HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
OS IMIGRANTES
Conclusão
Beth Capelache de Carvalho (texto). Arquivo e equipe de A Tribuna (fotos)
Uma coisa do passado que
Santos não deve esquecer
A história de Santos está intimamente ligada à presença dos
imigrantes, assim como grande parte da história da imigração no Brasil começou no porto santista, passagem
obrigatória dos estrangeiros que procuraram, no Estado de São Paulo, oportunidade de trabalho e vida melhor.
Durante a colonização, as terras da região da Baixada, boas para o cultivo da
cana-de-açúcar e da banana, atraíram os que chegavam da Europa; além disso, a proximidade do
porto favorecia a fixação das indústrias destinadas à exportação.
A partir de 1808, com a chegada da família real ao Brasil e a abertura dos portos às nações
amigas, o movimento de imigração européia começou a aumentar gradativamente, até que, em 1827, a galera Maria deixava no porto a primeira
leva oficial de imigrantes alemães, contratados para trabalhar na lavoura.
Em 1836 começaram a desembarcar os italianos, contratados pelos
fazendeiros paulistas para o cultivo das plantações de café. A importação de mão-de-obra não escrava passou a ser utilizada cada vez mais pelos
produtores, assustados com os rumos que tomava o movimento abolicionista.
O Kasato Maru, que trouxe as primeiras famílias japonesas,
também atracou no Porto de Santos. Os japoneses viriam a fundar uma das maiores colônias estrangeiras no Brasil, superada
apenas pela portuguesa e pela italiana. Eles vieram para trabalhar na lavoura, e com o tempo se
transformaram em grandes fornecedores de hortifrutigranjeiros. Durante muitos anos, Santos se auto-abasteceu nesse setor, graças às chácaras de
japoneses que aqui se instalaram.
Assim, mesmo sem ser uma cidade especialmente procurada pelos imigrantes, Santos serviu
muitas vezes para acolhê-los quando desembarcavam. E muitos ficaram por aqui, ajudando a compor o cenário da Cidade, a sua vida econômica, sua
personalidade.
A influência européia se fez sentir principalmente no comércio, enquanto os
japoneses se dedicaram à agricultura. Segundo Daniel Parish Kidder, missionário metodista que visitou o Brasil de 1837 a
1840, em 1838 já havia em Santos numerosas casas comerciais cujos donos tinham origem estrangeira.
Por volta de 1870, Santos já possuía um comércio ativo e, segundo Luís José de Matos, do
jornal Comércio de Santos (publicação de janeiro de 1923), "um dos mais honrados da América Latina".
Por essa época, ainda segundo o jornal, os comerciantes eram
portugueses, brasileiros e alemães, havendo apenas uma casa francesa - de chefes suíços -, uma
inglesa e uma espanhola. As casas brasileiras de origem portuguesa eram as mais importantes, e a
casa-chefe de todo o comércio pertencia a Manoel Joaquim Ferreira Netto, português. Era a mais importante do Brasil de então, e trabalhava com
comissões, importação, exportação, banco e navegação.
|
Já não é mais o sonho que traz imigrantes, mas a tecnologia que o Brasil precisa importar
Atualmente, as imigrações são poucas. As seguidas
levas de imigrantes, que caracterizaram o fim do século passado e o início deste século [N.E.: séculos XIX e XX], começaram
a declinar a partir de 1930, com a Lei dos Dois Terços, instituída por Getúlio Vargas. Essa lei estabeleceu a obrigatoriedade de que os empregadores
tivessem no mínimo dois terços de funcionários brasileiros.
Os estrangeiros que chegam são na maioria técnicos - engenheiros principalmente -, que vão trabalhar nas
indústrias de Cubatão ou em empresas multinacionais da Grande São Paulo, e escolhem Santos como local de residência. Mas quase todos estão em trânsito e
logo seguirão para outros países, ou voltarão para casa. Uma ou outra família poderá escolher Santos como uma boa cidade para morar.
O porto também atrai muitos jovens latino-americanos que saem pelo continente em busca
de aventura. Eles saem do Uruguai, do Paraguai ou do Chile, e vêm para o Brasil sem pensar duas vezes, certos de que aqui vão achar o paraíso. Para
esses jovens, o maior porto da América Latina parece oferecer muitas oportunidades de emprego, tanto no cais como nas embarcações.
Um sonho que poucas vezes pode ser realizado, devido à rigidez das leis que controlam a imigração, atualmente.
Segundo o novo estatuto dos estrangeiros, para permanecer definitivamente no Brasil o imigrante precisa obedecer a uma série de exigências, como ter
certas profissões determinadas pelo Ministério do Trabalho, ser casado com uma brasileira ou ter um filho brasileiro.
Por isso, a maioria desses aventureiros acaba seguindo viagem, assim que termina o prazo determinado por seus
passaportes de turistas. O porto já não pode recebê-los como antigamente.
As tradições estão morrendo e não há registros sobre elas. Mas sempre aparece alguém com uma história para
contar
Infelizmente, os registros sobre a imigração
estrangeira em Santos estão se perdendo. Numa época de imediatismos, há pouco cuidado com a preservação de certos dados que são importantes para a
História. O que se sabe é contado por um ou outro imigrante já idoso, ou por filhos que se lembram com carinho das histórias que ouviram de seus pais.
Mas a maior parte das informações já morreu ou está morrendo, junto com pessoas que viveram a história da
Cidade. Ao se procurar detalhes sobre o assunto, a maior dificuldade é justamente a falta de registros escritos. Certos detalhes só eram do conhecimento
de alguém que morreu há pouco tempo, ou de um simpático velhinho que já não consegue organizar com segurança as memórias armazenadas.
Além disso, ao contrário do que acontece em São Paulo, aqui os imigrantes não se isolam em colônias fechadas,
nem se fixam em bairros determinados. Há muitos anos, Santos não tem mais restaurantes típicos genuínos, e poucas instituições guardam as tradições que
as tornavam restritas a determinadas nacionalidades.
Aqui, o Bairro Chinês não é aquele onde moram muitos chineses; as cantinas italianas
são dirigidas por espanhóis, baianos e até chineses; os quibes e as esfihas são vendidos por coreanos e acompanhados de garapa; as famílias italianas já
não comem macarronada nas quartas-feiras e nos domingos; os espanhóis vão trocando, aos poucos, o comércio de secos e molhados pelas profissões
liberais; e os japoneses já não são tão conhecidos por suas hortas quanto por seu sucesso nos exames vestibulares.
|