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Assinaturas no livro de Atas dos presentes na assembléia de fundação da igreja
em 14 de outubro de 1906
Imagem: reproduções, publicadas com o texto
Tudo começou numa pequena escola...
Martim Lutero via
na educação a chave para a construção de pessoas melhores, material e espiritualmente! Defendeu que ao lado de cada igreja deveria haver uma escola.
De forma significativa, a história da Igreja Evangélica de Confissão Luterana em Santos inicia numa escola, o que revela que antes da Igreja já
existia vida comunitária expressa na ação educativa e também numa ação social. A história da Igreja em Santos se entrelaça com a da Escola e da
Sociedade Beneficente Alemã.
Em 16 de novembro de 1893, com sede na Praça dos Andradas, 33, em
prédio próprio, foi instituída Associação Escolar Alemã (Deutscher Schulverein), com o fim de manter uma escola para os filhos de seus associados.
As matérias do programa de ensino eram Alemão, Português, Francês, História do Brasil, Geografia, Aritmética, Geometria, História Natural, Desenho,
Caligrafia, Ginástica e, para as meninas, os trabalhos de agulha.
A Associação contava com 80 sócios e compunham o corpo docente os professores Félix Wunsche,
Tarquínio Silva, Olga Melchert e Helena Kiel. O horário das aulas no verão era das 8 horas ao meio dia e no inverno das 10 horas até as 15 horas. A
diretoria era composta pelo presidente sr. Th. Nobiling, secretário sr. J. Holl Jr., tesoureiro A. Withmann e vogais R. Seelmann e F. Schlüter.
Em 1903, diante das dificuldades que muitos compatriotas alemães atingidos pela necessidade ou por
golpes do destino sofriam em Santos - que, por ser uma cidade mercantil e de grande tráfego marítimo, era o principal centro de viajantes do país -,
resolveram criar a Sociedade Beneficente Alemã de Santos (Deutscher Hilfsverein). Na fundação da entidade, um dos participantes, o sr. Bormann,
manifestou a necessidade de prestação de apoio com conselhos e ajuda prática aos alemães residentes em Santos incapacitados de trabalhar. A entidade
também se comprometeria em pagar a mensalidade da Escola Alemã para as crianças cujos pais estariam sem condições de arcar com as despesas. Todos os
28 presentes ficaram de acordo com a criação da Sociedade Beneficente Alemã, que teria a mesma sede da escola.
Foi eleita a primeira diretoria provisória, que teria também a função de elaborar os estatutos da
sociedade. A diretoria foi composta pelo primeiro diretor, sr. Hellwig; segundo diretor, sr. V. Heyer; tesoureiro dr. Lind; secretário, sr. Bauer;
primeiro conselheiro sr. Georgius e segundo conselheiro sr. Sattler. Foram escolhidos como assistentes sociais os senhores Fürbringer, Breithaupt,
Klannig, Gieseler e Weiher.
Esta Sociedade, fundada em 31 de março de 1903, foi registrada oficialmente com a seguinte
diretoria: presidente: sr. R. Seelmann; vice-presidente, sr. H. Hippe; tesoureiro, sr. H. Schlüter; secretário: H. Pachur; conselheiros: E. Bormann
e G. Georgius; e contando com 84 sócios.
Artigo no Jornal Alemão de 1907 trazendo informações do município de Santos e relatando a
realização da primeira confirmação realizada na Comunidade de Santos no domingo de Pentecostes. A confirmação foi realizada na Escola Alemã
Imagem: reprodução, publicada com o texto
A fundação da Igreja - Por iniciativa do pastor F. Wilhelm Bauer, que atendia a pequena
comunidade em Santos, foi realizada a Assembléia Constitutiva da Comunidade Evangélica Alemã (Edutsch Evangelische Gemeinde) em 14 de outubro de
1906, a qual utilizaria as instalações da Escola Alemã, para os cultos, aulas de catequese e reuniões.
A comunidade contava com 75 membros, número suficiente para garantir a existência da mesma, e
seria atendida por um pastor vindo de São Paulo, até ter condições de manter o seu próprio. Assinaram a lista de presença 32 pessoas, entre as quais
encontramos um nome brasileiro, Maria Pereira da Silva. Os srs. Franz Jahrmann e Rodrigo Pfaff foram indicados e aceitaram tomar as providências
necessárias no interesse da paróquia e elaborar o projeto dos estatutos, que seriam apresentados para discussão e aprovação na próxima assembléia.
