundaram várias entidades recreativas, sendo
provavelmente a mais antiga o Club Germânia - Sociedade Alemã Recreativa, fundado em 31 de dezembro de 1865, com sede na
Rua do Rosário, número 207, contando com 90 sócios. A diretoria em 1912 era formada pelo primeiro presidente sr. Th. Nobiling, segundo presidente
sr. R. Seelmann, mordomo sr. A. Diebold, tesoureiro sr. L. Hochweber, secretário sr. G. Roth e bibliotecário sr. I. Nossack. Fundaram também a
Escola Alemã e Entidade Assistencial.
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