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ROTA DE OURO E PRATA
Navios: o Amazon (I)

1906-1918

No ano de 1851, a fim de atender o serviço concessionário postal para a costa Leste da América do Sul, a Royal Mail Steam Packet (RMSP) - ou Mala Real Inglesa - mandou construir cinco novos navios (que na época eram os maiores em tonelagem), todos com casco de madeira. Apareceram assim o Orinoco, o Magdalena (I), o Amazon (I), o Paraná e o Demerara.

O último mencionado não chegou sequer a entrar em serviço, pois encalhou no rio Avon, a meio caminho entre o estaleiro que o construíra e o píer da oficina que deveria colocar a bordo as máquinas a vapor do navio.

O primeiro Amazon também não teve muita sorte. No dia 3 de janeiro de 1852, em sua viagem inaugural, foi destruído por um incêndio, que se iniciou quando o navio se encontrava em navegação na Baía de Biscaia (Norte da Espanha) e que resultou na perda de 105 pessoas.

Os outros três transatlânticos acima mencionados entraram em serviço na rota da empresa para as Índias Ocidentais Britânicas, enquanto o Tay, o Medway e o Severn, que faziam essa mesma linha, foram deslocados para o tráfego entre a Europa e o Brasil.

Entre 1851 e 1900, nada menos do que 44 navios diferentes foram utilizados na Rota de Ouro e Prata, todos situando-se numa faixa de tonelagem que ia de 1.285 t.a.b. do Teviot a 5.891 t.a.b. do Danube.

Em 1903, a Royal Mail passou a ser dirigida pelo senhor Owen Cosby Philipps (que mais tarde seria chamado de Lord Kylsant), e o impulso dado por ele seria vital, transformando a mentalidade operacional da empresa.

Na aurora do século XX, no Atlântico Norte, já navegavam grandes transatlânticos de 20 mil toneladas, e nas rotas para a África do Sul, Austrália e a Nova Zelândia (então colônias do Império Britânico), havia navios de 12 mil toneladas que realizavam a ligação marítima entre a Europa e estes países. No Atlântico Sul, porém, o maior navio da Royal Mail era o já citado Danube, de 5.891 t.a.b. e construído em 1894.

Entre as outras companhias concorrentes, os maiores navios eram o Chili (da Messageries Maritimes), com 6.097 t.a.b., e o H.H. Meier (da N.D.L.), de 5.140 toneladas de arqueação bruta.

Quando Owen Philipps tomou as rédeas da Royal Mail, a mesma se encontrava em situação precária, e uma nova visão era necessária. Philipps iniciou seu mandato procedendo com o aumento do capital da empresa em 40%, e usando para tanto o simples estratagema de exigir o pagamento total do capital pelos acionistas originais (ou descendentes) que, 63 anos antes, não o haviam feito.

Com o afluxo desse novo capital em caixa, ele ordenou a construção de seis grandes cargueiros e planejou a entrada de novos transatlânticos na rota sul-americana. Estes navios seriam conhecidos como os da série "A" e deveriam ter uma tonelagem expressiva, a maior de todos os navios que faziam aquela rota. Entre 1905 e 1914, nove navios desta série foram construídos e entraram em serviço.


O Amazon no porto de Santos, defronte à Alfândega, em cartão da Royal Mail, por volta de 1910

Em 1905, o primeiro navio desta série a ser comissionado foi o Aragon. No ano seguinte, apareceram o Amazon e o Araguaya. Em 1907 foram lançados o Avon e o Asturias. Sexto transatlântico da série, o Arlanza foi comissionado em 1911. Em 1913, o Andes e o Alcantara e, finalmente em 1914, o Almanzora.

Contemporaneamente foram comprados na companhia rival, Pacific Steam, quatro navios de passageiros (Oruba, Orotava, Oroya e Ortona). Esse potencial de navios tornou novamente grande, e sem concorrência, a estrutura da Royal Mail.

O segundo, em ordem cronológica, da série "A", o Amazon, foi lançado ao mar em 24 de fevereiro de 1906, sendo batizado pela própria esposa do presidente da empresa, a senhora Philipps.