Comunicou-se também a realização dos próximos cultos, no prédio da Escola, nos dias 18 de novembro
e 25 de dezembro. Os cultos seriam anunciados nos jornais Germânia e Jornal Alemão, de São Paulo. Em Santos, cogitou-se os jornais
A Tribuna e Diário de Santos. De acordo com várias sugestões, decidiu-se a realização de ensino religioso e confirmatório,
simultaneamente nos dias de cultos. Foi programada a realização da primeira confirmação evangélica em Santos, para o domingo de Pentecostes de 1907.
As dificuldades financeiras nas três entidades eram uma constante. Os que necessitavam de ajuda
eram muitos e aumentavam cada vez mais, pois o auxílio foi estendido também a austro-húngaros e mesmo russos, que falassem alemão. Os membros mais
abastados e empresas alemãs contribuíam sempre. Em 20 de janeiro de 1906, a Escola Alemã solicitou contribuição à Associação Beneficente, pois,
intimada pelas Autoridades Sanitárias, necessitava reconstruir o edifício da escola e lhe faltava verba. A Associação, sem ferir seus estatutos,
transferiu o valor necessário na forma de ajuda no pagamento total das mensalidades das 21 crianças carentes (16 eram isentas e 5 pagavam só
metade).
Em 1908, o número de membros da Associação havia caído de 60 para 46, pois, devido às crescentes
dificuldades, muitos assavam da situação de contribuintes para a dos que precisavam de ajuda.
Em 4 de março de 1910, a Associação Beneficente, em Assembléia Geral, planejou uma coleta para
alugar uma casa, onde necessitados pudessem encontrar um pernoite e eventualmente contatar uma família que pudesse prover alimentação; mas, devido
ao esforço para a reconstrução da escola, não foi possível um empenho da Associação em angariar fundos para esta finalidade.
Até 1912, a Igreja em Santos foi assistida pelos pastores Bauer, Teschendorf e J. Josten, que se
deslocavam de São Paulo para Santos. Em 4 de fevereiro de 1912, foi instalado o primeiro pastor em Santos, pastor Heindenreich, que atendia também a
colônia alemã de Nova Europa, Ribeirão Preto, Engenho Coelho, Americana e Inconfidentes.
O pastor Heidenreich exerceu também o cargo de vice-presidente da Sociedade Beneficente Alemã.
Nesta ocasião, a Sociedade utilizava como hospedaria o Albergue A. F. Paulo, localizado na Rua São Leopoldo, 36. Como este albergue não apresentava
as condições mínimas para a hospedagem de mulheres sozinhas e famílias, a Sociedade instalava os necessitados em hotéis, o que sobrecarregava o
caixa. Na reunião de 6 de maio de 1912, decidiu-se aceitar a oferta da Missão aos Marinheiros de ceder 2 quartos para esse fim. A permissão para uso
destes quartos foi dada pelo vice-presidente; para os demais casos, continuou-se utilizando o já supracitado albergue.
A Missão Alemã aos Marinheiros foi instalada em Santos em 1 de fevereiro de 1912 e tinha a sua
sede na Praça da República 21/22 (A Missão aos Marinheiros permanece até os dias atuais atuando no porto de Santos
junto aos marítimos, desenvolvendo um trabalho ecumênico. Atua em conjunto com a Stela Maris da Igreja Católica Romana).
Primeira Guerra Mundial - Durante a Primeira Guerra (1914-18) as atividades foram mantidas
da melhor forma possível. As contribuições dos membros diminuíram. Existiam muitos pedidos de ajuda. A Sociedade Beneficente, mesmo recebendo ajuda
da Cruz Vermelha Alemã, foi obrigada a reduzir seus gastos. Alguns necessitados ficaram sem ajuda alguma. Esperava-se que as coisas melhorassem com
o fim da guerra.
