HISTÓRIAS E LENDAS DE SANTOS -
OS IMIGRANTES
A colônia alemã (1)
Beth Capelache de Carvalho (texto). Cândido Gonzales (fotos)
Colônia alemã, uma história
interrompida pela 2ª Guerra Foi
o café a principal causa da vinda sistemática de imigrantes alemães para São Paulo. Como outros europeus, eles foram contratados para trabalhar nas
lavouras cafeeiras, substituindo a mão-de-obra escrava, quando os fazendeiros paulistas começaram a preocupar-se com os problemas que seriam
causados pelo movimento abolicionista. Depois, com o crescimento do Estado, a colônia alemã chegou a instalar em Santos firmas de café que se
tornaram tradicionais na Cidade, além de outras, nos ramos de exportação e agenciamento de navios.
Hoje, os alemães são poucos. Aposentados das antigas empresas germânicas, quase todas
fechadas a partir da Segunda Guerra Mundial, ou técnicos de fábricas de Cubatão e do Grande ABC que moram em Santos temporariamente, eles se reúnem
na sede da Missão Alemã a Marinheiros, ao lado da igreja luterana, na Av. Francisco Glicério.
Já não existe o Clube Germânico da Av. Conselheiro Nébias, perto do antigo
gasômetro, que foi incendiado na época da guerra. Nem a Escola Alemã, confiscada pelo governo, ou a famosa Farmácia
Alemã, que também encerrou suas atividades quando os alemães foram declarados inimigos, e tiveram de retirar-se da Cidade.
Na edição de A Tribuna de 10/7/1943, a notícia sobre a retirada dos alemães do
litoral paulista
|
Uma comunidade rica, que já foi formada por condes e barões
A aventura da colônia alemã em Santos foi das mais
bem sucedidas, e assim seria até hoje, se não fossem os contratempos criados com a guerra na Europa. No comércio, na praça cafeeira, na exportação e no
agenciamento de navios, além de outros ramos de importância econômica, os alemães conseguiram estabilizar-se e progredir.
Por volta de 1870, conforme descreve Luís José de Matos, em artigo no jornal Comércio de Santos, já havia
várias firmas progressistas, como a Otto Helme & Cia., a Vocherodut & Cia., a Zerrener & Bulow, a C. Budich.
Sem contar a tradicional Theodor Wille & Cia., fundada em março de 1834, e cujo chefe chegou a Santos como
marinheiro de uma galera, da qual desertou, para começar a vida cortando lenha no mangue. A Theodor Wille conservou durante mais de um século o lugar
definitivamente conquistado na praça comercial da Cidade, até o seu fechamento, alguns anos atrás.
Luís José de Matos também comenta que por essa época - meados de 1870 - a mais famosa farmácia da Cidade também
pertencia a um alemão, de nome Homan.
Em 1871, um recenseamento feito em Santos acusava a presença de 137 alemães, entre 7.585 habitantes, dos quais
1.577 estrangeiros. Em 1913, entre 88.967 moradores, 478 eram alemães. Esse número foi crescendo até a Segunda Guerra, quando terminou a imigração. Hoje
em dia, o consulado não tem meios de calcular o número de famílias alemãs residentes na Cidade, mas, segundo o consulado, elas são poucas, formadas por
aposentados e por técnicos a serviço de empresas da região.
Mas eram muitas, antes da guerra, as casas alemãs de importância no contexto econômico da Cidade, como lembra o
cônsul honorário da Alemanha em Santos, dr. Dettoff von Simson. Eram os Irmãos Emerich, os Irmãos Grieg, a
Procafé, a Hamburg-Sud, e tantas outras. Esta última opera há mais de um século nos portos brasileiros, é pioneira no transporte de carga geral para a
América do Sul, e também no tráfego containerizado para o Norte da Europa.
Até a década de 1920, o desenvolvimento da colônia era bem caracterizado na Cidade, acabando por formar uma
espécie de micro-sociedade, composta inclusive por nobres - barões e condes ligados a bancos germânicos e ao comércio do café.
Inimigos do país - Em 1943, os alemães, assim como os japoneses, foram obrigados a
retirar-se das cidades do litoral brasileiro, por medida de segurança, por serem súditos do Eixo. Eles deviam abandonar uma faixa de 50 quilômetros do
litoral, e tiveram um prazo de 24 horas para isso. No dia 10 de julho de 1943, A Tribuna publicou uma reportagem sobre essa retirada: os alemães
foram removidos para o Departamento de Imigração, em São Paulo, de onde seguiram para outras cidades do Interior.
O Windhuck - Antes disso, a situação dos alemães
já começou a ficar delicada, e os que não falavam português eram freqüentemente incomodados e tratados como nazistas.
Em 1939, quando Hitler invadiu a Polônia, o comandante do Windhuck - o mais moderno transatlântico
germânico na época - resolveu interromper o cruzeiro que o navio fazia pelos mares da África, para refugiar-se na América do Sul, onde não teria de
enfrentar navios de guerra e o racionamento de combustível.
O Windhuck aportou em Santos com 120 tripulantes, que foram recolhidos em uma pensão e de lá transferidos
para São Paulo. Mas muitos voltaram, depois de cumpridas as formalidades, e se radicaram por aqui. O folclore sobre os restaurantes alemães que
proliferaram em Santos por essa época conta que, depois da chegada do Windhuck ao porto, todos os seus oficiais transformaram-se em cozinheiros,
porque cada restaurante reivindicava para si a vantagem de ter sido montado pelo cozinheiro do Windhuck.
Na verdade, pelo menos duas casas de origem alemã foram legitimamente criadas por tripulantes do transatlântico:
o bar Heinz, em Santos, e a cantina Hirondelle, em São Vicente. Há muitas outras casas que servem a comida alemã em Santos,
tanto no Gonzaga como no Centro e na Boca, mas essas duas são
consideradas as mais autênticas.
Há também em Santos diversas escolas que ensinam a língua alemã, como a Associação Cultural Brasil-Alemanha e o
Intercenter. O consulado está instalado na Praça Mauá, 42, e as reuniões das famílias alemãs são geralmente feitas na sede da
Missão Alemã aos Marinheiros.
Veja a parte [2] desta matéria
|