O Amazon tinha capacidade de estocagem para cerca de 5 mil toneladas de carvão e era equipado com dez guindastes elétricos. Seu desenho incorporava uma característica que marcaria os navios da série "A": a ponte de comando e o alojamento dos oficiais se situavam numa estrutura dianteira, separada do corpo principal do navio, por um espaço de alguns metros.

No dia 15 de junho de 1906, o Amazon realizava sua viagem inaugural entre Southampton e Buenos Aires, escalando em Cherburgo, Vigo, Porto de Lisboa, Tenerife (Canárias), Pernambuco, Bahia, Rio de Janeiro, Santos e Montevidéu. É de se notar que o Amazon tornou-se o primeiro transatlântico, com mais de 10 mil toneladas (t.a.b.), a servir a Rota de Ouro e Prata.

Em 31 de julho de 1908, o Amazon inaugurou um novo serviço da Royal Mail: "...cruzeiros de verão, com características de lazer e luxo a bordo para a Noruega e seus fiordes, até o Cabo Norte (extremo setentrional da Noruega) e visitando as capitais escandinavas...", segundo publicidade da empresa na época.

Assim, até 1911, o Amazon reconverteu-se em navio-cruzeiro nos meses de verão no hemisfério Norte, sendo que nos meses restantes continuava a servir a Rota de Ouro e Prata.

Durante 11 anos, até 1917, o Amazon alternou-se com os outros da série "A", estabelecendo uma regularidade bem britânica na linha do Atlântico Sul e suas silhuetas características ficaram rapidamente famosas nas águas oceânicas e nos portos de escala.

Com a eclosão da Primeira Grande Guerra, o Amazon continuou a ser utilizado pela armadora no serviço civil, sempre realizando suas viagens regulares para a costa Leste da América do Sul.

Em 13 de janeiro de 1917, o Amazon encontrava-se a cerca de 56 milhas a Oeste de Vigo, em passagem de Liverpool para o Brasil, e, enquanto o comandante A.P. Dix se aprestava a dar a ordem de timão para mudar o rumo que o levaria até aquele porto espanhol, subitamente alguém na ponte de comando, gritou: "Torpedo de proa".

Uma ordem seca e o Amazon vira para bombordo, em tempo justo de evitar o engenho. Minutos após, um submarino aflora à superfície não muito longe do Amazon, e o comandante Dix não hesita e manda abrir fogo com o único canhão defensivo do transatlântico.


Anúncio da Royal Mail em jornais brasileiros, no início do século XX

O furor da guerra nos mares daria fim ao Amazon, pois, em 15 de março de 1918, quando se encontrava a cerca de 30 milhas da Ponta Malin, foi torpedeado sem aviso prévio pelo submarino alemão U-110, afundando poucos minutos depois, na posição 55º49'N - 08º06'O. O submarino alemão U-52 encontrava-se na ocasião nas proximidades da área do ataque, mas não participou da ação.

Na véspera, o Amazon havia saído de Liverpool para o Brasil e o Prata, em viagem solitária (não estando em comboio), com 24 passageiros a bordo. De início encontrou nevoeiro, que obrigou o comandante Mason a viajar em velocidade muito reduzida. Na manhã do dia 15, viajava a cerca de 51 nós ao largo da costa Norte da Irlanda quando às 9h30, enquanto ziguezagueava, foi atingido por um torpedo, na altura do porão número quatro, porão este carregado de carvão para seu próprio uso.

Em apenas quinze minutos o Amazon afundou de popa, e seus náufragos foram salvos pelo contratorpedeiro H.M.S. Moresby. Este navio de guerra ainda conseguiu afundar o U-110 com bombas de profundidade e recolher nove homens da tripulação do submarino alemão.

Amazon:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: britânica
Armador: Royal Mail Steam Packet Company
País construtor: Grã-Bretanha
Estaleiro construtor: Harland & Wolff (porto: Belfast)
Ano da viagem inaugural: 1906
Tonelagem de arqueação (t.a.b.): 10.037
Comprimento: 156 m
Boca (largura): 18 m
Velocidade média: 16 nós
Motor: 1, de expansão quádrupla, com quatro cilindros, 875 HP
Passageiros: 870
Classes: 1ª - 300
                2ª -   70
                3ª - 500

Artigo publicado no jornal A Tribuna de Santos em 2/4/1992