O pastor Heindenreich entregou o seu cargo em 23 de janeiro de 1920, devido à sua mudança de
Santos. Sempre contando com a assistência de pastores de São Paulo, como por exemplo a do pastor F. Hartmann nas longas vacâncias, Santos teve a
instalação do pastor Schmidt, em 7 de agosto de 1921, o qual atendeu a comunidade por cinco anos.
Em 23 de novembro de 1926, foi instalado o pastor Arthur Hahn, que realizou um pastorado marcante
junto à comunidade, abrangendo uma área de atuação envolvendo todo o litoral paulista e Vale do Ribeira, onde haviam cerca de 240 evangélicos
residindo nas localidades de Xiririca, Pariquera-Açu, Santa Maria, Linha Juquiá. Nestas localidades, os primeiros cultos aconteceram em julho de
1927 em Serrinha, na Linha Juquiá. O pastor Hahn também atuou na Sociedade Beneficente Alemã, onde exerceu o cargo de secretário.
Década de 30 e a construção do templo - O pastor Hans Reichardt foi instalado em 1931 e
iniciou os trabalhos de pastor para comunidade e de missionário entre os alemães, que, tendo emigrado após a Primeira Guerra Mundial, década de 20,
foram iludidos com a promessa de terras próximas a Santos.
Na verdade, estas terras eram verdadeiras matas fechadas situadas no Vale do Ribeira e no litoral
Sul do Estado de São Paulo. As condições de sobrevivência já eram hostis para os nativos e pioravam para os colonos alemães acostumados a outros
climas e condições geográficas. O Consulado Alemão e a Igreja procuravam dar apoio a esta gente.
Para exemplificar, uma viagem feita pelo pastor a essas regiões durava um mês. Começava via
Estrada de Ferro (Sorocabana), que ia até Juquiá. O pastor ficava em Itariri, em Pedro Barros ou Manoel de Nóbrega, onde também já havia alemães.
Depois, chegando a Juquiá, os colonos, já avisados, iam buscar o pastor. A viagem continuava em lombo de burro e atravessando rios e riachos em
canoas.
O pastor ficava hospedado nos casebres, construídos com madeira extraída da mata, e era alertado a
tomar cuidado com as aranhas que se enfiavam pelas roupas e sapatos, e picadas de cobras.
Quando o pastor chegava a uma região, as crianças eram trazidas para o batismo, celebravam-se
casamentos, realizavam-se cultos e revitalizavam-se os elos entre as comunidades. Em Eldorado Paulista (então Xiririca) existia uma comunidade
numerosa, formada pelas famílias Fouquet (cujos descendentes ainda estão lá), von Nieländer, von Gloy, e muitas outras.
Tomando uma embarcação fluvial no Rio Ribeira de Iguape, o pastor atingia Iguape. Através da balsa
ia até Cananéia e, viajando mais ao Sul ainda, quase divisa com o Estado do Paraná, visitava a Colônia Santa Maria.
A construção do templo foi outro sonho da comunidade que o pastor Reichardt abraçou e ajudou a
concretizar. Membros contribuíram e a Igreja Luterana da Alemanha, que ajudava a manter a comunidade, também participou deste projeto. Em reunião de
19 de agosto de 1934, decidiu-se pela construção, vencendo a concorrência o projeto da firma Correa da Costa Júnior, ao custo de R. 57,000$000 (57
mil contos de réis). O lançamento da pedra fundamental aconteceu no dia 7 de outubro de 1934. Cerca de 100 pessoas acompanharam o evento. A pedra
fundamental está localizada no canto esquerdo, saindo da igreja.
Durante a construção, o pastor Reichardt esteve em férias na Alemanha durante cinco meses. Neste
período fez diversos contatos e conseguiu apoio de diversas entidades para conclusão do templo. Do "Auxílio para o Exterior" da Igreja na Alemanha (Kirchlichen
Ausssenamt) ganhou uma Bíblia para o altar e 60 hinários. A Sociedade Gustavo Adolfo de Leipzig (Gustav Adolf-Vereins) doou dois sinos e utensílios
para o altar. A Sociedade de Senhoras Gustavo Adolfo de Leipzig doou paramentos para o altar, o púlpito e a pia batismal. O templo foi inaugurado em
14 de julho de 1935.
