MEMÓRIA
Saudades do navio inglês Arlanza
Durante anos Santos foi porto de escala do transatlântico
Da Reportagem
O pesquisador Laire José Giraud afirma que ficou emocionado ao descobrir, relendo uma edição de 1954 de A Tribuna, uma crônica sobre o Arlanza, que tantas
vezes visitou Santos.
Segundo ele, o autor da crônica é desconhecido, mas ele o imagina um homem com 70 anos, na época, profundo conhecedor do transatlântico inglês e que teria trabalhado em uma casa exportadora de café (termo usado no
comércio cafeeiro até os anos 60).
O escrito foi encontrado dentro de um livro antigo, adquirido num sebo. A matéria era ilustrada por uma foto do Arlanza, tirada antes da Primeira Guerra Mundial.
A crônica - O clichê reproduz fotografia tirada do Arlanza saindo do Porto de Santos em viagem anterior à Primeira Guerra Mundial, dois anos antes de cuja deflagração em 1914, havia sido construído em
Belfast e posto na linha da Mala Real Inglesa para a América do Sul, inicia o autor.
Naquele conflito, o Arlanza foi convertido em unidade armada do 10º Esquadrão de Cruzadores, tendo entrado em ação em abril de 1915.
Patrulhou os mares do Norte, desde então a outubro, chegando até a Rússia, de onde ao sair, a 20 do mesmo mês, de Arkangel, conduziu um número grupo de oficiais, e portador de uma carta autógrafa do Czar, expondo
ao governo inglês as necessidades do Exército e da frota russos.
Tesouro - Nessa ocasião também levava um carregamento de platina avaliado em 500 mil libras esterlinas e, tendo dois dias depois batido em uma mina, assim mesmo pôde continuar a viagem, embora rebocado.
Voltando às regiões glaciais, ficou preso entre gelos de novembro de 1915 a junho de 1916, o que o obrigou a uma temporada nos estaleiros, de onde saiu em novembro para continuar no patrulhamento, que fez até
agosto de 1917, quando passou para o serviço de comboios e fez também viagens a Santos.
Foi desmobilizado em dezembro de 1918, no porto de Liverpool, mas somente em julho de 1920 voltou à sua linha regular da América do Sul, tendo percorrido em ação de guerra 145.816 milhas.
Santos - Do nosso porto nunca mais se afastou, e a sua última viagem de volta à Inglaterra deu-se em agosto de 1938, para ser destruído.
Nos seus 26 anos de serviço, o Arlanza navegou 2 milhões de milhas, e recebeu uma placa de bronze, na qual constavam o salvamento de um navio mercante italiano, o Casmona; o transporte do príncipe de
Gales, do Rio para Grã-Bretanha, e o transporte do rei Afonso XIII, quando este monarca tinha visitado a Inglaterra, em julho de 1930, e regressava à Espanha.
Se não é tudo isso que nos dá saudade do Arlanza, é a sua regularidade pelos muitos anos de escalas em Santos, como um forte elo decorrente de boas relações entre dois povos.
Lembramo-nos de que o comandante do Arlanza era o capitão Artur Coks. Por onde anda ele agora? Sobreviveu à guerra ou não? - finaliza o autor.
O famoso vapor transportou o príncipe de Gales, o rei Afonso XIII e outras pessoas ilustres
Foto: acervo de João Emílio Gerodetti, publicada com a matéria |