Clique aqui para voltar à página inicialhttp://www.novomilenio.inf.br/rossini/arlanza.htm
Última modificação em (mês/dia/ano/horário): 01/12/08 20:19:05
Clique na imagem para voltar à página inicial de 'Rota de Ouro e Prata'

ROTA DE OURO E PRATA
Navios: Arlanza

1911-1938

Matéria publicada no jornal santista A Tribuna em 8 de setembro de 1996:

MEMÓRIA

Saudades do navio inglês Arlanza

Durante anos Santos foi porto de escala do transatlântico

Da Reportagem

O pesquisador Laire José Giraud afirma que ficou emocionado ao descobrir, relendo uma edição de 1954 de A Tribuna, uma crônica sobre o Arlanza, que tantas vezes visitou Santos.

Segundo ele, o autor da crônica é desconhecido, mas ele o imagina um homem com 70 anos, na época, profundo conhecedor do transatlântico inglês e que teria trabalhado em uma casa exportadora de café (termo usado no comércio cafeeiro até os anos 60).

O escrito foi encontrado dentro de um livro antigo, adquirido num sebo. A matéria era ilustrada por uma foto do Arlanza, tirada antes da Primeira Guerra Mundial.

A crônica - O clichê reproduz fotografia tirada do Arlanza saindo do Porto de Santos em viagem anterior à Primeira Guerra Mundial, dois anos antes de cuja deflagração em 1914, havia sido construído em Belfast e posto na linha da Mala Real Inglesa para a América do Sul, inicia o autor.

Naquele conflito, o Arlanza foi convertido em unidade armada do 10º Esquadrão de Cruzadores, tendo entrado em ação em abril de 1915.

Patrulhou os mares do Norte, desde então a outubro, chegando até a Rússia, de onde ao sair, a 20 do mesmo mês, de Arkangel, conduziu um número grupo de oficiais, e portador de uma carta autógrafa do Czar, expondo ao governo inglês as necessidades do Exército e da frota russos.

Tesouro - Nessa ocasião também levava um carregamento de platina avaliado em 500 mil libras esterlinas e, tendo dois dias depois batido em uma mina, assim mesmo pôde continuar a viagem, embora rebocado.

Voltando às regiões glaciais, ficou preso entre gelos de novembro de 1915 a junho de 1916, o que o obrigou a uma temporada nos estaleiros, de onde saiu em novembro para continuar no patrulhamento, que fez até agosto de 1917, quando passou para o serviço de comboios e fez também viagens a Santos.

Foi desmobilizado em dezembro de 1918, no porto de Liverpool, mas somente em julho de 1920 voltou à sua linha regular da América do Sul, tendo percorrido em ação de guerra 145.816 milhas.

Santos - Do nosso porto nunca mais se afastou, e a sua última viagem de volta à Inglaterra deu-se em agosto de 1938, para ser destruído.

Nos seus 26 anos de serviço, o Arlanza navegou 2 milhões de milhas, e recebeu uma placa de bronze, na qual constavam o salvamento de um navio mercante italiano, o Casmona; o transporte do príncipe de Gales, do Rio para Grã-Bretanha, e o transporte do rei Afonso XIII, quando este monarca tinha visitado a Inglaterra, em julho de 1930, e regressava à Espanha.

Se não é tudo isso que nos dá saudade do Arlanza, é a sua regularidade pelos muitos anos de escalas em Santos, como um forte elo decorrente de boas relações entre dois povos.

Lembramo-nos de que o comandante do Arlanza era o capitão Artur Coks. Por onde anda ele agora? Sobreviveu à guerra ou não? - finaliza o autor.


O famoso vapor transportou o príncipe de Gales, o rei Afonso XIII e outras pessoas ilustres

Foto: acervo de João Emílio Gerodetti, publicada com a matéria


Protótipo da série da Royal Mail Steam Packet (RMSP) que resultou em três transatlânticos gêmeos (Andes, de 1913, Alcantara, de 1914, e Almanzora, de 1913), o Arlanza, por sua vez, derivou do desenho de base do Asturias, de 1908.

Foi lançado ao mar em novembro de 1911, realizando a viagem inaugural para a América do Sul, na rota entre Southampton e Buenos Aires, em setembro do ano seguinte.


O Arlanza, numa de suas escalas no porto de Santos

Quase afundado - Logo no início da Primeira Guerra Mundial, em agosto de 1916, encontrava-se no porto da capital argentina, de onde zarpou para a Inglaterra. No dia 16 daquele mês, foi interceptado, quando navegava a cerca de 200 milhas (370 quilômetros) ao Sul das Canárias, pelo cruzador auxiliar armado Kaiser Wilhelm der Grosse.

O comandante deste último, capitão Reymann, ao ser informado da existência de um grande número de mulheres e crianças a bordo, decidiu não se apoderar do navio inglês. Este último navio, em caso contrário, provavelmente teria tido a carreira encerrada.

Após breve escala em Las Palmas, para permitir o relato do ocorrido ao cônsul britânico (no encontro com o corsário, o comandante Reymann havia exigido a destruição da antena do telégrafo), o Arlanza retornou à sua rota e a Southampton.


Anúncio no jornal A Tribuna de Santos em 1/8/1914

Cruzador - A partir de abril de 1915, o navio foi comissionado como cruzador auxiliar armado pela Royal Navy (Real Marinha da Grã-Bretanha), passando a integrar o famoso X Esquadrão de Cruzadores.

A subseqüente história do Arlanza até sua demolição, em 1938, já foi narrada em síntese em outro artigo, publicado no jornal A Tribuna de Santos, na coluna Memória, em 8/9/1996. Este último artigo foi baseado, por sua vez, em um breve relato escrito por R. McNeill, um dos diretores da Mala Real Inglesa em Santos, e publicado em A Tribuna em 4 de junho de 1953.

Remotorizado - Para finalizar sua história e em complemento ao já publicado, é suficiente dizer que, em 1929, o navio teve seu aparato propulsor original (a expansão tríplice) substituído por motor a óleo diesel.

Em agosto de 1938, realizou a derradeira viagem na Rota de Ouro e Prata; por ocasião de sua última escala em Montevidéu, foi realizada gigantesca festa de despedida a bordo, com a presença de 1.700 convidados, recebidos pelo comandante Arthur Cooks.

Na chegada a Southampton, em 6 de setembro daquele ano, o Arlanza foi oficialmente retirado de serviço e vendido em seguida para demolição a uma empresa de Blyth, na Inglaterra.

Arlanza:

Outros nomes: nenhum
Bandeira: britânica
Armador: Royal Mail Steampship Lines
País construtor: Inglaterra
Estaleiro construtor: Harland & Wolff

Porto de construção: Belfast

Lançado ao mar: 23/11/1911

Viagem inaugural: 8/6/1912

Comprimento: 179,5 m

Boca (largura): 19,9 m

Deslocamento: 15.044 t

Velocidade: 17 nós (31,4 km/h)

Propulsor: turbinas a vapor com potência de 14.000 HP

Passageiros: 1ª classe: 400

                         2ª classe: 230

                         3ª classe: 760

*