A comunidade contava com cerca de 700 pessoas e em torno de 140 membros contribuintes. A Santa
Ceia era realizada duas vezes ao ano, na Sexta-feira Santa e no Domingo da Eternidade (último domingo do ano eclesiástico). O culto infantil
acontecia uma vez por mês.
Segunda Guerra Mundial, a dispersão - Com o início da Segunda Guerra Mundial, a situação
voltou a ficar difícil para os estrangeiros, pois ocorreram os cortes nas comunicações, comércio e ajuda que vinha dos países envolvidos no
conflito. As reuniões e cultos começam a rarear. Em 1940 acontece apenas uma reunião do Presbitério. Em 1941, uma reunião, realizada no domicílio do
pastor Reichardt na Av. Presidente Wilson, 55, em São Vicente. Durante o ano de 1942, os estrangeiros originários de países do Eixo começam a ter
dificuldades para se reunir e já são alvo de observação e fichamento pela polícia.
Em 1943, o Brasil entra oficialmente na guerra. Cidadãos de origem alemã, italiana e japonesa
tiveram que se retirar das áreas litorâneas e ir para o interior do País. As propriedades de estrangeiros e/ou mantidas por eles foram confiscadas
ou colocadas sob custódia de entidades ou governo brasileiro. Um caso marcante desses confiscos foi o do transatlântico
Windhuk, que, estando no porto de Santos por ocasião da declaração de guerra, teve seus tripulantes internados em campos de concentração em
Guaratinguetá e Pindamonhangaba até o fim da guerra.
O pastor Reichardt também teve que sair de Santos, mudando-se com a família para Rio Claro, onde
havia uma escola e uma colônia alemã. Antes de partir, foi aceita a proposta da Igreja Presbiteriana de Santos de aluguel do templo, que, desta
forma, identificado como sendo de uma entidade brasileira, escapou do confisco.
Durante dezessete anos, o templo serviu à Igreja Presbiteriana, sob os pastores Domício Pereira de
Matos (7/2/1943 a 24/1/1945), Boanerges Ribeiro (21/6/1946 a 1/7/1951), Alfredo Thone Stein (1/7/1951 a 29/7/1953) e Pérsio Gomes de Deus (29/7/1953
a 17/1/1960). Em 1958 a Igreja Presbiteriana de Santos inicia a construção de seu templo na Rua Marquês de São Vicente, em Santos.
O pastor Reichardt voltou a Santos somente em 19 de agosto de 1950, em busca dos evangélicos
luteranos e sondar a possibilidade de restaurar a comunidade e seu pastorado. No dia 10 de setembro de 1950, um domingo, 53 pessoas participaram do
primeiro culto após oito anos e meio de interrupção. Motivos financeiros e traumas resultantes de preconceitos e da guerra, no entanto, mantiveram a
comunidade dispersa.
No final dos anos 50, apesar da dispersão e das dificuldades, os cultos de Natal eram muito
freqüentados, havendo ocasiões em que faltou lugar para todos. Os membros da comunidade ainda eram predominantemente alemães, mas já começavam a
surgir membros brasileiros por relação de parentesco.
Em 1959 o templo foi devolvido pela Igreja Presbiteriana à Igreja Evangélica Luterana. O pastor
Reichardt, nessa época, assistia também as comunidades da região do ABC. Na década de 60 começaram a ser oficiados os primeiros cultos em português
por ocasião de casamentos e batismos, quando muitos dos presentes não eram de origem alemã.
Lançamento da pedra fundamental do templo em 1934
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Obras finais da construção do templo
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
17 de setembro de 1931. Pastor Reichardt, sentado no barco, se prepara para seguir viagem na
visita aos colonos, saindo de Cananéia
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Casa de um colono
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Interior da casa de um colono
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Casamento de colonos em Manoel de Nóbrega
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Colonos em Xiririca, junho de 1932
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Colonos em Serrinha, 1933
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Inauguração do templo
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Pastores presentes na inauguração do templo
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Inauguração do templo em 1935
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Inauguração do templo em 1935
Foto: arquivo do pastor Reichardt, publicada com o texto
Alunos do Colégio Alemão em 1934
Foto cedida por Dulce Matthiesen, publicada com o texto
Confirmação, 18 de março de 1951
Foto cedida por Gisela Novoa, publicada com o texto
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